tag:blogger.com,1999:blog-82320161266307133252024-03-01T17:06:50.766-08:00Cineclube: apontamentosreflexões meio pessoais sobre cineclubismo e organização do público
do audiovisual
Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comBlogger117125tag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-57073942933067516472023-09-25T10:34:00.002-07:002023-09-25T10:34:20.420-07:00<p> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhWIc03-N4NRD72c81pUTAOOtVMYzPM7a7zvLXMsg8P-bZKijtBAOyW_m4-J43m0Zl86JXJnLF2RxQO0bsk7aS8ARYPmqyKzNFH1Rm-XsfWouHrdB3tXO3aQAba3TFw02XfqAu4dpr8dvzHgy42DDcWVjvMiRWigVgrSVVY-Fq0LnENMzuKMnp9yDw8K5Y" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="400" data-original-width="278" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhWIc03-N4NRD72c81pUTAOOtVMYzPM7a7zvLXMsg8P-bZKijtBAOyW_m4-J43m0Zl86JXJnLF2RxQO0bsk7aS8ARYPmqyKzNFH1Rm-XsfWouHrdB3tXO3aQAba3TFw02XfqAu4dpr8dvzHgy42DDcWVjvMiRWigVgrSVVY-Fq0LnENMzuKMnp9yDw8K5Y=w278-h400" width="278" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ícones da atitude cineclubista (cartaz dos anos 80)</td></tr></tbody></table><br /></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-11263337373088255392023-09-25T10:21:00.000-07:002023-09-25T10:21:02.977-07:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;">A contradição cineclubista
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;">e a <a name="_Hlk146282559">reconstrução
do cineclubismo <o:p></o:p></a></span></p>
<span style="mso-bookmark: _Hlk146282559;"></span>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A
publicação de um edital do estado do Rio de Janeiro para “cineclubes,
atividades de formação e festivais”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
que regula a aplicação da Lei Paulo Gustavo, escancara o que estou chamando de <i>contradição
cineclubista</i>. É um fenômeno análogo ao da chamada dissonância cognitiva, em
que as ações de uma pessoa não correspondem a suas crenças e valores, mas que aqui
está estampada na formulação e regulamentação especialmente da Lei Paulo
Gustavo (que se observa também em outros textos legais relacionados ao
cineclubismo). Na verdade, essa dissonância, paradoxo ou contradição se
manifesta também na própria realidade dos cineclubes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O
edital fluminense é especialmente importante porque esse estado é
historicamente central na organização institucional e política do cinema
brasileiro, sede de várias das entidades mais importantes da produção
cinematográfica e de algumas repartições públicas também fundamentais para a
“indústria”. Além disso, os cineclubes do Rio de Janeiro têm igualmente uma
história muito significativa e influente, tanto localmente como dentro do
movimento cineclubista nacional. Certamente várias características desse edital
constituirão exemplo e serão reproduzidas em outros estados, e também
municípios, Brasil afora<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Já a
contradição cineclubista consiste no fato de que as atividades que se
identificam como cineclubes atualmente no Brasil <i>não são mais</i> cineclubes
segundo a legislação brasileira. E a aplicação de um programa de política
pública para cineclubes – o referido edital – é virtualmente impossível. Essa
contradição, na verdade, perpassa todo o universo cineclubista: ela está
presente e é central igualmente para a própria organização dos cineclubes e especialmente
para a sua união em entidades representativas locais ou nacionais. A
manifestação formal da contradição é o fato de que cineclubes são
necessariamente <i>associações</i> (até por isso o termo <i>clubes</i>), coletivas,
e não iniciativas individuais. Para que o Estado as reconheça legalmente, isto
é, para que possa formular políticas públicas para os cineclubes, essas
associações precisam ter alguma forma de constituição legal, tradicionalmente o
registro em cartório, hoje em dia sobretudo o CNPJ. Mas, mais que isso, para
comprovarem que são associações constituídas de acordo com a lei, também
precisam comprovar que são associações sem fins lucrativos – que não são
empresas comerciais, que distribuem seus resultados entre os associados - e que
são regidas por normas democráticas, isto é, em que os responsáveis são
escolhidos (eleitos) pelo conjunto dos associados, e substituídos da mesma forma
periodicamente. Precisam, ainda, ser abertas, isto é, suas regras devem estabelecer
condições para a entrada de novos sócios: não podem ser grupos fechados. Isto é
uma definição sucinta e simplificada de associação. Ora, <a name="_Hlk146287017">quantos
cineclubes você conhece que são organizados</a> dessa forma? Quantos cineclubes
podem apresentar CNPJ e a documentação de sua mais recente eleição, de acordo
com seus estatutos? No edital em questão há a previsão de 32 entidades
contempladas com o que considero pequenos valores (como sempre, muitíssimo
inferiores às quantias destinadas a outras atividades). O Rio de Janeiro é um
estado com várias iniciativas cineclubistas, algumas bem conhecidas de muitos
de nós. Será que, todas juntas, somam 32 entidades constituídas conforme a legislação?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas a
contradição é mais profunda, e generalizada. O canal YouTube do Conselho
Nacional de Cineclubes Brasileiros/CNCB – grupo que pretende representar os
cineclubes de todo o País – tem uma definição do que devem ser os cineclubes<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>:
“<i>uma sociedade organizada que reúne apreciadores de cinema para fins de
estudo, debate ou lazer e onde se exibem filmes de interesse cultural</i>”. Diz
ainda que qualquer pessoa pode participar de um cineclube, “<i>desde que aceito
pelos demais associados, <a name="_Hlk146279844">em conformidade com seus <u>estatutos,
regimento ou carta de princípios</u></a></i><span style="mso-bookmark: _Hlk146279844;"></span>”.
Uma publicação ainda mais recente - <i>Cineclubismo – Organização e
Funcionamento<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[4]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a>
</i>também aborda a questão, salientando que “<i><u>a atividade cineclubista
exige um esforço coletivo continuado para que haja uma prática democrática, com
transparência e ética</u></i>”. Posto isso, “<i>nem sempre precisa haver a
formalização da pessoa jurídica</i>” (ambos os trechos sublinhados são de minha
iniciativa). No entanto acrescenta: “<i>O que dificulta a ausência de um CNPJ é
que o cineclube não vai concorrer em editais nem estabelecer convênios,
participar de editais públicos e privados</i>.” Nos dois exemplos se reproduz,
de certa forma, uma postura do cineclubismo brasileiro adotada nos anos 70<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>:
a de que os cineclubes devem ser atividades associativas, organizadas
democraticamente, com formas de participação claras e sujeitas a avaliação
pública. A sua formalização estritamente jurídica se insere em um plano
diferente, ou seja, a de participação no processo político e administrativo formal:
a capacidade de beneficiar-se das chamadas políticas públicas. Para a
colaboração organizada com outros cineclubes o registro formal é opcional, o
que importa é a democracia. Até aqui estou me repetindo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A
questão mais essencial é que a quase totalidade das iniciativas e práticas que
se reconhecem ou se denominam como cineclubes deixaram de ser associativas – e,
portanto, democráticas -, frequentemente dependentes exclusiva ou
principalmente de uma única pessoa ou de grupos limitados, sem uma participação
decisiva das comunidades a que se dirigem, mais do que propriamente integram.
Há várias outras questões ligadas a essa situação, mas vou desenvolver mais
esse ponto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A
referência ao CNCB serve para mostrar que uma organização nacional de
cineclubes é, nestas condições, uma contradição, virtualmente impossível: como
organizar uma entidade nacional com cineclubes constituídos de forma
associativa e organizada, se eles praticamente não mais existem? Cabe a mesma
pergunta: quantos cineclubes ditos “membros” do CNC estão constituídos “<i>em
conformidade com seus estatutos, regimento ou carta de princípios</i>”? Não é,
portanto, uma mera questão tecno-legal. Cineclubes sem alguma forma de
associação responsável – isto é, de participantes que decidem –, com regras de
conhecimento público, não são organizações dos públicos, como definem a
Federação Internacional de Cineclubes e a conhecida <i>Carta de Tabor</i> <i>dos
Direitos do Público<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[6]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>.
Não são comprovadamente “sociedades organizadas”, democráticas, transparentes
nem éticas. Para se constituir em uma entidade federativa nacional, é preciso
que tenham uma forma de organização comum, com transparência na sua
representação que, por sua vez, será a forma decisiva de deliberação e gestão
(eleição) de uma direção nacional. Essa é a contradição cineclubista atual:
social (porque os cineclubes têm quase nenhuma ressonância popular ou
cultural), política e legal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Truculência
ou truque?<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Por
que, e como, os cineclubes, que durante décadas se organizaram sem grandes polêmicas
segundo as regras descritas mais acima<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
passaram à informalidade e à inexistência legal? Esse processo começa,
acredito, no governo FHC, sendo continuado e até agravado nos subsequentes
governos petistas. Mais que um problema governamental, no entanto, penso que
correspondeu a um progressivo crescimento do peso da burocracia nas
administrações públicas, levando a uma complicação formal desnecessária e ao encarecimento
dos processos legais de reconhecimento das organizações da sociedade civil. Em
outras palavras: os cineclubes normalmente se registravam em cartório, através
de seu representante formal (geralmente o presidente), apresentando os
estatutos e as atas das assembleias de constituição e eleição de suas direções.
O custo disso não era inalcançável pelos cineclubes organizados dessa forma.
Talvez mais importante ainda, os cineclubes eram <i>imunes </i>tributariamente,
isto é, dispensados de todo e qualquer imposto, já que não têm fins lucrativos
– isto é, como dizia a Lei 5.536<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>:
não era permitida a<i> “distribuição de lucros, bonificações ou quaisquer
vantagens pecuniárias a sócios, mantenedores e associados</i>”. Hoje, esses
custos aumentaram consideravelmente, proporcionalmente à burocracia dos
processos de registro: é preciso que um advogado assine estatutos e atas para
que seja feito seu registro – pelo que ele provavelmente cobrará – e há toda
uma série de registros, cadastros, com respectivos emolumentos e impostos. Até
nas quantias referentes a apoios, prêmios<span style="color: red;">,</span> etc.,
de parte do próprio Estado, se descontam impostos! A essa burocratização e
precificação das próprias funções do Estado se soma um processo bem mais
complexo e generalizado de desorganização dos setores populares, das entidades
representativas de bairro, sindicais<span style="color: red;">, </span>etc.
Claro, a informalidade é mais fácil – mas também nociva. “Pra baixo todo santo
ajuda”, diz a sabedoria popular... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Diante
do fato consumado da desorganização formal (e real) de parte da sociedade civil
– mas sempre pensando aqui nos cineclubes - as políticas públicas dos governos
petistas criaram uma virtual ilegalidade que, no entanto, vigeu mais ou menos
até agora: criaram a possibilidade de <i>pessoas físicas</i> representarem o
que seriam suas comunidades diante dos programas públicos. Foi como “apagar
incêndio com gasolina”. Criou-se uma espécie de categoria social: o especialista
de edital, capaz de suprir individualmente não apenas os conhecimentos técnicos
para tratar da burocracia, mas igualmente passando a representar – de fato,
substituir – a entidade e, por extensão, a comunidade. O resultado final desse
processo foi a desarticulação quase total do cineclubismo, finalizando uma
trajetória mais complexa que traz à atual realidade de informalidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Acredito
que a ilegalidade flagrante, evidente, da “pessoalização” da representação das
comunidades ficou patente e, por isso, voltou a existir, nos editais atuais,
exigência da organização formal na relação com o Estado. Dada a naturalização
do processo de informalização e desarticulação dos cineclubes, isso pode parecer
uma certa truculência para quem se acostumou com a situação anterior, muitas
vezes incapaz de compreender seu caráter ilegal do ponto de vista jurídico e
institucional e os efeitos nocivos social e culturalmente. Ou, como perguntamos
antes: quantos cineclubes são organizados de forma associativa e democrática?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Também
como já foi dito: a resposta muito pessimista à questão escancara o fato de que
não existem, ou são bastante raros, cineclubes assim constituídos. Assim,
parece ter sido criado um truque, uma saída para o que pareceria uma imposição
truculenta: <i>delegar a representação do cineclube</i> (a categoria prevista
na lei Paulo Gustavo), que precisa ter personalidade jurídica (exigência do
Código Civil, que se lhe sobrepõe), a uma entidade terceira, que tenha CNPJ.
Essa comporta de emergência, fragílima do ponto de vista legal (pode ser
denunciada por qualquer instituição que se sinta prejudicada pelo “truque”
legal), foi inserida como anexo, exclusivo para cineclubes, no Edital do Rio de
Janeiro. O que parece diferente, mas na verdade reintroduz o mesmo fenômeno
desagregador do cineclube. Ou talvez seja até mais grave: pode criar novas
formas de dependência. Embora essa “transferência de responsabilidade” possa, na
provisão do edital, se dar com qualquer entidade que possua CNPJ, algo me diz
que as mais compreensivas seriam provavelmente as empresas produtoras. Mas há mais
aspectos nisso, é ainda mais grave. Vamos analisar isso mais em profundidade?<b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
hegemonia do cinema e do “autor” sobre a organização das comunidades (e no
dinheiro público) <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Um
cineclube <i>não é</i> simplesmente um espaço (real ou virtual) de exibição de
filmes ou quaisquer outros conteúdos audiovisuais. Essa visão ideológica
corresponde aos interesses da <i>produção</i>, seja a do cinema mais
industrial, comercial, profissional (daí, em boa parte, a bandeira do <i>cinema
nacional</i>), ou a independente, autoral ou amadora. Dessa forma, o cineclube
consiste no ato, no evento de exibir um filme (seguido de debate com
realizadores ou outra forma de autoridade ideológica), preferencialmente
nacional. É uma forma – substitutiva - de mercado, num país em que mesmo o
chamado cinema comercial não se realiza no mercado de troca de mercadorias, mas
na própria produção: a quase totalidade dos filmes de longa metragem
brasileiros (uma das maiores “indústrias” do mundo) não se paga na exibição em
salas: a remuneração de seus realizadores – o conjunto dos envolvidos na
produção – é feita na fase de captação de recursos públicos diretos, indiretos
ou de renúncia fiscal. E uma pequena participação privada. O mesmo se dá com os
outros patamares de produção, com exceção de um segmento muito pequeno de
produções totalmente <i>alternativas</i>. Os festivais de cinema - com exceção
de alguns poucos, em outra categoria de importância, mais voltados à produção
internacional -, igualmente mantidos pelo mesmo sistema público, se tornaram os
principais espaços de divulgação da produção que não encontra outros canais de
exibição. No Edital de que vimos falando, os festivais receberão um valor
1.100% superior ao destinado aos cineclubes. E estes, reduzidos a simples ações
de exibição, supostamente sem custos de qualquer natureza (exceto a remuneração
de curadores ou outras autoridades e, claro, eventualmente, de direitos
autorais), aparecem no Edital como ações de exibição previstas para até 4 meses
(item III do Objeto), nada mais. Um ciclo, diríamos antigamente... Penso que é
bem evidente o que chamo de <i>hegemonia do cinema e do autor</i> na concepção
e na proposição do edital. De fato, de toda (se é possível empregar esse termo)
a política nacional para os cineclubes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">De
fato, até Célio Turino, um dos formuladores e gestores das políticas públicas
que incluíram cineclubes nos governos Lula, hoje denuncia o que chama de <i>editalização
</i>da cultura<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>, que
descreve como um instrumento de competição e de exclusão a serviço do capitalismo.
Mas creio que ele não mostra como a editalização das leis as adapta segundo
esse traço ideológico. No caso do campo audiovisual – incluídos os cineclubes –
é a hegemonia da produção. Outro sintoma, pequeno, mas significativo disso é
que a Lei Paulo Gustavo fala sempre em audiovisual, e particularmente no item
III do § primeiro do art. 8º - que regula todos os elementos desse edital -; no
entanto, o referido edital nunca menciona a palavra audiovisual, substituída
sempre por cinema. É o cinema que manda.<b><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A
reconstrução do cineclubismo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cineclube
é uma <i>organização do público</i> que se utiliza dos meios audiovisuais,
principalmente, para promover o entretenimento, a autoformação, a memória, a
identidade e a expressão desse público. A questão central, no cineclube, não é
o cinema (ou quaisquer outras mídias), e sim o público. O cineclube<b> </b>é a<i>
instituição audiovisual da comunidade</i> – entendendo-se comunidade como todo
grupo de pessoas com características, necessidades e anseios comuns, como
moradores de um mesmo território (bairros, cidades, etc.), grupos de
identidades diversas (étnicas, profissionais, de gênero, de classe, etc.) ou os
que partilham interesses variados (por temas, estilos, culturas, etc.).<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O
cineclube, na sociedade, tem uma <i>constituição dual</i>. É <i>uma organização
cultural, social, política e representativa</i> em seus escopos determinados,
isto é, no campo das expressões simbólicas audiovisuais<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Concomitantemente, é também - sobretudo para fins de reconhecimento
institucional e participação em políticas públicas – <i>uma entidade do campo
audiovisual</i>, isto é, a que concernem todas as mídias audiovisuais e
digitais contemporâneas e as que venham a ser, eventualmente, criadas. O
cineclube pode e deve ser apoiado, estimulado pelo Estado tanto como
organização comunitária, como em seus projetos e atividades mais
especificamente audiovisuais. Esses dois aspectos estão separados na Lei Paulo
Gustavo, que exclui os cineclubes de várias atividades e necessidades,
considerando-os apenas no item III do Art.6º - este que determina o escopo do
edital fluminense – e alijando-os da produção (item I) e até mesmo da
manutenção de salas de cinema (não confundir com cineclube!), até as
itinerantes (item II), sem falar de novas formas de exibição (item IV).
Cineclube é uma sessãozinha de cinema. Ou um ciclo de filmes de quatro meses...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Para
reconstituir o tecido de um movimento social e cultural – o movimento
cineclubista – é indispensável recuperar as suas células, os cineclubes. É
preciso, então, restabelecer a organização democrática de cada cineclube, ainda
que isso dê bastante trabalho. É mais cômodo pensar o cineclube como <i>exibição
e debate</i>: com os recursos digitais atuais é uma atividade que requer pouco
esforço, quase nenhum custo e, claro, alguma disponibilidade pessoal e de
tempo, nada mais. Já uma atividade que reúna uma comunidade, que organize
diversas atividades além de exibições (como arquivo, produção, eventos
comunitários<span style="color: red;">,</span> etc.) e as administre de forma
participativa e democrática, é bem mais trabalhoso. Cineclube não é, ou não
deve ser, um passatempo, uma atividade eventual, um<i> hobby</i> fácil e
prazeroso. A satisfação que traz é, ou pode ser, bem mais significativa. Mas
essa gratificação é, também, proporcional ao trabalho que envolve, que <i>significa</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Assim,
uma das primeiras tarefas da luta dos interessados em desenvolver o
cineclubismo, é criar melhores condições para sua organização formal. Ora, já
vimos que não é possível organizar uma federação cineclubista, regional ou
nacional, que tenha existência real, democracia comprovável, representatividade
orgânica, se os próprios cineclubes não as têm. No entanto, subsiste uma
cultura, alguns chamam de atitude, um interesse cineclubista. E um campo social
e popular que necessita desse tipo de ação e organização. Assim, um primeiro
passo é reunirmos um Fórum Nacional de Cineclubismo e Audiovisual Comunitário –
eventualmente como conclusão de um processo de fóruns locais e/ou regionais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esse
Fórum, informal e aberto a todas as pessoas e iniciativas coletivas interessadas,<span style="color: red;"> </span>seria um primeiro espaço possível para o
reconhecimento da realidade concreta das práticas cineclubistas e de animação
audiovisual comunitária. E a partir dessa identificação, se poderia construir
uma base de interesses comuns, dos quais decorram reivindicações objetivas.</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Anexos<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Anexo I - Lei Paulo Gustavo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[11]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a> <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">“A chamada lei Paulo Gustavo se define como uma <i>medida
emergencial</i>. Proposta como um conjunto de ações em tempos de pandemia, irá
vigorar apenas nos últimos meses de 2022<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
(paradoxalmente já um tanto fora desse contexto pandêmico). Mais que isso, como
mais de 70% (2,797 bilhões) dos seus recursos são destinados ao audiovisual -
esse termo bastante impreciso - e desses quase três bilhões, outros 70% (1,957
bilhão) irão <i>diretamente</i> à produção de cinema, o caráter emergencial da
medida consiste, na verdade, na recuperação dos recursos perdidos pela produção
cinematográfica brasileira<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><sup><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><sup><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[13]</span></sup><!--[endif]--></span></sup></a> durante o
atual desgoverno. Não se trata de comunidade, mas de mercado – que também é importante
para a cultura nesta fase.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outros recursos (1,65 bilhão) irão para os setores que
<i>não sejam</i> audiovisuais, conforme o parágrafo terceiro do Art. 8º da Lei:
<i>É vedada a utilização dos recursos previstos neste artigo para a realização
de ações voltadas ao setor audiovisual nos termos do art. 5º</i>. O tal do
artigo 5º, na verdade, traz a relação de valores (do total de 3,862 bilhões)
para cada atividade, e remete ao artigo 6º, que é importante destacar aqui para
os nossos objetivos cineclubistas. O artigo 6º lista as <i>ações emergenciais </i>que
deverão ser apoiadas. Juntando os dois (5º e 6º) para nossa contribuição, as
áreas e valores são:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">I – o apoio a produções audiovisuais, de forma
exclusiva ou em complemento a outras formas de financiamento, inclusive aquelas
com origem em recursos públicos ou financiamento estrangeiro </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">(1.957 bilhão)<i>; <o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">II – o apoio a reformas, restauros, manutenção e
funcionamento de salas de cinema, incluindo a adequação a protocolos sanitários
relativos à pandemia da covid-19, sejam elas públicas ou privadas, bem como
cinemas de rua e cinemas itinerantes </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">(447,5 milhões)<i>; <o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">III – a capacitação, a formação e a qualificação no audiovisual,
o <u>apoio a cineclubes</u></span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> <i>e
à realização de festivais e mostras de produções audiovisuais, preferencialmente
por meio digital, bem como a realização de rodadas de negócios para o setor
audiovisual, para a memória, a preservação e a digitalização de obras ou
acervos audiovisuais, ou ainda o apoio a observatórios, publicações
especializadas e pesquisas sobre audiovisual e ao desenvolvimento de cidades de
locação </i>(224,7 milhões)<i>; e <o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">IV – o apoio às micro e pequenas empresas do setor
audiovisual, aos serviços independentes de vídeo por demanda cujo catálogo de
obras seja composto por pelo menos 70% (setenta por cento) de produções
nacionais, ao licenciamento de produções audiovisuais nacionais para exibição
em TVs públicas e à distribuição de produções audiovisuais nacionais </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">(167,8 milhões)<i>.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas
tem mais: 1,65 bilhão, como já dissemos, vai para setores não audiovisuais. E
aí fica clara uma das grandes confusões que enxarcam essa legislação – e
remetem a um problema central dos cineclubes. Se não atuarmos com firmeza nas
frentes políticas locais de negociação dos nossos projetos, essa confusão vai
nos prejudicar bastante. Voltaremos a isso no item “Análise da Política Aldir
Blanc”, mas aqui já indicamos que este trecho da lei, paradoxalmente, sugere
que várias dessas ações <i>não audiovisuais </i>sejam promovidas através da
internet e gravadas. Os cineclubes estão na parte do audiovisual, e
expressamente vetados aqui, mas poderiam muito bem ser compreendidos dentro
desta seção da Lei Paulo Gustavo, art.8º. § 1º, que visa:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">I
– o apoio ao desenvolvimento de atividades de economia criativa e de economia
solidária; <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">II
– o apoio, de forma exclusiva ou em complemento a outras formas de
financiamento, a agentes, iniciativas, cursos ou produções ou a manifestações
culturais, incluindo a realização de atividades artísticas e culturais que
possam ser transmitidas pela internet ou disponibilizadas por meio de redes
sociais e outras plataformas digitais e a circulação de atividades artísticas e
culturais já existentes; ou <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">III
– o desenvolvimento de espaços artísticos e culturais, microempreendedores
individuais, microempresas e pequenas empresas culturais, cooperativas,
instituições e organizações culturais comunitárias que tiveram as suas
atividades interrompidas por força das medidas de isolamento social para enfrentamento
da pandemia da covid-19.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Desta forma, e como a Lei </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">induz </i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">e determina</span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> </i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">o
entendimento dos </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">cineclubes como parte do segmento dito audiovisual, </i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">só
estaríamos aptos a demandar recursos (da alínea III do art. 6º) no valor de
224,7 milhões, divididos entre os estados e municípios e com as outras
atividades previstas nesse item: festivais, formação e outras. No fim
seguramente não será muita coisa.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, como os recursos serão geridos entre os
estados e os municípios (50% para cada nível) os cineclubes podem exercer uma
pressão social e política maior nessas instâncias – sobretudo em seus
municípios – e, dessa forma, argumentar que também se qualificam para todos os
três subitens referentes a atividades não audiovisuais...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os demais artigos da Lei Paulo Gustavo descrevem
genericamente seus objetivos, fontes de recursos e outros temas que não
levantam questões mais discutíveis aqui no nosso escopo.” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Anexo II - A História se repete<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn14" name="_ftnref14" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><b><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[14]</span></b></span></span></a> (o
pessimismo da inteligência<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn15" name="_ftnref15" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><b><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[15]</span></b></span></span></a>)</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">“As palavras iniciais do primeiro capítulo de </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">O 18
Brumário de Luís Bonaparte<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn16" name="_ftnref16" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><b><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[16]</span></b></span></span></a></i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">
viraram uma citação bem conhecida: </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">a História se repete, pelo menos duas
vezes, primeiro como tragédia e depois como farsa.</i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> Aplicando, bem
resumidamente, seu uso na atualidade cineclubista brasileira, podemos dizer que
a tragédia teria sido o período anterior de Lula, </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">com o governo que mais se preocupou – e,
provavelmente, o que mais investiu – no movimento de cineclubes. E,
paradoxalmente, foi dos que mais prejudicou esse setor da cultura, cooptando,
desestruturando e depois abandonando os cineclubes tornados inteiramente
dependentes não apenas das verbas – de resto pouco significativas – mas até das
iniciativas, da direção mesmo, oriunda do Estado. Houve um estímulo importante
e um abandono e queda ainda mais significantes. Claro, isso não teria
acontecido sem a participação voluntária dos próprios cineclubes e de suas
direções, nacional e regionais. Hoje, os cineclubes não mais podem ser
reconhecidos por suas características mais “tradicionais”: o caráter
associativo e democrático, a autonomia (isto é, o oposto de dependência), a
autossustentabilidade, a atividade sistemática e a participação social e
política. Essa contradição, aliás, está presente em “cartilhas”, oficinas, </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">lives</i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">
e outras orientações que, no clima de otimismo com o governo (e suas possíveis
verbas), que já se instala, repetem “cânones” cineclubistas dignos dos anos 50
– mas praticamente nenhum cineclube brasileiro corresponde a esse modelo.
Cineclube, hoje, é “exibição e debate”, com pouca ou nenhuma sistematicidade; é
iniciativa individual ou de muito poucos, que geralmente também atinge apenas
públicos muito reduzidos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A possível repetição farsesca será a reprodução da
distribuição de kits de projeção para centenas ou milhares de indivíduos, agora
sem uma Programadora que oriente sua relação com o público, já que o acesso a
conteúdos audiovisuais - na contracorrente da apropriação proprietária de
empresas produtoras e realizadores - é tendência cada vez mais dominante nas
relações do público com as mídias. De fato, essa “orientação” ou controle da
programação será substituído pelo expediente dos direitos autorais: atividades
só permitidas, ou orientadas, com autorização dos detentores desses “direitos”
– aliás, geralmente constituídos com financiamento público. O Governo já criou
cargos em comissão para responsáveis pelos cineclubes – sem qualquer consulta a
um movimento que, apesar dos esforços do CNCB (ver o período entre 2010 e
2019), não têm uma real representação ou organização nacional. De fato, na
realidade, com cineclubes sem estrutura organizacional não é possível uma
representação formal: uma entidade nacional de cineclubes é impossível
atualmente. O Estado, reproduzindo seu comportamento anterior em outra
realidade, tentará substituir essa representação através das Conferências
Nacionais (cuja análise não vou fazer aqui, mas que não conseguem representar
os públicos, apenas os autores ou artistas dos mais diversos tipos). Muito
possivelmente, o Estado criará – como já fez com os Pontos de Cultura – ou
“estimulará” enfaticamente estruturas e organizações ajustadas às “políticas
públicas”. E, encurtando estes comentários, poderemos ter mais uma política,
leis e programas de curta direção, baseados e dependentes quase exclusivamente
do Estado, e que podem desaparecer junto com a mudança de administração. Isso
aconteceu com a passagem do governo Lula para a gestão de Dilma Roussef, sua
mais confiável seguidora. Em 2026, com Lula octogenário, há uma forte
possibilidade de se repetir o fracasso do seu segundo governo quanto aos
cineclubes. Mas numa realidade bem diferente, em que a comunicação experimenta
uma revolução digital e midiática. E em escala muito maior, com “cineclubes”
ainda mais desnaturados e uma desorganização mais ampla e, talvez, mais
definitiva. Uma farsa, que pode ser bem trágica.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O otimismo da vontade</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Não cabe aqui, certamente, tratar em toda sua extensão
e complexidade as propostas necessárias ao restabelecimento do cineclubismo
como movimento cultural e social. A própria concepção de cineclube precisa ser
revista, antes de mais nada pelo reconhecimento da primazia do público, das
comunidades – ou seja, das relações sociais reais - em relação ao discurso
semiológico abstrato do cinema. Isto posto, é indispensável o reconhecimento
das profundas transformações dos meios de comunicação, a revolução digital e a
constituição dos espaços virtuais. Em síntese, que o cinema, ferramenta
apropriada pelas organizações do público no final do século 19, e que ocupou um
papel fundamental na intermediação das relações sociais até meados do século passado,
foi superado por formas mais dinâmicas e mais amplas de comunicação, desde a
televisão até a rede mundial de computadores. As mídias audiovisuais em
conjunto, como dispositivo social, têm uma presença infinitamente maior e um
papel hoje preponderante na própria mediação das relações sociais, da produção
da vida à produção da cultura.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">As difíceis, quase insuperáveis tarefas concretas que
desafiam os cineclubes brasileiros – e de todo o mundo – envolvem a
reorganização de seu caráter associativo democrático, mas efetivamente
enraizado nas comunidades e movimentos populares. A constituição de uma ampla
rede de participação e colaboração entre cineclubes compreendidos como <i>instituições
audiovisuais das comunidades</i> pode ser parte do processo de transformação do
Estado, de constituição de um Estado em transição para uma sociedade mais
democrática e justa – e nesse sentido deve participar e propor a direção das
políticas culturais públicas dos governos, e não simplesmente seguir diretrizes
elaboradas em gabinetes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como já foi dito, um “movimento” de “clubes” de uma
pessoa só, ou de pouquíssimos participantes, sem regras democráticas e sem
inserção popular, não pode ser base para a constituição de uma instituição
nacional representativa. Ou será artificial, fraudulenta ou no máximo
corporativa, reunindo individualidades que pretendem incorporar uma
representação simbólica, imaterial, irreal. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O longo, árduo caminho que as iniciativas e pessoas
que hoje se interessam genuinamente pelo cineclubismo, tem que começar por
formas de reconhecimento, de questionamento honesto de sua condição e das
formas de superar suas fraquezas e deficiências, aproveitando a legislação –
especialmente a Política Nacional Aldir Blanc – para constituir cineclubes
organizados, autônomos, com espaços próprios dentro das mais diversas
comunidades. E, como hoje as iniciativas que se reconhecem como cineclubes
assumem as formas mais diversas, inclusive entre si, ou são simplesmente
iniciativas individuais, a única forma de iniciar esse processo de forma
inclusiva e abrangente é o estabelecimento de um Fórum Nacional de Cineclubismo
aberto a todos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftn17" name="_ftnref17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>: uma
instância informal de circulação de ideias e debates que podem evoluir para
propostas e, no ritmo possível, ajudar a constituir cineclubes integrais de um
novo tipo, base para um movimento organizado em escala nacional.”<b><o:p></o:p></b></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Disponível em </span></span><a href="http://cultura.rj.gov.br/wp-content/uploads/2023/09/LPG-Edital-de-Apoio-a-Difus%C3%A3o-e-Forma%C3%A7%C3%A3o-Audiovisual_-FINAL_18092023-2.pdf"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">http://cultura.rj.gov.br/wp-content/uploads/2023/09/LPG-Edital-de-Apoio-a-Difus%C3%A3o-e-Forma%C3%A7%C3%A3o-Audiovisual_-FINAL_18092023-2.pdf</span></a><span class="MsoHyperlink"><span lang="PT-BR" style="color: windowtext; mso-ansi-language: PT-BR; text-decoration: none; text-underline: none;">.</span></span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span class="MsoHyperlink"><span lang="PT-BR" style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">Embora eu não
tenha examinando mais em detalhe editais de outros estados – e, menos ainda,
dos municípios – penso que eles trarão a mesma <i>contradição</i>,
eventualmente sob diferentes apresentações.</span></span><span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=bqRpkh9KYX0"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.youtube.com/watch?v=bqRpkh9KYX0</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Figueiredo, Hermano; Barbosa,
Regina Célia e Seabra, Carlos. 2023. São Paulo-Recife: Oficina Digital e Vento
Nordeste<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Antes disso, entre os anos 40
e 90, era meio que “natural” que os cineclubes se organizassem de forma
estatutária e se registrassem nos cartórios. E note-se que ainda não havia a
instituição do CNPJ nem propriamente políticas públicas para o cineclubismo.
Essa questão organizativa e jurídica, internacionalmente, já estava posta
claramente mesmo antes do reconhecimento de cineclubes (como geralmente se
entende hoje), na famosa Lei 1901, daquele ano, na França, que estabeleceu as
associações civis sem fins lucrativos e previa seu registro jurídico,
reconhecendo, no entanto, explicitamente, a possibilidade (e não a legalidade,
claro) das entidades organizadas de maneira mais informal. Creio que essa lei
influenciou as legislações da maioria das democracias liberais do mundo.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Acessível em </span></span><a href="https://observacine.wordpress.com/campanha-mundial-pelos-direitos-do-publico/direitos-do-publico/"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://observacine.wordpress.com/campanha-mundial-pelos-direitos-do-publico/direitos-do-publico/</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Um comunicado da Federação
Paulista de Cineclubes, de março de 1983, recentemente disponibilizado, é um
bom exemplo do que era a prática corrente no movimento cineclubista brasileiro.
Acessível em </span></span><a href="https://drive.google.com/file/d/1xEZq2yRnfhyK6BzGlCWjJr2pzAG2yf1f/view"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://drive.google.com/file/d/1xEZq2yRnfhyK6BzGlCWjJr2pzAG2yf1f/view</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A lei 5.536, de 21 de
novembro de 1968, havia sido criada para regular “a censura de obras teatrais e
cinematográficas”. Apesar da data sombria – próxima da edição do AI-5, na
ditadura – sua origem reoercutia outro contexto, anterior, de conquistas
relativas dos meios culturais. Daí que criava várias exceções à Censura – que
era uma instituição naturalizada mesmo antes da ditadura – beneficiando, em
especial, os cineclubes e cinematecas. É a lei que melhor definiu cineclubes e
sobre qual se basearam, ainda que de forma indireta, todas as demais
disposições legais sobre cineclubes (Resolução 64, do Concine, de 1981 e a
Intrução Normativa 63, da Ancine, de 2007). Dizia a lei, sem seu <i>Art. 5º. - A
obra cinematográfica poderá ser exibida em versão integral, apenas com censura
classificatória de idade, nas cinematecas e nos cineclubes, de finalidades
culturais. <br />
Parágrafo único. As cinematecas e cineclubes referidos neste artigo
deverão constituir-se sob a forma de sociedade civil, nos termos da legislação
em vigor, e aplicar seus recursos, exclusivamente, na manutenção e
desenvolvimento de seus objetivos sendo-lhes vedada a distribuição de lucros,
bonificações ou quaisquer vantagens pecuniárias a dirigentes, mantenedores ou
associados</i>.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Acessível em </span></span><a href="https://culturaemercado.com.br/a-editalizacao-da-cultura/"><span lang="PT-BR" style="color: blue; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
editalização da Cultura – Cultura e Mercado</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Não caberia estender aqui a
questão, entretanto, fundamental: as mediações sociais na sociedade contemporânea
são feitas principalmente pelas mídias, que atingem praticamente a totalidade
da população mundial. E essas mídias são, essencialmente, mídias digitais
audiovisuais.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Trecho extraído de <i>A
Política Nacional Aldir Blanc</i>, de agosto de 2022 – íntegra disponível em </span></span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/08/politica-nacional-aldir-blanc-nova.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/08/politica-nacional-aldir-blanc-nova.html</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">O texto é de 2022. Sua
vigência foi estendida até o final de 2023.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; mso-themecolor: text1;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none; mso-themecolor: text1;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">
Nos anos imediatamente anteriores ao desgoverno atual (Bolsonaro), os recursos
aplicados pelo Estado na produção de cinema eram de pouco menos de 1 bilhão de
reais anuais, numa aproximação superficial. Assim esses quase 3 bilhões
equivalem mais ou menos, e coincidentemente, com os recursos perdidos durante a
(falta de) gestão atual. (dados Folha de São Paulo) – nota do texto original.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Trecho extraído da parte
final, “Conclusões e perspectivas”, de<i> Novíssima Cronologia do Cineclubismo
Brasileiro</i>, disponível em </span></span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2023/09/novissima-cronologia-do-cineclubismo.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2023/09/novissima-cronologia-do-cineclubismo.html</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">“Pessimismo da inteligência e
otimismo da vontade”. Essa espécie de dístico aparece algumas vezes nos
escritos de Gramsci (Gramsci, Antonio. 1999. <i>Cadernos do Cárcere</i>. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira): “<i>é preciso atrair a atenção violentamente
para o presente assim como ele é, se se quer transformá-lo. Pessimismo da
inteligência e otimismo da vontade</i>”. Ou: “<i>O único entusiasmo
justificável é aquele que acompanha a vontade inteligente, a operosidade
inteligente, a riqueza inventiva em iniciativas concretas que modificam a
realidade existente</i>”. E ainda: “<i>é preciso criar homens sóbrios,
pacientes, que não se desesperem diante dos piores horrores e que não se
exaltem por qualquer tolice. Pessimismo da inteligência e otimismo da vontade</i>.”
(apud Lelio la Porta, verbetes “otimismo”, p. 595-596 e “pessimismo”, p. 621,
em Liguori, Guido e Voza, Pasquale (orgs.). 2017. <i>Dicionário Gramsciano</i>.
São Paulo: Boitempo)<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Marx, Karl.1969 (1852). <i>Le 18
Brumaire de Louis Bonaparte</i>. Paris : Éditions Sociales.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/A%20contradic%CC%A7a%CC%83o%20cineclubista.docx#_ftnref17" name="_ftn17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Não há que ignorar o Conselho
Nacional de Cineclubes Brasileiros (ver os anos 2019 e seguintes); inclusive o
grupo deverá promover mais uma Jornada, ainda neste ano, e desta vez com apoio
do governo federal. Se não reconheço sua representatividade nacional, nem vejo
consequência nas propostas que tem apresentado, penso, contudo, que é uma
iniciativa que se inscreve dentro da realidade cineclubista brasileira atual.
E, como tal, também pode contribuir significativamente em um Fórum como o
proposto.<o:p></o:p></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-3952169091549305792023-09-15T10:05:00.002-07:002023-09-15T10:08:43.688-07:00<p> </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiMvxXXD7hwtfVspdbepfY0K5uyYCli67cU9EoiJlwts69TQXkP3Wng9FXbZ5lIYlGwqKHXUnb4da3Hcf7oAj_Oe_nvfh1zWRpddJQgaS92pocmxnTz3hBX7WXURxyWK6UXA__aFxB-ElYVBcb7tbAIJg4aHnzcxwtmQ6lJXR1mJKC8B40n7ARZARZxpkQ" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="524" data-original-width="720" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiMvxXXD7hwtfVspdbepfY0K5uyYCli67cU9EoiJlwts69TQXkP3Wng9FXbZ5lIYlGwqKHXUnb4da3Hcf7oAj_Oe_nvfh1zWRpddJQgaS92pocmxnTz3hBX7WXURxyWK6UXA__aFxB-ElYVBcb7tbAIJg4aHnzcxwtmQ6lJXR1mJKC8B40n7ARZARZxpkQ=w400-h291" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ao centro: Carlos Vieira (de terno) e Marco Aurélio Marcondes <br />no Clube de Cinema de Marília (final dos anos 70)</td></tr></tbody></table><br /><p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-78163974565882992282023-09-15T09:56:00.007-07:002023-09-18T10:08:14.569-07:00<p> </p><div style="border-bottom: solid #4F81BD 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-themecolor: accent1; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 4pt;">
<p class="MsoTitle"><i><span color="windowtext" lang="PT-BR" style="font-size: 20pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Novíssima</span></i><span color="windowtext" lang="PT-BR" style="font-size: 20pt; mso-ansi-language: PT-BR;"> Cronologia do Cineclubismo
Brasileiro<o:p></o:p></span></p>
</div>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Notei que minha <i>Nova Cronologia do Cineclubismo
Brasileiro</i> tem sido relativamente bastante lida no saite academia.edu, onde
tenho uma conta, ou perfil, com vários textos. Essa<i> Nova Cronologia</i> é um
texto relativamente recente, de 2018, uma revisão de outro texto, a <i>Cronologia</i>
original, de 2005. O fato desse texto estar sendo bastante acessado, a evolução
das minhas pesquisas sobre o assunto – que traz algumas informações novas – e,
talvez mais importante: a superação do governo criptofascista de Bolsonaro e a
provável retomada das políticas dos governos Lula para os cineclubes tornou, a
meu ver, necessária a revisão do texto e a proposição desta <i>Novíssima
Cronologia do Cineclubismo Brasileiro</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Introdução<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: arial;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em 2005 organizei uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cronologia do Movimento Cineclubista Brasileiro</i>, publicada no
primeiro saite que mantive, abandonado há muito (mas que ainda pode ser
acessado em </span><a href="http://cineclube.utopia.com.br/"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">http://cineclube.utopia.com.br/</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">). Como eu dizia numa espécie de introdução, o texto
era muito baseado na minha memória pessoal – e um pequeno acervo de textos
próprios – e, portanto, sujeito a reparos de todo tipo. Também lembrava que até
então só existiam dois textos sobre a história do cineclubismo no Brasil: um
meu, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Movimento Cineclubista Brasileiro</i>,
um livreto publicado em 1982 pelo Cineclube da FATEC (SP), e o verbete de André
Gatti na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Enciclopédia do Cinema
Brasileiro</i>, de F. Ramos e L. F. Miranda, lançado no ano 2000. No entanto,
já começava um fenômeno surpreendente: uma pletora de trabalhos – de conclusão
de graduação, dissertações, teses e dezenas de artigos – que, segundo pesquisa
de Gizely Cesconetto<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
passam de 250 atualmente! A maioria desses trabalhos trata do uso do cinema e/ou
cineclube na educação; muitos avaliam casos, experiências diversas de
cineclubes. São mais raras as pesquisas realmente históricas sobre o
cineclubismo e temas conexos – como sobre a própria história da educação com
cinema – mas é bastante comum que os trabalhos tenham uma parte introdutória
que resume a trajetória histórica do cineclubismo, no mundo e no Brasil. Essas
introduções formam uma espécie de <i>doxa</i> inconteste, repetida e
irrefletida. E equivocada.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Podemos resumi-la: os cineclubes teriam surgido nos
anos 20 do século passado, por iniciativa sobretudo de Louis Delluc (às vezes
também se cita Ricciotto Canudo). Delluc, aliás, teria criado o termo
cineclube, em seu conhecido <i>Journal du Ciné-club</i>. A partir dali os
cineclubes se espalharam por todo o mundo. Depois da 2ª. Guerra Mundial tiveram
um grande impulso. No Brasil, os cineclubes começam em 1917 com o Paredão,
grupo de jovens precursores, que uma década mais tarde seriam redatores e
críticos de cinema nas primeiras publicações nacionais sobre cinema. Como na
Europa, também na década seguinte – 1928 – é criado o primeiro cineclube de
fato, o Chaplin Club, no Rio de Janeiro. Depois, só em 1940 surge outro
cineclube, o Clube de Cinema de São Paulo, que é fechado pela ditadura Vargas e
reabre com a redemocratização, cinco anos depois. A partir daí há um ciclo de
cineclubismo que vai estruturando o que constituiria um verdadeiro movimento
cultural. De lá para cá os fatos são mais conhecidos e resumi-los vai ficando
mais difícil (estão no corpo da <i>Cronologia</i>).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Bem, tudo isso, esses resumos, apontam para uma
ausência praticamente absoluta de pesquisa, uma repetição em <i>loop</i>,
acrítica, de leituras anteriores. Isso não é apanágio exclusivo brasileiro;
ainda que um pouco mais atenuado, o fenômeno também se manifesta numa <i>literatura
histórica cineclubista </i>mundial, uma expressão que também não é real: afinal,
o cineclubismo não é – ou não é quase – um tema legítimo para a teoria mais
tradicional ou o suficiente para ter uma historiografia e uma autonomia
própria, constituir uma disciplina. Essa doxa, contudo, é um amontoado de
repetições equivocadas, tanto no que se refere ao Brasil como em escala
mundial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">De 2005 para cá, minha compreensão do cineclubismo,
sob todos os aspectos, mudou muito. Pesquisas que venho realizando há uns 15
anos me levaram à descoberta de dados e fatos históricos que modificam
profundamente uma visão “tradicional”, elitista e colonizada em nossas terras –
como vejo hoje com clareza - e, no entanto, ainda preponderante, do que seja o
cineclubismo. Estes estudos, porém, são ainda incipientes, sobretudo em relação
ao Brasil. Além das dificuldades inerentes às pesquisas sobre cineclubismo -
isto é, o caráter associativo deste, frequentemente anônimo, marginal, de
memória oral, entre outras características -, a preservação das fontes é muito
precária, em nosso País especialmente, e a pesquisa existente poucas vezes vai
além da experiência histórica diretamente accessível. Pelas mesmas
características, não há quase preservação e digitalização de fontes pouco
“tradicionais” – como publicações de movimentos populares ou dos próprios
cineclubes. No meu caso particular, o fato de residir no Canadá e, hoje
afastado da Universidade, não dispor de recursos ou apoios para a pesquisa <i>in
loco</i> nos poucos arquivos brasileiros existentes, dificulta muito minhas
pesquisas. Mas não as impede: trago vários acréscimos a esta novíssima <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cronologia</i>, o que é uma das razões
principais para “publicá-la”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A versão da <i>Cronologia</i> que escrevi e divulguei
em 2018 tem tido um número importante de leitores, considerado o tema. Minhas
pesquisas mais recentes mudaram uma vez mais minha visão e os dados que
descobri sobre os primeiros anos de cineclubismo no Brasil. Sinto que devo a
esses interessados uma atualização. Por outro lado, o distanciamento temporal
em relação aos anos mais recentes daquela <i>Nova Cronologia</i>, assim como a
evolução da minha própria concepção teórica sobre cineclubismo, e cineclubismo
brasileiro, também trazem novas perspectivas para o relato e avaliação destes
anos mais recentes. Finalmente, entre 2018 e hoje (meados de 2023) aconteceram
dois fatos históricos extremamente importantes: o fim do governo criptofascista
de Jair Bolsonaro e o início da árdua tarefa de reconstrução democrática
centrada no talvez mais importante personagem da história da República, Luís
Inácio Lula da Silva. As políticas públicas referentes ao cineclubismo ou
práticas semelhantes estão apenas anunciadas, mas apontam para um período no
mínimo bastante movimentado para essas iniciativas. Resolvi, portanto, comentar
ao final as perspectivas contemporâneas do cineclubismo brasileiro. Tudo isso
se soma para justificar esta <i>Novíssima Cronologia</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Teoria e História do Cineclubismo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A centralidade do público<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A falácia do surgimento dos cineclubes nos anos 20 do
século passado, com seu corolário místico, a cinefilia, colocou um antigo
movimento emancipatório <i>do público</i> como subproduto, como uma extensão <i>do
cinema</i>. O público é mais amplo, existe independentemente do cinema – e a
recíproca não é verdadeira. De fato, a palavra aponta para as formações
coletivas que vão assumindo um aspecto moderno – isto é, dentro do capitalismo,
em que se constituem. Pode-se, talvez, situar as primeiras formas de público
moderno com a disseminação da alfabetização nos países centrais e o
desenvolvimento de um hábito popular de leitura<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Richard Butsch<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
situa o mesmo fenômeno sobretudo depois ou mesmo a partir do teatro
elizabetano. Pensando no sentido contemporâneo da palavra audiovisual, podíamos
pensar nos espetáculos de lanternas mágicas, especialmente no século 19. A meu
ver, no entanto, a conformação definitiva – isto é, globalizante e estável –
desse <i>público modern</i>o se dá com a <i>institucionalização</i> do cinema,
isto é, com o processo de consolidação de praticamente todas as grandes
instituições do cinema: sua linguagem, sua economia, sua recepção, entre
outras. Esse processo acontece – mais uma vez, nos países centrais – entre 1905
e 1915, mais ou menos. Kracauer<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
chama o público que resulta desse riquíssimo processo de <i>público cosmopolita
</i>(weltstadt publikum), que compreende praticamente a totalidade das classes
sociais, excluindo os detentores dos meios de produção. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O público é a expressão no plano simbólico do que Marx
denominava proletariado no sentido mais amplo: os que dependem da venda da sua
força de trabalho para se sustentar e aos seus. Corresponde ao <i>povo</i>,
como descreve Martín-Barbero<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Ou
ao <i>oprimido</i> de Paulo Freire<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Não
é exclusivamente o público de cinema, mas os receptores, testemunhas e
participantes de todas as mídias no sistema em que vivemos: é o público leitor,
de teatro, de cinema, de rádio, de cinema, da televisão e de todas as mídias
mais recentes. De fato, diferencio um pouco o <i>público contemporâneo</i> dos
paradigmas fundadores – o cinema e o <i>público moderno</i> – com as mudanças
que a <i>revolução digital </i>vem provocando nas formas de recepção e
participação intermediadas pelas mídias atuais e em formação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes, portanto, não são organizações do
cinema, mas do público. Essa distinção é essencial, mas negligenciada por
praticamente todos os autores que escrevem sobre os cineclubes e o
cineclubismo. As raízes dessas instituições crescem nas palestras e debates
ilustrados com as projeções de lanternas mágicas nos clubes de trabalhadores no
século 19. Essas mesmas práticas imediatamente adotaram o cinematógrafo, ainda
naquele século (assim como conservaram o emprego das lanternas até além da 1ª.
Guerra Mundial). As reuniões que usavam essas mídias visavam a <i>autoformação</i>
dos participantes, sua apropriação daqueles recursos, de forma semelhante ao
que faziam com outras práticas. O cinema nasceu burguês, manipulador e
alienador; foi principalmente nos ambientes de trabalhadores que se tentou
criar um outro cinema, <i>contra</i> aquele cinema que se estava ainda
definindo. Das projeções isoladas, ocasionais, a organização evoluiu para
iniciativas mais sistemáticas, com o uso de espaços comunitários ou com o
aluguel de salas. Concomitantemente, cita Steven Ross<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
já se produziam “filmes” desses mesmo públicos, antes do final da primeira
década do século. Mesmo quando propus à assembleia de Túnis (2013), da
Federação Internacional de Cineclubes, que se considerasse o Cinema do Povo
(Paris, 1913) como o primeiro cineclube – e teve bolo do centenário do
cineclubismo – eu já alertava<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
que havia outras iniciativas, menos documentadas, algumas anteriores mesmo
àquele cineclube. E várias posteriores, apesar da Guerra que também foi assunto
quase exclusivo dos países centrais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A distinção entre ser uma atividade de cinema ou uma
iniciativa do público tem um sentido essencial, que não foi compreendido por muita
gente nos meios cineclubistas em todo o mundo, ainda que vários repitam a
locução “organização do público” e gostem de agitar a <i>Carta de Tabor dos
Direitos do Público</i>, muitas vezes paradoxalmente combinada ao culto da
cinefilia. Quando cabe ao cinema a primazia – e é assim em quase todos os
textos – ao público cabe o papel de espectador, de coadjuvante, de legitimador,
de consumidor, de alfabetizando. Ainda que mais recentemente se lhe reconheça
algum grau de consciência, o público segue sendo <i>determinado por aquilo que
vê</i> e que, por sua vez, é usualmente uma decorrência metafísica da criação,
da autoria, do artista. Qualquer traço de sentido que lhe dê o público é
provocado, resultado, iniciativa de um <i>criador</i>. Tão imanente quanto seu
homônimo com maiúscula para certas crenças. O cinema, assim, por inversão, parece
ser a instância que dá sentido às coisas e às relações sociais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, qualquer autor é parte do público, na
heteroglossia<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
no diálogo permanente que é a circulação de sentidos em todos os níveis da
sociedade. O público de uma mídia ou de um espetáculo, o público de uma
comunidade e o público como classe social são os campos de construção de
sentidos: o filme, o produto ou evento audiovisual é instrumento, <i>meio</i>
dessa circulação. Cinefilia é alienação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">As primeiras três décadas do cineclubismo (até 1928) que
revejo bastante com relação ao texto de 2018 – e em contraste com quase todos
os outros escritos sobre o tema – no caso do Brasil, especialmente, estão cheias
de lacunas, interrogações, pistas que ainda não permitem um quadro mais preciso
da trajetória do cineclubismo ancorada em sua relação com a sociedade
brasileira. Espero que, mesmo assim, estas notas indicativas possam ser úteis,
motivadoras também para outros pesquisadores. Há um outro fosso de ignorância
ideológica entre o Chaplin Club (1928) e o Clube de Cinema de São Paulo (1940/45).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Depois disso essa história está mais e melhor
documentada, este meu novo texto não reflete uma nova pesquisa sobre esse
último período, apenas a reprodução dos dados de que já dispunha, ainda que –
como é apanágio do historiador – reveja essas fontes sob uma nova luz. Dos anos
finais da ditadura militar (a partir de 1971) até a atualidade me baseio em
meus próprios arquivos e minha memória pessoal<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
para a interpretação da experiência histórica. Isso, claro, tem vários e claros
riscos. Porém, como fui parte integral dessa experiência, não poderia escapar
de forma nenhuma desses perigos – que procuro minimizar com a bagagem acadêmica
com que tenho viajado nestes últimos anos. Todo exercício intelectual é
ideológico, expressa interesses mais ou menos claros, mais ou menos
conscientes. Tratando-se de uma atividade em que sempre estive profundamente
implicado, mais ainda, provavelmente. Mas considero que quanto mais clara for a
exposição do ponto de vista adotado pelo historiador, tanto mais transparente
será a interpretação da história e maior a autonomia da leitura – igualmente
ideológica – que pode ser feita. O texto que segue procura ser coerente com
essa convicção. De todos modos, esta <i>Novíssima </i><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cronologia</i> não pretende constituir mais que notas introdutórias, um
breve resumo para interessados e uma provocação para os estudiosos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cronologia do Cineclubismo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Durante muitas décadas o cineclubismo foi ignorado
pela historiografia do cinema – e de qualquer outro objeto de estudo. Embora
onipresentes em toda a história do cinema e na origem de grande parte de suas instituições
– como as cinematecas, os festivais de cinema, a crítica, o cinema amador e
documentário, os estudos universitários, a quase totalidade dos movimentos de
renovação, etc. – os cineclubes eram, no máximo, citados marginalmente, como
reuniões de apaixonados pelo cinema (uma noção imprecisa e altamente
discutível) ou lembrados para falar da adolescência dos sacrossantos
autores.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Apenas na última década do
século passado começou-se a falar mais frequentemente em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cinefilia</i>, trazendo mais ou menos os cineclubes – “templos da
cinefilia” – para mais perto do nível de objeto legítimo de estudo. No entanto,
de maneira mais ou menos consciente ou vagamente explícita, a cinefilia, e suas
bases, surgiu muito antes: ao final dos anos 20 em Paris e outras cidades
importantes da Europa e, desde então, foi paulatinamente se consolidando como a
ideologia dominante do cineclubismo mundial. Junto com os cineclubes, neste
mesmo período, vieram à luz da legitimidade acadêmica vários outros objetos
esquecidos ideologicamente pela historiografia: o cinema amador, os arquivos,
os festivais, as mulheres<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> (e
outros sujeitos distintos do arquétipo masculino, branco, euronorteamericano,
heterossexual, cristão) e, portanto, o público. Que, como os cineclubes, ainda
está em processo de assimilação pela Teoria do cinema e de integração em sua
História.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: arial;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nos anos 70, Philippo de Sanctis e Fabio Masala, dois
cineclubistas e pesquisadores italianos, trabalhavam com a ideia de que o
público era sujeito – e não objeto passivo, consumidor inerme - da recepção
cinematográfica. O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">associativismo</i> é
para eles a grande característica e o principal instrumento de emancipação do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">novo público</i> que se identifica com uma
forma contemporânea do conceito de proletariado da tradição marxiana. No
Brasil, na mesma época, mas na situação de resistência à ditadura militar, eu
mesmo</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">escrevia sobre o cineclube como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">organização do público</i> voltada para a criação de um novo cinema,
veículo de expressão da emancipação desse público. É notável a convergência de
ideias dos três pesquisadores, que não se conheceram antes do desaparecimento precoce
dos dois cineclubistas italianos. Infelizmente eles só são lembrados em alguns contextos
cineclubistas, à margem dos espaços acadêmicos mais canônicos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ora, o público moderno se constrói juntamente com o
desenvolvimento do cinema. Os dois conceitos são interdependentes. O cinema se
consolida como elemento essencial da modernidade a partir do estabelecimento de
um novo público – que, pela primeira vez, trazia para os espaços públicos as
mulheres, as crianças, juntamente com toda a população amalgamada. E o público,
igualmente, só atinge sua configuração definitiva com a chamada <i style="mso-bidi-font-style: normal;">institucionalização</i> do cinema, isto é,
do dispositivo tecnológico, estético, econômico do cinema, suas formas
permanentes (até a recente revolução digital) de produção, distribuição e
recepção. As duas primeiras décadas – mais particularmente a segunda - da
história do cinema marcam um período de transformações que culminam no
estabelecimento de um modelo dominante. Os cineclubes, que constituem a
instituição por excelência criada pela resistência do público em formação,
estão presentes em todo esse período. Tal como o cinema em transformação,
diferentes tradições e novas práticas populares culminam na instituição do
cineclube como forma paradigmática de organização do público.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">As primeiras origens desse processo, uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">proto-história</i> do cineclubismo, pode ser
encontrada nas exibições de vistas de lanternas mágicas – que os jesuítas já
usavam no século XVIII para maravilhar os indígenas das Missões nas Américas –
frequentemente usadas para ilustrar conferências, estimular discussões. No
século XIX, evoluindo junto com outras formas de organização popular, os clubes
operários constituíram-se como locais de reunião, aprendizado e organização
política, através de representações, conferências, debates <i>ilustrados</i>
com a projeções. Desde o surgimento da exibição cinematográfica, esses grupos
adotaram a nova tecnologia. Com o desenvolvimento do cinema, a consolidação de
sua linguagem e a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">domesticação</i> de um
público passivo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">espectador</i>, o
cineclube se consolidou como forma de resistência à alienação e como base de
criação de um cinema alternativo àquele que servia principalmente para a sua
sujeição e exploração. A história do cineclubismo é concomitante e parte integrante
da história do cinema. A instituição cineclube se consolida – e é marginalizada
- com a institucionalização do cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Uma concepção elitista, que ignora a ligação do
cineclube com o público, criou uma versão daquele como expressão do interesse
de conhecedores especializados – os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cinéfilos</i>
– que teria surgido a partir dos anos 20 graças às <i style="mso-bidi-font-style: normal;">premières</i> de divulgação do jornal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ciné Club</i>, de Louis Delluc, e aos banquetes promovidos por
Ricciotto Canudo para discutir a sétima arte (expressão criada por ele) com a
elite de Paris. Esses dois intelectuais fazem sem dúvida parte da história do
cineclubismo e tiveram um papel importante na valorização institucional e
artística do cinema, mas estão bem longe de terem dado origem aos cineclubes.
Mesmo a palavra cineclube, que alguns querem atribuir a Delluc, já existia pelo
menos desde o início do século e foi usada em vários contextos diferentes; houve
até mesmo um Clube de Cinema e um jornal homônimo em Sobral (CE), em 1910, como
veremos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No Brasil<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Até 1910 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Não existem pesquisas publicadas sobre esse período –
até porque ninguém pensa em cineclubismo antes dele ser legitimado pelo modelo
europeu. A formação do público de cinema no Brasil é, sem dúvida, bem diferente
da ocorrida nos países centrais: as primeiras exibições chegaram aqui poucos
anos depois da abolição da escravidão, encontrando uma classe trabalhadora
desarticulada, sem a mesma tradição de organização e mesmo de luta que seus
correspondentes em países de capitalismo central. É mesmo duvidoso que no País
tenha havido um processo “explosivo” de multiplicação do público de cinema
semelhante ao que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa. Contudo, desde 1901
já existem referências a manifestações públicas de posicionamento quanto ao
cinema<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">De fato, os meios e organizações anarquistas, formados
quase que exclusivamente por imigrantes, predominantes entre o operariado
fabril desde a virada do século, davam uma importância central à formação e
educação, adotando as mais diversas e modernas práticas em associações, clubes,
ateneus, nos quais se organizavam sistematicamente festas, criavam-se grupos
teatrais, de declamação, etc. O cinema era um dos instrumentos usados nessas
atividades. Na época do fuzilamento do grande educador anarquista catalão, Francesc
Ferrer, em 1909, as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">escolas modernas</i>,
de sua concepção, já existiam no Brasil e usavam todas essas práticas. Não
sabemos, até agora, muito mais sobre o uso do cinema ou sobre a organização
popular em torno do novo meio de expressão e comunicação. Mas muitas pistas
apontam para seu uso sistemático como elemento de atração e congraçamento nas
comunidades populares<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Da mesma forma, a outra vertente de uso não comercial
do cinema, a Igreja, também já o usava fortemente. Ela trouxe para o País
adaptações das organizações francesas, como a Boa Imprensa. A revista <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vozes de Petropólis</i>, em 1912, já menciona
várias salas de cinema da Igreja: o</span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Centro Popular Católico (Petrópolis), o Cinema Modelo
(Belo Horizonte) e o Cinema Católico (Recife), por exemplo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn14" name="_ftnref14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: 115%; margin-left: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1910-1912
– O primeiro cineclube: Clube de Cinema de Sobral (Ceará)</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Uma cópia em mal estado do jornalzinho <i>Cinema
Club – Órgão do Cinema do Club dos Democratas</i>, encontra-se na Biblioteca
Nacional. Essa iniciativa pertencia à “associação social” Club dos Democratas, fundada
em 1910, que promovia festas, bailes, concursos com as jovens da sociedade, mas
também mantinha uma sala de cinema – iniciada também ainda em 1910<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-font-kerning: 1.0pt; mso-ligatures: standardcontextual;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
- e um grupo de teatro amador. Edilberto Florêncio dos Santos, em sua
dissertação de mestrado e também em outros artigos traz muitos detalhes dessa
organização, sua história, atividades e ligações com a sociedade local. Não é
possível determinar precisamente quanto o Cinema Club era uma atividade mais
coletiva, mas há a informação do envolvimento de associados, inclusive eleitos
para tanto, em atividades do Club dos Democratas. Parece certo, então, que o
Cinema Club era parte de uma associação, constituída estatutariamente –
inclusive com a regra de rodízio mensal dos diretores eleitos -, que não
distribuía seus resultados financeiros aos sócios e propiciava acesso ao
cinema, dentro dos limites ideológicos do seu tempo e, principalmente, da sua
classe social. Era, portanto, um cineclube. Provavelmente o primeiro, ou pelo
menos o mais documentado até aqui, com as características que definem um
cineclube – desde que não apliquemos, teleologicamente, o modelo cinéfilo
“tradicional”. De fato, o Cinema Club também foge do modelo operário,
igualmente produzido na Europa e Estados Unidos, mais ou menos na mesma época.
Mas, como penso podermos claramente deduzir, apresenta as características
presentes em todos os outros tipos de cineclubes do século 20. Os dados não são
completos, mas certamente são bem mais consistentes que tudo que tem sido
estudado até hoje. E mais, o Cinema Club é mais uma evidência a corroborar a
ideia de que a invenção do termo cineclube – ou clube de cinema - só iria
ocorrer na década seguinte é, de fato, uma grande falácia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1914 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Neno Vasco, importante liderança anarquista, exilado
em Portugal, escreve no jornal paulista <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
Lanterna </i>sobre a experiência do Cinema do Povo, o cineclube de anarquistas
e socialistas franceses criado no ano anterior. Em seu número de 8 de maio, o
jornal publica uma convocatória para uma reunião no dia 11 daquele mês visando
a formação de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">uma associação voltada
para a propaganda social</i> (ou educação) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">através
do cinematógrafo</i>” em São Paulo. A sequência ou consequência desse convite,
porém, ainda não foram documentadas. Outras fontes mencionam o continuado uso
do cinema como estímulo nas atividades operárias, inclusive durante a grande
greve geral de 1917.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1916 – O mito do Paredão. </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-weight: bold;">Muitos autores citam o grupo
que teria adotado esse nome, Paredão, como uma espécie de cineclube <i>avant la
lettre</i></span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">. A construção desse
mito deve-se a uma sucessão de repetições de referências anteriores em diversos
textos que não procuraram a sua confirmação. A primeira citação, no entanto, é
de Carlos Vieira (importante liderança cineclubista entre os anos 50 e 70) e
não faz parte dessa cadeia de mal-entendidos. Creio que a primeira referência
ao Paredão foi feita na revista portuguesa Celulóide, citação esta que não foi
reproduzida no Brasil até agora, que eu saiba. Para Vieira, “<i>era o ‘Nacional
Infante Filme’, fundado pelos jovens cinemaníacos Pedro Lima, Paulo Vanderley,
Adhemar Gonzaga e Álvaro Rocha, que não só faziam sessões com pedaços de fitas
conseguidos nas distribuidoras, como tentavam a filmagem de cenas breves em que
todos intervinham como atores</i>.” Em que pese o valor pessoal do autor, a
história – que nunca foi repetida por ninguém – parece meio mítica,
improvisada, desprovida de qualquer rigor, sem outra confirmação. Foi,
entretanto, a versão contada por Peri Ribas (um dos companheiros dos
protagonistas - todos redatores da revista <i>Cinearte</i> nos anos 20 -, mas
que nunca foi parte do grupo original de adolescentes) que deu origem a essa
espécie de série histórica de crescente distanciamento da realidade, que
finalmente criou o mito. O jornalista disse a Rudá de Andrade, segundo a <i>Cronologia
da Cultura Cinematográfica no Brasil </i>deste último, editada pela Cinemateca
Brasileira em 1962, que aquele grupo de adolescentes se reunia para ir aos
cinemas do Rio de Janeiro e depois discutir os filmes na casa Álvaro Rocha. Em
1982 eu reproduzi a citação de Rudá de Andrade em <i>O Movimento Cineclubista
Brasileiro</i>. Pouco depois, André Gatti, autor do verbete <i>cineclube</i>,
na<i> Enciclopédia do Cinema Brasileiro</i>, lançada no ano 2000 pelos
organizadores Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda, também cita Rudá. Gatti é o
primeiro a chamar o grupo de Cineclube Paredão, reconhecendo, entretanto, que
não havia uma constituição formal, legal. Creio que é possível afirmar que a
maioria dos textos que a partir daí mencionam o grupo do Paredão repetem as
informações do verbete de Gatti.</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Taís Campelo Lucas, no
entanto, em sua dissertação de 2005, <i>Cinearte: o cinema brasileiro em
revista (1926- 1942)</i>, traz outras informações importantes, baseadas em
depoimentos de Adhemar Gonzaga ao Museu da Imagem e do Som do Rio (1974), e de
Pedro Lima a Vera Brandão de Oliveira: “Uma odisseia no tempo: Pedro Lima em
flashback”, na revista <i>Filme Cultura</i>, nº 26, no mesmo ano. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A historiografia oral tem fraquezas evidentes,
sobretudo a falta de isenção dos depoentes e falhas ou falsas memórias,
eventualmente juntas. Mas tem também a riqueza inigualável de quem viveu os
processos em questão. Completada por uma pesquisa em outras fontes possíveis,
localizando o contexto que envolveu os depoentes, a oralidade constitui uma
fonte importante. Da mesma forma, as fontes primárias tradicionais são eivadas
de erros, contaminadas pelos redatores – pessoas ou instituições. Também são
fontes importantes, mas com limites, que pedem uma pesquisa histórica em outros
sentidos. Finalmente, nesta breve abordagem epistemológica, “fazer história”,
no sentido de interpretar os dados adquiridos, é uma visão contemporânea sobre
o observado. A reconstituição da história é sempre uma interpretação dos tempos
correntes sobre o que, com essa perspectiva, logramos ver no passado, sejam
quais forem as fontes. A história é uma produção ou representação do presente num
passado que não pode ser reproduzido.</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Assim, minha
interpretação é que o Paredão é uma lembrança forte de seus principais
mentores, muito provavelmente ampliada em sua importância nos depoimentos
tomados várias décadas depois. Tem muito de verdade: seus membros provavelmente
tinham uma forte atração pelo cinema, que era um entretenimento preferido entre
os jovens e crianças (a idade desses rapazes variava de 14 a 17 anos em 1916),
uma invenção extraordinária que provocava surpresas e emoções. Provavelmente
essa espécie de cinefilia juvenil não era a mesma que os mesmos personagens
teriam apenas dez ou mais anos depois, como críticos, cineastas e técnicos.</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Associar isso a uma ou mais biografias e, por isso,
chamar essa prática, um tanto singela, de cineclube, constitui um exagero e
mais, um deslize teleológico. O empréstimo de categorias posteriores a
situações do passado é um dos equívocos mais frequentes em diversas
reconstituições históricas, e particularmente no cinema. Desde o século 19 a
palavra clube era frequente na linguagem corrente, e aplicada em vários
contextos; não sei, contudo, se cineclube faria parte do léxico carioca daquela
época: é bem possível que só tenha se vulgarizado, de certa forma, ao final da
década seguinte, justamente por influência de uma cinefilia parisiense erudita
que só seria construída nos anos 20.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1925/26 – O cineclube de São Paulo -</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Rudá de Andrade, na já citada <i>Cronologia da
Cultura Cinematográfica</i>, é bem conciso ao tratar do Cineclube de São Paulo,
de 1925 – e um tanto opinioso: “<i>1925 – O nome ‘Cine Club’ é utilizado por
Jayme Redondo. Trata-se de um clube de jogo, com exibições cinematográficas
para atrair jogadores. O resultado é a produção de dois filmes: Passei minha
vida num sonho e Fogo de Palha</i>.” (op. cit., p. 6). O mesmo ponto de vista,
isto é, de que não se tratava de um cineclube por estar em ou fazer parte de um
clube de jogos, é exposto de forma bem mais extensa por César Augusto de
Carvalho<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn16" name="_ftnref16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
que traz um resumo bastante completo e interessante da biografia de Jayme
Redondo, com citações da revista <i>Cinearte</i> e outras fontes. Já o verbete
do André Gatti também, na mesma linha, faz apenas uma breve menção ao caso.
Jurandyr Noronha, no entanto, descreve o Cineclube de São Paulo como “<i>um
agrupamento de cinéfilos encabeçado por Jayme Redondo, os quais, com a fundação
do Cineclube de São Paulo, pretendiam chegar à prática, o que efetivamente
aconteceu com a realização de dois longas-metragens...</i>”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn17" name="_ftnref17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Parece
meio discutível essa espécie de desprezo que, baseado claramente na
transposição do modelo europeu, procura ignorar a cinefilia de Jayme Redondo.
Se a iniciativa visava apenas o jogo, produzir longas metragens parece uma
maneira bastante trabalhosa de obter resultados. Vale, ainda, lembrar que o
número 24 de <i>Cinearte </i>traz uma série de fotos da sede ocupada pelo Cine
Clube de São Paulo: sala de administração, sala de leitura, duas fotos da sala
de projeção e até uma do salão de chá. Depois que os cineclubes incorporaram
barzinhos, livrarias, ou passaram a atuar em barzinhos privados, entre outras
atividades, ninguém mais se ofende com essa amálgama cultural.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outras iniciativas –</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Na história do cineclubismo – e mais uma vez eu considero
que isso se deve, ao menos em grande parte, à invenção da <i>cinefilia culta</i>
e ao efeito ideológico do cineclube de tipo cinéfilo – diversas formas
autônomas de organização do público para a apropriação do cinema se destacaram
da trajetória percebida do cineclubismo, formando uma espécie de outra
linhagem, ou foram mesmo esquecidas. Prevalece um tipo de senso comum
simplificador: cineclube é o que tem esse nome. Às vezes nem esses são
admitidos no clube da cinefilia. Ora, os anos 20 marcam a introdução dos
pequenos formatos: filmes e aparelhos para projeção doméstica, depois também de
filmagem – em 9,5 mm e em 16mm –, que imediatamente possibilitaram uma ampla
utilização do cinema fora dos espaços comerciais tradicionais. A revista <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cinearte</i> menciona alguns Clubes de
Cinema nas décadas de 20 e 30, mas sem maiores informações, o que não permite
realmente comprovar a atividade cineclubista: como em vários outros países,
algumas vezes os chamados Clubes de Cinema reúnem realizadores amadores, ao
contrário dos cineclubes, voltados para a atividade com o público. Mas onde
ficaria a fronteira entre os dois modelos? A revista tinha uma sessão voltada
especialmente para esses amadores e clubes, tratada mais como um espaço de
aprendizado técnico, mas com eventuais referências a associações ou clubes que
também se dedicavam ao cinema amador. Há bons trabalhos a respeito, especialmente
os de</span><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Lila Foster</span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">:
<i>A Pathé-Baby no Brasil e o imaginário sobre cineamadorismo nas décadas de
1920 e 1930</i> (2015) ou sua tese, de 2016: </span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: Calibri;">Cinema amador
brasileiro: história, discursos e práticas (1926-1959)</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: Calibri;">.</span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1928 – 1930 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Chaplin Club – Em 13 de junho, no Rio de Janeiro, Otávio
de Faria, Plínio Sussekind Rocha, Almir Castro e Cláudio Mello fundam o Chaplin
Club. Tradicionalmente foi considerado como o primeiro cineclube brasileiro,
por ser o primeiro caso claramente documentado – e por influência da ideia
cinéfila que localizava a origem dos cineclubes nos anos 20. Hoje isso parece
muito duvidoso e uma pesquisa mais acurada pode provavelmente encontrar o (ou
mais de um) elo perdido do cineclubismo uns dez ou quinze anos antes. Mas não
há como ignorar a importância do Chaplin Club, que alcançou grande repercussão
nos meios cultos da então Capital Federal. Reunia figuras de grande prestígio
no ambiente cultural carioca, influenciando as principais polêmicas
cinematográficas da época – como a do advento do som, ou a da fotogenia - e
trazendo para o Brasil cinematografias até então aqui desconhecidas, como o
expressionismo alemão e os primeiros clássicos soviéticos. Alguns filmes
lançados no Chaplin Club marcam a história do cinema no Brasil: como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Limite</i>, de Mário Peixoto ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Encouraçado Potenkin</i>, de S.
Eisenstein. Ainda em agosto de 28 o cineclube criava a revista "O
Fã", seu órgão oficial, que duraria apenas dois anos, ou nove números. O
nome Chaplin era uma homenagem que também simbolizava uma tomada de posição em
defesa da pureza estética do cinema silencioso.</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><span face="Tahoma, sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%;">A década de 30, o INCE - </span></b><span face="Tahoma, sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%;">Outro longo hiato. Igualmente estranho já que, por
exemplo, a geração do Chaplin Club – em especial Otávio de Faria e Plínio Sussekind
- influencia e forma novos cinéfilos, como Vinícius de Moraes, e cineclubistas
como Paulo Emílio Salles Gomes – que declarou ter sido “levado” ao cineclubismo
por Sussekind quando de seu exílio em Paris, no final dos anos 30. Mas
igualmente estranho porque o cinema já era um fenômeno nacional, e muito
popular, à época das chanchadas.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span face="Tahoma, sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%;">Em 1936 foi
criado o Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE). Seu principal
inspirador foi o antropólogo Edgar </span><span face="Tahoma, sans-serif" style="line-height: 115%;"><a href="http://www.fiocruz.br/brasiliana/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=155&sid=30"><span lang="PT-BR" style="color: #0e5743; text-decoration-line: none;">Roquette</span><span lang="PT-BR" style="color: #0e5743; mso-ansi-language: PT-BR;">-</span><span lang="PT-BR" style="color: #0e5743; text-decoration-line: none;">Pinto</span></a></span><span face="Tahoma, sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%;"> com extensa vinculação aos modernos meios de
comunicação – criou a primeira rádio brasileira. O INCEA visava promover o
cinema como auxiliar do ensino e servir-se dele como um instrumento voltado
para a educação popular. Entre 1936 e 1966, foram mais de 400 filmes produzidos,
entre curtas e médias, dos quais a direção de cerca de 350 é atribuída ao
cineasta Humberto Mauro. Boa parte da produção voltava-se ao apoio às
disciplinas das escolas, à divulgação de aplicações da ciência e da tecnologia,
às pesquisas científicas nacionais e ao trabalho de instituições nacionais.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">
</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><span face="Tahoma, sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%;">1939 </span></b><span face="Tahoma, sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%;">– Em 1939, mais uma vez em Cinearte, aparece uma
matéria bem mais circunstanciada - com foto da equipe, nomes de vários
associados e endereço (Rua São Francisco da Califórnia, no. 47) - do Cine-Fan
Club de Porto Alegre. Além de já ter produzido um “filme amador”, o Cine-Fan
pretendia desenvolver o movimento associativo de cinema amador no Brasil, “<i>pois
os clubes de amadores de cinema, nos Estados Unidos, contam-se às dezenas</i>”.
Ainda em 1939, foi fundado o Foto Clube Bandeirante, em São Paulo, que se
distinguia pelo interesse pela fotografia, claro, mas era presidido pelo conhecido
cineasta Benedito Junqueira Duarte. A revista <i>Scena Muda</i> traz a notícia
da criação, no mesmo ano, do Club de Fans Cinematográficos, no Rio de Janeiro,
na Avenida Rio Branco 181, 4º. Andar, sala 404, voltada para “<i>o
desenvolvimento cultural e artístico nos sectores do Cinema, do Rádio e do
Theatro</i>”. Esse cineclube tem uma extensa folha corrida.<span><o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1939 </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– Em 1939, mais uma vez em Cinearte, aparece uma
matéria bem mais circunstanciada - com foto da equipe, nomes de vários
associados e endereço (Rua São Francisco da Califórnia, no. 47) - do Cine-Fan
Club de Porto Alegre. Além de já ter produzido um “filme amador”, o Cine-Fan
pretendia desenvolver o movimento associativo de cinema amador no Brasil, “<i>pois
os clubes de amadores de cinema, nos Estados Unidos, contam-se às dezenas</i>”.
Ainda em 1939, foi fundado o Foto Clube Bandeirante, em São Paulo, que se
distinguia pelo interesse pela fotografia, claro, mas era presidido pelo conhecido
cineasta Benedito Junqueira Duarte. A revista <i>Scena Muda</i> traz a
notícia da criação, no mesmo ano, do Club de Fans Cinematográficos, no Rio de
Janeiro, na Avenida Rio Branco 181, 4º. Andar, sala 404, voltada para “<i>o
desenvolvimento cultural e artístico nos sectores do Cinema, do Rádio e do
Theatro</i>”. Esse cineclube tem uma extensa folha corrida.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1940 – 1945 – Clube de Cinema de
São Paulo (1940); Cine Siri (Recife), 1944; Foto Cine Clube Bandeirante, SP,
1945 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-weight: bold;">Em 1940 é fundado o Clube de Cinema de São Paulo, por Francisco Luís de
Almeida Salles e outros. O cineclube é logo fechado pelo Departamento de
Imprensa e Propaganda - DIP - do Estado Novo.</span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Aqui aparece outro hiato sem informação e que se
aceita sem muita discussão em virtude de ser o período da ditadura do Estado
Novo. No entanto, em 1944 há menções – em documentos dos órgãos de segurança da
ditadura – sobre atividades sistemáticas do Cine Siri (ou Museu Cinema),
iniciativa principalmente de Pedro Salgado Filho (que fez parte do chamado
Ciclo de Recife, nos anos 20). Ainda em 1945, o Foto Clube de 1939, já citado,
mudou os estatutos e passou a chamar-se Foto Cine Clube Bandeirante, iniciando
atividades importantes nesse novo campo, com o nome que mantém até hoje.</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1946</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Ressurge o Clube de Cinema de São Paulo - futura Fundação
Cinemateca Brasileira (1957) - agora incorporando Paulo Emílio Salles Gomes,
grande animador da instituição e presença influente no relacionamento com um
cineclubismo internacional renovado ao fim da 2ª. Guerra Mundial (fundação da
Federação Internacional de Cineclubes – FICC - em 1947)<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1948 – 1952</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Nascem cineclubes em várias cidades do País: Porto
Alegre, Fortaleza, Salvador, Florianópolis, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Marília... É a geração em que surgem importantes críticos de cinema e
animadores de cineclubes: Alex Vianny, Walter da Silveira, Moniz Viana, Cyro
Siqueira, Darcy Costa, Eusélio de Oliveira, Paulo Gastal, para lembrar uns
poucos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1952</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Chega ao Brasil uma missão francesa do OCIC –
Escritório Católico Internacional do Cinema, para dar cursos e seminários e
estimular a formação de cineclubes nas instituições ligadas à Igreja. Entre os
principais nomes do "cineclubismo católico", que exercerá grande
influência no movimento até os anos 60, estão os padres Guido Logger e Edeimar
Massote, o crítico Humberto Didonet e a educadora Irene Tavares de Sá.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1956 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Na sede da Fundação Cinemateca Brasileira é fundado o
Centro dos Cineclubes de São Paulo, primeira entidade representativa de
cineclubes, presidido por Carlos Vieira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1958</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Fundada a Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro
– que vai ter entre seus presidentes Leon Hirszman, Cosme Alves Neto, entre
outros nomes importantes em diferentes ramos do cinema brasileiro. Na Fundação Cinemateca
Brasileira, sob a coordenação de Paulo Emílio Salles Gomes e Carlos Vieira, é
organizado o Curso de Formação de Dirigentes Cineclubistas, com duração de um
ano.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1959 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Realizada a Primeira Jornada dos Cineclubes
Brasileiros – congresso nacional que se tornará uma tradição e será realizado,
anual ou bianualmente, até o início desta década (com intervalos, durante
momentos de desorganização em nível nacional: entre 1969 e 1972; 1990 e 2002, e
desde 2012 – ver este ano) sempre em diferentes cidades e regiões do País.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1960</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Surge a Federação de Cineclubes de Minas Gerais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1961 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Criada a Federação Gaúcha. Nesse ano também foi
fundado o Conselho Nacional de Cineclubes - CNC - entidade nacional
representativa dos cineclubes. Nos anos seguintes ainda surgirão as federações
Nordeste e Centro-Oeste.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1964 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ano do Golpe de Estado que dá origem à longa
(1964-1985) ditadura militar. Inicialmente, a repressão do regime ataca fundamentalmente
os ambientes e organizações ditas de massa, de operários, estudantes e das
bases das forças armadas. O movimento cineclubista estava dividido, na época,
entre entidades católicas e estudantis, mais à esquerda. Este último segmento,
apesar de atingido em parte pela perseguição ao movimento estudantil, aos Centros
Populares de Cultura da UNE – União Nacional dos Estudantes, tende a se
recuperar e a ocupar um papel predominante à medida que a sociedade, e
especialmente os estudantes, se articulam na resistência. Já os cineclubes
católicos vão paulatinamente desaparecendo a partir da reorganização da Igreja e</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">perda de influência as OCIC. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1968 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Após a 7ª Jornada, realizada em Brasília, com o
recrudescimento da ditadura militar, os cineclubes passam a ser perseguidos
diretamente. É estabelecida na prática a censura prévia às suas atividades e
todo tipo de entraves e pressões vão desmantelando todas as entidades no País.
Em 1969 haveria no máximo uma dúzia de cineclubes em funcionamento e quase
todas as suas entidades representativas haviam sido destruídas. Apenas o Centro
de Cineclubes de São Paulo sobrevive, com uma atividade reduzida em torno do
idealismo de Carlos Vieira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1972 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Reorganiza-se a Federação de Cineclubes do Rio de
Janeiro, sob a direção de Marco Aurélio Marcondes.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1973</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Ressurge a Federação Nordeste. Junto com Rio e São
Paulo, reúnem-se naquele ano no tradicional Encontro de Marília (em que o
cineclube local entregava anualmente o Prêmio Curumim para o melhor filme
brasileiro) para reestruturar o CNC. O Conselho, como o nome indica, era até
então uma instância de deliberação entre federações – cineclubes não votavam
diretamente.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1974</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Após um hiato de quase 6 anos realiza-se a 8ª
Jornada Nacional de Cineclubes, em Curitiba. O documento final do Encontro, a
"Carta de Curitiba", lança as bases programáticas que vão nortear o
movimento cineclubista pelo menos por uma década. Os estatutos do CNC também
são reformados, tornando-o uma federação nacional, em que a instância superior
de deliberação é a assembleia geral dos cineclubes brasileiros. O presidente
eleito é Carlos Vieira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1976</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Na 10ª Jornada, em Juiz de Fora, é criada a
Dinafilme – Distribuidora Nacional de Filmes para Cineclubes, órgão do CNC, sob
a direção de Felipe Macedo, com sede em São Paulo. O acervo inicial é composto
de clássicos em 16mm que pertenciam ao acervo da Cinemateca, cedidos por Paulo
Emílio Salles Gomes. Ao longo dos próximos anos esse acervo vai ser enriquecido
principalmente com documentários brasileiros e produções "clandestinas"
– não submetidas à Censura – que documentam a vida e as lutas dos setores
populares. No ano seguinte, Marco Aurélio Marcondes cria na Embrafilme o
"setor 16mm", que vai abastecer durante anos o movimento cineclubista
com longas metragens brasileiros. E mais adiante, já nos anos 80, a Dinafilme
vai começar também a distribuir produções semelhantes de outros países da
América Latina.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1977 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No Encontro de Figueira da Foz (Portugal), o Brasil (Felipe
Macedo) passa a fazer parte do Comitê Executivo da FICC – Federação
Internacional de Cineclubes. Em São Paulo, sede do CNC e da Dinafilme, ocorre
uma invasão pela Polícia Federal, que apreende filmes, principalmente
clássicos, documentários britânicos, desenhos de Émile Cohl, etc. Em todo o
País, durante a década de 70, sucedem-se invasões de cineclubes, detenção de
cineclubistas, apreensões de filmes.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1978 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Dinafilme distribui uma produção alternativa
nascente, que acompanha de perto os movimentos sociais, como o chamado
"Cinema de Rua", em São Paulo, entre outros exemplos. Neste ano, que
marca a retomada dos movimentos grevistas, a distribuidora monta equipes móveis
que, com o apoio de alguns sindicatos, exibe os filmes que documentavam as
greves do ABC e ficavam prontos em tempo de serem apresentados nas grandes assembleias
sindicais que se realizavam em todo o meio operário. No final dos anos 70, a
maioria dos cineclubes – que já são 600 filiados nominalmente ao CNC – é de
bairros das periferias das grandes cidades. A atividade de distribuição da
Dinafilme atinge centenas de outros pontos de exibição, em associações,
sindicatos, igrejas e diversos movimentos populares. Vários cineastas, que
acompanham de perto a distribuição de seus filmes pela Dinafilme nesse circuito
popular, são influenciados por esse contato com o público e, de resto, pelo
próprio clima de resistência que já é muito nítido no Brasil; seus filmes – e
até uma certa estética – refletem o convívio com uma realidade popular em parte
criado pelo movimento cineclubista: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Homem que Virou Suco</i>, de João Batista de Andrade; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gaijin</i>, de Tisuka Yamasaki; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eles
não Usam Black-Tie</i>, de Leon Hirszman – para citar apenas alguns – e toda
uma produção de curtas e documentários que a Dinafilme recolhe na Bahia,
Pernambuco, Paraíba, Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, etc.,
repassando-os para todo o Brasil. A Distribuidora, contudo, não consegue
remunerar o custo de produção desses filmes – aspecto essencial apara
continuidade dessa relação com os realizadores – e é cronicamente deficitária. Começa,
então, a fazer uma série de experiências para rentabilizar suas atividades.
Essas experiências terão muito sucesso, mas não no sentido pretendido, pois
sairão do controle da distribuidora e do movimento (ver os anos 1980, 1981, e </span><a href="http://cineclube.utopia.com.br/"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">http://cineclube.utopia.com.br/</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - História - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Da
distribuição clandestina ao grande circuito exibidor</i>).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1979<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">- Nova invasão da
Dinafilme pela Polícia Federal. Mas desta vez ela enseja uma grande vitória dos
cineclubes. Já sem censura à imprensa, a violência ganha amplo destaque e uma
mobilização solidária de todos os segmentos da sociedade, em todo o País –
articulado pelo CNC e as federações – obriga o ministro da Justiça Petrônio
Portela a se retratar publicamente e ordenar a devolução de todo o material apreendido.
O Brasil é reeleito – em Marly-le-Roi (França) – para a direção da FICC,
ocupando o Secretariado Latino-americano, na gestão de François Truffaut. Em
1982 ainda haverá a recondução ao cargo, em Havana, Cuba.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1980</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Homem que
Virou Suco</i>, melhor filme do Festival de Moscou desse ano, é lançado
simultaneamente no circuito comercial pela Embrafilme e nos cineclubes de
bairro pela Dinafilme. A distribuidora dos cineclubes e o Sindicato dos
Jornalistas produzem outra experiência, buscando maior rentabilidade com o
lançamento mais elaborado de programas de curtas (sobre greves, movimento
operário, índios, etc.) e longas metragens – como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Braços Cruzados, Máquinas Paradas</i>, de Sérgio Toledo e Roberto
Gervitz.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1981</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Fica cada vez mais patente a mudança do modelo de
distribuição – e consequentemente de exibição – no Brasil. A concentração do
mercado leva paulatinamente ao fechamento de 70% dos cinemas e a uma queda de
público equivalente. Já no final dessa crise, depois de discutida na Dinafilme
e aprovada na Jornada de Campo Grande (1980), toma corpo a ideia de criar uma
sala mais "profissional" em 35mm, ocupando os espaços deixados livres
pelo cinema americano – assim como a enorme disponibilidade de equipamento dos
cinemas fechados. Graças ao trabalho de António Gouveia Jr, Arnaldo Vuolo,
Frank Ferreira e outros, surge o Cineclube Bixiga, que influenciará
profundamente a evolução do cineclubismo e do próprio mercado de exibição,
sendo considerado a origem e inspiração dos atuais grandes circuitos culturais
de que o País dispõe. Por outro lado, a inflação crescente, o aumento nos
custos de frete e a sensível diminuição das atividades culturais das
instituições federais como a Embrafilme dificulta muito o funcionamento dos
cineclubes menos organizados. E a progressiva democratização da vida nacional
passa a atrair as lideranças dos cineclubes para os movimentos políticos e
partidários. Até o final dessa década, a quase totalidade dos cineclubes 16mm e
todas as entidades representativas dos cineclubes irão desaparecendo. Não sem
antes protagonizar mais algumas experiências.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1984<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">- Em meio à sua
própria crise, o movimento cineclubista se divide profundamente. O setor que
tenta relançar o movimento em torno da atividade em 35mm como base de apoio
para os demais cineclubes é derrotado nas eleições da Jornada de Curitiba desse
ano. A partir desta data, os principais acontecimentos cineclubistas se darão
de maneira mais ou menos isolada, já sem ligação com as organizações do
movimento. A gestão de 1984-86, presidida por Diogo Gomes dos Santos, é
justamente marcada pelo combate, nas Jornadas, aos cineclubes 35 mm, chamados
de "burgueses" – por comparação com os cineclubes de periferia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1985</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Surgem (ou abrem sua sala 35mm) os cineclubes
Oscarito (São Paulo), Cauim (Ribeirão Preto), Barão (Campinas), Estação
Botafogo (Rio de Janeiro) e Porta Aberta (Brasília). A tendência prossegue nos
anos seguintes, e outros tipos de salas também aparecem na esteira dessa
experiência, em Vitória, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e
outras.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1986</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Na Jornada desse ano é eleito para a diretoria do
CNC – em aliança com a diretoria anterior – um grupo do Paraná, que se proclama
representante do pensamento de Muammar Gaddafi e diz-se financiado por ele. Esdrúxula
mistura de fascistas e fundamentalistas, andavam armados em público, combatiam
os cineclubistas judeus e desprezavam as mulheres – que “ficam doentes uma vez
por mês”, segundo o “livro verde” que distribuíam na Jornada. Anos depois, já
fora do cineclubismo, alguns deles serão processados legalmente por racismo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1987 – 1989 - </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O movimento cineclubista se desarticula, mas antes
destitui aquela diretoria, substituindo-a por um colegiado com um mandato
tampão sob responsabilidade de antigos dirigentes do movimento, presidido por
Antonio Claudino de Jesus. Em 1988 faz-se a 22ª Jornada em Campinas,
comemorando os 60 anos do cineclubismo (aniversário do Chaplin Club) e tentando
levantar o moral do movimento. Mas já é tarde: em 1989 realiza-se uma última e
melancólica Jornada em Vitória, ES, e é eleita uma diretoria que nem chega a
assumir e já não consegue reunir forças suficientes para manter os cineclubes
atuando como um movimento efetivamente nacional.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">1990</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Nesse ano surge o Elétrico Cineclube, em São Paulo,
com duas salas de cinema e uma de vídeo, além de manter várias outras
atividades (teatro, música, feira de trocas, etc.). O Elétrico e o Estação, do
Rio de Janeiro, inauguram o lançamento de filmes com distribuidoras comerciais,
com grande sucesso. O extinto Banco Nacional patrocina inúmeras salas pelo País
afora (o próprio Estação Botafogo, o Savassi, em BH, o Vitória, em Campinas,
entre outras), mas exige que sejam empresas privadas, e não cineclubes. É um
belo último suspiro exclusivamente cineclubista: até meados da década esses
cineclubes – e os que os haviam antecedido – morrerão ou terão que se adaptar e
adotar uma forma de gestão e funcionamento propriamente comercial. As salas que
conseguem se adequar à nova realidade do mercado e do País obtêm sucesso
crescente e se expandem pelo Brasil. Em particular o agora Grupo Estação,
criado por Nélson Krumholz (ex-presidente do CNC) e Adhemar Oliveira
(ex-gerente do CC Bixiga) em 1985. A partir de 1993 Oliveira dirige seu próprio
circuito, um dos mais importantes do Brasil. Uma boa parte desse sucesso está
ligada à característica marcadamente cultural e de vanguarda (ambos os grupos
fusionam com as importantes mostras anuais internacionais de cinema do Rio e de
São Paulo), além da ligação com o cinema brasileiro e de várias atividades
educacionais que ambos os grupos conseguiram aliar a uma gestão tipicamente
comercial. As empresas de Krumholz e Oliveira consolidam um novo “modelo de
negócios” de cinema.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2003</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Depois de um hiato de 14 anos é organizada, com
forte estímulo do governo Lula, uma Jornada de Reorganização do Movimento
Cineclubista, em Brasília, que revela a existência de um grande número de
cineclubes atuando isoladamente, principalmente nas capitais e cidades
importantes de muitos Estados; em maior número no Rio Grande do Sul e
particularmente no Rio de Janeiro. Já prenunciando uma forte divisão, a
principal resolução dessa Jornada é preparar devidamente um próximo congresso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2004</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> – Constituída, na Jornada do ano anterior, uma
Comissão de Reorganização do Movimento Cineclubista, com representantes de
várias regiões do País, tem como suas tarefas principais: 1) a organização de
uma Pré-Jornada, para preparar um congresso bem representativo, que possa
reconstituir a entidade nacional dos cineclubes e estabelecer um programa de
consolidação do movimento, e 2) organizar o referido encontro, a 25ª. Jornada
Nacional de Cineclubes. Como já havia ficado claro no ano anterior, em
Brasília, três grandes grupos se identificam durante o ano e nas atividades
organizadas pela Comissão Nacional: a) os cineclubistas mais antigos, com
muitos dos que dirigiam o movimento entre 1974 e 84 (ver esse período) e que,
na maioria dos casos, apenas começam a organizar seus cineclubes a partir deste
ano, em várias partes do País; b) os cineclubistas que gravitam em torno do Centro
Cineclubista de São Paulo e da liderança de Diogo Gomes dos Santos, presidente
do CNC na gestão 84/86, a que se somam novas iniciativas impulsionadas pelo
Partido Comunista do Brasil (PCdoB), também em São Paulo, e c) os cineclubistas
surgidos nos últimos anos (desde o final dos anos 90), bastante ligados à
realização de filmes e a novas experiências técnicas e de organização:
destaca-se o Rio de Janeiro, com o maior número de entidades, mas igualmente o
Rio Grande do Sul e alguns outros estados. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os dois primeiros grupos – que haviam constituído as
duas principais tendências nos anos de crise do cineclubismo, nos anos 80 -
logo revelam grande dificuldade para se entenderem; os cineclubes novos perdem
com isso um pouco de motivação. Também uma certa extrapolação do seu mandato -
ao passarem a negociar com o governo federal um projeto não discutido de
organização de cineclubes em todo o País - afasta um pouco a Comissão de seus
objetivos. Ainda assim, a Pré-Jornada, em abril, é um sucesso - graças ao trabalho
desenvolvido por João Batista Pimentel, do CREC de Rio Claro (SP), que a
organiza - com mais de 100 representantes de cineclubes de grande parte do
Brasil. Ao mesmo tempo, ela deixa de aprofundar o debate sobre a organização e
projetos do movimento, falhando em transformar a grande motivação de todos em
mecanismos e projetos de trabalho comum. O temário da Jornada, as propostas
para a entidade e seu programa só vão ser divulgados para o movimto, muito
precariamente, às vésperas do Encontro. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O apoio do governo federal também começa a se mostrar
menos claro e sistemático. O grupo do CECISP (Centro Cineclubista de SP),
encarregado da realização da 25ª. Jornada na capital de São Paulo, mostra-se
incapaz de organizá-la. Menos de um mês antes do congresso, uma equipe de
representantes de vários cineclubes, sob a coordenação de um experiente
dirigente, Antonio Claudino de Jesus, do ES, tem de se instalar em São Paulo
para garantir a realização da Jornada. Paralelamente, um I Encontro Ibero
Americano de Cineclubes, é realizado em Rio Claro imediatamente antes do
Encontro nacional. Também fica evidente que o CECISP trabalha na perspectiva de
garantir o controle da futura entidade e os pretensos recursos que se imagina
virão do governo. Uma vez assegurados os recursos e a organização da Jornada, o
grupo assume novamente a administração da Reunião. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Jornada corre muito mal, e a maior parte do programa
não é realizada. Fica patente o golpe premeditado, uma vez que os
"cineclubes" ligados ao CECISP e ao PCdoB, apenas na cidade de São
Paulo, apresentam-se em número igual ao da soma de todos os cineclubes do resto
do País. E notoriamente, a cidade de São Paulo não tinha nenhuma atividade
cineclubista. Essa atitude, porém, provoca um efeito inesperado: a união do
restante do País. Cineclubistas mais antigos e mais novos encontram suas
afinidades e organizam uma chapa com representação de dez estados – presidida
por Antonio Claudino de Jesus - e a maioria absoluta da assembleia, além de se
acertarem em torno de um programa sucinto, mal discutido, mas unitário,
preparado por Felipe Macedo. A minoria, composta por grupos da capital de São
Paulo e mais duas ou três cidades do interior, promove uma ruidosa retirada de
plenário, denunciando a arbitrariedade... do resto do País. A delegação da
Bahia, sem contudo se retirar, manifesta seu apoio ao grupo dissidente. Os “cineclubes”
do PCdoB desaparecem nas semanas e meses seguintes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2005</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Esse foi um ano de recuo, inação e perplexidade. O
Ministério da Cultura – em especial do Programa Cultura Viva, que coordena os
investimentos do governo federal na área comunitária e é controlado pelo PCdoB,
deixa completamente de apoiar o movimento cineclubista. E os cineclubes não
puderam ou não souberam encontrar alternativas de sustentação autônoma do seu
trabalho como movimento nacional integrado. A Pré-Jornada, que deveria
acontecer em abril, só foi realizada em setembro (no Cineclube Cauim, em
Ribeirão Preto, SP), com os recursos dos próprios participantes e apoio da
Secretaria de Cultura de São Paulo: não repetiu o sucesso do ano anterior. A
26ª. Jornada, prevista para dezembro, também não obtém quaisquer recursos da
área federal, o que impede a sua realização. O número de cineclubes, contudo,
parece continuar aumentando, atingindo novas regiões e criando novas formas de
atuação em âmbito local. No Espírito Santo, em especial, houve um grande
crescimento de atividade e de organização regional, mas também vale lembrar o
Ceará, Minas Gerais, a região Centro-Oeste, entre outras.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2006 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Realizada a Jornada em Santa Maria, RS, graças ao
apoio do festival de cinema local e aos esforços do CC Lanterninha Aurélio. Claudino
de Jesus é reeleito; o programa de 2004 é simplesmente reafirmado. Decide-se
tornar as Jornadas bianuais, intercaladas com as pré-jornadas. A Jornada
seguinte é marcada para o Rio de Janeiro, sob responsabilidade da vigorosa
ASCINE (a associação dos cineclubes do estado). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No final do ano é inaugurada em São Paulo a sala Maria
Antônia do projeto PopCine (financiado pelo governo do estado), que prevê a
criação de 20 salas populares de cinema em cidades ou bairros importantes sem
cinema. No início do ano seguinte, ainda em fase inicial de montagem das salas,
o projeto é cancelado pelo executivo André Sturm, do novo governo estadual (do
mesmo partido: PSDB).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2008 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Um ano movimentadíssimo. O quadro de isolamento do
movimento junto ao governo federal transforma-se completamente: dois projetos
originais do movimento são apropriados e modificados pelo MINC, dando origem a
1) um programa de distribuição de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kits</i>
de projeção, que adotará diferentes nomes até 2010, e a 2) uma distribuidora de
filmes (em DVD), a Programadora Brasil. Frederico Cardoso, curta-metragista do
Rio de Janeiro, é o coordenador-geral dessas duas frentes governamentais; logo em
seguida dividirá o trabalho com Rodrigo Bouillet, presidente da ASCINE. Esses
programas representam a hegemonia dos jovens realizadores sobre o movimento
cineclubista, com um projeto de criação de espaços de exibição para a produção
de curtas-metragens financiados a fundo perdido pelo Estado. A ASCINE não
realiza a Jornada, prevista para julho. Ao invés disso, com patrocínio dos
novos programas federais, organiza no RJ um encontro chamado de Circuito em
Construção, com cineclubes e outros representantes de todo o País, escolhidos
pelo governo em contraposição à organização autônoma do movimento. Apesar dos
investimentos, esse projeto acabará não tendo continuidade.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O programa de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kits</i>,
sob pressão do Conselho Nacional de Cineclubes, passa a incluir a publicação de
um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Manual de Formação Cineclubista</i>, a
organização de um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">site</i> do CNC, a
constituição de uma distribuidora cineclubista<u> </u>de filmes (não incluídos
no projeto da Programadora, como clássicos e filmes de outros países) e a
criação de um vasto programa de oficinas de formação cineclubista. O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">site</i> e a distribuidora, que recebe o
nome de Filmoteca Carlos Vieira, devem ser apresentados em projeto separado,
como um Pontão de Cultura (nome de instituições especiais financiadas através de
outros editais do MINC) – o que só se dará em 2012 (ver esse ano). Mas o Manual
e as oficinas entraram no projeto inicialmente chamado de Circuito Brasil,
depois de Cine Mais Cultura, que contrata o CNC para apresentar o texto do
Manual e o plano das oficinas. O CNC chama Felipe Macedo para redigir o Manual
e propor a organização das oficinas. O projeto das oficinas, uma semana de
imersão total, em 8 regiões do País, visa a formação de monitores para a
reprodução das oficinas, que devem em seguida se multiplicar: o projeto Cine
Mais Cultura prevê criar milhares de pontos de exibição. Essas primeiras
oficinas ocorrem na mesma época – novembro e dezembro – em que a Jornada é
finalmente realizada em Belo Horizonte, organizada pelos cineclubes do projeto
independente Curta Circuito em convênio com o CNC. Desde a primeira oficina
surgem problemas. O <i>Manual </i>é finalmente vetado pelos coordenadores do
Cine Mais Cultura. Na Jornada, Claudino de Jesus é mais uma vez reeleito para a
Presidência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2009 – 2010 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Estes dois anos marcam essencialmente o apogeu e a
queda do movimento cineclubista de dimensão nacional no Brasil. Resumem o mais
essencial das grandes contradições de um período que podemos situar entre 2003
e 2010 ou, de forma um pouco diferente, entre 2003 e 2013. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Censurado o <i>Manual de Formação Cineclubista</i> e
declarado um conflito aberto com seu autor e coordenador das oficinas: os
executivos Cardoso e Bouillet finalmente exigem do CNC a destituição de Macedo.
Afastado do projeto que ajudara a criar, este último se demite da direção do
CNC em março de 2009. O Cine Mais Cultura continua, associando-se, inclusive, a
vários estados na reprodução de editais que distribuem, segundo dados incertos
do governo, mais de mil equipamentos. Durante 2009 e início do ano seguinte, as
oficinas continuam em todo o território brasileiro, na maioria, porém, perdem
em conteúdo, tornando-se meros instrumentos de formação de iniciativas de
projeção e cursos rápidos de treinamento para a exibição de filmes da
Programadora. Praticamente todas as lideranças cineclubistas do País são
contratadas para esses trabalhos; o CNC torna-se um executor terceirizado das
políticas do MINC, voltadas essencialmente para a criação de pontos de exibição
de curtas metragens que, desta forma, têm seu financiamento justificado pela
“demanda” estimulada. O movimento cineclubista perde toda autonomia – e os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cines mais</i> (novo nome dos beneficiados
pelo programa) abandonam definitivamente as características básicas dos
cineclubes: associativismo democrático e inserção representativa nas
comunidades. Em troca, os dirigentes do CNC e, em menor grau, das regiões, são
aquinhoados por editais e programas diversos ou mesmo diretamente remunerados
pelo Ministério. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em dezembro de 2010 é realizada a 28ª. Jornada, em
Moreno, PE. É o Baile da Ilha Fiscal dessa relação promíscua do CNC com o
governo. Centenas – fala-se de 500, sem documentação conhecida – de representantes
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cines mais</i> de todo o País têm
viagem aérea e despesas pagas e a maioria acaba veraneando nas praias
pernambucanas durante os dias do congresso. O CNC distribui homenagens e
troféus a diferentes políticos e personalidades, em campanha aberta pela
recondução de Juca Ferreira ao MINC. Até o presidente da FICC, presente na
Jornada, atrela a entidade mundial à disputa do cargo brasileiro. Mais uma vez
sem programa e em chapa única, elege-se uma nova diretoria, agora presidida por
Luiz Alberto Cassol, do RS.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Uma assembleia geral da Federação Internacional de
Cineclubes também acontece no mesmo local, em sequência ao fim da Jornada.
Delegados de cerca de 40 países – também financiados pelo Brasil – elegem pela
primeira vez um presidente de fora da Europa: Antonio Claudino de Jesus.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Um detalhe: desde o início do ano, devido às muitas
mudanças de cargos no MINC, mas também por múltiplas dificuldades
burocrático-administrativas deixadas pelos programas de Juca Ferreira, os
projetos que movimentaram o ambiente cineclubista durante pouco mais de um ano já
estavam completamente parados. E, desde então, não foram retomados</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2011 – 2012 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como parece acontecer periodicamente com o movimento
cineclubista (entre 1990 e 2003, por exemplo), a partir de 2011 o referencial
histórico já não é mais principalmente a organização nacional, mas a atividade,
muitas vezes pouco conhecida, dos cineclubes isoladamente. Ou de algumas
regiões do País. A gestão desse biênio, novamente sem qualquer apoio do Estado
– e incapaz de criar alternativas próprias – não realizou muita coisa.
Conseguiu organizar uma espécie de Pré-Jornada com um ano de atraso, mas não
chegou a reunir uma Jornada legal para a transmissão da gestão.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Diferentemente da última década do século passado,
contudo, um grande número de cineclubes subsiste um pouco por toda parte no
Brasil. Os milhares – ou mais seriamente, várias centenas – de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cines mais</i> desapareceram quase completamente,
dada a sua dependência congênita do paternalismo estatal. Característica
curiosa dos cineclubes mais ativos, que subsistem, poucos participaram dos
projetos públicos dos anos anteriores. Também algumas federações, nem sempre
com esse nome, mantiveram suas atividades e até as ampliaram, exercendo um
estímulo importante para os cineclubes em seus estados: Pernambuco, Espírito
Santo, Ceará, e mais periodicamente na Bahia ou em Goiás. Os primeiros são
também estados – no caso do RJ, também a capital - em que existem políticas
mais estáveis de apoio ao cineclubismo, ainda que sempre muito frágeis e pouco
importantes na comparação com qualquer outro setor do campo audiovisual.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Um pouco atrás (ver 2008) há a menção ao que veio a
chamar-se Pontão Cineclubista de Cultura. Apresentado pelo CNC, estranhamente o
projeto foi entregue à Associação de Cineclubes de Vila Velha (ES). Na ocasião,
final de 2011 e início de 2012, criou uma disputa virulenta, que separou velhas
lideranças das gestões anteriores do CNC: as quantias envolvidas eram bem
significativas. O projeto criou um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">site</i>
de vida muito curta e a Filmoteca Carlos Vieira lançou um único programa (DVD)
antes de desaparecer. Mistério e suspeitas cercam todo esse episódio.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2013 – 2019 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O movimento cineclubista brasileiro não conseguiu,
depois de 2010, realizar uma Jornada - isto é, seu congresso nacional - legítima,
organizada segundo os prazos e as disposições democráticas estatutárias. Jurídica
e politicamente o Conselho Nacional de Cineclubes – cujos estatutos preveem
eleições a cada dois anos - deixou de existir em dezembro de 2012. No entanto,
uma assembleia altamente irregular foi realizada no primeiro semestre de 2013
em Vitória, ES, pretendendo ser uma Jornada regular, contando com o apoio
formal da diretoria do CNC cujo mandato já expirara, assim como reconhecida
pelo presidente da FICC. Cerca de 30 pessoas elegeram uma diretoria com número
praticamente igual de cargos (contando suplentes), agora presidida por Jorge
Conceição, da Bahia. Dois anos e meio depois, no final de 2015, em Salvador,
BA, o processo se repetiu, agora com a eleição de Eduardo Paes Aguiar, do
Centro Cineclubista de São Paulo (ver ano 2004). Nenhuma das duas gestões
apresentou qualquer projeto ou realizou alguma coisa além da reunião que a
reproduziu – exceto participações eventuais em eventos de terceiros,
“representando” o CNC. Desde 2017, a “nova” diretoria convocou algumas vezes
uma nova “Jornada”, mas nada aconteceu até o final de 2019.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2019 – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em dezembro desse ano Eduardo Paes Aguiar convocou (em
nome daquele CNC eleito irregularmente cinco anos antes) uma nova Jornada,
finalmente realizada em Viçosa, MG. Também convocada irregularmente, fez do
processo de participação uma seleção de aliados identificados com o grupo que
se constituiu para esse fim. Retomando, de certa forma, a aliança de 2004 (ver
esse ano), Diogo Gomes dos Santos lidera junto com o PCdoB a realização muito
exclusiva do Encontro. Desta vez, contudo, com o apoio do antigo adversário,
Antonio Claudino de Jesus, agora no papel de secretário-adjunto da FICC para a
América Latina. A Jornada, que nas palavras do secretário-geral eleito na
ocasião “foi a menor de que havia participado” desde 2004, mudou topicamente os
últimos estatutos do CNC, reduzindo bastante sua direção (que tinha quase 30
cargos) e dobrando o mandato da diretoria, tornando também o congresso
quadrienal. A presidência da entidade é ocupada Terezinha Avelar, de Minas
Gerais. Os cineclubes no Brasil, relativamente numerosos, estão muito
dispersos, a maioria organizados informalmente, muitos até de iniciativa apenas
pessoal<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn18" name="_ftnref18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
O “novo” Conselho Nacional dos Cineclube Brasileiros (CNCB) está muito longe de
uma representatividade expressiva desse movimento. Sua direção, no entanto, tem
mais experiência e inserção política – esta através do vínculo partidário.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2020-2021</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">
<b>– Pandemia -</b> A pandemia que atingiu o mundo todo provocou diversos
efeitos importantes no cineclubismo brasileiro, que já vinha se transformando
sob muitos aspectos. Inicialmente, fez com que as atividades dos cineclubes
fossem interrompidas desde meados de março. Mas parte dos cineclubes
paulatinamente voltou a promover sessões e debates virtuais. Desde o primeiro
semestre, o Cineclube Ó Lhó Lhó, de Florianópolis, de certa forma inaugurou
novas práticas com os recursos da Internet. Primeiro disponibilizou em seu
canal no YouTube (plataforma do grupo Google) uma série de exposições e
debates, <i>Passado e Futuro do Cineclubismo</i>,<i> </i>que constitui a mais
ampla discussão disponível em torno do tema do cineclubismo. Na sequência, o Ó
Lhó Lhó realizou um recenseamento informal dos cineclubes brasileiros – o Censo/Senso
Cineclubista -, através de reuniões virtuais por estado. Além de relativamente
pouco interesse de muitos cineclubes, também a oposição de certos grupos acabou
inviabilizando esse trabalho. Mesmo assim, cerca de 100 cineclubes, de 8
estados constituiram um importante banco de dados sobre as atividades
desenvolvidas em todos os cantos do País. No final do ano, a empresa Yahoo, que
hospedava a lista de debates dos cineclubes <i>cncdialogo </i>- criada em 2004
e com cerca de 1.200 participantes – extinguiu o grupo sem que houvesse
qualquer reação por parte do novo CNC, que detinha as senhas para realocá-lo. O
mesmo cineclube catarinense organizou uma nova lista que se mostra à altura da
precedente (que já estava bem decadente), senão em número de participantes, ao
menos pelo tipo de atividades que divulga.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Surpreendentemente, em que pese a política do governo
Bolsonaro, no segundo semestre de 2020 foi aprovada uma lei complementar aos
auxílios de emergência para a pandemia, voltada para a área cultural, com
recursos muito significativos (R$ 3 bilhões, equivalentes a mais de 500 milhões
de dólares): foi denominada de Lei Aldir Blanc, em homenagem ao compositor
morto pela epidemia. Ainda que visasse principalmente artistas desempregados e a
cessação de receita de entidades fechadas pelas restrições sanitárias, uma
parte substancial da verba foi dirigida a editais, o que possibilitou que
muitos cineclubes (que atualmente não têm mais nenhuma atividade econômica)
fossem beneficiados. Assim, encontros, debates, oficinas, além das exibições
com debate, se multiplicaram na Internet. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Lei Aldir Blanc não foi uma iniciativa do governo,
mas o resultado de uma ampla mobilização de parlamentares progressistas no
Congresso, com apoio de setores da sociedade civil. Seus proponentes têm forte
ligação com os grupos que dirigiam e/ou apoiavam os programas da gestão de Juca
Ferreira (2008-2010), que incluíam o projeto Cine Mais Cultura, que existiu
durante esse mesmo período. Na prática, muito paradoxalmente, os editais da Lei
tornaram-se como que a única política cultural do governo Bolsonaro, em
dissonância absoluta com todas as suas outras ações – e omissões – nesse
âmbito. O campo aberto pelos editais da Lei Aldir Blanc reproduz, de certa
forma, a dependência dos cineclubes em relação a esses recursos governamentais,
tal como há 10 anos. Dessa forma, e graças a suas ligações com o partido que
geria parte do antigo ministério da Cultura, o “novo” CNCB pôde se integrar,
ainda que de forma subalterna, com as outras forças que buscam restaurar, de
alguma forma, as políticas identificadas com a gestão de Juca Ferreira. Uma de
suas primeiras aparições públicas, em julho, foi num episódio de uma série
denominada <i>Diálogos Nacionais: Cineclubes</i>, produzida pela Articulação
Nacional de Emergência Cultural, sob coordenação da conhecida organização Fora
do Eixo, onde o CNCB teve um papel coadjuvante e acanhado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">2022 – Lei Paulo Gustavo e Política Aldir Blanc – </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A experiência de aprovação da Lei Aldir Blanc parece
ter sido o maior incentivo para outras iniciativas no campo da cultura,
hostilizada se maneira amadora pelo governo. Ainda que desta vez tenha havido
maior resistência do núcleo “duro” do bolsonarismo, duas leis foram aprovadas
nesse final de governo. A Lei Paulo Gustavo, alegando ainda as perdas de renda
da Pandemia, na verdade está centrada na recuperação das receitas da produção
audiovisual retidas durante a administração bolsonarista. De seu valor total de
3,9 bilhões, 70% vão para o setor audiovisual e, ainda desse valor, outros 70% vão
diretamente para a produção. Já a Política Nacional Aldir Blanc é um projeto de
maior alcance, que se desdobra por alguns anos (há um tratamento mais
aprofundado disso em dois textos acessíveis em: </span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/08/politica-nacional-aldir-blanc-nova.html"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/08/politica-nacional-aldir-blanc-nova.html</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> e </span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/10/o-terceiro-turno-e-os-cineclubes-o.html"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/10/o-terceiro-turno-e-os-cineclubes-o.html</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b><span style="font-size: medium;">Conclusões e perspectivas</span></b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Reconstrução democrática, repetição de modelos<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A história do presente e a que examina perspectivas
futuras já são como que um anexo a esta<i> Cronologia</i>. Mas são,
concomitantemente, uma de suas principais decorrências.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Penso que podemos ensaiar uma periodização (meio
incompleta) do cineclubismo brasileiro. Sua história revela alguns ciclos não
apenas bem claros na linha temporal como nas características dominantes de suas
formas de organização e práticas. Vou examinar isso aqui muito rapidamente. Até
o final do Estado Novo, a ausência de pesquisas e de reflexão dificultam a
avaliação das experiências concretas e o papel social e cultural exercido por
elas (com exceção, claro, dos mais bem conhecidos Chaplin Club e Clube de Cinema
de São Paulo). Após a guerra, e até o início da ditadura militar (1945-anos
60), vivemos um ciclo riquíssimo, com cineclubes inspirados diretamente pelo
modelo cinéfilo parisiense (com muita influência da Igreja), que levou a
“cultura cinematográfica” para todo o País, criando um setor cultivado e até
politizado na classe média que, finalmente, desembocou no Cinema Novo – o eixo
fundador do moderno cinema brasileiro. No ciclo seguinte, do início dos anos 70
até meados dos anos 80, os cineclubes se identificaram como um movimento de
resistência à ditadura, que também se espalhou por todo o território nacional
e, igualmente, exerceu alguma influência na produção cinematográfica. Esse
movimento foi o que chegou mais perto de uma inserção social além dos setores
médios, falhando, entretanto, em consolidar essa posição. De meados dos anos 80
a meados dos 90 houve o ciclo de poucos cineclubes, mas muito ativos, com um
modelo de funcionamento diário. Esses cineclubes atingiram realmente um público
de massa em cidades grandes, mas sempre dentro de um modelo voltado à classe
média. Foram extintos por pressão do próprio sistema em que procuraram operar:
pela especulação imobiliária e pelos bancos. Esse ciclo é o último em que os
cineclubes brasileiros mantiveram formas de organização coletivas e
democráticas – neste caso juridicamente constituídas – e autônomas em relação
ao Estado, até então geralmente ausente ou mesmo hostil. E também independentes
de uma direção nacional formal, que se diluiu ainda no início desse período. Um
ciclo diferente começa em 2003 e termina a partir de 2010 (ou vai até 2012, fim
do último mandato legítimo de uma direção nacional). Hoje é possível
identificar claramente a dependência deste ciclo inteiro em relação ao
impulsionamento, e retirada deste, pelo Estado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Aparentemente a nova gestão – chamada às vezes de Lula
3 –, ainda se organizando no âmbito da cultura, vai na direção de repetir,
quase mecanicamente, as experiências anteriores. Fazer essa crítica tem suas
dificuldades. Lula é o maior e melhor presidente da história da República, até
hoje. Se ele marcou o acesso simbólico da classe trabalhadora ao Estado em seus
primeiros governos, agora é responsável pela reconstituição do tecido
democrático formal – ferido gravemente pela gestão anterior – e pela geração de
políticas públicas inclusivas, em contraposição às graves desigualdade,
exclusão e preconceito que constituem e minam a estrutura social do Brasil. E,
mais que em suas experiências anteriores, tem de enfrentar, evitar, e compor
com as forças secularmente dominantes na economia e na política, extremamente
reacionárias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A História se repete (o pessimismo da inteligência<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn19" name="_ftnref19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[19]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a>)<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">As palavras iniciais do primeiro capítulo de <i>O 18
Brumário de Luís Bonaparte<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn20" name="_ftnref20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[20]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>
viraram uma citação bem conhecida: <i>a História se repete, pelo menos duas
vezes, primeiro como tragédia e depois como farsa.</i> Aplicando, bem
resumidamente, seu uso na atualidade cineclubista brasileira, podemos dizer que
a tragédia teria sido o período anterior de Lula, com o governo que mais se
preocupou – e, provavelmente, o que mais investiu – no movimento de cineclubes.
E, paradoxalmente, foi dos que mais prejudicou esse setor da cultura,
cooptando, desestruturando e depois abandonando os cineclubes tornados
inteiramente dependentes não apenas das verbas – de resto pouco significativas
– mas até das iniciativas, da direção mesmo, oriunda do Estado. Houve um
estímulo importante e um abandono e queda ainda mais significantes. Claro, isso
não teria acontecido sem a participação voluntária dos próprios cineclubes e de
suas direções, nacional e regionais. Hoje, os cineclubes não mais podem ser
reconhecidos por suas características mais “tradicionais”: o caráter
associativo e democrático, a autonomia (isto é, o oposto de dependência), a autossustentabilidade,
a atividade sistemática e a participação social e política. Essa contradição,
aliás, está presente em “cartilhas”, oficinas, <i>lives</i> e outras
orientações que, no clima de otimismo com o governo (e suas possíveis verbas), que
já se instala, repetem “cânones” cineclubistas dignos dos anos 50 – mas
praticamente nenhum cineclube brasileiro corresponde a esse modelo. Cineclube,
hoje, é “exibição e debate”, com pouca ou nenhuma sistematicidade; é iniciativa
individual ou de muito poucos, que geralmente também atinge apenas públicos
muito reduzidos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A possível repetição farsesca será a reprodução da
distribuição de kits de projeção para centenas ou milhares de indivíduos, agora
sem uma Programadora que oriente sua relação com o público, já que o acesso a
conteúdos audiovisuais - na contracorrente da apropriação proprietária de
empresas produtoras e realizadores - é tendência cada vez mais dominante nas
relações do público com as mídias. De fato, essa “orientação” ou controle da
programação será substituído pelo expediente dos direitos autorais: atividades
só permitidas, ou orientadas, com autorização dos detentores desses “direitos”
– aliás, geralmente constituídos com financiamento público. O Governo já criou cargos
em comissão para responsáveis pelos cineclubes – sem qualquer consulta a um
movimento que, apesar dos esforços do CNCB (ver o período entre 2010 e 2019),
não têm uma real representação ou organização nacional. De fato, na realidade, com
cineclubes sem estrutura organizacional não é possível uma representação
formal: uma entidade nacional de cineclubes é impossível atualmente. O Estado,
reproduzindo seu comportamento anterior em outra realidade, tentará substituir
essa representação através das Conferências Nacionais (cuja análise não vou
fazer aqui, mas que não conseguem representar os públicos, apenas os autores ou
artistas dos mais diversos tipos). Muito possivelmente, o Estado criará – como
já fez com os Pontos de Cultura – ou “estimulará” enfaticamente estruturas e
organizações ajustadas às “políticas públicas”. E, encurtando estes
comentários, poderemos ter mais uma política, leis e programas de curta
direção, baseados e dependentes quase exclusivamente do Estado, e que podem
desaparecer junto com a mudança de administração. Isso aconteceu com a passagem
do governo Lula para a gestão de Dilma Roussef, sua mais confiável seguidora.
Em 2026, com Lula octogenário, há uma forte possibilidade de se repetir o
fracasso do seu segundo governo quanto aos cineclubes. Mas numa realidade bem
diferente, em que a comunicação experimenta uma revolução digital e midiática.
E em escala muito maior, com “cineclubes” ainda mais desnaturados e uma
desorganização mais ampla e, talvez, mais definitiva. Uma farsa, que pode ser
bem trágica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O otimismo da vontade<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Não cabe aqui, certamente, tratar em toda sua extensão
e complexidade as propostas necessárias ao restabelecimento do cineclubismo
como movimento cultural e social. A própria concepção de cineclube precisa ser
revista, antes de mais nada pelo reconhecimento da primazia do público, das
comunidades – ou seja, das relações sociais reais - em relação ao discurso
semiológico abstrato do cinema. Isto posto, é indispensável o reconhecimento
das profundas transformações dos meios de comunicação, a revolução digital e a
constituição dos espaços virtuais. Em síntese, que o cinema, ferramenta
apropriada pelas organizações do público no final do século 19, e que ocupou um
papel fundamental na intermediação das relações sociais até meados do século
passado, foi superado por formas mais dinâmicas e mais amplas de comunicação,
desde a televisão até a rede mundial de computadores. As mídias audiovisuais em
conjunto, como dispositivo social, têm uma presença infinitamente maior e um
papel hoje preponderante na própria mediação das relações sociais, da produção
da vida à produção da cultura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">As difíceis, quase insuperáveis tarefas concretas que
desafiam os cineclubes brasileiros – e de todo o mundo – envolvem a
reorganização de seu caráter associativo democrático, mas efetivamente enraizado
nas comunidades e movimentos populares. A constituição de uma ampla rede de
participação e colaboração entre cineclubes compreendidos como <i>instituições
audiovisuais das comunidades</i> pode ser parte do processo de transformação do
Estado, de constituição de um Estado em transição para uma sociedade mais
democrática e justa – e nesse sentido deve participar e propor a direção das
políticas culturais públicas dos governos, e não simplesmente seguir diretrizes
elaboradas em gabinetes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como já foi dito, um “movimento” de “clubes” de uma
pessoa só, ou de pouquíssimos participantes, sem regras democráticas e sem
inserção popular, não pode ser base para a constituição de uma instituição
nacional representativa. Ou será artificial, fraudulenta ou no máximo
corporativa, reunindo individualidades que pretendem incorporar uma
representação simbólica, imaterial, irreal. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O longo, árduo caminho que as iniciativas e pessoas
que hoje se interessem genuinamente pelo cineclubismo, tem que começar por
formas de reconhecimento, de questionamento honesto de sua condição e das
formas de superar suas fraquezas e deficiências, aproveitando a legislação –
especialmente a Política Nacional Aldir Blanc – para constituir cineclubes
organizados, autônomos, com espaços próprios dentro das mais diversas
comunidades. E, como hoje as iniciativas que se reconhecem como cineclubes
assumem as formas mais diversas, inclusive entre si, ou são simplesmente
iniciativas individuais, a única forma de iniciar esse processo de forma
inclusiva e abrangente é o estabelecimento de um Fórum Nacional de Cineclubismo
aberto a todos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn21" name="_ftnref21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>:
uma instância informal de circulação de ideias e debates que podem evoluir para
propostas e, no ritmo possível, ajudar a constituir cineclubes integrais de um
novo tipo, base para um movimento organizado em escala nacional.</span><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Tese doutoral em redação,
Universidade do Minho.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Wittman, Richard, “Existe uma
revolução da leitura no final do século XVIII?”, em Cavallo, Gugielmo e
Chartier, Roger. 1998. História da Leitura no Mundo Ocidental. São Paulo:
Editora Ática.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Butsch tem vários livros publicados,
mas paradoxalmente é pouco conhecido. Creio que a obra que melhor resume seu
trabalho é <i>The Making of American Audiences</i> – <i>From Stage to
Television, 1750-1990</i>, Cambridge University Press, 2000. Infelizmente
desconheço traduções do seu trabalho.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Kracauer, Siegfried. 1926. “The
Cult of Distraction – On Berlin’s Picture Palaces”, em <i>The Mass Ornament</i>,
1988. Harvard University Press.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Martín-Barbero, Jesús. 2013. <i>Dos
Meios às Mediações – Comunicação, Cultura e Hegemonia. </i>Rio de Janeiro:
Editora UFRJ.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Freire, Paulo. 1998. <i>Pedagogia
do Oprimido</i>. Rio de Janeiro: Paz e Terra. <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Ross, Steven J. 1998.<i> Working Class Hollywood – Silent Film and the Shaping
of Class in America. </i><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Princeton
University Press.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Várias instituições ligadas
ao cinema, e o próprio cinema, isto é, as primeiras projeções, ocorreram mais
ou menos simultaneamente em diversos lugares e países diferentes. É mais que
provável que várias organizações do tipo que podemos identificar como cineclubes
tenham surgido igualmente em diversos contextos. O Cinema do Povo, no entanto,
parece até hoje o mais completamente documentado.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Bakhtin, Mikhail (ou
Volochínov). 2014. <i>Marxismo e Filosofia da Linguagem.</i> São Paulo:
HUCITEC.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Tive acesso, também a uns
poucos documentos dessa época – publicações do CNC e boletins da Dinafilme.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Neste caso específico das
mulheres, a chamada Teoria Feminista de Cinema é bem anterior, talvez seu texto
inaugural pudesse ser identificado com “Visual Pleasure and Narrative Cinema”,
de Laura Mulvey, 1975 – mas outros textos feministas já circulavam naquela
década.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Existe menção a uma disputa
entre o médico Tobias Barreto (não confundir com o poeta mais conhecido) e o
abade de São Paulo após uma exibição <u>pública</u> de filmes que mostravam a
Inquisição (1901) e que degenerou numa briga entre anarquistas e católicos – </span></span><a href="http://www.almanack.paulistano.nom.br/ambulantes.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">http://www.almanack.paulistano.nom.br/ambulantes.html</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> (acessado em setembro de 2012). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 72pt;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Entre outras: Figueira, Cristina
Aparecida Reis. 2003. <i>O Cinema do Povo: um projeto de educação anarquista –
1901-1921. </i>Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade de São Paulo.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Almeida, Cláudio Aguiar.
2011. “A Igreja Católica e o Cinema: <i>Vozes de Petrópolis</i>, <i>A Tela</i>
e o jornal <i>A União</i> entre 1907 e 1921”, em Capelato, Maria Helena;
Morettin, Eduardo; Napolitano, Carlos, e Saliba, Elias Thomé. <i>História e cinema:
Dimensões históricas do audiovisual. </i>São Paulo: Alameda.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Agradeço a inestimável
contribuição de Gizely Cesconetto, que encontrou diversas informações, que
utilizo aqui, sobre o Club de Cinema do Club dos Democratas, especialmente em
algumas edições do jornal <i>Pátria</i>, de Sobral, entre 1910 e 1915.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Carvalho, César Augusto. 2008.
“Constelações cinematográficas: cineclube, cultura brasileira e cinema nos anos
50”, em GUIRADO, Maria Cecília. 2008. <i>Processos midiáticos em construção:
Brasil 200 anos</i>, São Paulo: Ed. Arte e Ciência e Marília: Ed. UNIMAR.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref17" name="_ftn17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Noronha, Jurandyr. 2008. <i>Dicionário
de Cinema Brasileiro – De 1896 a 1936, do Nascimento ao Sonoro. </i>Rio de
Janeiro: EMC Edições.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn18" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref18" name="_ftn18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Evidentemente há uma
contradição total entre a concepção de clube, de associação, e essa referência
a “cineclubes” de iniciativa individual. De fato, todas as características
originais – e centenárias – dos cineclubes praticamente despareceram no Brasil:
o caráter coletivo e democrático, o associativismo, a autonomia, entre as
principais. Embora virtualmente não existam mais cineclubes no Brasil, inúmeras
iniciativas e práticas de exibição se consideram como tais. Não há como
desconsiderar essa nova realidade ou excluir desta Cronologia esse novo modelo.
<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn19" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref19" name="_ftn19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">“Pessimismo da inteligência e
otimismo da vontade”. Essa espécie de dístico aparece algumas vezes nos
escritos de Gramsci (Gramsci, Antonio. 1999. <i>Cadernos do Cárcere</i>. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira): “<i>é preciso atrair a atenção violentamente
para o presente assim como ele é, se se quer transformá-lo. Pessimismo da
inteligência e otimismo da vontade</i>”. Ou: “<i>O único entusiasmo
justificável é aquele que acompanha a vontade inteligente, a operosidade
inteligente, a riqueza inventiva em iniciativas concretas que modificam a
realidade existente</i>”. E ainda: “<i>é preciso criar homens sóbrios,
pacientes, que não se desesperem diante dos piores horrores e que não se
exaltem por qualquer tolice. Pessimismo da inteligência e otimismo da vontade</i>.”
(apud Lelio la Porta, verbetes “otimismo”, p. 595-596 e “pessimismo”, p. 621,
em Liguori, Guido e Voza, Pasquale (orgs.). 2017. <i>Dicionário Gramsciano</i>.
São Paulo: Boitempo)<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn20" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref20" name="_ftn20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;"> Marx, Karl.1969 (1852). <i>Le 18
Brumaire de Louis Bonaparte</i>. Paris : Éditions Sociales.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn21" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Nov%C3%ADssima%20Cronologia/Nov%C3%ADssima%20Cronologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref21" name="_ftn21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Não há que ignorar o Conselho
Nacional de Cineclubes Brasileiros (ver os anos 2019 e seguintes); inclusive o
grupo deverá promover mais uma Jornada, ainda neste ano, e desta vez com apoio
do governo federal. Se não reconheço sua representatividade nacional, nem vejo
consequência nas propostas que tem apresentado, penso, contudo, que é uma
iniciativa que se inscreve dentro da realidade cineclubista brasileira atual.
E, como tal, também pode contribuir significativamente em um Fórum como o
proposto.<o:p></o:p></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-43610237065419964732023-07-05T07:30:00.000-07:002023-07-05T07:30:16.259-07:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJD-pIH_LSro-Z8jU1pRzwF7oufs3XDAEMV190r-bmmVa30DMkbt7jNHJssVCQstP93dDl-Z52gSp_2gAqLdcyW9typmFa9V0mq6jwRdiZb6NLyks23TGz-I309-zLvjiwPdECOgcIXDTB0a_-bru7NXYhnwDuwhbtrnHrj_SQT6ke_mWBQMqnBOrMyBM" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="410" data-original-width="700" height="374" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJD-pIH_LSro-Z8jU1pRzwF7oufs3XDAEMV190r-bmmVa30DMkbt7jNHJssVCQstP93dDl-Z52gSp_2gAqLdcyW9typmFa9V0mq6jwRdiZb6NLyks23TGz-I309-zLvjiwPdECOgcIXDTB0a_-bru7NXYhnwDuwhbtrnHrj_SQT6ke_mWBQMqnBOrMyBM=w640-h374" width="640" /></a></div><br /><p></p><div class="xdj266r x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs x126k92a" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">Ajudem a salvar os olhos do Juan Manuel! </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">Help us save Juan Manuel's eyes!</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit; font-size: 15px;"><br /></div><div dir="auto" style="font-family: inherit; font-size: 15px;">An English version will follow. This is very important.</div></div><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA;"></span></p><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Juan Manuel é, sobretudo um amigo. Mas é também um velho - ativista cultural, como se diz hoje. Ele levou a ideia de cine itinerante a um outro nível. Seu grupo, o Huayra, "invadia" cidades com inúmeras atividades e intervenções, divertindo e chacoalhando as ideias da comunidade. Ele mesmo inventou um aparelhinho que permitia interferir nas tevês, e assim entravam diretamente nos lares <span style="font-family: inherit;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span>dos moradores. Um trabalho incrível!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O Juan Manuel está passando por uma situação muito difícil. Desesperadora mesmo, ainda mais para quem a imagem em movimento é a principal motivação de toda a vida. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Uma situação injusta, porque ele não tem acesso ao tratamento e o país em que vive é completamente incapaz de fornecê-lo a quem, nos termos de lá, não tenha muito, muito dinheiro. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E é uma situação absurdo, porque o Juan Manuel tem duas cataratas, severas mas completamente tratáveis.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Por favor, meus outros amigos e amigas, ajudem a ajudar o Juan Manuel!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><br /></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">siga esse link: https://www.vakinha.com.br/3850879</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><br /></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; font-family: "Arial Narrow", sans-serif; font-size: 14pt; text-align: justify;">Juan Manuel is, above all, my friend. But he is also
an important cultural activist – as they say now a days. He took the idea of traveling
cinema to a completely new level. His group, Huayra, “invaded” small cities with
numerous and different activities, performances, interventions, amusing, informing,
and changing these communities. Juan invented a simple and small gadget that permitted
to interfere from the streets in the television sets, so they took their
activities to people`s homes. An inventive and remarkable work!</span></div></div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA;">Juan Manuel is living a very difficult situation.
Desperate even, since all his life has been dedicated to moving images. An unfair
situation, because he has no access to treatment: his own country is incapable of
giving it to anybody who has not a really awful lot of money, in local terms.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA;">And it is an absurd situation, since the two cataracts
tha Juan Manuel has, although severe, have a secure treatment and cure!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA;">Please, all my friends: help us help Juan Manuel!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-CA;">Follow this link: https://www.vakinha.com.br/3850879</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"><br /></span></span></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-40472470352585652072023-06-26T09:15:00.002-07:002023-06-26T09:15:52.698-07:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj8BFfg12SNkx6pOxiQcCzQf0dthYN3vfkWbDbY3Nwh8mLCyjNoff2cPGW6RfSY476kmYGzL8otycQf24n6CeCPcyVqgEpeX3NDZ_YlTWekPykivFE7cWi-5a7kd0hODAtlsb33IzT9cxHEArKzHdxCFdCeg_OWTPo343lDTUV0xqbVmPsr6VIJkR-17dg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="303" data-original-width="210" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj8BFfg12SNkx6pOxiQcCzQf0dthYN3vfkWbDbY3Nwh8mLCyjNoff2cPGW6RfSY476kmYGzL8otycQf24n6CeCPcyVqgEpeX3NDZ_YlTWekPykivFE7cWi-5a7kd0hODAtlsb33IzT9cxHEArKzHdxCFdCeg_OWTPo343lDTUV0xqbVmPsr6VIJkR-17dg=w277-h400" width="277" /></a></div><br /><p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-56391644420277988502023-06-26T09:13:00.002-07:002023-06-26T09:17:36.338-07:00<div style="background: white; border-bottom: solid #A2A9B1 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm;">
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 16pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><b>O velho e o novo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 16pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 14pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><b>(cinefilia, ideologia e transformação social –
parte 1)<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><b>Ideologia</b></span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Pleistoceno e Holoceno. Não
há quase certezas sobre aqueles tempos. A história, então, andava em centenas
ou mesmo milhares de anos. Hoje é incomparavelmente mais rápida. E mesmo
ameaçadoramente célere. Dito isso, é quase certo que a agricultura e a
domesticação de animais tenham se dado mais ou menos “ao mesmo tempo” – nesse
tempo distanciado, passagem de uma época para a outra, que se situa,
provavelmente, entre os últimos 20 e 10 mil anos. A primeira forma de
escravização, a dos bichos provavelmente, estaria ligada a essas formas de
sedentarização. É difícil dizer que as ideologias<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
nascem então, mas parece bem possível que o domínio sobre outros animais tenha
sido uma base importante para uma forma dela: a noção de superioridade dos
humanos sobre os outros seres vivos. A escravidão, ainda que sob o eufemismo de
domesticação, é a base das primeiras formas de presunção de superioridade e de
racismo – no caso, “especismo”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Outra vizinha histórica da
agricultura, da domesticação de animais e da sedentarização é a propriedade
privada. Depois dos outros animais, o ser humano começou a capturar e
escravizar outros seres humanos. Os primeiros casos conhecidos de escravização
datam de 11 mil anos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
E, tal como outros animais escravizados, a submissão dos de sua própria espécie
logo serviu – embora não em todos os casos - de base ideológica para uma nova
forma de presunção de superioridade, a do “homem livre” (nada a ver com a
categoria moderna, da liberdade no mercado). A propriedade privada também deu
origem à formação de outras diferenciações sociais: as classes, tal como e além
da escravidão, separadas segundo seus papéis na produção e na apropriação do
produto social. Da produção do conjunto do grupo social. É nessa gigantesca
transformação da organização social dos seres humanos que também se estabelece
o patriarcado, a subalternização das mulheres. Assim, também entre os seres
humanos livres, separados em classes, havia ainda os que ocupavam posições
supostamente superiores e inferiores. Além da manutenção dessas hierarquias
pela força foi indispensável que elas fossem naturalizadas e reproduzidas por
todos as pessoas envolvidas no processo e no grupo social. Uma forma básica,
estrutural de ideologia se estabelece aí: como justificação da organização
social, separando-a – isto é, a alienando – da sua base real no processo
produtivo, e procurando explicações fora da construção social, no universo
pretensamente natural ou com origem no plano do divino. As diversas formas de
presunção de superioridade constroem, historicamente, diferentes edifícios
hierárquicos de classes, estamentos, castas, etc. Além da submissão pela força,
suas justificações ideológicas vão dos preconceitos - e, em seu formato mais
abjeto, o racismo - aos elitismos. Todos os preconceitos, dos mais “suaves” aos
mais detestáveis, existem para sustentar a dominação de classe. Classe:
justamente da <i>classificação</i> hierárquica das “diferenças” entre os seres
humanos. Nesse sentido mais estrito, classe <i>inclui</i> gênero e etnia, já
que em seu caráter genérico, essas categorias sociais não apenas participam,
mas constituem parte indissociável da base social dominada e explorada: o conjunto
do proletariado, no caso do capitalismo. Marx, Engels, por exemplo, buscam justamente
o “ser humano genérico”, aquilo que nos identifica como espécie particular no
mundo e na história; eles partem do estudo do capitalismo como situação
concreta do homem concreto para encontrar as formas de superação dessa condição
de redução da nossa humanidade às peias da exploração econômica entre as
classes sociais. Para, de certa forma, <i>reconstituir </i>o ser humano
genérico no comunismo. O ser humano genérico não tem cor, não é homem nem
mulher. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><b>Cinefilia e preconceito</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">A rigor, o racismo é
estrutural por definição. Usamos essa expressão para diferenciar, em nosso
cotidiano, as formas mais explícitas de preconceito racial daquelas de certa
forma menos evidentes, mas o adjetivo estrutural aponta justamente para o
caráter orgânico do racismo que, como outras presunções de diferenciação
interpessoal, suporta, escora, permeia todo o edifício social. Mas não da mesmo
forma em todo e qualquer edifício social. Se todas as formas de diferenciação
social têm origem na propriedade privada, elas se organizam de formas
diferentes conforme a estrutura do processo produtivo, segundo a evolução
histórica. A subordinação das mulheres e outros preconceitos, de classe ou de outro
tipo, são igualmente, às suas próprias maneiras, construções estruturais nas
relações sociais. Nos últimos séculos, as construções do modo de produção
capitalista. A principal forma de racismo que experimentamos no Brasil – e no
chamado mundo ocidental – é uma construção ideológica decorrente do ciclo de
escravização de povos africanos, entre os séculos 16 e 19, forma complementar da
exploração capitalista baseada essencialmente na exploração do trabalho
assalariado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">A construção de formas de
diferenciação social, ainda que se articule, em última instância, com as formas
básicas de organização da produção econômica, também se dá em outros níveis das
relações sociais. Historicamente, quem definia a importância, o interesse – em
suma: o valor de uso – dos produtos simbólicos eram os setores que a eles
tinham acesso: a comunidade inteira, nas formas sociais mais “primitivas”;
diferentes níveis de privilegiados, na Antiguidade ou na Idade Média. As massas
populares, contudo, sempre construíram espaços, produtos e instituições
próprias.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No capitalismo é o mercado que
organiza o acesso, ou a falta dele. Para se enraizar no plano da cultura,
transformando em mercadorias as produções simbólicas (ou estéticas) e
construindo mercados para sua comercialização, o capitalismo teve que constituir
<i>valores</i> próprios, que servissem de base para essa diferenciação e negociação.
Entre outras instituições com esse fim, <i>especialistas </i>de vários tipos
foram se estabelecendo no processo de definição desses valores, que serviam – e
servem – para constituir mercados, produtos e consumidores diferenciados.
Muitas vezes, mais do que <i>apenas </i>baseadas no tempo e no tipo de trabalho
necessário para a sua produção, outros aspectos servem para definir a <i>precificação</i>
desses valores, em especial os do campo da cultura. A <i>originalidade</i>,
isto é, os elementos ligados à origem da obra: autoria, procedência e datação
passaram a ser estabelecidos por <i>experts</i>, quase sempre sem formação
específica. Eram amadores (apreciadores contumazes), diletantes (que se
deleitavam) desde então promovidos a novos papéis sociais. Esses especialistas,
cuja base de julgamento era fundamentalmente o <i>gosto</i>, já em si uma
categoria bem vaga, totalmente ideológica, ficaram conhecidos como<i>
connoiseurs</i>, uma variante da palavra que designa especialista em francês. Em
1760, o escritor inglês (e preconceituoso ele mesmo) Oliver Goldsmith, falando
de pintura, disse: “<i>o título de </i>connoisseur <i>dessa arte</i> <i>é
atualmente o melhor passaporte para qualquer sociedade elegante: um trejeito
bem escolhido, uma atitude original e uma ou duas expressões exóticas já servem
de qualificação para homens de baixa condição obterem favores.</i>”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Essa base no gosto serviu para a extensão do título de <i>conhecedor</i> para
outras áreas, e hoje ela se aplica para a cozinha, com os<i> gourmets </i>e <i>chefs</i>,
ou o vinho, com os <i>sommeliers </i>– termo que também se usa para cerveja,
café e chá – entre outras. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">E assim chegamos aos
especialistas em cinema. Todas as características mencionadas acima se adequam
perfeitamente aos <i>cinéfilos</i>: ajudam a estabelecer valores para
diferentes filmes; seu juízo é baseado no gosto, ligado às elites, isto é, às
classes dominantes, e a medida é a originalidade, principalmente a partir da <i>autoria</i>
– de onde vem a categoria estética de <i>filme de autor</i>. Mas, além de uma
base de valor estético e comercial, a cinefilia também estabeleceu um
pressuposto de diferenciação, que lhe é intrínseco, entre uma <i>elite</i> de
conhecedores - os cinéfilos - e o restante do público. Trato aqui esse
conceito, que tem várias leituras socialmente<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
no sentido identificado com os critérios de apreciação do cinema “como arte”, a
partir dos anos 20 do século passado. Sentido esse estabelecido, por exemplo,
nos estatutos do Ciné-Club de France, publicados no primeiro número do mais
famoso que conhecido <i>Journal du Ciné-club</i><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
e diversas outras publicações da época<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Inicialmente dominante sobretudo na França e outras partes da Europa, essa
mesma ideia de cinefilia foi reforçada e internacionalizada depois da 2ª Guerra
Mundial, a partir dos frequentadores da Cinemateca francesa e de alguns
cineclubes e cinemas parisienses<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
assim como das revistas a eles ligadas – como <i>Cahiers de cinéma</i> e <i>Positif
</i>– e dos cineastas a que se associou a prestigiosa marca de Nouvelle Vague. Essa
cinefilia, que cria categorias diferentes de espectatorialidade, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>reveste substancialmente um preconceito: o
elitismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Nos anos 20, a cinefilia se
ancorava numa elite bem definida de artistas e jornalistas que criavam revistas
e atividades para atrair e fidelizar seus leitores, como <i>galas</i> e <i>premières</i>
de filmes: práticas que viriam a ser, progressivamente, identificadas como
cineclubes. Essa espécie de aristocracia instalava-se, contudo, num ambiente
cultural em que existiam vários outros segmentos de público e tipos de relação/organização
entre eles e o cinema. O maior desses segmentos (bem maior que as iniciativas cinéfilas
parisienses e de outras capitais europeias) era o do chamado cinema educativo,
disseminado principalmente pelo interior da França – mas igualmente importante
em vários outros países<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
– junto a escolas e cidades relativamente pequenas, e em alguns bairros de
cidades mais importantes. Havia, também, os cineclubes ligados ao movimento
operário e de solidariedade com a Revolução Soviética<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
E, no início da década, com o lançamento dos pequenos formatos – 9,5 mm e 16 mm
– também surgiu um espaço limítrofe entre a esfera exclusivamente privada,
familiar, incentivada como espaço de consumo pelas empresas comerciais, e
iniciativas de produção dita amadora, muitas vezes organizadas em torno de <i>clubes
de cinema</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Creio que se deve ao <i>Cercle
du cinéma</i>, o cineclube fundado por Henri Langlois e Georges Franju em 1935
– onde, ironicamente, estava excluído o debate dos filmes – e que logo se
tornaria a Cinemateca Francesa, a transmissão dessa <i>paixão pelo cinema</i>,
retomada com os cinéfilos dos anos 50 e com os diversos movimentos de renovação
do cinema em várias partes do mundo. Mas, se essa cinefilia parisiense se
ligava ainda a críticos e realizadores - diferentes, já, daqueles que os
antecederam mais de 20 anos antes – sua reprodução ampliada mundialmente perdia
muita da sua especialização inicial, reproduzindo-se um pouco como mito, criando
diversas formas, entre imitação e até paródia, ou simples paternalismo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Um
processo dialético<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Não cabe uma aproximação
maniqueísta do fenômeno cinefilia. Mesmo reproduzindo à sua maneira a
influência elitista de origem, os cineclubes cinéfilos se espalharam por muitas
partes do mundo, principalmente entre as ex-colônias europeias – na América
Latina, no Oriente Médio, na África e até na Ásia - e tiveram um papel
fundamental na difusão de uma cultura cinematográfica até então estranha à
história daqueles povos e países. Essa era, também contraditoriamente,
essencialmente colonial e elitista, mas iria igualmente contribuir, alimentar,
enriquecer a cultura desses países. E sobretudo, em muitos casos, constituir um
grande estímulo para seus cinemas nacionais. Cinematografias essas que, por sua
vez, também na maioria dos casos, mesmo progressistas, anticoloniais, não
conseguiram estabelecer relações realmente sólidas e permanentes com as
maiorias de suas populações. Elemento fundamental nesse processo, também, foi o
controle dos parques exibidores de quase todo o mundo pela produção
estadunidense.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">De fato, a relação entre o
cineclubismo e o cinema – especialmente aquele que se coloca, de alguma forma,
fora dos parâmetros estritamente comerciais – é, pelo menos desde o surgimento
dos cineclubes cinéfilos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
umbilical. Os outros tipos de cineclubes que mencionei antes não têm essa mesma
relação. Os jornalistas - “teóricos” <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>préacadêmicos
de cinema - e os realizadores das vanguardas dos anos 20 foram os criadores dos
cineclubes cinéfilos. E, inversamente, esses cineclubes serviram de base para a
valorização desses cineastas. O mesmo se dá nos anos 50 e, de forma muito
semelhante, em todos os países onde o cineclubismo se disseminou como movimento
cinéfilo. Os cineastas nacionais e os movimentos de <i>novos</i> cinemas –
inclusive o brasileiro – formavam-se nos cineclubes, e os primeiros
constituíram, em grande número, importantes lideranças do movimento
cineclubista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">No entanto, como já foi
dito, essa relação, tanto dos realizadores como dos cineclubes, nunca superou
os círculos dos setores médios – a chamada pequena burguesia. Ainda que, sobretudo
em países de passado colonial, muitas vezes houvesse uma busca de identificação
e reconhecimento pelas grandes maiorias das respectivas populações. As lutas
anticoloniais e os movimentos populares dos anos 60, especialmente, marcam essa
procura. Que depois foi paulatinamente enfraquecida, descaracterizada com a
crescente hegemonia neoliberal do final do século passado, que se estende até a
atualidade. Produzido fora do “sistema” comercial dominante – seja quanto aos
valores estéticos como pela falta de acesso ao mercado – essas cinematografias
ficaram, em grande medida, distantes dos povos, das maiorias, cuja cultura
deveriam e muitas vezes almejavam expressar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">A cinefilia, e seu grande
subproduto, o cinema de autor, tiveram possivelmente um papel essencial nessa
disjunção. A procura de uma identidade imanente da linguagem cinematográfica e
o impulso de valorização da iniciativa individual– além das barreiras
econômicas de mercado - têm sido, a meu ver, os maiores obstáculos para a
identificação entre o cinema, e outras mídias audiovisuais, e a maioria da
população, ou seja, o conjunto da classe trabalhadora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Acima, o que resumi muito
como hegemonia neoliberal coincide com a progressiva superação do dispositivo
social do cinema, a partir inicialmente da supremacia da televisão, e da
evolução e, finalmente, predomínio, das mídias digitais audiovisuais. Trata-se
do re-estabelecimento da supremacia ideológica das classes dominantes num
contexto de revolução tecnológica, de reorganização das forças produtivas e das
relações sociais. Junto à crise do cinema há uma crise do cineclubismo cinéfilo,
que se enfraquece em todo o mundo a partir dos anos 70. Salas de cinema chegam a
desaparecer em muitos países, assim como em grandes áreas de outros – como no
Brasil. O mesmo acontece, em escala própria, claro, com os cineclubes. Ambos se
estabilizarão, de certa maneira, em outros patamares – em comparação com os
anos 50 e 60, por exemplo. No Brasil, um caso com muitas especificidades, o
cineclubismo tradicional, de caráter associativo, praticamente desapareceu nos
últimos 20 anos. Subsiste, no entanto, uma influência fundamental da cinefilia
- talvez uma etapa terminal de descaracterização do modelo inspirador.
Sobrevivem a ideia do cinema de autor, os mitos do cinema “não comercial” e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>do “cinema nacional”: este, uma categoria
genérica e opaca que confunde e constrange a paradoxal busca do popular entre
pequenos círculos acadêmicos ou de amigos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Por outro lado, os
ambientes, movimentos e organizações populares também não empregam de maneira
consciente – ou seja, de maneira crítica e com formas próprias e inovadoras de
organização – os recursos, técnicas e espaços de comunicação audiovisual
digital. Daí a epígrafe cinematográfica deste texto. Muitas vezes o que existe
é uma contaminação meio inconsequente dos modelos burgueses – principalmente do
cinema de autor - no cinema “militante”. A mais ou menos rara produção ligada
de alguma forma a movimentos sociais recai sobretudo na apresentação/justificação
dos mesmos movimentos populares para as classes médias, ou na mera constatação
inarticulada com as práticas que paradoxalmente procura documentar. Não existem
claras indicações que apontem para a <i>apropriação e reorganização do cinema,
ou das mídias digitais audiovisuais</i> pelas comunidades, movimentos e
organizações sociais populares.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">As práticas, as esferas
públicas constituídas sob influência da cinefilia são hoje principalmente os
muitos festivais de cinema – que descendem, igualmente, dos cineclubes -,
principal espaço que resta para o cinema brasileiro, igualmente circunscrito
aos setores médios da população. E as “exibições seguidas de debate”, a maioria
de forma irregular – a maior exceção são os cineclubes universitários – ainda
que relativamente disseminadas pelo País. Separados das maiorias, e sem o
caráter renovador que teve a cinefilia nas conjunturas nacionais dos anos 50,
muitas de caráter anticolonial, os cineclubes – ou as práticas cineclubistas
que os substituíram – tornaram-se <i>formas culturais residuais</i>, como
descreve Raymond Williams<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
que não superam seu espaço e conteúdo de classe, mas sobrevivem em escalas e
ambientes limitados. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">O cinema, como qualquer
outro meio ou linguagem de comunicação, em regime de <i>alienação</i> – isto é,
sem contato orgânico com as parcelas da população que podem transformar a
realidade social – também fica nessa condição decorativa, ultrapassada. E, no
mesmo sentido e ambientes, as mídias digitais audiovisuais, sem integração real
com as práticas sociais e políticas dessa maioria, não superam a condição de <i>formas
culturais emergentes</i>, ainda não plenamente assimiladas<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn14" name="_ftnref14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
“<i>A crise consiste precisamente no fato de que o velho está</i> <i>morrendo e
o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de
sintomas mórbidos aparecem</i>.”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Montreal, junho de 2023.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; border: none; line-height: 150%; margin-bottom: 3.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 3pt; mso-border-bottom-alt: solid #A2A9B1 .75pt; mso-outline-level: 2; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Este texto constitui uma
primeira parte, mais analítica, de tratamento do tema proposto no título. Uma
segunda parte se seguirá em breve, onde buscarei fundamentar uma argumentação
propositiva.<i><o:p></o:p></i></span></p>
</div>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A referência/homenagem ao
filme homônimo de Sergei Eisenstein e Grigori Aleksandrov (1929) tem a ver com este
texto sob múltiplos aspectos, que o leitor poderá desenvolver... Parece haver
duas versões no YouTube: </span></span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=UEDed0o7FYs"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.youtube.com/watch?v=UEDed0o7FYs</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> e </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=PspEQ9iEjXs"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.youtube.com/watch?v=PspEQ9iEjXs</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> . A própria produção do filme foi
interrompida, num momento de muita disputa política após a morte de Lênin, e
depois retomada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Na verdade, os próprios signos,
consolidados principalmente na fala – segundo Bakhtin {Bakhtin, Mikhail (ou
Volochinov). 2014. <i>Marxismo e Filosofia da Linguagem</i>. São Paulo: Hucitec}
– são ideológicos e, assim, possivelmente precedem até mesmo o gênero <i>Homo</i>,
e certamente o <i>Homo Sapiens</i>.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> “Slavery”,
verbete na <i>Encyclopaedia Britannica</i>, apud “History of Slavery”, <i>Wikipedia.<o:p></o:p></i></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Referência encontrada nas
versões em inglês, em espanhol e em galego do verbete <i>Connoisseur</i> (não
existe versão em português) da Wikipedia.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Emprega-se <i>cinéfilo</i>,
coloquialmente, simplesmente para quem gosta de cinema, vai bastante ao cinema
ou vê bastante na televisão e outras mídias, praticamente indiferenciado de
todos os que acessam esse <i>meio.</i> De que todos, afinal, gostam ou
assistem. Há, indiscutivelmente, uma cinefilia da pessoa comum, do público.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Acessível em </span></span><a href="http://www.cineressources.net/consultationPdf/web/o001/1586.pdf"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">http://www.cineressources.net/consultationPdf/web/o001/1586.pdf</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> .<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Ver, a respeito, Abel,
Richard. </span></span>1984. <i>French Cinema. The First Wave, 1915-1929</i>. Princeton
University Press; Gauthier, Christophe. <span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;">1999, <i>La Passion du cinéma. Cinéphiles, ciné-clubs et salles
spécialisées à Paris de 1920 à 1929</i>. Paris : AFRHC.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;"> De Baecque, Antoine. 2010. <i>Cinefilia</i>.
São Paulo: Cosac & Naify; Jullier, Laurent e Leveratto, Jean-Marc. 2010. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i>Cinéphiles et cinéphilies</i>. </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Paris: Armand Colin.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> De fato, depois de alguns
congressos internacionais, o primeiro Instituto Internacional do Cinematógrafo
Educativo foi instalado em Roma em 1927, sob a égide da Sociedade das Nações.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Como o cineclube Amigos de
Spartacus ou as várias Ligas de Cinema dos Trabalhadores organizadas em muitos
países, até mesmo o Japão. Isso sem mencionar as iniciativas cineclubistas
criadas nos milhares de clubes de trabalhadores da União Soviética.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Creio que paternalismo é uma
categoria diferente da de preconceito, embora seja construída, igualmente, no
quadro de organização diferenciada da espectatorialidade. Neste caso, nos
cineclubes, se estabelece como <i>método</i>: a instrução – hoje alguns dizem
alfabetização – do público para o “entendimento correto” dos filmes. De certa
forma, um método de transmissão do gosto cinéfilo. Mais diretamente foi uma
contribuição da organização mais que elitista, até hierárquica, dos cineclubes
ligados à Igreja Católica, presença importante em toda a história do
cineclubismo. Sem se confundir enquanto conceitos, elitismo e paternalismo
muito frequentemente se articulam e se completam.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Ao contrário da maioria dos
autores, considero que a instituição cineclube se desenvolve – como outras
instituições essenciais do cinema – concomitantemente com o cinema. Os
primeiros cineclubes plenamente estruturados se constituem por volta dos anos
10 (ver “Ainda a epistemologia do cineclubismo” em </span></span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2021/05/o-texto-abaixo-e-parte-de-um-dialogo.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2021/05/o-texto-abaixo-e-parte-de-um-dialogo.html</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">), mas esse conceito de cinefilia
lhes era absolutamente estranho. Antes, eles se organizavam e mobilizavam <i>contra</i>
o cinema, identificado como alienante e opressor, e se propunham a construir <i>outro</i>
cinema, da classe trabalhadora.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Williams, Raymond. 2011. <i>Cultura
e Materialismo</i>, p. 56-59. São Paulo: UNESP <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Ibid.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Texto%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/O%20velho%20e%20o%20novo.docx#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Gramsci, Antonio. 1999. <i>Cadernos
do Cárcere</i>. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-49723613620826791912023-01-24T10:03:00.001-08:002023-01-24T10:03:12.058-08:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3wAVc2MqtTM3v3ENMUvCmpuP-JgEqaHmVUxPavCuTmjA6lDENa5JwV_-RxAltJ7Uv0OuNZ-qB_XWhqwNGuEjaP8k3-oOm59My6dp8CVKS0XU8MrENZL4nJdsjOkSpromXmXJkz14vmBFlGTSvKclTRL-9caIl8Q4dbmT32b4h4kbbAwzPDl4VBg6I/s960/16115022_10154307893352336_2235925596841297707_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="904" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3wAVc2MqtTM3v3ENMUvCmpuP-JgEqaHmVUxPavCuTmjA6lDENa5JwV_-RxAltJ7Uv0OuNZ-qB_XWhqwNGuEjaP8k3-oOm59My6dp8CVKS0XU8MrENZL4nJdsjOkSpromXmXJkz14vmBFlGTSvKclTRL-9caIl8Q4dbmT32b4h4kbbAwzPDl4VBg6I/w376-h400/16115022_10154307893352336_2235925596841297707_n.jpg" width="376" /></a></div><br /> <p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-6748103234110534442023-01-24T09:58:00.007-08:002023-01-25T09:17:08.435-08:00<p> <span style="font-size: 18pt;">O cineclubista orgânico</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><b style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cineclubistas, primeiras gerações</span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><b style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Antes do Chaplin Club, de 1928, um denso nevoeiro
recobre a ideia de qualquer cineclubismo no Brasil. Assim, não podemos
encontrar até agora – o que não quer dizer que não tenha existido - uma figura como
Gustave Cauvin, fundador do Cinema do Povo</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="font-size: 12pt; mso-footnote-id: ftn1; text-align: justify;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">,
em 1913, e que militou nos cineclubes populares franceses toda a vida, até sua
morte em 1951. É difícil afirmar alguma coisa sobre personalidades cineclubistas</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="font-size: 12pt; mso-footnote-id: ftn2; text-align: justify;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"> brasileiras
antes daquele importante cineclube do Rio de Janeiro.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sem entrar em maiores abstrações, como se formou, então,
uma ideia de cineclubista no Brasil? Creio que a palavra cineclubismo, além de
aplicar-se a um movimento ou momento dos cineclubes em escala mais ampla – o
cineclubismo brasileiro ou latino-americano atual, por exemplo – também
significa a imagem, a reflexão que se faz sobre o conjunto dessas práticas.
Nesse sentido, o cineclubismo varia historicamente como ideário motivador de
seus praticantes, seguidores ou outros: o cineclubismo é a ideologia do
cineclubista. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Então, para começar, há uma variação generacional. Uma
primeira tradição cineclubista pode ser inferida da conhecida referência do
contágio de Paulo Emílio Sales Gomes pelo cineclubismo através de Plínio
Sussekind<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
membro do Chaplin Club e passador do bastão cineclubista para a universidade
fluminense e para os anos posteriores. Paulo Emílio é a face mais visível do
Clube de Cinema de São Paulo e também a interface com a cinefilia e o
cineclubismo francês e europeu das décadas de 40 e 50. O cineclubista
brasileiro copiava ou reproduzia – o próprio Paulo Emílio ironizaria, em outro
contexto, nossa atávica incapacidade de imitar - o cineclubista europeu. Hoje
talvez chamássemos isso de modelo colonial de cineclubismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nos anos 50 e até o início da ditadura militar, o
cineclubismo cresceu em todo o Brasil, seguido da fundação de entidades
representativas regionais e nacional e da realização de Jornadas de Cineclubes.
Críticos de cinema ligados ao cineclubismo, na imprensa de vários estados; revistas
próprias importantes, como a <i>Revista de Cinema</i> do CEC de Belo Horizonte;
o Curso de Formação de Dirigentes Cineclubistas<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>;
inúmeros boletins, eventos, reuniões regionais e Jornadas consolidaram uma
ideia de cineclubista muito parecida com a da França, a mais influente<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. O
cineclubista era, então, um <i>cinéfilo</i>: um amante do cinema, dotado de uma
erudição muito particular, autodidata, acumulada com a visão constante de
filmes, quando ainda não existiam, ou estavam apenas começando, as instituições
de ensino universitário de cinema. Entre esses cineclubistas surgiram importantes
críticos de cinema, um pouco em toda parte, Brasil afora. Essa tendência a
acumular conhecimento com filmes tem a ver também com a criação de arquivos: as
cinematecas de São Paulo e do Rio de Janeiro são os grandes exemplos. E nesse
mesmo caldo, os primeiros festivais, e ainda, depois, os cursos universitários
de cinema. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Havia, também, como na França, cinéfilos mais
extremados, que exageravam na cultura inútil, afetada, nos detalhes sem
significado dos filmes, das vidas dos realizadores, atores e atrizes, e que
foram bastante criticados pelo mesmo Paulo Emílio em sua coluna n’<i>O Estado
de São Paulo</i>. Com toda essa diversidade de cineclubistas, no entanto,
certamente essa foi uma geração definidora do próprio conceito. O cineclubista
era agora mais um personagem no panorama social brasileiro - sobretudo do
cinema – e mesmo com vínculos mais ou menos fortes com cineclubistas de outros
países.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Para essa geração, de maneira geral, o cinema
brasileiro não contava muito; não tinha a <i>legitimidade </i>dos filmes
estrangeiros. Não tínhamos o <i>cinema de autor</i>, consagrado pela cinefilia
parisiense. Mas foi dentro dessa primeira grande vaga de cineclubismo que se
formaram, justamente, os <i>autores</i> do Cinema Novo. Foi como que uma
“segunda geração”, formada naqueles cineclubes, mas mais marcadamente politizada,
e que trouxe, de certa forma, para o modelo cinéfilo de cineclubismo, a agenda
das questões nacional e popular. O campo da Arte, nos cineclubes, incorporou o
viés antropológico e político da Cultura. O cineclubista cinéfilo “erudito”
recebeu uma tintura política mais definida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, é importante nuançar essas afirmações. O
humanismo da vertente católica, uma das principais forças do cineclubismo no
Brasil, já se colocava desde os anos 50<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
com uma dimensão também claramente política, um tanto mais conservadora. Com a
criação das federações regionais e do Conselho Nacional de Cineclubes, cineclubistas
católicos e universitários se enfrentarão em todas as arenas políticas do
movimento, até meados dos anos 60.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cineclubistas na ditadura militar<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O movimento cineclubista nacional que havia sido
construído desde o final dos anos 40 foi se estiolando durante o regime
militar. Com o endurecimento ainda maior da ditadura a partir do Ato
Institucional no. 5 (1968), e com o recrudescimento da Censura, os cineclubes e
suas entidades federativas praticamente desapareceram – com a honrosa exceção do
Centro dos Cineclubes de São Paulo, dirigido por Carlos Vieira desde 1956, e
alguns poucos cineclubes do interior desse estado. A ditadura foi uma ruptura
em mais de um sentido, e uma nova geração de cineclubistas iria aparecer, no
início dos anos 70. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Começando nas universidades, onde a atividade mais
política era fortemente perseguida, os cineclubes logo se constituíram como
arenas importantes de debate. Essa politização da ação cineclubista levou à
organização de exibições em bairros de periferia, à procura do povo, um pouco como
havia acontecido antes, como no caso dos Centros Populares de Cultura da União
Nacional dos Estudantes-UNE. Em meio ao crescimento dos movimentos e
organizações sociais, essas projeções, esses projetos de cineclubes logo
adquiriram autonomia e expressão próprias. Na Jornada de Caxias do Sul, a maior
já realizada, em 1978, havia cineclubes universitários e do ensino médio,
cineclubes de bairros das periferias das capitais e cidades grandes, cineclubes
sindicais, cineclubes feministas e cineclubes <i>gays</i>, como se dizia então.
Nessa época pode-se falar de um cineclubismo – e cineclubistas – populares. Mas
ainda incipientes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubistas que organizavam todos esses
cineclubes eram comunistas, trotskistas, feministas, do movimento negro, de
todas as orientações sexuais e políticas. À parte os enfrentamentos, menores, entre
algumas dessas tendências dentro do movimento, havia o grande inimigo comum: a
ditadura. E junto com esse forte impulso democratizador, que levou o
cineclubismo para todos os ambientes sociais, houve também uma grande
articulação orgânica do movimento, com a constituição (ou recriação) de
diversas federações estaduais e regionais; com a reorganização da entidade
nacional, o Conselho Nacional de Cineclubes<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
em bases bem mais democráticas e efetivamente nacionais, e com a criação da
Dinafilme, importante iniciativa de distribuição de filmes (na época em
película, é preciso lembrar) que operou em todo o Brasil, atendendo centenas de
cineclubes e mesmo mais de mil pontos de exibição<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> ligados
a outros movimentos sociais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cineclubista dessa geração era sobretudo um
militante político e cultural – com as qualidades e defeitos que os horizontes
políticos da época representavam. Havia uma forte identidade entre os
cineclubistas, mesmo os adversários ideológicos, dentro de um movimento plural
e diversificado, mas unitário, que se reunia com muita frequência, criando
solidariedade e companheirismos em que esses militantes se reconheciam. Como
grande parte dos países latino-americanos experimentava situações semelhantes
de autoritarismo, uma solidariedade cineclubista continental, especialmente, e
até mundial, com a participação do CNC na Federação Internacional de Cineclubes,
também se constituiu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O fim da ditadura, com o restabelecimento de um regime
democrático liberal, e as grandes mudanças tecnológicas no campo do audiovisual
que se iniciavam nos anos 80 foram, a grosso modo, as principais causas do
esfacelamento do cineclubismo do período imediatamente anterior. A retirada do
inimigo comum – a ditadura - talvez tenha exacerbado as muitas diferenças entre
os cineclubistas, transformando-as em incompatibilidades: o fato é que o
movimento se dividiu, se polarizou, como diríamos hoje - antes de se
desorganizar. Aqueles militantes, em grande número, foram atuar nos campos
políticos que se abriam: o movimento estudantil e o PT, principalmente. Por
outro lado, o meio, a mídia – dizíamos a bitola – que os cineclubes basicamente
utilizavam (a película de 16 mm) foi sendo retirado do mercado e do uso,
substituído inicialmente por suportes meio precários, como as fitas Betamax e
VHS; só um tanto depois viriam os DVDs e as formas de arquivo e de exibição
atuais. Até a tecnologia influiu na crise de identidade que afetou o
cineclubismo, os cineclubistas. Até o final da década de 80 o <i>movimento</i>
– nacional, organizado – se dispersou completamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Entre os anos 80 e 90<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Pode-se dizer que restou uma espécie de “núcleo duro”
de cineclubistas, mas já não eram em grande número nem seus cineclubes operavam
nos mesmos tipos de comunidades. Entre meados dos anos 80 e o início dos 90,
esses militantes organizaram os chamados “cineclubes 35 mm”, de funcionamento
diário e, inicialmente, de estrondoso sucesso sobretudo em São Paulo, no Rio de
Janeiro e algumas outras capitais e cidades importantes. Sua proposta era “enfrentar
o touro à unha”, disputando o público diretamente com os cinemas comerciais,
mas mantendo a estrutura cineclubista: democrática, sem fins lucrativos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em resumo: o projeto não funcionou. Mas se fracassou, o
fez, de certa forma, em grande estilo. Localizados em regiões centrais ou
culturais de cidades grandes, esses cineclubes tiveram inicialmente um sucesso muito
grande: atraíam milhares de espectadores por mês<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
superando mesmo a maioria das salas comerciais. Era uma programação diferente,
com os grandes filmes do cinema mundial – além da produção nacional - que a
Censura havia roubado ao público durante cerca de 20 anos. Essa dimensão de
atuação, os números de frequentadores, e provavelmente seu caráter genérico<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> tornavam
difícil estabelecer uma nova relação realmente associativa dentro desses
cineclubes. E seu sucesso mobilizou os concorrentes comerciais, os interesses
imobiliários (que queriam basear os aluguéis das salas em participação na
renda), entre outros. Aluguéis mais caros, necessidade de filmes de maior
renda: um círculo vicioso. Numa certa analogia com o que acontecera na França
décadas antes, esses cineclubes pareciam mais cinemas de arte que cineclubes
propriamente ditos. A maior parte deles, contrários ou incapazes de se tornar
atividades comerciais de pleno direito, desapareceu. Um apenas, talvez o de
maior sucesso, criou um novo modelo de negócio, híbrido, com forte influência
cineclubista, e acabou se expandindo por praticamente todas as capitais do País,
tornando-se um importante circuito comercial, “de arte”, em certo sentido, mas
exibindo todo tipo de filme. Os velhos cineclubistas (da década anterior) que
protagonizaram esse período eram relativamente em pequeno número. Foram mais
exibidores não comerciais profissionais do que os antigos militantes que,
entretanto, nunca deixaram de ser. Muitos deles voltariam de novo, no início do
novo século.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cineclubistas nos governos Lula<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Retrospectivamente parece meio evidente: temos que
fazer uma ligação direta entre o ciclo de cineclubismo que vai de 2003 a 2010 e
os dois primeiros governos Lula. Como causa e efeito, mediados pela vida
social. O cineclubismo brasileiro se reorganizou – e depois se desarticulou –
em consequência direta dos governos petistas, sua condição política mais
determinante. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os dois governos com Lula presidente foram, de longe,
os que mais legislaram e trabalharam com políticas culturais desde a
redemocratização do País – e desde a proclamação da República mesmo, muito
provavelmente. Foram os únicos a estabelecer uma política de Estado (além dos
muitos programas de governo, às vezes equivocados) de longo e profundo alcance,
com a proposta de criação de um Sistema Nacional de Cultura, integrando as
esferas municipais, estaduais e nacional e instituindo algumas formas de
participação da população nesse processo. Ainda que o Sistema não tenha sido
inteiramente aplicado, sua influência definiu os paradigmas institucionais que ainda
vigoram na maioria dos estados e em um número muito grande de municípios. Mesmo
no governo de inspiração fascista, anticultural, de Jair Bolsonaro, leis
inspiradas naquele modelo – as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo – foram
aprovadas pelo Congresso, por consenso ou grande maioria, e aplicadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em 2003, o governo estimulou a retomada dos
cineclubes, reunindo velhas lideranças – dos anos 80 e 90 – e novos animadores
cineclubistas. Foi organizada uma Jornada, em novembro daquele ano, em
Brasília. Dali os cineclubes passaram a retomar a organização do movimento, em
grande medida sob o modelo da experiência dos anos 70 e 80. E ali também
começou o aspecto negativo das práticas do governo: sua forte intervenção no
movimento. Com uma primeira resistência do movimento cineclubista reorganizado<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
o apoio do governo se retraiu. Ficou praticamente suspenso até a segunda metade
de 2008, quando lançou efetivamente seus programas para o cineclubismo
brasileiro: a Programadora Brasil e o Cine Mais Cultura. A primeira era uma distribuidora
de filmes brasileiros em DVD e o segundo, um programa de distribuição de kits
de projeção para esses filmes. Na verdade, os dois projetos foram apropriações
de propostas cineclubistas feitas a partir das Jornadas de 2003 e 2004, que
passavam, assim, a ser controladas pelo governo. Em resumo, o movimento
cineclubista se submeteu a essa tutela. Seguiu-se um relativamente curto
período – 2009 e 2010 – de grande efervescência, com a distribuição de várias
centenas de kits de projeção e o cadastramento de um número correspondente de
iniciativas, chamadas de <i>cines</i>, junto à distribuidora governamental.
Isso tudo foi descontinuado no governo de Dilma Roussef e o movimento
cineclubista, mais uma vez, entrou em um processo de desorganização que, com
pequenas ocorrências que não são o objeto deste artigo, continua até os dias de
hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas, e o que aconteceu com a ideia de cineclubista
naquele período? Começando com o papel do governo, acredito que ele contribuiu
– sem ser a única causa - para a descaracterização do cineclubismo que se
desenvolveu então. No afã de obter resultados significativos e a confirmação do
acerto de suas políticas, o governo como que aceitou a desorganização dos
cineclubes, e até a estimulou em boa medida, eliminando a exigência de uma
organização comunitária real como interlocutora e agente dos programas de
apoio: os editais federais passaram a aceitar como proponentes – termo
inadequado, já que não propunham, mas apenas aceitavam e reproduziam as
propostas governamentais – as pessoas físicas. Disso resultou uma certa
especialização dos tais proponentes, não mais organizações de base comunitária,
mas supostos representantes e “responsáveis” delas. Os cineclubes, que já viviam
um processo de desorganização<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> -
no sentido de estruturação política democrática -, rapidamente deixaram de seguir
normas democráticas de organização. Também uma certa profusão, enganosa porém, de
recursos levou esses cineclubes a abandonarem suas fontes tradicionais de
sustentação (que são também de organização) – associados, ingressos e outras -,
passando a depender inteira e exclusivamente dos esperados recursos públicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Uma outra influência determinante na ressignificação
da ideia do cineclube foi a influência dos realizadores amadores<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
de cinema que, em boa medida, determinaram o direcionamento dessas políticas do
cineclubismo, e adotaram os cineclubes fundamentalmente como espaços de
exibição (para seus filmes). Isso é parte da substituição da ideia de cineclube
como público organizado pela de público receptor, ou plateia, <i>para</i> os
filmes brasileiros, sobretudo os de curta-metragem. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essas tendências ou processos que afetaram o
cineclubismo brasileiro têm uma expressão ideológica, evidentemente<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn14" name="_ftnref14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. A
organização passou a ser vista como burocracia, e a palavra de ordem valorizada
foi <i>horizontalidade</i>. A informalidade, expressão da falta de organização,
serviu como justificativa para a incapacidade e até oportunismo de não se dar
ao trabalho mais árduo da organização democrática. A falta de sustentabilidade,
corolário da ausência de organização e antessala da dependência, passou a ser exibida
como qualidade, e não são muito raros os “professores” de cineclubismo que
afirmam até hoje que “cineclube é onde se exibe filmes <i>gratuitamente</i>”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i>Informalidade</i>, <i>horizontalidade</i>
e <i>gratuidade</i> são os elementos ideológicos, os novos valores
correspondentes às políticas de tutela do cineclubismo pelo governo e pelo
segmento de produção amadora de curta-metragem. E isso tudo foi, também,
determinante na sua dispersão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubistas desse período tinham, no entanto, um
sentido de identidade. Essa identidade foi alimentada por cinco relativamente
grandes Jornadas realizadas (2003, 2004, 2006, 2008 e 2010), que foram
importantes espaços de convivência; pela valorização sentida no reconhecimento
e diálogo com as instituições governamentais e, finalmente, por uma herança
difusa das identidades anteriores dos cineclubistas: os cinéfilos conhecedores
e os militantes políticos. Junto com os elementos mencionados no parágrafo
anterior, tudo isso criou uma forte camada ideológica identitária. Que ainda é,
mais ou menos, uma referência para as práticas dos dias atuais. Esse cineclubista
pode até não ter um cineclube, mas carrega sempre esse sentimento (ou
ideologia) de identidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Rescaldos das políticas do PT<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Depois de 2010 não se realizou mais nenhuma Jornada
regular, isto é, conforme os requisitos dos estatutos que regem esses eventos.
Alguns encontros usaram o nome<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
mas foram eventos muito pequenos, sem representatividade, legitimidade e,
sobretudo, bem inconsequentes: elegeram diretorias, mudaram estatutos, mas nada
realizaram e, principalmente, passaram incógnitos pela vida cultural e mesmo
cineclubista no País. Existem cineclubes em todo o País, como sempre nesses
períodos de refluxo, mas talvez mais que em outras épocas, os cineclubes <i>ressignificados</i>
neste século perderam grande parte da sua relevância social e cultural.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como citei mais atrás, o Sistema de Cultura desenhado
pelo governo Lula se manteve, pelo menos em parte, e se reproduz, também mais
ou menos, em diversos estados e municípios. Versões estaduais e locais dos
editais que visavam os cineclubes no final da primeira década deste século
continuam a apoiar, mais ou menos precariamente, iniciativas por sua vez
inspiradas nos mesmos modelos. Daí a sacralização da fórmula: filme e debate.
Sem organização, sem sustentabilidade autônoma, e sem democracia, isto é, <i>participação
com responsabilidade</i>. Assistir filmes e talvez usar a palavra numa sessão
mensal de cinema é uma concepção bem limitada de participação social ou
cultural...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A primeira Lei Aldir Blanc<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn16" name="_ftnref16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> e
a Lei Paulo Gustavo também reproduzem tanto a força das propostas iniciais do
Sistema, como o limitado alcance organizativo – ou estruturante, diriam os
técnicos – de suas medidas, que incorporaram os vícios dos editais de que já
tratamos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn17" name="_ftnref17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Parece-me que o termo cineclubista, seja como
conhecedor cinéfilo – papel que hoje passou em parte para os <i>curadores</i> –
ou como militante do cinema político ou da comunidade organizada, não se aplica
mais da mesma forma. Esses papéis tornaram-se, na expressão de Raymond
Williams, <i>formas residuais de cultura<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn18" name="_ftnref18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[18]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Crise do cineclubis(ta)mo cinéfilo <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">As raízes mais profundas do cineclubismo não estão no
cinema, mas na organização da comunidade. O <i>clube</i>, a organização
coletiva, democrática (com origem na Revolução Francesa), determina o <i>cine</i>,
meio, mídia, mediação das relações entre o <i>público</i> – não a plateia
passiva, nem o <i>espectador </i>abstrato, mas os participantes conscientes -
do clube. Os primeiros cineclubes – que não tinham esse nome e, portanto, não
correspondem exatamente aos modelos inspirados em prática posteriores – eram
associações e cooperativas do público, fortemente identificadas com a classe
trabalhadora, cujo objetivo era transformar radicalmente o cinema comercial, de
dominação e alienação. Mudar o cinema – o cinema da primeira década do século
20 – era parte do programa de transformar a sociedade. O Cinema dos
Trabalhadores, de 1911 (Los Angeles), o Cinema do Povo, de 1913 (Paris), e muitos
outros,</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">eram projetos <i>integrais</i> de organização de seus
públicos para a transformação da sociedade com a superação concomitante do
cinema comercial. “Divertir, instruir, emancipar”, era o lema genial e, até
hoje tão atual, do Cinema do Povo. No Brasil também existiu a mesma proposta e
o mesmo entendimento, e na mesma época, mas não há quase pesquisa nesse campo. Visto
sob uma perspectiva contemporânea, esses cineclubistas eram <i>militantes
culturais</i> que buscavam se apropriar, como classe social oprimida, de um
novo e importante meio de comunicação. Antes do Cinema do Povo houve o Teatro
do Povo, com a mesma proposta e alguns dos mesmos participantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mencionei Gustave Cauvin<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn19" name="_ftnref19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
que começou fazendo projeções ilustrando palestras contra os efeitos do
alcoolismo entre os trabalhadores, por volta de 1908 – uma questão importante
na época -, participou da organização do Cinema do Povo e depois foi um
importante dirigente do movimento dos <i>offices </i>(escritório em francês: hoje
poderíamos dizer núcleos) de cinema educativo – que eram tipos de cineclubes
voltados para crianças, para jovens, e para as comunidades. Desses núcleos
surgiu a primeira federação de cineclubes, no começo dos anos 20. Cauvin, que era
anarquista, virou comunista, participou da Resistência nos anos 40 e continuou
organizando projeções até sua morte, em 1951. Ele encarna um <i>cineclubista
revolucionário</i>, radical, orgânico, classista. Com outras marcas de sua
época, como um certo moralismo, depois o culto do stalinismo: como todos nós,
esse modelo de cineclubista é intrinsecamente histórico, e não um tipo de
descrição ou valorização moral.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">E historicamente foi suplantado
pelo modelo que chamo de </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">cinéfilo</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">, não mais de negação absoluta do
cinema comercial, mas de crítica a alguns de seus aspectos. Há uma diferença
dialética fundamental: do combate ao cinema passou-se à defesa (“crítica”) do
cinema. Creio que há uma forte analogia possível com as propostas anarquistas
ou comunistas, que visavam a destruição do capitalismo, e as posturas ditas socialistas
ou reformistas, que criticavam o capitalismo, mas propunham apenas sua reforma
e humanização – com a sua manutenção. Estas últimas foram em grande parte responsáveis
pelo chamado </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">Estado de bem estar social</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">, que incorporou, principalmente
nos países centrais, reivindicações importantíssimas dos segmentos populares
mantendo, porém, sua condição geral de assalariados, sob exploração e controle
do capital. Pelo menos até a segunda metade do século passado, quando a onda </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">neoliberal</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">
passou a destruir sistematicamente – e o vem fazendo até hoje - todas aquelas
conquistas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 184.3pt; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 184.3pt; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">O cineclubismo,
ou o cineclubista hegemônico, em todo o mundo, passou a ser o </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">cineclubista
cinéfilo</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">, crítico, com importantes momentos de influência no cinema e na
sociedade – como nos movimentos de vanguarda estética, de renovação na
linguagem: a Nouvelle Vague, o Cinema Novo e tantos outros. Mas essa cinefilia
abandonou – ou foi incapaz de restabelecer - os aspectos mais essenciais do
cineclubismo original: seu compromisso orgânico com as classes trabalhadoras e
com a apropriação do cinema por elas. O cineclubismo cinéfilo separou, afastou,
enfraqueceu ou eliminou o </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">cineclube educativo</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> – que buscava o público
mais jovem e o das comunidades (e foi o mais importante “concorrente”, em
muitos momentos, da cinefilia</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn20" name="_ftnref20" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[20]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">).
O enorme circuito de </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">clubes de trabalhadores</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> no início da revolução
soviética – onde também havia uma importante atividade pedagógica com o cinema</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn21" name="_ftnref21" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[21]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> -
foi ignorado pelo cineclubismo cinéfilo europeu, mesmo quando este valorizava
esteticamente os realizadores de cinema da Revolução. O modelo cinéfilo também
excluiu a produção de cinema – ou os clubes de cinema amador (e as Ligas de
Cinema dos Trabalhadores</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn22" name="_ftnref22" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[22]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">)
nas décadas de 20 até 50. E nas seguintes, já em decadência. Depois disso, o
cinema amador, o cinema militante e outras variações dos projetos que
mobilizavam os públicos, passaram a ter existência independente, e às vezes até
adversária do cineclubismo – ou vice-versa. Apesar de cinéfilo, aquele modelo
também abandonou as questões de memória e de identidade, que se “especializaram”
– geralmente a partir da transformação de cineclubes - como cinematecas,
privadas ou estatais. Nelas, da dimensão comunitária, até classista, passou-se
à de memória nacional, indistinta – e certamente essa é uma questão também bem
complexa, que não vou tratar aqui. Mas, resumindo: o cineclubista cinéfilo é,
como fenômeno histórico, essencialmente um cineclubista das classes médias e
para as classes médias.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 184.3pt; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 184.3pt; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">Por tudo isso</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn23" name="_ftnref23" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[23]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">,
o cineclubismo cinéfilo vem se desestruturando, se desorganizando, se
informalizando. E desaparecendo, ainda que seja a principal influência – mas
não mais, rigorosamente, o modelo de organização – que orienta, que ideologiza
as formas sobreviventes, residuais, de cineclubismo. O cineclubista, como o
próprio termo </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">cinéfilo</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> (que designava uma forma de erudição, nos termos
de Antoine de Baecque), se descaracterizou – alguns dirão ressignificou-se –
numa presença mais ou menos eventual na exibição “diferenciada” de um filme (ou
de alguns filmes curtos), seguida de um depoimento ou palestra de profissional,
ou de uma conversa idealmente centrada no filme.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 184.3pt; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 184.3pt; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">Essa nova postura – que não creio chegar a constituir
um modelo -, desorganizada, eventual, assistemática, também desistiu quase completamente
da ideia de </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">movimento </i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">social ou cultural, deixando de lado as
organizações representativas do cineclubismo, mesmo em tempos de muita
facilidade para a constituição de redes colaborativas virtuais.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 184.3pt; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A superação do cineclubismo
cinéfilo <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O desenvolvimento do cineclubismo
exemplifica bastante bem a concepção dialética da mediação entre contrários
como processo que gera em síntese um novo fenômeno histórico<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn24" name="_ftnref24" style="mso-footnote-id: ftn24;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[24]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Cineclubismo como termo que designa tanto o processo social e as formas
institucionais em que se consolida historicamente, como as formas ideológicas
que acompanham a compreensão social desse processo e dessas formas. É o que
este artigo vem procurando demonstrar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outra ideia que quero juntar a esta
é a da centralidade da cultura e, especialmente, das mídias audiovisuais como
mediações essenciais da sociabilidade contemporânea. Creio que isso está bem
estabelecido desde Martín-Barbero<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn25" name="_ftnref25" style="mso-footnote-id: ftn25;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[25]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
mas um texto de Stuart Hall é uma boa, e mais breve, introdução ao assunto<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn26" name="_ftnref26" style="mso-footnote-id: ftn26;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[26]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Trazendo a questão para a nossa discussão, as mídias, sobretudo as que mais
interagem e interferem na vida social contemporânea, podem ser mais ou menos
resumidas como <i>mídias audiovisuais</i>. O processo de formação dessas mídias,
aparentadas entre si justamente por essa condição <i>audiovisual</i>, começa
com o cinema, e vem se estendendo, historicamente, pelo rádio, pela televisão, e
por novas formas de registro e exibição que confluem todas elas (não em um
sentido teleológico) para a geração eletrônica de imagens e sons e sua difusão
planetária através da rede de dispositivos que reproduzem os sinais
transmitidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Além da revolução tecnológica
digital, que ainda está transformando as relações de produção, suas influências
nas relações sociais já se tornaram determinantes: praticamente “ninguém vive”
sem internet. E ninguém escapa a ela, igualmente: todos são estudados e
explorados como consumidores; vigiados e controlados enquanto cidadãos. Voltando
à dialética: há um evidente salto de qualidade na mediação cultural das
relações sociais a partir do salto quantitativo do número de pessoas atingidas
pelos meios audiovisuais trazido pela revolução digital.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cinema, ao surgir, criou uma
nova dimensão de público, igualmente em termos de quantidade e qualidade. As
primeiras reações dos públicos, e os primeiros cineclubes, procuravam
defender-se e contrapor-se àquele novo meio de <i>dominação</i> e de <i>alienação</i>
– questões que dariam um outro artigo alentado, pelo menos – em busca da
expressão de suas próprias vivências, necessidades, interesses, anseios. O sujeito
dessas reações e organizações eram os públicos, o povo que assiste, que recebe;
o cinema era o meio, a mediação para a sua potencial expressão com autonomia –
ou dominação, como já foi dito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cinema não é mais esse meio, não
é mais ele que, <i>principalmente</i>, exerce essa mediação. Esse papel cabe
hoje ao <i>dispositivo midiático</i>, ao conjunto de mídias audiovisuais que
funcionam de maneira integrada: na situação mais íntima do internauta e,
simultaneamente, em escala planetária. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Superar dialeticamente o modelo
ultrapassado, residual e mesmo decadente do cineclube cinéfilo consiste em
retomar seus objetivos originais, bem resumidos pelo Cinema do Povo: diversão,
educação e emancipação do público, lutando pela apropriação democrática radical
das mediações audiovisuais da vida social. Se o cineclube cinéfilo foi a
negação dialética dos primeiros cineclubes revolucionários, o cineclube
contemporâneo deve ser a negação dessa negação. Hoje, o compromisso fundador do
cineclubismo, em sua luta contra a alienação e o controle, deve ser
ressignificado dialeticamente no combate pela superação do dispositivo midiático,
que também é essencialmente de alienação e controle, mas quantitativa e
qualitativamente em outras dimensões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">É importante compreender o
processo de evolução histórica e social do cineclubismo, que aqui resumi, mais
ou menos simplifiquei, nesses dois polos e no momento do “ainda não”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn27" name="_ftnref27" style="mso-footnote-id: ftn27;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[27]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> :
os primeiros cineclubes, os cineclubes cinéfilos, e a crise que se arrasta há quase
50 anos. Duas negações e uma ausência... Essa ausência é a demanda mais que
evidente que ninguém parece ou quer enxergar: a necessidade de um novo modelo
de cineclube. E essa é uma necessidade dos cineclubes, do cineclubismo e dos
cineclubistas, mas é igualmente de seus públicos – em grande parte ausentes dos
cineclubes – que precisam de novas formas de organização com vistas à
apropriação de um dispositivo de comunicação cada vez mais envolvente,
alienante e opressor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A busca por essas novas formas é ignorada
e até negada tanto pelas instituições do cineclubismo – federações e entidades
equivalentes -, que se apegam à cinefilia tradicional, como pelas práticas que
se entendem cineclubistas e pelos cineclubistas que se identificam através
delas: informais, “horizontais”, e dependentes. As tentativas incipientes de
criação de novas formas de expressão têm vindo principalmente de iniciativas “externas”
ao cineclubismo, que ignoram, não se identificam com e até se opõem aos
cineclubes: coletivos de produção, cinemas comunitários, grupos de hackers e
várias outras. Mas também essas seguem sendo incompletas, insuficientes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Muitos artigos sobre cineclubismo
dão conta da minha definição de cineclube como <i>organização do público de
forma associativa democrática, sem finalidade lucrativa, que visa a apropriação
do cinema por esse público</i>. Ainda penso que é sobre esses termos – dessa “equação”
cineclubista – que se aplica a compreensão dialética da evolução, e da
superação, dos modelos encontrados historicamente. Essa definição se aplica
desde a formação dos primeiros cineclubes até o apogeu e crise do modelo
cinéfilo, e mesmo até hoje, mas apenas parcialmente nas formas residuais desse
último modelo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Assim, para a construção concreta
de um novo modelo de cineclube – e de cineclubista – é preciso retomar o
associativismo democrático, com efetiva <i>participação e responsabilidade</i>,
mas expandindo suas formas de ação, tanto presenciais – para públicos de diversos
tamanhos e interesses, em diferentes espaços - como junto a um público “à
distância”, na exibição de forma televisiva, territorialmente comunitária, ou
“virtual”, capaz de integrar um público muito mais amplo, até internacional e
planetário. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nessa compreensão de um novo
público é absolutamente imprescindível superar a estreiteza do cineclubismo
pequeno-burguês, elitista e paternalista, substituindo-a pela ligação orgânica
com os segmentos ditos populares, com as maiorias, nas comunidades onde vivem, trabalham
e estudam. No caso brasileiro, as periferias – bairros, zonas mais rurais,
comunidades tradicionais –, as organizações de trabalhadores e os movimentos
sociais constituem o centro da busca das identidades que as mídias audiovisuais
devem ser capazes de expressar. Mas o sentido pleno de <i>comunidade</i> só se
realiza como <i>parte da sociedade em sua totalidade</i>: daí a perspectiva de
classe, ou de público, entendido como o conjunto de segmentos da sociedade que
não têm acesso aos meios de produção de sua vida concreta, nem aos meios
simbólicos de representação de suas identidades diversas: de gênero, de etnia,
de orientação sexual, de herança cultural... dentro de sua identificação geral
como classe trabalhadora, numa sociedade dividida entre dois polos principais:
capital e trabalho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Toda inovação tecnológica no campo
da comunicação produz inicialmente um sentimento de potencial democratização, e
um impulso de resistência à sua apropriação pelas classes dominantes. Geralmente
seguidos do surgimento de organizações ou iniciativas sociais que buscam
dar-lhe formas democráticas: o cineclube teve esse papel em relação ao advento
do cinema; o rádio foi seguido por uma onda de radioamadores, inspirados pela
potencialidade de interatividade e diálogo do novo meio; com a televisão veio a
ideia da emissão de baixa potência e o projeto das tevês comunitárias. O mesmo
aconteceu com a revolução digital e a internet, com o <i>software livre</i> e
diversas formas de resistência que ainda subsistem e procuram evoluir, diante
da privatização e controle dos espaços virtuais pelas <i>plataformas</i>,
propriedade das que são hoje as maiores empresas do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cinema, o rádio, a televisão,
ainda que tenham provocado transformações importantes na vida social, não
tiveram a extensão e profundidade do fenômeno contemporâneo: as tecnologias
digitais provocaram uma <i>revolução</i>, transformando radicalmente a
totalidade da produção econômica e das relações sociais correspondentes. Essas
transformações incluem também o cinema, o rádio e a televisão, modificando
essencialmente suas formas de produção, de difusão e de recepção. Outras
inovações nesse campo <i>afetavam</i> os outros meios, a revolução digital os <i>transforma</i>,
criando, ainda, novas formas de expressão e comunicação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Pela primeira vez, a produção,
difusão e recepção da comunicação audiovisual podem ser reunidas, integradas em
um único dispositivo. Claro, antes também era “possível” fazer isso, mas era
tão complicado e oneroso que se tornava virtualmente impossível (além das
dificuldades artificiais produzidas pelo capital, que continuam presentes).
Simplificando bastante uma história bem mais complexa, produzir, distribuir e
exibir filmes era tão complicado, e caro, que a própria indústria se organizou em
segmentos diferentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Há várias décadas, antes da
revolução digital e sem uma verdadeira noção do processo concreto que realmente
ocorreria, afirmei: “o cineclube é o embrião do cinema futuro, do cinema do
público”. Hoje essa ideia se corporifica, assume elementos de concretude, de
viabilidade. Dá para enxergá-la, e isso é, justamente, um elemento essencial da
crise/oportunidade do cineclubismo. Agora é possível – em certo sentido, e
comparativamente, até fácil – produzir conteúdos audiovisuais os mais diversos:
filmes, reportagens, documentos, espetáculos filmados, videojogos, etc.; também
não é difícil difundi-los em redes colaborativas ou mesmo nos espaços virtuais
de alcance internacional, planetário, e pode-se exibi-los nos mais diversos
dispositivos hoje ao alcance da maioria da população, até mesmo em países e
regiões periféricos. Além, é claro, do calor e estímulo inigualáveis que vêm do
compartilhamento presencial – tão caro ao cineclubismo - também bastante
simplificado. Que nome dar a esse núcleo revolucionário que reúna produção,
difusão e recepção? De certa forma, esse nome não foi criado, como já havia
ocorrido também com as primeiras entidades operárias de cinema. Mas se formos
considerar a experiência histórica mais próxima e concreta, a palavra é,
justamente, <i>cineclube</i>. O termo resiste: <i>cine</i> de movimento, do
real reproduzido, inclusive nas mídias audiovisuais; <i>clube</i> de coletivo, de
democracia e de organização. O cineclube é o embrião da <i>instituição
audiovisual da comunidade</i>, e do público do presente, do futuro, de uma nova
sociedade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cineclubista como público
consciente de seu papel social e histórico<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Superar dialeticamente os modelos
anteriores, ressignificar o conceito de cineclube é inseparável da superação/ressignificação
de todos os seu elementos. Entre os principais, historicamente: a cinefilia, a
produção, a preservação e a participação.</span><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">A cinefilia<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os primeiros estudos sobre a
cinefilia foram os que, finalmente, a legitimaram para a Academia<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn28" name="_ftnref28" style="mso-footnote-id: ftn28;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[28]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Podemos
falar em dois momentos principais, duas “ondas” de cinefilia: a dos anos 20, em
Paris e outras capitais europeias, em torno dos artistas e jornalistas da
época, e a do Pós-Segunda Guerra, inicialmente também em Paris, em torno da
Cinemateca Francesa, de alguns cineclubes da capital e da revista <i>Cahiers du
cinéma</i>. Ainda que bastante referenciada nos cineclubes (por Baecque, para
os anos 50), a “primeira cinefilia”, dos anos 20, é mais corretamente associada
(por Gauthier e por Abel<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn29" name="_ftnref29" style="mso-footnote-id: ftn29;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[29]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>)
aos jornalistas, críticos, cineastas, e <i>todas</i> as suas iniciativas:
revistas, cineclubes, salas “especializadas” (hoje diríamos cinemas de arte). Em
2010, veio a crítica acadêmica àquela concepção, tratada como elitista por
Jullier e Leveratto<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn30" name="_ftnref30" style="mso-footnote-id: ftn30;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[30]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Em
outra ponta, a crítica da cinefilia coincidiu também com uma série de eventos
importantes do cineclubismo mundial e com a adoção – ou recondução - da
concepção de cineclube como organização do público<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn31" name="_ftnref31" style="mso-footnote-id: ftn31;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[31]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
A crítica da cinefilia foi, nesse contexto, uma consequência da revisão crítica
do cineclubismo dos anos 20, antes tido como fonte absoluta dessa atividade ou
movimento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Recentemente há um certo esforço
de revalorização da cinefilia entre os cineclubes. Esse é um termo bem vago,
que carrega uma ambiguidade vinda do senso comum: cinefilia como “amor ao
cinema”. Creio que, desde que tenha acesso, praticamente todo mundo gosta de
cinema. O sucesso inicial do cinema, que continua e se reproduz hoje em outras
formas de difusão, deve-se justamente a isso: uma espécie de cinefilia de
todos, a <i>cinefilia da pessoa comum</i>. Usa-se o termo cinéfilo nesse
sentido, para distinguir levemente quem frequenta mais o cinema, não
propriamente um <i>especialista</i>. Não há um equivalente para quem gosta
muito de literatura, de teatro, de dança; talvez haja para a música: melômano?
Mas aí não é amor, é mania, talvez, que estaria mais próxima do genérico <i>fã</i>,
por sua vez derivado de fanático. Penso que o termo cinéfilo está ligado em
parte à plasticidade etimológica da palavra e do prefixo: cinema, cine, que se
combinam facilmente com outros prefixos e sufixos – e tantos foram criados! Mas,
mais provavelmente, deveu-se ao incrível fenômeno de público que está associado
ao aparecimento do cinema: já em 1910, um terço da população americana ia pelo
menos uma vez por semana ao cinema; em 1920 eram 50%. As palavras cinemafilia,
cinematofilia e cinefilia apareceram na França já no final da primeira década
do século passado. Mas, tal como democracia, o emprego de cinefilia exige mais
precisão, sob o risco da ambiguidade. Há esse uso diário, o cinéfilo que gosta
ou vai bastante ao cinema, mas no ambiente cineclubista, sem uma adjetivação (que
não tem sido empregada), o sentido prevalente é o do cineclubismo francês
“clássico”: erudito, elitista, paternalista. No limite, <i>bancário</i>, na
expressão de Paulo Freire<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn32" name="_ftnref32" style="mso-footnote-id: ftn32;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[32]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O gosto pelo cinema precisa ser
ressignificado em diversos níveis. De um já tratamos: não se trata mais de
cinema, mas de mídias audiovisuais. Mas cinema também tem sua ambiguidade,
marcada fortemente pela ideologia (e um pouco de confusão idiomática: cinema e <i>moving
pictures</i>, cinema e <i>film</i>, etc.). Nas línguas latinas, pela influência da produção teórica e do cinema franceses, o cinema já foi uma invenção curiosa;
depois, principalmente filmes científicos; mais tarde, filmes (exclusivamente)
de ficção, evoluindo ainda para incluir o documentário. Hoje, nos ambientes de
estudo e de conservação, já se agrega mais, chegando até o filme publicitário,
o filme amador e o doméstico. Mas a maioria dos cineclubes ainda está no
estágio anterior: cinema é sinônimo de filme; e filme é ficção ou documentário.
Nesses cineclubes, cinema é filme, e filme é autor – uma compreensão dos anos
50. Daí a resistência para o trato do cinema tal como sua explosão em mídias
deixou claro: o audiovisual (como o cinema sempre foi) pode ser notícia,
reportagem, entrevista, diálogo ou monólogo, blogue e podcast, videojogo, documentação
direta de esportes, manifestações, espetáculos, etc. Cinema não é “arte” naquele
sentido abstrato, metafísico, da <i>aura</i> que se dá para o termo, base para
o seu culto; cinema é uma forma de expressão e um meio de comunicação. E isso
em nada diminui sua importância ou o prazer, eventual, que produz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A questão central da atividade
cineclubista não é o gosto pelo cinema – que explicita fundamentalmente uma
opção subjetiva, pessoal – mas o compartilhamento, o caráter pedagógico do
cinema, que inclui a fruição, o entendimento (como, em parte, a cinefilia), mas
sobretudo o compromisso social e histórico. Cinefilia é culto, pedagogia é
práxis. Esta última se compartilha igualitariamente (segundo Freire), a primeira
se transmite, hierarquicamente na tradição dominante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nesse sentido, o cineclube
cinéfilo é a negação do cineclube que podíamos chamar de <i>pragmático</i>,
onde o cinema que reúne o público se une concretamente a seus problemas,
carências, necessidades, projetos: é práxis transformadora. Nos anos 20 do
século passado, o modelo do cineclube cinéfilo afirmou-se essencialmente em
contraposição, e excluindo, o cinema educativo e todas as outras formas de
engajamento, de proselitismo. O modelo excluía a práxis e consolidava o culto. Portanto,
descartou a produção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">A produção</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Um adjetivo que também tenho
associado aos cineclubes revolucionários do início do século passado é o de
cineclubes <i>integrais</i>, isto é, que se constituíam tanto de uma práxis
integral – produção, distribuição, exibição (e debate) – como de um projeto
igualmente totalizante, de transformação radical do cinema e da sociedade.
Partindo dessa ideia de integralidade, de totalidade, uma das características
mais marcantes do cineclube cinéfilo, que veio a estabelecer outro modelo, foi
a compartimentação, a especialização. Estes cineclubes, surgidos nos anos 20,
afastaram-se e paulatinamente excluíram diversas experiências suas
contemporâneas que se tornariam, então, atividades “diferenciadas”, não
consideradas como cineclubes: a atividade pedagógica, a preservação, a
produção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Parafraseando Cavallo e Chartier<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn33" name="_ftnref33" style="mso-footnote-id: ftn33;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[33]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
“o <i>poder</i> não está em ver filmes, mas em fazê-los”. A capacidade de <i>expressar
</i>necessidades, projetos, desejos, supera em importância a possibilidade de
consumir, seja como for, o meio de comunicação a que aplicarmos esse
raciocínio. Mas sem esquecer que a capacidade de se exprimir advém, em grande
medida, do convívio crítico com o meio. Em suma: a expressão pelo cinema, fazer
filmes, seria o objetivo maior de um cineclube – sem excluir todos os outros. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes cinéfilos, o próprio
termo cinefilia, têm uma leitura fundamentalmente <i>receptiva</i>. Com
aqueles, fazer filmes tornou-se apanágio dos <i>autores</i>, no cimo da
pirâmide hierárquica que se apoia, abaixo, nos <i>cinéfilos</i>, cultuadores
dos primeiros, e na base, no <i>espectador</i>, que precisa ser orientado na
apreciação verdadeira dos valores acima dele naquele edifício. É também a
revolução digital que vem recolocando a questão da produção para os cineclubes,
através do processo de integração – e interatividade - das tecnologias
audiovisuais ao sistema produtivo. Mas, como outros impulsos democratizantes de
inovações tecnológicas, o acesso relativo a esses potenciais “meios de
produção”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn34" name="_ftnref34" style="mso-footnote-id: ftn34;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[34]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
é bastante condicionado aos recursos financeiros dos produtores, dentro da
ordem estabelecida pelo sistema hegemônico. Assim, uma primeira onda nesse
processo é de produtores individuais, inspirados em grande medida pela “ideologia
do autor”. De fato, ainda que sob diferentes formas, essa concepção do cinema
como manifestação subjetiva individual tem estado presente em praticamente
todas as manifestações de criação não comercial e mesmo a conhecida como
militante, desde o lançamento dos “pequenos formatos”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn35" name="_ftnref35" style="mso-footnote-id: ftn35;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[35]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
há cem anos, até as primeiras câmeras digitais, passando pelos diferentes
momentos de melhoria técnica e de portabilidade dos equipamentos. Além dessa
dependência ao conceito de cinema de autor, e até certo ponto, decorrência
dele, há também os preconceitos quanto à ideia de cinema, reduzida ao filme de
ficção ou documentário – como já foi aqui tratado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Assim, os elementos estão
dispostos na realidade: há que se incorporar criativa e criticamente a produção
- condição, senão maior, indispensável para dar consequência a um cineclubismo
do tempo presente e base do futuro. Sem negar a contribuição de cada indivíduo,
e a dimensão de seus talentos, há que se construir uma concepção e um método de
produção coletiva a partir das <i>individualidades organizadas dentro do
coletivo comunitário e social</i>. A capacidade de expressão audiovisual nasce
na práxis do cineclube, desde o “consumo” das experiências disponíveis até a
criação ficcional, passando pela coleta e preservação da memória e identidade
da comunidade e do todo social. Dessa práxis nascerá o “cinema do público”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Memória</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">e
identidade</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A cultura, como a palavra já
indica, é o resultado do processo de trabalho sobre a natureza – o cultivo –
com o qual desenvolvemos nossas características únicas, nossa identidade
humana. Cultura ainda supõe um caráter social essencial dessas características
e, por ser processo social, é necessariamente histórico: as formações sociais
variam no tempo. Cultura significa tudo isso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Menos evidente é o fato de que a
trajetória histórica passou pelas diferenciações sociais e culturais, em
diferentes sistemas que estabeleceram hierarquias e conflitos entre classes sociais,
divididas segundo seu papel no processo de trabalho e sua apropriação. O relativo
equilíbrio histórico – a duração do domínio de uma ou mais classes sobre as
outras – passou a diferenciar também “culturas” desses segmentos, cuja
estabilidade se baseia igualmente na existência histórica dessas classes:
nobres, sacerdotes, escravos, indígenas, proprietários de terras, camponeses,
capitalistas, proletários... Continua existindo a cultura como identidade
humana, mas essa definição tornou-se mais complexa, já que admite a existência
de uma diferenciação (dialética) interna, ainda que haja traços dominantes
–<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>aquilo que Antonio Gramsci chamou de
hegemonia: a cultura dominante em cada diferente momento histórico é, em
equilíbrio mais ou menos instável, a cultura da classe dominante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Pode-se dizer que as culturas,
nesse sentido de classe social, incorporam - mas situam dentro do segmento – o
mesmo sentido da cultura mais genérica: elas reúnem e expressam a identidade
das classes. Ainda que sob a hegemonia da cultura dominante, há várias culturas
mais ou menos extensas, e misturadas, conforme suas bases sociais:
comunitárias, regionais, nacionais, étnicas, de gênero, etc. No capitalismo em
que vivemos, por serem determinadas, em última instância, pelo papel das
classes no processo do trabalho, essas culturas fazem parte – de maneira bem
complexa, não necessariamente harmônica – da cultura da classe fundamental do
processo produtivo: o proletariado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes são organizações
culturais criadas pelo proletariado a partir do advento do cinema no sistema de
reprodução econômica do capitalismo, tanto na base produtiva como no plano
simbólico (a superestrutura ideológica). São organizações culturais que se
instalam no plano das comunidades (de território, de etnia, de gênero, etc.),
sob um mesmo paradigma organizativo: associação democrática, sem finalidade
lucrativa, que visa a apropriação do cinema (das mídias audiovisuais) pelo
público. A integração dessas comunidades, na construção de um campo simbólico –
e uma sociedade – que expresse seus interesses e necessidades, se dá através da
constituição de redes de colaboração política, físicas e virtuais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Da mesma forma, operam no plano local
ou comunitário no sentido de coletar e produzir, reproduzir, as expressões
locais da cultura popular (ou proletária), essencialmente num sentido geral <i>decolonial</i>,
como se diz atualmente, pela crítica e superação da hegemonia da cultura
dominante, da classe dominante internacional, de dimensão planetária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">É importante salientar que a
cultura popular, justamente por não ter acesso, de diversas maneiras, aos meios
de sua própria reprodução, desde a palavra escrita até os meios de comunicação
mais sofisticados, geralmente se isolou, ou foi isolada, num certo sentido, na
oralidade – que, por sua vez, transformou numa miríade de expressões
riquíssimas. A oralidade é difícil de reproduzir fora do contato direto e,
portanto, bastante limitada em termos de difusão e de preservação. Só os meios
audiovisuais são capazes de reproduzir, difundir e preservar integral e
fielmente a cultura oral. Por isso, também, sua importância fundamental para a
cultura popular.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Assim, além de produzir conteúdos
audiovisuais em geral, o cineclube deve <i>coletar, reunir, preservar e
difundir </i>o patrimônio cultural da comunidade - em grande medida oral – que
constitui parte essencial de sua memória e, portanto, de sua identidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Participação: público e cineclubista<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como já foi dito, a ação
cineclubista é essencialmente pedagógica, no sentido de construir formas de
compartilhamento democrático e produtivo do conhecimento com a finalidade de
superar as formas sociais baseadas na exploração de muitos por poucos. Não se trata
de repassar conhecimentos de forma unilateral, mas de ensinar aprendendo e,
simultaneamente, aprender ensinando. Não é uma relação baseada no professor, no
tutor, mas num animador, que ajuda a estabelecer a dinâmica organizativa do
cineclube segundo o momento e as condições, necessidades e possibilidades da
comunidade. Possibilidades que, justamente, serão alteradas pela própria ação
do cineclube.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O sujeito dessa ação não é o
indivíduo, mas o coletivo – e este não elimina aquele, que aliás, como ser
humano social, sempre se definiu, sempre se identificou na relação de ser parte
desse coletivo social, como demonstra Bakhtin<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftn36" name="_ftnref36" style="mso-footnote-id: ftn36;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[36]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
O problema – a ser superado – é que no sistema atual, o indivíduo é promovido
como explorador do coletivo, ou como explorado dentro dele. E essas relações se
dão através da <i>propriedade</i>, da separação (ou apropriação, privatização) entre
o produtor/criador e o fruto do seu trabalho. Daí a legitimação ideológica do
empreendedor, do autor, do tutor e outras formas de apropriação do trabalho, da
criação, do conhecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A noção de coletivo não elimina,
não apaga nem enfraquece a ideia do indivíduo: na verdade a recoloca, a
ressignifica como expressão independente, responsável, consciente e ativa
dentro da comunidade. O indivíduo se reconhece e se identifica no coletivo, na
comunidade, na sua classe social e no seu papel na história, seu lugar no <i>público</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esse processo é permanente, pois
toda prática modifica seus autores, mas o projeto do cineclube integrado em sua
contemporaneidade é esse: a construção permanente da identidade individual e
coletiva, comunitária e de classe através da transformação da sociedade, isto
é, das vidas de todos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O indivíduo é superado
dialeticamente pelo coletivo; o espectador é superado pelo público. O
cineclubista orgânico é (ou deve, ou pode ser) a expressão individualizada
desse público organizado e consciente.<o:p></o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Para maiores informações
sobre o Cinema do Povo, ver </span></span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2010/03/cinema-do-povo-o-primeiro-cineclube.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2010/03/cinema-do-povo-o-primeiro-cineclube.html</span></a><span class="MsoHyperlink"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span class="MsoHyperlink"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">O estudo mais completo sobre o
Cinema do Povo – pois há vários trabalhos sobre essa experiência – é a tese de
doutorado de Mundim, Luiz Felipe, </span></span><i><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">O público organizado para a luta : Cinema do
Povo na França e a resistência do movimento operário ao cinema comercial
(1895-1914)</span></i><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">, acessível
em </span><a href="https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/158300/001021074.pdf?sequence=1&isAllowed=y"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/158300/001021074.pdf?sequence=1&isAllowed=y</span></a><u><span lang="PT-BR" style="color: #0563c1; mso-ansi-language: PT-BR; mso-themecolor: hyperlink;"><o:p></o:p></span></u></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Há que se considerar,
entretanto, entre outros aspectos, que “personalidade cineclubista” é uma noção
um tanto contraditória: dado o caráter coletivo e democrático, a <i>instituição
cineclube</i> é basicamente anônima nesse sentido, pouco destacando lideranças.
Além disso, sua constituição, especialmente antes da hegemonia do cineclube
cinéfilo,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>em ambientes populares também
só excepcionalmente – ainda mais no Brasil – atraiu a atenção de pesquisadores
e mesmo da imprensa mais formal de sua época.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Ver Souza, José Inácio de Melo,
2002, <i>Paulo Emílio no Paraíso</i>, ps. 126-128. RJ e SP: Editora Record.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Ver, para a <i>Revista de Cinema</i>: </span></span><span style="text-align: justify;">Ribeiro, José Américo. 1997. </span><i style="text-align: justify;">O cinema em
Belo Horizonte do cineclubismo à produção cinematográfica na década de 60</i><span style="text-align: justify;">.
Belo Horizonte: Editora UFMG, e Siqueira, Cyro. 2001. “</span><i style="text-align: justify;">Revista de Cinema</i><span style="text-align: justify;">:
levantamento histórico”, em Coutinho, Mário Alves e Gomes, Paulo Augusto. </span><i style="text-align: justify;">Presença
do CEC. 50 anos de cinema em Belo Horizonte</i><span style="text-align: justify;">. Belo Horizonte: Crisálida. E, para o Curso de Dirigentes Cineclubistas: </span><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span lang="PT-BR">Zanatto, Rafael Morato, <i>O
Curso para dirigentes de cineclubes (1958): Momento decisivo para a formação
dos cursos universitários de cinema no Brasil (UnB e ECA-USP)</i>, acessível em
</span></span><a href="https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/51645"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/51645</span></a></p><p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5; text-align: justify;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR; text-align: justify;"> <span lang="PT-BR">A Introdução do livro de
Baecque, Antoine de. <a name="_Hlk123821889">2010. <i>Cinefilia</i>, São Paulo:
Cosac & Naify</a>, apresenta de forma bem completa essa concepção de cinefilia
e de cineclubismo que tanta influência teve – e tem - no Brasil.</span></span></p></div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Na verdade, poderíamos
localizar essas posturas, e iniciativas de tipo cineclubista, desde 1912, pelo
menos. Ver Almeida, Cláudio Aguiar. 2011. “A Igreja Católica e o Cinema: <i>Vozes
de Petrópolis, A Tela</i> e o jornal <i>A União</i> entre 1907 e 1921”, em
Capelato, Maria Helena et alli, <i>História e Cinema</i>. São Paulo: Alameda.
Mas poucos são os trabalhos com esse nível de pesquisa.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Fundado em 1961, o CNC era
basicamente um conselho das diretorias das federações. Em 1974, mudados os
estatutos, conservou o nome, mas transformou-se numa federação nacional de cineclubes
(também com a participação das federações regionais).<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Essas eram realmente <i>exibições
seguidas de debates</i>, atividades eventuais ou periódicas de diversos
movimentos sociais que, no entanto, não constituíam cineclubes organizados. Era
um grande campo de exibições mais ou menos irregulares que a distribuidora de
filmes dos cineclubes alimentava. Dessas atividades também nasciam,
eventualmente, muitos cineclubes. Nos “arquivos” da Dinafilme, que hoje
consideramos perdidos, havia uma clientela de cerca de 600 cineclubes e algo em
torno de 1.400 desses pontos de exibição menos estáveis.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Em São Paulo, por exemplo, o
Cineclube Bixiga manteve uma média mensal de público de 8 mil pessoas durante
alguns anos; o Cineclube Oscarito fazia 6 mil pessoas no início – esses dois
tinham salas com cerca de 100 lugares -, e o Elétrico Cineclube, que somava
mais de 400 lugares em três ambientes (um só para VHS), atraía 15 mil
espectadores mensais (com um recorde de 21 mil). O Estação Botafogo, do Rio de
Janeiro, provavelmente superou até mesmo esses números, antes de se tornar uma
empresa privada.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">O público desses cineclubes
era todo o público mais cinéfilo – no sentido comum da palavra - da cidade:
como comunidade era muito difícil de identificar; mais ainda, de organizar.
Esse cineclubismo – tal como a cinefilia dos anos 50, mas em outro momento, em
um contexto diferente – marcou bastante aquele público, e em quantidades
inéditas, mas não se constituiu como uma forma de organização, de representação
e de expressão de um público sobretudo constituído pelas classes médias.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Uma Jornada (o congresso
nacional dos cineclubes) realizada em dezembro de 2004 na capital de São Paulo,
com a participação de cineclubes de todo o País, reorganizou o Conselho
Nacional de Cineclubes.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">É importante observar que
desde o governo de Fernando Henrique Cardoso já vinha havendo uma progressiva
burocratização e oneração da organização de entidades da sociedade civil. E
isso prosseguiu, com algumas características próprias, durante os governos
petistas.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Chamo de realizadores amadores
aqueles cineastas que, vindos da tradição do documentário e do curta-metragem
brasileiros, sem espaço no mercado de exibição comercial, buscam formas de
sobrevivência e reprodução de sua produção. O governo Lula criou diversas
políticas de estímulo, descentralização e democratização dessa produção, que se
juntou ao desenvolvimento e simplificação desenvolvidos com as tecnologias
digitais, criando todo um novo segmento de produção, mais amplo e democrático,
mas sem um mercado correspondente. A necessidade da exibição, até mesmo para
justificar os investimentos feitos, exigia esse mercado, ou um espaço de
exibição. E esse acabou sendo o dos cineclubes, e também os inúmeros festivais
de cinema. Hoje há um mercado importante para certo tipo de produção de média e
curta-metragem: a televisão. Por isso também, a produção que não é aceita
nesses mercados reveste-se de mais um aspecto de amadorismo. Não tem a ver com
qualidade, mas com a forma estrutural dos mercados no Brasil. Neste sentido
específico, as políticas dos governos petistas não questionaram a dependência
estrutural do cinema brasileiro em relação à indústria audiovisual
internacional; na verdade submeteu-se a ela e até a consolidou ainda mais.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Foi também em 2008 que os
cineclubes brasileiros tomaram conhecimento da <i>Carta dos Direitos do Público</i>,
aprovada anos antes pela Federação Internacional de Cineclubes a partir de uma
proposta da principal federação italiana (de autoria de Fabio Masala e Filippo
de Sanctis). A <i>Carta</i> propõe o reconhecimento do público como principal
agente formador de sentidos no campo da expressão audiovisual e propõe diversos
direitos de organização e participação no processo de gestão das políticas para
o cinema e para as mídias audiovisuais. Sob a influência dos realizadores, e
participação das principais lideranças cineclubistas de então, a leitura da <i>Carta</i>
foi reconfigurada na ideia de que direito do público era apenas o acesso: poder
assistir os filmes que estavam sendo produzidos. Tornou-se mais um reforço
ideológico.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Foram chamadas de Jornadas
três encontros: em 2013, em Vitória (ES), em 2015, em Itaparica (BA) e em 2019,
em Viçosa (MG). Em cada um deles se elegeu uma diretoria do CNC, entre outros
cargos. Nos três casos compareceram cerca de 30 pessoas, ou menos (as Jornadas
historicamente sempre reuniram pelo menos uma centena, ou mais, de
participantes). O último encontro reformou os estatutos, estabelecendo a
realização das Jornadas a cada 4 anos (e o respectivo mandato da diretoria
também, claro) – o que é um caso único em todo o mundo: no Brasil as Jornadas
sempre foram anuais ou bianuais, com uma reunião intermediária menor, mas de
alcance nacional, a chamada Pré-Jornada.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A Política Aldir Blanc
(também chamada erroneamente de lei Aldir Blanc 2), no entanto, se diferencia
bastante dessas, e cria novas formas de proposição e participação comunitária. Abordei
esse tema com mais profundidade no artigo disponível em </span></span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/08/politica-nacional-aldir-blanc-nova.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/08/politica-nacional-aldir-blanc-nova.html</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref17" name="_ftn17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Esse comentário refere-se às políticas
para o campo especificamente comunitário da cultura, bastante marginal no caso
da Lei Paulo Gustavo, voltada basicamente para a recuperação de todos os
recursos para a produção cinematográfica retidos durante o governo Bolsonaro.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn18" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref18" name="_ftn18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Williams, Raymond. 2011. <i>Cultura
e Materialismo</i>, p.56-59. Ed. UNESP<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn19" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref19" name="_ftn19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Há várias referências a Gustave
Cauvin, as principais sem tradução em português. </span><span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;">Por exemplo : Bourde, Raymond e Perrin,
Charles, 1992, <i>Les Offices du Cinéma Éducateur et la survivance du muet
1925-1940</i>, Presses Universitaires de Lyon, ou Almberg, Nina e Perron,
Tangui. “La propagande par le film: les longues marches de Gustave Cauvin »
na revista <i>1895</i>, n° 66 - primavera<i> </i>2012, p. 35. </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Mas há um artigo em português sobre os
primeiros anos e atividades de Gustave Cauvin: Mundim, Luiz Felipe, “As marchas
de Gustave Cauvin – a primeira forma sistematizada e regular do cinema
militante” na <i>Revista Mundos do Trabalho</i> | vol. 9 | n. 18 |
julho-dezembro de 2017 | p. 83-98.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn20" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref20" name="_ftn20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Nos anos 50, a idade do ouro
da cinefilia, existiam cerca de 10 mil cineclubes na França, organizados em
várias federações nacionais diferentes. A maior delas, com 8 mil cineclubes,
era a federação dos cineclubes educativos. Todos juntos, tinham um público
(obrigatoriamente constituído como associado) anual de alguns milhões de pessoas.
<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn21" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref21" name="_ftn21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Estimulado por Lênin e outras
lideranças bolcheviques na área cultural, promoveu-se, no início dos anos 20, a
chamada <i>Cineficação</i>: um amplo leque de medidas de acesso ao cinema,
envolvendo exibições itinerantes de diversos tipos e um circuito de cineclubes
(sem essa denominação) em milhares de clubes de trabalhadores em toda a União
Soviética.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn22" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref22" name="_ftn22" style="mso-footnote-id: ftn22;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Organizações de
trabalhadores, entre os anos 20 e 30, inicialmente constituídas em
solidariedade à Revolução Soviética, dedicadas à exibição e produção de filmes
com forte identidade de classe.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn23" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref23" name="_ftn23" style="mso-footnote-id: ftn23;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[23]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Também não estou tratando
também das questões específicas do cinema, dispositivo técnico e econômico, que
sofreu um impacto fundamental com o advento da televisão, transformando
profundamente a relação com os públicos nas décadas de 50 e 60. Essas mudanças
tiveram, claro, igualmente um impacto no cineclubismo. A televisão, e depois as
diversas formas de reprodução e consumo caseiro enfraqueceram enormemente o
cineclubismo tradicional, particularmente nos países centrais. Esse mesmo
fenômeno teve um impacto bem diferente na América Latina, por exemplo. Essas
análises, contudo, alongariam demais este texto.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn24" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref24" name="_ftn24" style="mso-footnote-id: ftn24;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[24]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>“<i>O terceiro princípio ontológico </i>(de Engels)<i>, nos quais a
emergência pode agora ser vista como resultado de contradições (“o
desenvolvimento incompatível de elementos diferentes dentro de uma mesma
relação”) que surgem das mudanças materiais e históricas, levando à “negação da
negação”, uma expressão comum a Hegel, Marx e Engels. Na versão marxiana, a
frase se aplica à maneira em que o passado faz a mediação entre o presente e o
futuro no desenvolvimento material e histórico, produzindo uma dialética de
continuidade. O próprio Engels referia-se à “forma espiral de desenvolvimento”
que ocorre quando os resíduos do passado e os elementos ativos do presente
combinam-se para gerar o que Ernst Bloch chamaria de “ainda não”.</i> </span>(a
tradução é minha) Foster, John Bellamy. “The Return of the Dialectics of
Nature: The Struggle for Freedom as Necessity” em<i> Monthly Review</i> –
acessível em <a href="https://monthlyreview.org/category/2022/volume-74-issue-07-december/">Monthly
Review | Volume 74, Number 07 (December 2022)</a>.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn25" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref25" name="_ftn25" style="mso-footnote-id: ftn25;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[25]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Martín-Barbero, Jesús. 2013. <i>Dos
meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. </i>Rio de Janeiro:
Editora UFRJ.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn26" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref26" name="_ftn26" style="mso-footnote-id: ftn26;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[26]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Hall, Stuart. <i>A centralidade da
cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo</i>, acessível em</span><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><a href="http://diversidade.pr5.ufrj.br/images/banco/textos/HALL_-_A_Centralidade_da_Cultura.pdf"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Microsoft Word -
texto_stuart_centralidadecultura.doc (ufrj.br)</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">. O texto constitui o capítulo 5 de Thompson,
Kenneth (ed.) 1997<i>.Media and Cultural Regulation</i>, Londres: Sage Publications.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn27" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref27" name="_ftn27" style="mso-footnote-id: ftn27;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[27]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Ver nota 23.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn28" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref28" name="_ftn28" style="mso-footnote-id: ftn28;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[28]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Baecque, Antoine de. 2010. <i>Cinefilia</i>,
São Paulo: Cosac & Naify, baseado no artigo do mesmo Baecque e de Thierry
Frémaux, “La cinéphilie ou l'invention d'une culture”, na revista<i> </i></span></span><a href="https://www.persee.fr/collection/xxs"><i><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Vingtième Siècle. Revue d'histoire</span></i></a><i><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">. </span></i><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">1995, no. </span><a href="https://www.persee.fr/issue/xxs_0294-1759_1995_num_46_1?sectionId=xxs_0294-1759_1995_num_46_1_3161"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">46</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">, p. 133-142, e o livro, menos
conhecido no Brasil, de Gauthier, Christophe. </span><span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;">1999. <i>La Passion du Cinéma: Cinéphiles, Ciné-Clubs
Et Salles Specialisées à Paris de 1920 a 1929. </i>Paris : École Nationale
des Chartes.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn29" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref29" name="_ftn29" style="mso-footnote-id: ftn29;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[29]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: FR-CA;"> <span lang="FR-CA">Abel, Richard. 1984. <i>French
Cinema – The First Wave, 1915-1929</i>. Princeton University Press.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn30" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref30" name="_ftn30" style="mso-footnote-id: ftn30;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[30]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;"> Jullier, Laurent e Leveratto,
Jean-Marc. 2010. <i>Cinéphiles et cinéphilie Une histoire de la qualité
cinématographique</i>. </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Paris:
Armand Colin.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn31" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref31" name="_ftn31" style="mso-footnote-id: ftn31;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[31]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Entre 2008 e 2010 aconteceram
três Conferências Internacionais de Cineclubismo, duas no México e uma no
Brasil. Na 2ª Conferência mexicana foi “redescoberta” a Carta de Tabor dos
Direitos do Público (de 1987). E também duas importantes assembleias da
Federação Internacional de Cineclubes-FICC, no Brasil (2010) e em Túnis (2013).
Nesta última comemorou-se o centenário do cineclubismo, estabelecendo o Cinema
do Povo como principal referência histórica para a definição do conceito de
cineclube.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn32" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref32" name="_ftn32" style="mso-footnote-id: ftn32;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[32]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> Na concepção bancária de educação,
o saber é uma transmissão hierárquica de conhecimento, em que os alunos recebem
o “depósito” do conteúdo.</span><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Freire, Paulo. 1996. <i>Pedagogia do Oprimido</i>. São Paulo: Paz e
Terra. <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn33" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="tab-stops: 70.9pt; text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref33" name="_ftn33" style="mso-footnote-id: ftn33;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[33]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">No original, claro, os
autores falam de ler e de escrever. Cavallo, Guglielmo e Chartier, Roger. 1998.
<i>História da Leitura no Mundo Ocidental</i>. São Paulo: Ed. Ática.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn34" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref34" name="_ftn34" style="mso-footnote-id: ftn34;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[34]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">As aspas são por conta do fato
de que, ainda que representem meios de expressão com grande potencial, as
produções feitas fora do mercado ou controladas pelos mecanismos do capital –
fundamentalmente as plataformas de difusão – não atingem públicos
significativos ou têm seu conteúdo parcial ou totalmente neutralizado pelo
próprio sistema (sobretudo a monetização) de exploração e controle dos espaços
virtuais de comunicação.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn35" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref35" name="_ftn35" style="mso-footnote-id: ftn35;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[35]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Como foram denominados os
filmes e aparelhos de 9,5 mm (1921) e 16 mm (1923), o 8 mm (1932) e,
posteriormente, o Super 8 mm (1965).<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn36" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20que%20%C3%A9%20cineclubista.docx#_ftnref36" name="_ftn36" style="mso-footnote-id: ftn36;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[36]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[36]</span></span><!--[endif]--></span></span><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Bakhtin, Mikhail
(Volochínov). 2014. <i>Marxismo e Filosofia da Linguagem</i>. São Paulo:
Hucitec<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-33116287018681270402022-10-25T11:48:00.000-07:002022-10-25T12:21:56.979-07:00<p> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT3YCRw37sMG74SiAeDSrIvNSkhILuxtkhbwFvD0kLU4FOqhLrEnAYt2Sn4bRonXiDFZ58tcvUvH_KRVxjU7giI7uK_-8PZOGUfQeush88jtmuufixQ8VfGmqcR2672U5ZV6K3P7msefvJYTC_U4fLSU7_4ZjGDNiaNEwFiPQguWRg_8Hnbtypl_mj/s500/2868523835_510f32072d.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="377" data-original-width="500" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT3YCRw37sMG74SiAeDSrIvNSkhILuxtkhbwFvD0kLU4FOqhLrEnAYt2Sn4bRonXiDFZ58tcvUvH_KRVxjU7giI7uK_-8PZOGUfQeush88jtmuufixQ8VfGmqcR2672U5ZV6K3P7msefvJYTC_U4fLSU7_4ZjGDNiaNEwFiPQguWRg_8Hnbtypl_mj/w400-h301/2868523835_510f32072d.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;">Ushers (lanterninhas) em formação <br />Com uniforme e em formação "militar",<br />responsáveis pela ordem no cinema<br />E uma enfermeira, se precisar...</span></td></tr></tbody></table><br /></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-83626706098277491032022-10-25T11:32:00.001-07:002022-10-27T10:24:47.693-07:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 20pt; mso-ansi-language: PT-BR;">O terceiro turno e os cineclubes<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O título do filme icônico de Glauber Rocha serviria
bem para enquadrar a situação que vivemos neste segundo turno das eleições
presidenciais no Brasil. Estamos diante de uma perspectiva de horror,
representada pela possibilidade de reeleição do criminoso psicopata Bolsonaro:
o Dragão da Maldade. Isso nos levaria a uma destruição tão grande das chamadas
instituições republicanas e das estruturas administrativas ligadas à educação,
à ciência, à cultura, ao meio ambiente e à segurança dos setores
eufemisticamente denominados de vulneráveis, que ou implantaria de forma mais
estável um já esboçado regime fascista à moda contemporânea ou, mesmo que essa
fase fosse depois superada, ainda deixaria um monte de escombros sobre o já
arrasado solo social brasileiro: <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>uma
condição de atraso e dependência que levaria gerações para ultrapassar, ou pior,
que poderia até se tornar nosso modo permanente de existir. No lado oposto
temos um herói popular: Lula, o Santo Guerreiro que, independentemente de
qualquer crítica que possa lhe ser feita, representa a única possibilidade de
determos esse processo destrutivo já iniciado e de retomarmos uma trajetória de
reconstrução institucional e social. Estamos diante de uma encruzilhada de
alcance histórico inigualável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, por mais vital, como de fato é essa
decisão, seu resultado não altera – na melhor das hipóteses atenua - uma
condição essencial do Brasil: sua subalternidade em relação ao capital internacional
e a exploração sistemática, estrutural e histórica, assim como a exclusão da
grande maioria da sua população dos mínimos benefícios permitidos pela evolução
das condições de vida em nossos tempos. Só uma verdadeira revolução – política,
social e econômica - mudará a essência dessas condições. Por isso, este texto
não tratará dessa escolha imediata, mas do que nos espera no momento seguinte
ao resultado das eleições. E daí para a frente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A sobrevivência dos mais fracos<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">No Brasil, a conhecida cesta básica equivale – segundo
levantamento recente do DIEESE – a 60% do salário mínimo. Os aluguéis mais
baratos estão mais ou menos nessa mesma proporção, ou pior. Só essa soma, necessária,
mas insuficiente para a sobrevivência, já ultrapassa o mínimo. Ainda segundo o
instituto intersindical, uma família de 4 pessoas necessitaria de, pelo menos,
5,39 salários para viver. Ora, entre desempregados, trabalhadores informais e
todas as demais categorias, cerca de 70% da população brasileira ganham menos
que um salário mínimo. Uma parte considerável não consegue sequer comida
suficiente, metade da população não tem esgoto e um contingente muito
significativo não tem sequer acesso regular a água potável. Mais de 30 milhões
passam fome! É o tamanho da população do Peru, por exemplo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essa grande maioria cuida, basicamente, de sobreviver.
Numa sociedade moldada pelo passado recente de escravismo (cerca de 400 anos) e,
posteriormente, das ditaduras (mais quase 40 anos), ao todo resta-nos menos de
um século de “liberdades democráticas” temperadas de privilégios, preconceitos
e exclusão. As maiorias – mulheres e negros, por exemplo – e outros segmentos
de brasileiros, junto com aquelas, ainda têm sua situação definida, e piorada,
em função de características de gênero, de raça, ou segundo heranças e opções
culturais e comportamentais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Brasil – os dois terços da população que praticamente
definem o que é este país - vive na miséria. Segundo o dicionário: um estado de
carência absoluta de meios de subsistência. Miséria também é um estado de alma:
uma situação permanente de indigência, de penúria, acompanhado de enorme
sofrimento, infelicidade, desgraça. A luta pela sobrevivência em seus níveis
mais básicos não favorece o tirocínio ou o juízo moral: as opções éticas e a
compreensão da vida social tendem para as escolhas que permitam a alimentação,
o abrigo, a segurança. Ou, em muitos casos, apenas a ilusão desse abrigo e
segurança. Ainda mais: os que escapam desses limites também estão presos na
instabilidade de sua condição – as fronteiras de pobreza no Brasil oscilam
conforme os governos e os ciclos econômicos – e apresentam esse perfil
ideológico de medo da pobreza que, como bem definiu Paulo Freire, favorece uma
espécie de consciência necrófila, transformando a frágil superação da condição
de oprimido pela necessidade de, por sua vez, reproduzir a opressão. A base
social mais ampla da psicopatia bolsonarista se enquadra nessa explicação
freiriana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas a grande maioria não está sequer nessas regiões
limítrofes, e sim nas situações mais graves de carência. A miséria, a luta
diária pela sobrevivência básica, também trazem uma dificuldade extrema de
formular um projeto próprio de emancipação, de poder compreender, ter
consciência de seu papel na sociedade complexa e na história. A luta pela
sobrevivência, com alguma frequência, vira competição; e esta facilita, empurra
ao crime.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Tanto para Freire como para Gramsci, a consciência de
classe é um processo em relação constante com práticas de luta social; elas é
que constroem a hegemonia de valores contrários à exploração do trabalho, de
emancipação e de solidariedade. A definição de uma nova ordem social e moral se
dá no próprio processo da sua construção. É na luta que aponta para, ou resulta
em novas formas de relação social e na construção de instituições, isto é, de
formas de organização, de valores morais, comportamentos e normas com que vão
se tecendo as bases e a estrutura uma nova sociedade, com novas formas de
convivência entre as pessoas, de administração e distribuição da produção, de
definição de valores e projetos para o futuro da humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A condição miserável de grande parte da população
brasileira, assim como sua herança histórica de exclusão e exploração extremas
não facilitam a tarefa de compreensão e construção de novas instituições, de
uma nova sociedade. É mais difícil pensar em deter a destruição do planeta
quando não se tem água para beber, ser solidário quando se buscam restos de
comida (e, no entanto, exemplos de solidariedade são tão comuns entre os que
pouco têm). Por isso podem florescer as crenças que situam a felicidade num mundo
imaginário, místico e sempre por vir, iminente mesmo. Mas que, na verdade, nunca
chega.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">De fato, a crença religiosa – e o milenarismo que
acompanha as seitas de maior sucesso no País, nos últimos anos – é muitas vezes
uma forma de descrença, de desânimo, de abandono da esperança no real. Descrença
nas possibilidades de gerir sua própria emancipação no mundo real, remetendo-a
ao plano do divino. Algumas igrejas, constituídas como grandes corporações, e
mesmo como partidos políticos (próprios ou ocupados em alguma medida), oferecem
interpretações da esfera divina para as opções materiais, sempre conservadoras
no plano das relações sociais e reacionárias no campo da economia – o que é a antítese
das necessidades da população e mesmo dos princípios de fraternidade, paz e
justiça que constituem o discurso e as crenças não apenas do cristianismo,
majoritário no Brasil, mas de todas as religiões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nossa miséria também se reflete nas características da
classe dominante, dependente por sua vez do domínio e controle das classes
dominantes do “primeiro” mundo: aquele que vem antes, tem a primazia, detém a
hegemonia real. Nossa classe dominante também não tem perspectiva de futuro e
limita-se a posturas predatórias e oportunistas, violentas e cruéis, cujos
exemplos recheiam nossa história. O oportunismo estrutural das “elites”
brasileiras também é uma forma de descrença e de desânimo, mas marcadas pela adesão
confortável ao mais forte, ao governante, ao estabelecido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As eleições, as ruas e o cotidiano do proletariado<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A formação das classes subalternas criadas com o
capitalismo, nos países centrais inicialmente, foi marcada pela
superexploração, pela violência e por níveis de miséria e fome que não são nada
estranhos à experiência de seus equivalentes na população brasileira contemporânea.
O proletariado foi expulso do campo, concentrando-se nas áreas urbanas,
juntando-se a outros pobres como massa disponível para o trabalho fabril – que
caracteriza o capitalismo sobretudo do século 19 – e para a prestação de
serviços à burguesia e seus servidores mais aquinhoados. Reunidos em grandes
contingentes nas fábricas, convivendo e partilhando uma mesma condição – e
sendo, ao mesmo tempo, a base principal da formação do capital - o operariado
se tornou uma força política e formou a vanguarda política dos segmentos
populares. Durante mais de um século, foi essa vanguarda que conduziu as lutas
e as maiores conquistas das classes trabalhadoras, entre elas a grande
revolução que deu origem à União das Repúblicas Soviéticas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Depois da 2a. Guerra Mundial outros segmentos também tiveram
um protagonismo mais decisivo: os camponeses na constituição da República
Popular da China, e muitos setores populacionais unidos em revoluções
anticoloniais e socialistas na África, principalmente, mas também na Ásia e na
América Latina.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os últimos 50 anos, no entanto, estão marcados pela acumulação
de experiência pelo Capital no enfrentamento – e, em muitos casos,
neutralização - daquelas lutas; pelo desenvolvimento das forças e dos processos
produtivos, com o estabelecimento sempre crescente da hegemonia do capital
financeiro; pela expansão geográfica e vertical do sistema, com a derrocada do
sistema soviético e, mais recentemente, pela revolução digital, afetando não
apenas a produção, mas resultando na criação de sistemas planetários de
comunicação e transmissão de dados, valores e controles sociais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As classes trabalhadoras não lograram progressos
significativos em sua emancipação neste último período. Ao contrário, houve um
recuo bastante generalizado nas principais instituições criadas – e nos
direitos conquistados - pelas lutas dos trabalhadores, especialmente em seus
partidos políticos, sindicatos e outras organizações e movimentos sociais. O
proletariado não deixou de lutar com as mesmas disposição e intensidade a que a
própria vida o obriga, mas encontra-se enfraquecido e desorientado. Muitas de
suas manifestações não têm coerência de propósitos (como o Occupy Wall Street,
por exemplo) e se esgotam sem objetivos concretos; outras não conseguem unidade
nos objetivos, como os Coletes Amarelos na França, e muitas já não mobilizam a
maior parte dos que seriam interessados. Na América Latina temos ondas que se
entrechocam, de avanços e recuos políticos que, no entanto, não estabeleceram
até agora mudanças mais duradouras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Brasil tem uma história própria, dependente, e
construída com relativamente menos protagonismo popular que o das nações mais
avançadas do sistema. Mesmo assim criou uma sociedade civil forte o bastante
para, no período referido, derrubar a ditadura. Grande e significativa vitória,
mas não o suficiente para construir uma democracia vigorosa ou estável. E mesmo
essa sociedade civil comparativamente frágil também experimentou o refluxo e o
enfraquecimento de suas instituições. O Partido dos Trabalhadores, que foi uma
espécie de cume da fase de avanço popular, não conseguiu apontar caminhos
realmente sólidos, indispondo-se logo de início com a Constituinte – o outro
ponto alto das lutas populares e democráticas –, e paulatinamente adaptando-se
às exigências e costumes da via político-institucional à moda brasileira, enfraquecendo
as bases populares organizadas e mesmo comprometendo seu próprio prestígio.
Seus governos, de conquistas significativas – de fato, os melhores de toda a
nossa história republicana -, ao mesmo tempo não ajudaram a organizar os
trabalhadores nem estabeleceram instituições sólidas sob o controle das
maiorias. Outros partidos, como o histórico Partido Comunista, se
desconjuntaram: uma parte substancial simplesmente aderiu, transformando-se em
complemento de partidos liberais ou ainda mais à direita, e uma pequena parte
busca uma recomposição partidária e ideológica coerente, mas sem conseguir
superar, ainda, a irrelevância política e social. O PCB de hoje divide esse
espaço de isolamento com outros partidos nanicos: PSTU, PCO, UP. A cisão dos
anos 60 do velho Partidão, o PCdoB, é mais importante que esses no campo
parlamentar, mas também é mais uma força auxiliar do PT do que uma agremiação
partidária com propostas claras, além das que se referem ao aparato político
institucional. O que Gramsci, em referência a Maquiavel, chamava de “príncipe
moderno”: o intelectual coletivo capaz de conduzir a construção e
estabelecimento de uma nova hegemonia, é no Brasil um conjunto de forças ainda
muito dispersas e que sequer conseguem estabelecer uma unidade operacional numa
eleição como a que estamos vivendo. Essa unidade, aliás, teria dado à classe
trabalhadora a vitória no primeiro turno das votações. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essas chamadas esquerdas, contudo, constituem o
patrimônio e a expressão concretas da organização do proletariado brasileiro
real (constituído por uma grande maioria de desempregados e subempregados, além
dos trabalhadores mais “tradicionais”, se cabe a expressão). Elas ajudaram a
criar e a manter as perspectivas políticas dos trabalhadores limitadas
atualmente ao campo eleitoral e às “ruas”, isto é, passeatas e comícios. Isso
não deixa de ser um reflexo de uma crescente ausência das esquerdas nas
organizações e instituições populares. De fato, nestas eleições, a ausência da
apresentação de programas e, especialmente no segundo turno, a aceitação do
estilo fascista imposto pelo bolsonarismo, com intrigas e difamação, é mais um
indício claro da incapacidade de realmente organizar a participação popular no
processo político. No plano ideológico – e, exemplarmente, nas chamadas mídias
sociais – a vantagem da direita (que, note-se, costumamos designar no
singular...) ou, no mínimo, do seu estilo e de suas pautas, parece evidente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como votar com consciência política, social,
histórica, se essa discussão não é a principal da campanha eleitoral? E mais, se
mesmo essa questão, quando muito, só aparece na campanha eleitoral, a mais
curta da história recente? As ruas, por sua vez, foram crescente e nitidamente
melhor aproveitadas pelos setores reacionários. O carisma fascista do Führer,
do Duce ou do Mito; a apropriação muito bem sucedida dos grandes símbolos
nacionais (bandeira, suas cores, a própria Seleção de futebol), além do uso
escancarado das instituições e dos recursos públicos (em certos casos, até com
a anuência das esquerdas parlamentares) mostraram-se, em geral, mais eficazes –
ainda que traficadas - para mobilizar maiores e/ou mais visíveis manifestações
nas ruas, sem que a contestação das múltiplas ilegalidades do processo tenha
conseguido mostrar a mesma efetividade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As instituições geradoras de valores, os <i>aparelhos
de hegemonia</i>, segundo Gramsci - dos partidos políticos aos sindicatos, das
associações de bairro e de movimentos sociais aos cineclubes -, foram em grande
parte abandonadas, ou desprovidas de muitas de suas práticas e atribuições pelas
esquerdas, pelas vanguardas políticas, sociais e culturais. O convívio nas organizações
proletárias e populares, a construção coletiva da identidade de classe (da qual
faz parte essencial a compreensão da importância das questões raciais, de
gênero e outras, como também da defesa do planeta) nas práticas e lutas do
cotidiano foi deixado sobretudo às igrejas mais conservadoras, que se dedicaram
a isso com afinco. E às mídias, que também intervêm profundamente na vida
diária de todos. É inclusive exemplar como essas duas coisas se somam:
proselitismo religioso e mídias audiovisuais.</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Proletariado ou público <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ao mesmo tempo que o proletariado se expande, com o
assalariamento dos trabalhadores do campo ou com a proletarização de setores
médios, por exemplo, o papel central do segmento operário e fabril diminui comparativamente
em importância. No Brasil, com a desindustrialização; no mundo todo, com o
crescimento da automação e o aumento do setor de serviços. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Tal como o ambiente da fábrica, os espaços
comunitários – com exceção, claro, dos estabelecidos pelas igrejas,
especialmente as evangélicas – também perdem relevância, em boa medida para as
mídias, que substituem o convívio direto pela interação virtual e automatizada.
É unânime a consideração de que as mídias hoje constituem os principais
veículos de comunicação, de formação e de socialização, em seus espaços cada
vez mais “íntimos”, regulados por sistemas automáticos organizados para a
produção de informação para os donos dos meios de produção: o Capital, a classe
dominante. Embora existam iniciativas de resistência, elas são extremamente
minoritárias. A própria estrutura das <i>plataformas</i> em que estão
instalados esses espaços virtuais é concebida para se apropriar e, na maioria
dos casos, neutralizar ou cooptar essas iniciativas, especialmente as de maior
público, através de sua monetização.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O outro aspecto essencial desse sistema é que sua
produção de lucro se dá pela venda de dados de seus consumidores a anunciantes
– os <i>metadados</i> -, num processo cumulativo ininterrupto de coleta de
informações as mais diversas: de interesses e hábitos de consumo, de locomoção,
mas também financeiros, de saúde e muitos outros. Com isso, o Capital pode cada
vez mais aperfeiçoar e sintonizar sua comunicação com esse público, com esses
consumidores, esse proletariado expandido. Além desse controle das informações
sobre as necessidades e anseios do público, os mesmos dados servem para o
controle político e social, e para a repressão mesmo, no que hoje se chama de
“capitalismo de vigilância”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As maiores corporações do mundo se apropriam dos dados
de todos que frequentam suas plataformas – Google, Facebook, YouTube, Netflix,
etc. - ou que adquirem seus produtos – Apple, Microsoft, Amazon – ou, em muitos
casos, as duas coisas juntas. Esses dados das vidas de todos e de cada um são,
por direito, privados. De fato, definem a própria privacidade no campo das
relações sociais contemporâneas. No entanto, eles são apropriados sem nenhuma
compensação, sem autorização e sem controle por parte do público. Essa
apropriação é muito semelhante à da mais-valia, do sobrevalor produzido pelo
trabalho que não é restituído integralmente ao trabalhador, mas apropriado pelo
capitalista que o emprega. Por isso, vejo uma identidade crescente entre o
conceito de público – receptor e consumidor de todas as mídias – e o
proletariado, isto é, o conjunto de assalariados e outros dependentes do
capital. Em ambos os casos estamos designando uma mesma população, que tem como
característica principal não ter a propriedade dos meios de produção: hoje
tanto os de sua própria vida material, como também do seu imaginário, da sua
vida no campo simbólico – ou espiritual.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As mídias audiovisuais (e o cinema)<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sem me estender muito sobre as reviravoltas
etimológicas da palavra <i>meio</i> (de comunicação), lembro que ela veio do
latim (<i>medium</i>, plural <i>media</i>), assim passou para o inglês e,
através da pronúncia macarrônica do plural naquele idioma, voltou para nós e
acabou sendo abrasileirada como <i>mídia</i> ou <i>mídias</i>. A ideia de meio
- uma maneira, um sistema, um suporte, um veículo ou aparelho - de comunicação
não se limita, como costumamos empregar, aos meios mais modernos ou mesmo
audiovisuais de comunicação. A escrita é um meio de comunicação. De fato, o
meio de comunicação mais básico e essencial é a fala: um meio que utilizamos com
extensão e sutileza que nos são exclusivas; constituem uma das principais
características distintivas da espécie humana entre todos os animais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Embora a fala pudesse ser incluída num campo do <i>áudio</i>,
e muitos meios de comunicação sejam também visuais – a pintura, a fotografia,
mesmo a escultura –, convencionamos chamar de meios ou mídias audiovisuais os
que envolvem recursos técnicos definidos, principalmente mecânicos e
eletrônicos, em sua criação e uso. O cinema, que como sistema de captação e
projeção de imagens (ainda sem som) se consolida no final do século 19, e que,
no final dos anos 20 (um pouco depois do uso generalizado do rádio) passa
também a reproduzir o som, pode ser considerado a base do <i>paradigma</i> <i>audiovisual</i>.
Em boa medida, outros meios audiovisuais já estavam em desenvolvimento ao mesmo
tempo que o cinema: o rádio e outras formas de reprodução e transmissão do som,
e mesmo a televisão, que só vai se tornar predominante depois da 2ª. Guerra
Mundial. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A evolução técnica experimenta um salto qualitativo
com a introdução da tecnologia digital, que redefine a produção, difusão e
consumo, ou recepção, dos meios audiovisuais mais ou menos um século depois da
“invenção” do cinema. Penso que poderíamos falar em duas revoluções: uma
começando com o cinema (cujo desenvolvimento é bem anterior, desde a invenção
da fotografia, ou mesmo antes), na última década do século 19, e outra, a
digital, com generalização dessa tecnologia e a constituição da rede mundial de
computadores. Mas o paradigma audiovisual, enquanto tal, começa e se define com
o cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Todo meio de comunicação implica numa linguagem, na
verdade linguagens: diversas variações e evoluções do modo de expressão do
meio. É nesse sentido, principalmente - pois há outros - que o cinema
estabeleceu o <i>paradigma audiovisual</i>. É sobretudo em torno da expressão
da realidade em imagens e movimento, que o cinema inaugurou, que se constituem as
variações derivadas: na televisão e em outras telas, isto é, sistemas de captação
e reprodução das imagens e sons. Na verdade, em muitos níveis, todas as formas
de expressão e comunicação, todos os meios, se influenciam mutuamente todo o
tempo, e têm suas raízes numa mesma capacidade ancestral dos seres humanos de
se comunicar, determinada pela sua vida social e pela habilidade em transformar
a natureza (e, assim, a si próprios). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><u><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p><span style="text-decoration: none;"> </span></o:p></span></u></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Povo, proletariado e público</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">De certa forma, sempre existiram públicos: desde que
os homens se comunicam em suas comunidades. Mas hoje, quando falamos em
público, estamos nos referindo aos públicos do nosso tempo. De fato, com a
generalização quase absoluta dos aparelhos digitais conectados numa rede
planetária, o <i>público contemporâneo</i> praticamente se confunde com o
conjunto da população da Terra. <i>Público</i> também remete à ideia de ser <i>público
de alguma coisa</i>, isto é, de um espetáculo de qualquer tipo, mas também, em
outros níveis, das mídias: o público leitor, público de cinema, de televisão,
etc. Até chegarmos ao público total, esse que chamei de público contemporâneo,
que se confunde com a ideia de povo, de proletariado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">E por que essa identificação? Porque se o público é
sempre público de alguma coisa, seu papel social ainda seria, num certo
sentido, dependente, subalterno a quem produz aquela “alguma coisa”: o
espetáculo e os outros produtos industriais (livro, cinema, televisão,
internet, etc.). Como o proletariado, como já foi dito anteriormente, o público
não detém os meios de produção daquilo de que é público.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas a coisa é mais complicada. Ou dialética. Ainda que
ocupe essa posição formalmente subalterna, as mensagens, os sentidos de que o
público é público, se constituem socialmente através e apenas através de sua
adoção ou apropriação pelo público. Como já demonstrou Bakhtin, os sentidos
variam o tempo todo, não numa relação dualista, tipo emissor-receptor, mas numa
espiral de interação permanente, que não tem começo, não tem um lado principal:
o emissor de uma mensagem (ou de um enunciado, como diria Bakhtin), dos
sentidos nessa mensagem, já é produto de um repertório constituído; e sua
mensagem e sentidos serão reconstituídos e ressignificados pelo interlocutor,
ou pelo público. Esse é um processo permanente, que varia também segundo os
contextos históricos e sociais, em ambientes de classe, de território, etc. De
certa forma, como <i>todos os participantes</i> nesse processo – receptores/emissores/receptores
- estão inseridos num público geral, podemos dizer que o público não é apenas o
público de alguma coisa, mas o sujeito dialético, o autor em última instância
daquilo de que é, também, público. E, como o proletariado, que não detém os
meios de produção, mas é o produtor real e concreto de toda a riqueza, o
público é o criador, o autor de todos os sentidos. O público é, na atualidade,
a expressão no campo simbólico do que o conceito de proletariado exprime nos
campos econômico e social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Público, proletariado, cinema e as mídias audiovisuais.<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esse público geral ou contemporâneo a que já me
referi, especificamente nessa acepção se constitui inicialmente com o advento
do cinema. Em sua formação e consolidação, o cinema formou (ou, de fato
consolidou, a história é mais complexa) um público de um novo tipo. Um público
muito mais amplo do que outras mídias tiveram anteriormente: pela primeira vez
mulheres e também crianças foram parte importante, e às vezes, numericamente
maiores que outros segmentos na frequentação desses espaços públicos. Esse
público surge com o cinema e, sem ele, o cinema – todo o dispositivo econômico
e social – também não existiria. São duas faces da mesma moeda. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cinema também é parte da chamada modernidade: uma etapa
do capitalismo que alguns chamam de segunda revolução industrial (especialmente
no século 19 e sobretudo entre 1870 e 1920), com a confluência de diversas
inovações tecnológicas nos transportes (estradas de ferro, aviação), nas
comunicações, transformando o próprio ritmo da vida urbana. O cinema foi o
dispositivo mais importante entre outros que também caracterizam essa
modernidade, como o fonógrafo, o telefone e outros. O proletariado se consolida
na mesma época, no mesmo contexto e no mesmo processo. O público de massa
inicial do cinema era especificamente de trabalhadores e imigrantes pobres (na
segunda década do século 20 se expande ainda mais, assimilando as classes
médias).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Se o cinema foi muito importante naquela fase do
capitalismo, seu papel já evoluiu no pós-guerra com a televisão e, no final do
século, com a internet. Atualmente, as mídias ampliam e redefinem o papel do cinema
e o conceito de público. O público continua sendo a expressão do proletariado
no plano do simbólico, mas ambos mudaram. De fato, a transformação das formas
de trabalho – em boa medida devido à revolução digital – é uma das grandes
características do tempo que estamos vivendo. Muitas formas de produção,
inúmeras profissões, diversos ofícios estão desaparecendo, ou sendo
profundamente transformados e reorganizados. A revolução digital não acabou; as
revoluções não “acabam”, mas diluem-se e se integram a uma nova situação, com
suas próprias condições a serem, por sua vez, superadas. Hoje a mídias não são
apenas importantes, no sentido que o cinema inicialmente instituiu: agora elas
penetram, interferem e interagem, de forma inaudita e própria, na vida de todos
e de cada um. Em escala muito maior e numa proximidade, numa intimidade,
poderíamos dizer, inédita. E é nesse campo, hoje o mais importante, que a
direita, mesmo que superficialmente, parece ter uma dianteira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">E os cineclubes?<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes não surgiram nos anos 20, como afirma
quase que um consenso – no entanto desinformado e equivocado -, mas junto com o
cinema, no processo de luta pela apropriação dos sentidos produzidos pela nova
linguagem, na afirmação da nova mídia. À medida que o público se formava
(processo que se consolida por volta do final da primeira década do século 20),
também evoluíam suas formas de resistência ao cinema que se organizava para dar
mais lucro e melhor entreter e controlar as massas que ele, ao mesmo tempo,
ajudava a formar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Descontente com um cinema que, em síntese,
representava sua alienação e dominação, uma parte importante do público
resistia a procurava formas próprias de organização como sujeitos,
protagonistas do processo de produção do dispositivo do cinema. Insatisfeitos
com os filmes que lhes eram apresentados, grupos (sobretudo de militantes
socialistas, anarquistas, feministas) produziam seus próprios cinejornais,
documentários e mesmo ficções, e alugavam salas, ou usavam as das organizações
de trabalhadores, para sua apresentação. Também no final da primeira década do
século, consolidam-se iniciativas do tipo que hoje reconhecemos como
cineclubes: com estatutos democráticos e salas próprias e mais permanentes de
exibição, além da produção de filmes. Essa luta criou o que chamo de <i>paradigma
cineclube</i>: uma organização exemplar - uma instituição, constituída inclusive
juridicamente - para a apropriação do cinema de forma coletiva e democrática,
não capitalista. Essas mesmas características se encontrarão reproduzidas em
todas as outras formas de organização em torno do cinema – e hoje no campo mais
amplo das mídias audiovisuais - que têm origem no público, e não na estrutura
industrial, capitalista, do cinema e das mídias audiovisuais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nos anos 20, o cineclubismo, como ideia de <i>organização
integral</i> de apropriação do cinema pelo proletariado, se fragmentou, dando
origem a várias instituições: o cinema educativo, o cinema amador, os festivais
e arquivos de filmes, e mais tarde (já nos anos 50) o ensino universitário do
cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A fragmentação do primeiro modelo de cineclube deu
origem a uma forma nova e dominante de cineclube: uma organização limitada em
grande medida à recepção dos filmes. A cinefilia, ou a recepção crítica do
cinema, herdou parte da tradição já estabelecida: a organização coletiva,
democrática e a ausência de finalidades comerciais. Ela teve importante papel
na disseminação e mesmo na constituição de uma cultura cinematográfica, em boa parte
crítica, nos mais diferentes países. Mas também elitista e paternalista, muitas
vezes calcada na valorização absoluta do autor e, em contraposição, numa visão
paternalista e até preconceituosa em relação ao público. De certa forma,
estabelecia um modelo hierárquico, estamental ou de castas: havia o autor,
objeto de culto; o cinéfilo, especialista, esclarecido, e o público, ignorante,
a ser dirigido, “alfabetizado”. De qualquer forma, esse modelo cinéfilo se
expandiu por praticamente todo o mundo, sendo talvez o principal instrumento de
formação de culturas cinematográficas – marcadamente nos países periféricos,
como o Brasil – contraditórias: ao mesmo tempo críticas e progressistas, mas
simultaneamente elitistas, e concentradas nos ambientes intelectuais e
universitários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; tab-stops: 425.95pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Com a televisão e outras formas de reprodução da imagem
em movimento - VHS, DVD, etc. -, que hoje podemos situar como prenúncios da revolução
digital, aquele modelo da cinefilia entrou em processo de crise. De fato, todo
o dispositivo social do cinema entrou em crise. O cineclubismo, em primeiro
lugar, diminuiu enormemente nos países centrais (anos 50); e um pouco mais
tarde, na periferia do sistema. Na América Latina, as ditaduras dos anos 70 e
80 interferem de forma diferenciada nesse processo. O Brasil, particularmente,
teve um movimento cineclubista bastante atuante até a segunda metade dos anos
80 e importantes cineclubes “independentes” até os anos 90. De toda maneira, os
muitos cineclubes que ainda existem em todo o mundo baseados naquele modelo <i>cinéfilo</i>,
limitado à exibição e debate de filmes considerados especiais ou mais
relevantes, constituem o que Raymond Williams chamou de <i>formas residuais </i>de
cultura: práticas que já não correspondem aos interesses e necessidades do
público contemporâneo e apenas refletem modos e formas, em grande parte
superados, de organização da comunicação pelo que chamamos de “imagem em
movimento”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Isso porque o cinema morreu, metaforicamente. Apenas
de certa forma, claro, é preciso frisar. O cinema – na verdade o filme de
ficção ou documentário (excluindo todas as outras formas de cinema) exibido em
sala escura para um grupo de espectadores relativamente pequeno – já não é o
formato ou o espaço mais relevante, nem economicamente nem quanto à
participação do público. O espaço simbólico disputado pelos setores populares é
o espaço das mídias: a televisão, o computador, os celulares. O modelo cinéfilo
não (se) dá conta das mídias, não integra as mídias. O cineclubismo – como
outras instituições geradoras de valores, outros aparelhos de hegemonia – corre
o risco de morrer, como o cinema “morreu”. Ou definhar numa relativa
irrelevância cultural e social, limitado a públicos muito reduzidos e a setores
da sociedade que não são tão fundamentais nem para o próprio cinema nem para a
transformação da sociedade. É preciso um novo tipo de cineclube, para novos
tempos e novos desafios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cineclube no terceiro turno (no Brasil e no mundo)<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes em todas as suas formas – o cineclube
revolucionário do início do cinema; o cineclube da cinefilia que se espalhou
por todo o mundo; o cineclube educativo que se disseminou pela educação formal
e informal; os clubes de cinema voltados para a produção amadora, entre vários
outros – influenciaram, em maior ou menor grau, a cultura e a sociedade nos
diversos países e contextos em que existiram. Na análise que fiz mais no início
deste artigo, falei da necessidade absoluta de instituições sociais e
comunitárias que organizem, representem e deem expressão aos trabalhadores, à
grande maioria da população brasileira. Um novo tipo de cineclube deve ter a
capacidade de ser uma dessas instituições. E acredito que o cineclube pode
realmente ter esse papel e uma importância fundamental nestes tempos de
centralidade das mídias audiovisuais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Para isso, o primeiro e indispensável passo é o
reconhecimento e superação do isolamento de classe do cineclubismo. Esse
fenômeno não é brasileiro, mas mundial. Sua forma é que tem características
próprias. E estas não se devem exclusivamente – e talvez nem principalmente –
aos animadores dos cineclubes existentes. Em boa parte, explicam-se pela
própria estreiteza de muitos setores populares, naquilo que Francisco Foot Hardman
chamou de “estratégia do desterro”: uma desconfiança anti-intelectual, uma
espécie de “purismo de classe” que apenas revela a permanência de uma
incapacidade de interagir e dirigir setores mais amplos da sociedade – condição
necessária para construir uma nova hegemonia. Nos cineclubes que ainda operam
sob o modelo cinéfilo, mas que não satisfazem, de alguma forma, seus
integrantes, é necessário ter a capacidade de reconhecer a realidade: que não
conseguem reunir um número significativo frequentadores, são incapazes de
manter uma atividade mais intensa que as poucas exibições mensais ou
quinzenais, ou que, nos espaços virtuais, atingem ainda menos pessoas. Intelectuais,
professores, estudantes universitários e cinéfilos que não habitam torres de
marfim precisam procurar as organizações populares para nelas e com elas
construírem cineclubes. As escolas de ensino básico e médio – através dos seus
professores e alunos - devem se articular, integrar e atuar conjuntamente com
as organizações comunitárias de seus bairros e cidades. Os sindicatos,
associações comunitárias e movimentos populares precisam também, por sua parte,
procurar educadores, intelectuais, artistas e técnicos progressistas, ligados
às causas e projetos populares, para ajudarem a organizar e manter cineclubes
em suas sedes, ocupações, acampamentos, e formar, num espírito solidário, não
paternalista, os cineclubistas desse novo tipo. Também é necessário inventar e
expandir o modelo de organização e ocupação de espaços: cineclubes podem ser instalados
nas proximidades de igrejas, quartéis, e outras instituições que atraiam ou
reúnam grupos normalmente afastados ou excluídos de formas de entretenimento
mais crítico ou de formação mesmo. E mais, cineclube não é uma atividade
eventual, um encontro cultural mensal: nesta época de presença permanente e
ubíqua dos celulares, o cineclube deve ser uma organização complexa, que também
esteja presente na dimensão cotidiana e virtual do seu público.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Uma revolução, entretanto, no seu sentido mais pleno,
não é feita por entidades culturais ou educacionais. Certamente também não é
resultado de eleições, especialmente da forma como são realizadas hoje no
Brasil e em outras “democracias ocidentais”. São muitos os exemplos – e os
nossos são bem recentes – de governantes progressistas eleitos e logo
derrubados pela violência fascista (Salvador Allende, no Chile) ou por ardis
“parlamentares”, como aconteceu com Fernando Lugo, no Paraguai, e com Dilma
Roussef no Brasil – ou pela combinação dos dois, como com Evo Morales, na
Bolívia. Mas também não acontece “nas ruas”, exceto em estágios muito avançados
de luta, quando esse tipo de manifestação é geral, avassalador, impossível de
ser detido. Mesmo assim, geralmente isso acontece em combinação com outras
ações – sobretudo a greve geral. A mobilização para uma transformação radical
da sociedade precisa ser conduzida por uma direção política capaz de liderar a
edificação das novas instituições que vão constituir uma nova sociedade. Essa força
de mobilização ampla e radical e a capacidade de formar uma direção experiente
e capaz é produto da combinação necessária de todos esses níveis de ação e
organização. Cada um deles é essencial, mas só em conjunto podem produzir uma
transformação radical e plena. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">No Brasil é bem evidente a falta – e como já disse, o
recuo histórico – de instituições culturais e formativas. Mas não falo das que
querem ensinar alguma coisa ao povo ou ao público, que querem transferir uma
cultura decorativa, pretensamente apolítica, inócua. As organizações que nos
interessam aqui precisam estar do lado da grande maioria da população, da
classe trabalhadora, e desenvolver com esse público, coletivamente, um projeto
de emancipação. Não me canso de lembrar do Cinema do Povo, criado na França em
1913, e que propus fosse considerado “o primeiro cineclube”, devido à documentação
bastante completa que mostra essa condição. Seu lema, válido até hoje – mais de
um século depois - para os cineclubes engajados nas causas populares:
“Divertir, instruir, emancipar”. É preciso atuar nessas três instâncias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cineclube de novo tipo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Com a crise, que já mencionei, do modelo predominante
de cineclube, o cineclube cinéfilo, várias de suas características passaram a
se desestruturar. Creio que o Brasil, pelas muitas vicissitudes que este artigo
já mencionou também, é possivelmente o país onde esse processo foi mais longe.
Hoje não existe praticamente por aqui um cineclube organizado formalmente, com
regras de participação e projetos de atuação deliberados democraticamente, e
direções eleitas regularmente. A própria palavra cineclube em seus usos mais
correntes, passou a designar apenas uma atividade - a exibição de um ou mais
filmes (no caso dos curtas-metragens) acompanhada de debate ou palestra – e não
a instituição organizada. Fala-se em “fazer um cineclube” a tal hora, em tal
lugar; não em organizar um cineclube, permanente, sistemático, representativo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O que, a meu ver, indica uma desestruturação do modelo
“tradicional” de cineclube, de resto presente também em vários outros tipos de
organizações culturais, educativas e políticas, é muitas vezes explicado como
“informalidade” e “horizontalidade”. Haveria que se acrescentar também “gratuidade”
para descrever completamente o que não é propriamente um modelo organizativo
mas, bem ao contrário, um exemplo de incapacidade de organização institucional
e democrática e, complementarmente, de sustentação de maneira autônoma de
iniciativas estruturadas e representativas de comunidades organizadas.
Corolários dessas características, as iniciativas aqui citadas são geralmente
de grupos bem pequenos – e uma parcela significativa é mesmo exclusivamente
individual – realizadas com grandes intervalos, frequentemente mensais e
bastante precárias quanto a recursos, instalações e equipamentos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A grande maioria dos cineclubes que assim se denominam
no Brasil e, entre eles, os de maior organização e assiduidade, está instalada
nas universidades. A instituição e os programas de verbas e bolsas de extensão acadêmica
também são um elemento fundamental para a manutenção dessas atividades. É
nesses ambientes, sem dúvida, onde melhor se realiza a proposta de exibição de
filmes de alguma forma “alternativos” e a discussão de suas características
estéticas, narrativas, políticas, entre outras. Há alguns cineclubes que são
mesmo oficiais, mantidos por uma universidade e dirigidos por professores
alocados também nessa função; estão entre os mais ativos e influentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nos anos 70 e 80, num contexto de fortalecimento da
sociedade civil contra a ditadura militar, os cineclubes se reconheciam e se estruturavam
como um movimento social e cultural e se organizavam também em comunidades
populares, junto a movimentos sociais – inclusive étnicos e de gênero – e
alguns sindicatos. Com os dois governos de Lula e a criação do programa Cultura
Viva, depois seguido pelo Cine Mais Cultura (exclusivo para a exibição), o
governo investiu bastante em seus projetos de exibição de filmes brasileiros em
comunidades populares – mas já sem as características organizativas dos
cineclubes do século passado. Depois dessas duas experiências, em seus momentos
históricos, o cineclubismo de certa forma refluiu para o tipo de inserção
social que (sempre) tivera até o início da Ditadura – e que tem em quase todo o
mundo: nas classes médias cultas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Um novo modelo de cineclube, penso, consistirá na
recuperação das características democráticas e anticapitalistas que definiram o
<i>paradigma cineclube</i> desde seu surgimento até a crise iniciada no terço final
do século 20. Esse paradigma, que informa e influencia todas as outras formas
de organização com origem no público, consiste na forma coletiva e democrática
de organização e na ausência de finalidade de lucro, isto é, de apropriação
privada dos resultados econômicos que a organização eventualmente produzir. O
objetivo desse paradigma de organização é a apropriação integral do cinema pelo
público organizado. Esse modelo, contudo, só será realmente novo – será a <i>atualização</i>
da proposta cineclubista - se incluir em sua organização e propósitos a
articulação com as mídias audiovisuais, sendo o cinema “apenas” uma delas,
ainda que uma espécie de paradigma ele também, nas bases das inovações e
diferenciações nas linguagens desenvolvidas em outras mídias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Recompor e atualizar a proposta cineclubista de<i>
organização integral</i> para a apropriação das mídias audiovisuais pelo
público, na perspectiva de transformação democrática radical dos processos de
expressão, comunicação e informação, bases estruturais de uma sociedade livre e
justa. Em outras palavras, cineclube não pode mais ser cinefilia, no sentido de
culto elitista do cinema. Mas também não pode ser “exibição e debate” que, no
fundo, exprime objetivo semelhante. As tecnologias digitais, a difusão global de
conteúdos e as perspectivas, em sua maior parte não realizadas, de
interatividade - isto é, participação -, permitem a reconstituição da <i>totalidade</i>
do processo produtivo da expressão audiovisual sob a forma do <i>paradigma
cineclube</i>. A produção, a difusão, o consumo ou recepção, e a preservação da
memória, do patrimônio imagético das comunidades humanas pode hoje ser
integrado num mesmo processo, organizado num mesmo espaço social (comunitário):
o do cineclube. A divisão de trabalho capitalista, organizada por setores
corporativados (as “indústrias” de produção, distribuição e exibição), pode ser
superada pela organização integral, democrática, participativa, do público
informado e organizado, e pela sua intercomunicação planetária em redes livres
e públicas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O novo modelo de cineclube deve integrar todas as
mídias num processo unificado de atividades orgânicas e críticas nos campos da
informação, da formação e educação, do entretenimento produtivo, da preservação
da memória e das identidades e da diversidade. Deve saber ocupar, organizar e
gerir as dimensões presenciais e virtuais de suas atividades. Articular a dimensão
comunitária, local, de base, e a dimensão social, planetária, em redes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><a name="_Hlk117508642"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O objetivo político do
novo tipo de cineclube</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">,
aquele que pode ajudar a construir uma novo modelo de comunicação e uma nova
sociedade, é superar e substituir as instituições vigentes: alienantes,
controladoras, de dominação. Em uma palavra: capitalistas. O objetivo político
do novo tipo de cineclube é a substituição/superação das sala comerciais de
cinema, das televisões e das redes sociais.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O objetivo político do novo tipo de
cineclube não é modesto, não é fácil e não é simples. É apenas indispensável. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Algumas referências no texto:<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Freire, Paulo – <i>Pedagogia do
Oprimido </i>- </span><a href="https://cpers.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Pedagogia-do-Oprimido-Paulo-Freire.pdf"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://cpers.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Pedagogia-do-Oprimido-Paulo-Freire.pdf</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Gramsci, Antonio. 2002. <i>Cadernos
do Cárcere. </i>6 volumes. São Paulo: Civilização Brasileira<i> – </i>também
acessível na internet.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Maquiavel, Nicolau. 2019. <i>O
Príncipe</i>. Ed. Do Senado Federal (</span><a href="https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/573552/001143485_O_principe.pdf"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/573552/001143485_O_principe.pdf</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Bakhtin, Mikhail (Voloshinov,
Valentin). 2014. <i>Marxismo e Filosofia da Linguagem. </i>São Paulo: Hucitec.
(</span><a href="https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Bakhtin-Marxismo_filosofia_linguagem.pdf"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Bakhtin-Marxismo_filosofia_linguagem.pdf</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Williams, Raymond. 2011. <i>Cultura
e Materialismo. </i>São Paulo:<i> </i>UNESP. (</span><a href="https://www.academia.edu/34926870/williams_raymond_cultura_e_materialismo_pdf"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.academia.edu/34926870/williams_raymond_cultura_e_materialismo_pdf</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Hardman, Francisco Foot. 1984.<i>
Nem pátria nem patrão! Cultura operária e anarquista no Brasil. </i>Ed. Brasiliense<i>
</i>(</span><a href="https://pdfcoffee.com/nem-patria-nem-patrao-francisco-foot-hardmanpdf-pdf-free.html"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://pdfcoffee.com/nem-patria-nem-patrao-francisco-foot-hardmanpdf-pdf-free.html</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Rocha, Glauber (dir.) <i>O Dragão
da Maldade contra o Santo Guerreiro – 1969 - </i>(</span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=SSEnlffMB5s&t=695s"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.youtube.com/watch?v=SSEnlffMB5s&t=695s</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">DIEESE - Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos<i> </i>(</span><a href="https://www.dieese.org.br/"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.dieese.org.br/</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">) <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-77240875892668806182022-08-19T10:09:00.008-07:002022-08-19T11:25:22.927-07:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3LkS1PIQ0S2b7zKN6b8TCT780WfCbvWww8XHa4ctncPKpmaF9tuZFivvP_7-k71AhrbIBbJGKq9tYk5FRgEZRTniavdWark22wzlQZgiMyskKv7aqlIEibk8jEZilkZNCohNUQSdpGlyHmlJJWIZbdnfoqPqzfe4GJOmqSd6-83t61kDLLmG2sfKK/s701/Rua%20do%20Triunfo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="438" data-original-width="701" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3LkS1PIQ0S2b7zKN6b8TCT780WfCbvWww8XHa4ctncPKpmaF9tuZFivvP_7-k71AhrbIBbJGKq9tYk5FRgEZRTniavdWark22wzlQZgiMyskKv7aqlIEibk8jEZilkZNCohNUQSdpGlyHmlJJWIZbdnfoqPqzfe4GJOmqSd6-83t61kDLLmG2sfKK/w400-h250/Rua%20do%20Triunfo.jpg" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Velha Rua do Triunfo (SP): levando filmes para serem enviados de trem para exibidores de outras cidades.</div><br /> <p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-62877698842158428702022-08-19T10:01:00.016-07:002022-08-19T10:11:15.587-07:00<p><b style="font-size: 14pt; text-align: justify;">Política Nacional Aldir Blanc:</b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>a nova legislação para a cultura comunitária pode mudar muita coisa. Ou
não.</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Este não é um trabalho acadêmico,
apesar da extensão. É uma análise da nova legislação da cultura que pode desaguar
em propostas inovadoras de organização das comunidades. Comunidades que são a
base da sociedade brasileira. Comunidades territoriais, como bairros, pequenas
cidades, aldeias. Comunidades de identidade social e cultural, que vão desde
sindicatos, assentamentos, ocupações, até movimentos organizados de mulheres,
de negros, de orientações LGBTQIA+, de indígenas, de imigrantes e outros. E há
ainda uma infinidade de comunidades ligadas a espaços de trabalho, convivência
e luta, muitas sem quase nenhuma organização: fábricas, grandes lojas, centros
logísticos, <i>call centers</i>, quarteis, portos, navios e muitas outras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Este é um texto com propostas
militantes, quase um manifesto. Uma reflexão militante para militantes. Para
militantes cineclubistas que percebem ou intuem os problemas que hoje limitam
sua atuação: os cineclubes parecem não conseguir se estabelecer de forma mais
permanente, principalmente junto de comunidades populares, fora dos ambientes
universitários. Para militantes de movimentos sociais e comunitários
interessados na apropriação e no uso das mídias audiovisuais na organização de
suas comunidades, saindo também de um modelo meio limitado de objetivos apenas
imediatos – eleições, manifestações de rua - que não incluem o desenvolvimento
das identidades, das consciências de cada um e de todos de seu papel na
história e na transformação profunda da sociedade. Para professores e
educadores que, vendo crianças, adolescentes e jovens adultos presos em seus
celulares, querem empregar as mídias audiovisuais mais que para ilustrar certas
matérias ou para copiar as formas burguesas de formação cultural.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Congresso derrubou, no dia 5 de
julho, os vetos às chamadas lei Aldir Blanc e Paulo Gustavo daquele idiota maléfico
e perigoso que responde pelo poder executivo no Brasil. Esse acontecimento terá
um impacto muito grande no campo da cultura, especialmente na esfera que quero
qualificar de comunitária<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn1" name="_ednref1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[i]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> e,
proporcionalmente, nas atividades cineclubistas. Num certo sentido, pode ter um
efeito de dimensão histórica em nosso meio específico. Ou não. Isso vai
depender da capacidade de mobilização, de pressão, das comunidades organizadas.
Elas podem entender os espaços políticos criados por essa nova legislação como
um conjunto de oportunidades para organizar e consolidar seu trabalho nas
comunidades a partir de uma perspectiva planejada a mais longos prazos. E que
deve levar a uma autonomia completa: cobrando, mas sem se colocar na
dependência do Estado. Mas podem, também, enxergar apenas a chance imediata e oportunista
de conseguir uma verba para um evento, ou um projeto de no máximo alguns meses,
que não vai na direção de construir, de adicionar. E que depois fica à espera,
na dependência de uma próxima verba que, geralmente, demora bastante: o tempo
de esgotar ou enfraquecer significativamente os resultados obtidos
anteriormente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Acho que há muitos aspectos que
devem ser considerados para compreender, abarcar toda a significação da nova
legislação. Vou procurar ser o mais sucinto que expor claramente as ideias me permita,
mas devo passar por uma rápida introdução. E pela análise dos textos. O tema é
muito importante; é vital mesmo, para a cultura comunitária, e precisa ser
compreendido da maneira mais completa possível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Políticas culturais: Estado, mercado e comunidade<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Produções, artistas, produtores<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p><b> </b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Hoje em dia, nem mesmo os países
ou democracias mais liberais deixam de compreender que cabe ao Estado um papel
indutor do processo cultural. Mas, herdeiros de uma tradição liberal, elitista
quanto ao que se chama de “artes”, entendem as diversas formas de expressão
nesse campo – literatura, teatro, cinema, música, dança, etc. – como resultado
exclusivo da ação de autores, de artistas; ou de produtores, entendidos como empreendedores
individuais ou empresas mesmo, de todos os tamanhos. A audiência, isto é, a
grande maioria das pessoas, é plateia<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn2" name="_ednref2" style="mso-endnote-id: edn2;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[ii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>:
seu papel é validar essa produção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mais recentemente – afinal estamos
falando de liberalismo e do Brasil – criou-se o conceito de economia criativa
(uma certa redundância, já que a economia, o processo econômico geralmente
cria: bens e serviços de todo tipo). Essa noção busca integrar ideologicamente
a cultura ao mercado, mesclando a criação – em princípio subjetiva, social –
com a economia, reduzida à sua acepção como indústria: capitalista e de mercado.
A criação, assim, vira empreendedorismo, e, embora as manifestações populares
não industrializadas tenham sempre tido pouca acolhida nas políticas reais do País,
qualquer nível de criação parece agora indistinta da produção claramente
comercial: é tudo economia criativa. Que economia produzem os cineclubes, por
exemplo, que sequer recolhem qualquer tipo de contribuição (exceto do Estado
mesmo), por exemplo? Certamente não é a mesma que a dos unicórnios<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn3" name="_ednref3" style="mso-endnote-id: edn3;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[iii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
de videojogos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn4" name="_ednref4" style="mso-endnote-id: edn4;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[iv]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
que, por definição, recolhem muitos milhões de investimentos privados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A centralidade do artista, do
autor como expressão individual e mais elevada do sentido das artes, e o papel
do Estado como guardião e mantenedor do patrimônio de grandes talentos e obras
nacionais foi típica do império e da velha república. Isso foi paulatinamente
substituído pela figura da empresa produtora de conteúdos “criativamente”
econômicos, regulada pelo mercado, que o Estado complementa (como nas outras
políticas econômicas públicas) e ao qual se subordina. Caberia uma comparação
com as transferências de “direito autoral” para as empresas que o exercem como
direito de “propriedade intelectual” ... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas, mesmo antes dessa
nomenclatura criativa, começando com a Constituição de 1988 e culminando com os
primeiros governos do Partido dos Trabalhadores, a dimensão comunitária da
cultura e o cidadão – em outras palavras, o membro do público – como sujeito,
foram também incluídos no campo das políticas públicas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Cultura comunitária ou autoral? (as heranças de Gil e Juca)<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p><b> </b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Gilberto Gil, ministro de 2003 a
2008 (governos Lula da Silva) fez uma gestão muito inovadora em várias áreas da
cultura e sob muitos aspectos. Talvez o mais importante e, ao mesmo tempo,
menos implementado, tenha sido a proposição de uma estrutura institucional de
Estado para a cultura, com a criação do Sistema Nacional de Cultura, uma
estrutura complexa baseada na integração do governo federal, os estados e
municípios. E que prevê, também, uma forma bastante determinada de participação
da sociedade civil - o ponto mais fraco desse projeto. Falar mais sobre isso,
que seria bem importante, estenderia demais este texto. É tarefa para outro
artigo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No que mais nos interessa agora, Gil
comparou sua concepção de política pública para a área da <i>cultura de base
comunitária</i> com a técnica do <i>do-in</i> da acupuntura chinesa, que
consiste em massagear determinados pontos do corpo para estimular a circulação
de energias. Caberia, assim, ao Estado dar um empurrãozinho nos “pontos”
culturais do corpo social organizado para que eles pudessem adquirir força e
autonomia para fazer a cultura circular. Aquele início de século era também um
tempo em que se discutia muito as novas tecnologias digitais e os novos meios
de comunicação através da internet. A democratização desses recursos era
chamada de <i>inclusão digital</i>. A ideia do do-in somou-se à de inclusão
digital em um trabalho realizado dentro do ministério que levou ao programa
Cultura Viva. Este último consistia fundamentalmente em dar um impulso
financeiro, durante três anos, para consolidar as entidades beneficiadas. Além
disso, também fornecia equipamentos digitais para a integração das novas
técnicas às práticas das organizações populares. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A ideia parecia (e era) excelente,
teve grande repercussão entre a intelectualidade e foi, inclusive, replicada em
outros países (cada um à sua maneira) da América Latina. O ciclo desse
processo, visto em retrospectiva, foi muito rápido. Foram três ou quatro anos
entre o início efetivo do programa e sua descontinuação definitiva. Ao ser
posta em prática, a proposta começou a se contaminar com os vícios atávicos do
Brasil e das políticas de governo: o empurrãozinho nas organizações sociais
existentes transformou-se em fomento de novas instituições praticamente criadas
pelo Estado, através de editais que configuravam as formas e campos de proposição
e atuação dos agora denominados Pontos de Cultura, que surgiram - se
constituíram ou se transformaram - por causa e a partir do programa. O
Ministério também patrocinou encontros e outras atividades dos referidos Pontos
(ao contrário de outros setores). O do-in passou de impulso à comunidade a
indutor de novas formas de organização a partir do governo. A ideia de um
estímulo financeiro inicial visando a autonomia virou perspectiva de dependência
permanente. De fato, ao invés de se organizar e criar bases de sustentação autônomas,
os Pontos subsidiados pelo Estado gastaram integralmente os recursos e passaram
a esperar por uma renovação sistemática e permanente que, ao fim, não veio. O
sistema teve também muitos problemas administrativos, burocráticos. O ministro
saiu logo no início do programa, sendo substituído por Juca Ferreira, principal
gestor do programa, que ficou menos de dois anos, até o final do mandato. Dilma
Roussef, sucessora de Lula, não teve em nenhum momento uma administração
notável na área da cultura e não deu continuidade a boa parte dos projetos dos
ministros Gil e Ferreira. Como tantas “políticas públicas” no Brasil, essa
também não se consolidou, nem mesmo em um governo de continuidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outro traço menor e oportunista foi
a reprodução generalizada e quase indiscriminada da ideia, agora já meio
corrompida: foram criados <i>pontões</i> e <i>pontinhos</i> de cultura, e um
projeto especial para os cineclubes que tem uma história colateral<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn5" name="_ednref5" style="mso-endnote-id: edn5;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[v]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>: a
dos <i>cines+cultura</i> ou simplesmente <i>cines</i>. Esses cines, como o nome
já meio que sugere, eram mais pontos de exibição para os filmes produzidos
pelos projetos de apoio ao curta-metragem do Ministério do que propriamente
cineclubes, isto é, associações comunitárias democraticamente constituídas. Não
se buscava organizar o público, mas antes formar plateias para aqueles filmes. Eram
iniciativas meio profissionalizadas – na participação em editais - em que o
público era apenas uma plateia desorganizada para os filmes que não tinham
nenhum outro espaço, de tipo mais comercial, para serem exibidos. De movimento
do público, passaram a plateia, mercado (uma espécie de mercado, já que a
“economia criativa” era fornecida pelo Estado: houve mesmo quem chamasse isso
de “Pós-Capitalismo Industrial” ...) para os realizadores amadores. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">De certa forma, a proposta de
articulação cultural comunitária retrocedeu à situação da hegemonia do artista,
do autor, do realizador, na maior parte das iniciativas do Ministério no campo
do audiovisual. Campo em que sempre se incluiu os cineclubes e as plateias,
considerados como meras extensões e produto da produção cinematográfica. Isso
também tem uma explicação mais política: os realizadores de curta-metragem e
suas entidades representativas tiveram uma importante inserção no próprio
Ministério e, como segmento das classes médias locais, tinham um impacto
político e midiático muito maior que as comunidades populares pouco
organizadas. Talvez injusta e coincidentemente, a gestão de Juca Ferreira ficou
marcada por tudo isso e pela desarticulação do movimento cineclubista<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn6" name="_ednref6" style="mso-endnote-id: edn6;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[vi]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
brasileiro. E de várias outras iniciativas comunitárias, incluindo a maior
parte dos Pontos de Cultura. Juca Ferreira voltaria ao cargo já no final –
imprevisto - do segundo mandato de Dilma Roussef, também marcado pela
desarticulação do governo e pelo golpe parlamentar de 2016.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Cineclube, público, comunidade</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O pequeno PCB (Partido Comunista
Brasileiro) tem uma palavra de ordem muito estimulante: <i>construir o poder
popular</i>. Mas, aparentemente, os partidos mais ligados à classe
trabalhadora, que pretendem representá-la, ainda estão bem distantes desse
objetivo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn7" name="_ednref7" style="mso-endnote-id: edn7;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[vii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Agora, saindo da esfera partidária, o que pode ser o poder popular? Penso que
essa ideia se articula com as ideias de Marx e Engels, que já em 1850 escreviam
para os Clubes de Trabalhadores<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn8" name="_ednref8" style="mso-endnote-id: edn8;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[viii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
(herdeiros, mas também precursores de várias formas de organização popular,
inclusive dos cineclubes) chamando-os de <i>formas do <a name="_Hlk109656238">futuro
Estado dos trabalhadores</a>.</i> Na mesma linha, Gramsci também propunha a
organização de <i>instituições criadoras de valores</i> (valores éticos, bem
entendido), ou <i>aparelhos de hegemonia</i>, para não apenas se contraporem,
mas para substituírem as instituições hegemônicas burguesas, preparando e já
construindo o mesmo <i>futuro Estado dos trabalhadores</i>. Essas formas de
organização, as instituições orgânica e ideologicamente ligadas à classe
trabalhadora, aos excluídos, discriminados, perseguidos – no nosso caso, o povo
brasileiro (excluindo os donos do poder e seus associados) – é que
corporificam, constroem o poder popular. São parte importante, indispensável,
de um futuro poder popular. Com elas se edificam as instituições inovadoras que
constituirão a governança de um sistema político radicalmente democrático,
inclusivo e igualitário. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes são, ou podem ser,
parte disso. Eles têm uma condição muito especial: representam uma forma de
organização democrática, uma herança popular forte e atuam, em princípio, no
campo mais importante da comunicação, da informação, da mediação das relações
sociais e da expressão do campo popular: as mídias audiovisuais. Sua
participação na construção de um poder popular pode ser fundamental. Ou não
será nada. Passará, como passaram os <i>cines</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes surgiram com uma
reação do público a um cinema que se instituía à sua revelia e que foi
instrumental na sua subordinação. Os primeiros cineclubes não usavam ainda esse
nome: chamavam-se Cinema dos Trabalhadores, Cinema do Povo, Clube da
Periferia... Isso em torno de 1910. Seus organizadores eram imigrantes, trabalhadores,
militantes socialistas, anarquistas, feministas. A partir dos anos 20 o nome
cineclube se generalizou, mas num ambiente mais de intelectuais burgueses e da
classe média. Paralelamente, com forte influência da Revolução Soviética,
continuaram a se propagar os cineclubes de trabalhadores, agora com nomes como
Clube dos Amigos de Spartacus (França, 1928), assim como as inúmeras Ligas de
Cinema dos Trabalhadores, em todo o mundo. Na própria União Soviética houve um
forte esforço de divulgação do cinema, um programa chamado mesmo de <i>cineficação</i>,
através de diversos tipos de exibições ambulantes e da organização de milhares
de clubes comunitários de cinema sediados, justamente, nos Clubes de
Trabalhadores, uma categoria essencial dentre as muitas formas de organização
do poder popular naqueles tempos e circunstâncias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">De fato, a tensão entre um caráter
mais elitista e a herança e tendência revolucionária se mantém até hoje no que
chamamos de movimento cineclubista. E essa tensão está presente tanto nos
círculos cineclubistas de classe média – que constituem a maioria - como entre
as iniciativas que se desenvolvem em ou buscam ambientes mais proletários, de
negros, de mulheres, de diversidade de gêneros ou de defesa dos povos indígenas
e do meio ambiente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">As iniciativas cineclubistas que
se espalharam por todo o mundo sob o influxo da cinefilia, primeiro nos anos
20, depois ainda mais fortemente nos anos 50 e 60, construíam castelos
elitistas de um verdadeiro culto ao cinema. Mas, ao mesmo tempo, adotavam,
conservavam a associação democrática, a ausência de finalidade lucrativa e,
mesmo elitista, o debate livre de ideias e convicções, <i>a palavra do público</i>,
herdados dos seus antecedentes proletários. No outro lado, se colocarmos a
coisa dessa maneira, cineastas e cineclubistas de esquerda procuravam
representar ou mesmo dar voz aos trabalhadores e outros explorados, mas tiveram
grande dificuldade de se livrar do mesmo viés cinéfilo que é a <i>autoria
individual</i>, categoria essencialmente burguesa, proprietária, ligada ao
empreendedorismo e à propriedade privada. O estabelecimento efetivo de uma
ligação entre o cineclubismo e a grande maioria do povo é uma questão
irresolvida, inalcançada – ainda que muito procurada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Hoje, no Brasil muito
especialmente, a herança cineclubista está bastante desvirtuada, dispersa,
enfraquecida, devemos admitir. Praticamente já não existe a característica mais
essencial que definiu os cineclubes - e ainda define bastante em outros países
– durante mais de um século: o <i>associacionismo democrático</i>. Em nosso
país não há mais cineclubes, propriamente, mas sobretudo diferentes <i>práticas
cineclubistas</i>. Atividades meio esparsas, conceitos genéricos, formas de
senso comum, que mais justificam do que caracterizam – e menos ainda, organizam
– esse “cineclubismo”. Ideias como a de que “o cineclube é onde se passam
filmes de acesso mais difícil”, isto é, que não estão nos grandes circuitos
comerciais ou nos serviços de televisão <i>sob demanda</i>. É uma retomada do “cineclubismo
do bom filme”, base da cinefilia elitista e dos cineclubes católicos até <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pouco mais da metade do século passado. Mas
não se trata de <i>escolher os filmes</i> para o público (ainda mais que
atualmente praticamente todo conteúdo pode ser visto, acessado de alguma
maneira), mas de <i>organizar o público</i> para que ele se expresse no campo
do audiovisual. Em vez de curadorias de filmes “difíceis”, incomuns – que
geralmente apenas organiza o gosto dos próprios promotores da iniciativa – é o
público que deve escolher a programação. E isso não é uma utopia: não existe
essa diferença, verdadeira hierarquia, entre filmes de difícil acesso,
incomuns, filmes melhores ou piores. Não tem fundamento essa pretensão de
ensinar o público, “alfabetizar o olhar” de quem já nasceu num universo de
conteúdos audiovisuais. <i>O que existe é o público</i>, o contexto, a
experiência deste. Criado o ambiente, o hábito, dentro das necessidades e
habilidades desenvolvidas pelo coletivo, qualquer filme pode ser passado e
debatido, e apreciado por toda uma comunidade. <i>O filme é secundário</i>. Para
um cineclubismo do público é necessária a organização, a associação. Mas
cineclube é ainda muito mais do que isso. Tal como os primeiros cineclubes, e
os cineclubes proletários que se seguiram, o objetivo maior da organização do
público é a sua capacidade de se expressar. Mas não na dimensão burguesa da
cinefilia, do filme de autor, e sim de todas as formas de expressão audiovisual
que integrem a comunidade e ajudem a construir o poder popular futuro. Não
apenas filmes – entendidos como narrativas lineares (ou mesmo mais “inventivas”)
– mas reportagens, depoimentos, debates (que as “lives” já prenunciam), as transmissões
de espetáculos diversos – culturais, esportivos, políticos -, de acontecimentos
da comunidade, de um <i>tele</i> ou <i>videojornalismo</i> do ponto de vista do
povo, de séries e novelas ambientadas nas classes e ambientes populares, com
roteiro e produção construídos coletivamente...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Uma política de Estado construída
sem a participação e da pressão da população será sempre incompleta, quando não
apenas ineficiente. Ou mesmo oportunista e de cooptação. Por isso é
indispensável compreender essa nova legislação – <i>potencialmente</i> de
alcance sem precedentes – e <i>ocupar</i>, crítica e ativamente, os espaços
sociais, culturais e políticos que ela pode facilitar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Gustavo e Blanc: u</span><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">ma d</span></b><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>ecupagem</b><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn9" name="_ednref9" style="mso-endnote-id: edn9;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[ix]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Lei Paulo Gustavo <o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p><b> </b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A chamada lei Paulo Gustavo não
cria uma nova política de cultura, que é o queremos discutir aqui. Examiná-la
se presta mais a revelar certos vícios que contaminam as próprias concepções de
cultura que circulam nos meios ditos políticos do Brasil. Isso tem importância
para a análise, que se seguirá, da Política Nacional Aldir Blanc.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A lei Paulo Gustavo se define como uma <i>medida
emergencial</i>. Proposta como um conjunto de ações em tempos de pandemia, irá
vigorar apenas nos últimos meses de 2022 (paradoxalmente já um tanto fora desse
contexto pandêmico). Mais que isso, como mais de 70% (2,797 bilhões) dos seus
recursos são destinados ao audiovisual - esse termo bastante impreciso – e,
desses quase três bilhões, outros 70% (1,957 bilhão) irão <i>diretamente</i> à
produção de cinema, o caráter <i>emergencial </i>da medida consiste, na
verdade, na recuperação dos recursos perdidos pela produção cinematográfica
brasileira<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn10" name="_ednref10" style="mso-endnote-id: edn10;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[x]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
durante o atual desgoverno. Não se trata de comunidade, mas de mercado – que
também é importante para a cultura nesta fase. Uma quantia menor, apensa a
esses recursos para o “audiovisual”, tem menos interesse para nós: é um projeto
imediatista, “uma verba a ser aproveitada”, como já dissemos, mas sem
perspectiva de continuidade. E, pior que isso, essa parte da Lei exclui os cineclubes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esses outros recursos (1,65
bilhão) irão para os setores que <i>não sejam</i> audiovisuais, conforme o
parágrafo terceiro do Art. 8º da Lei: <i>É vedada a utilização dos recursos
previstos neste artigo para a realização de ações voltadas ao setor audiovisual
nos termos do art. 5º</i>. O tal do artigo 5º, na verdade, traz a relação de
valores (do total de 3,862 bilhões) para cada atividade, e remete ao artigo 6º,
que é importante destacar aqui para os nossos objetivos cineclubistas. O artigo
6º lista as <i>ações emergenciais </i>que deverão ser apoiadas. Juntando os
dois (5º e 6º) para nossa contribuição, as áreas e valores são:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">I –
o apoio a produções audiovisuais, de forma exclusiva ou em complemento a outras
formas de financiamento, inclusive aquelas com origem em recursos públicos ou
financiamento estrangeiro </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(1.957 bilhão)<i>; <o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">II –
o apoio <a name="_Hlk111801278">a reformas, restauros, manutenção e
funcionamento de salas de cinema</a>, incluindo a adequação a protocolos
sanitários relativos à pandemia da covid-19, sejam elas públicas ou privadas,
bem como cinemas de rua e cinemas itinerantes </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(447,5 milhões)<i>;
<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">III
– a capacitação, a formação e a qualificação no audiovisual, o <u>apoio a
cineclubes</u></span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <i>e à realização de festivais e mostras de produções
audiovisuais, preferencialmente por meio digital, bem como a realização de
rodadas de negócios para o setor audiovisual, para a memória, a preservação e a
digitalização de obras ou acervos audiovisuais, ou ainda o apoio a
observatórios, publicações especializadas e pesquisas sobre audiovisual e ao
desenvolvimento de cidades de locação </i>(224,7 milhões)<i>; e <o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">IV –
o apoio às micro e pequenas empresas do setor audiovisual, aos serviços
independentes de vídeo por demanda cujo catálogo de obras seja composto por
pelo menos 70% (setenta por cento) de produções nacionais, ao licenciamento de
produções audiovisuais nacionais para exibição em TVs públicas e à distribuição
de produções audiovisuais nacionais </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(167,8 milhões)<i>.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas tem mais: 1,65 bilhão, como já dissemos, vai para
setores não audiovisuais. E aí fica clara uma das grandes confusões que
enxarcam essa legislação – e remetem a um problema central dos cineclubes. Se
não atuarmos com firmeza nas frentes políticas locais de negociação dos nossos
projetos, essa confusão vai nos prejudicar bastante. Voltaremos a isso no item
“Análise da PNAB”, mas aqui já indicamos que este trecho da lei,
paradoxalmente, sugere que várias dessas ações <i>não audiovisuais </i>sejam
promovidas através da internet e gravadas. Os cineclubes estão na parte do
audiovisual (item III do parágrafo 5º.), e expressamente vetados aqui, mas
poderiam muito bem ser compreendidos dentro desta seção da Lei, que visa:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">I – o apoio ao
desenvolvimento de atividades de economia criativa e de economia solidária; <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">II – o apoio,
de forma exclusiva ou em complemento a outras formas de financiamento, a
agentes, iniciativas, cursos ou produções ou a manifestações culturais, incluindo
a realização de atividades artísticas e culturais que possam ser transmitidas
pela internet ou disponibilizadas por meio de redes sociais e outras
plataformas digitais e a circulação de atividades artísticas e culturais já
existentes; ou III – o desenvolvimento de espaços artísticos e culturais,
microempreendedores individuais, microempresas e pequenas empresas culturais,
cooperativas, instituições e organizações culturais comunitárias que tiveram as
suas atividades interrompidas por força das medidas de isolamento social para
enfrentamento da pandemia da covid-19.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Desta forma, e como a Lei <i>induz
</i>e determina<i> </i>o entendimento dos <i>cineclubes como parte do segmento
dito audiovisual, </i>só estaríamos aptos a demandar recursos no valor de 224,7
milhões, divididos entre os estados e municípios e com as outras atividades
previstas nesse item: festivais, formação e outras. No fim seguramente não será
muita coisa. E mais: os cineclubes também não estariam inclusos no apoio <i>a “reformas,
restauros, manutenção e funcionamento de salas de cinema...” </i>nem “<i>cinemas
itinerantes</i>” (item II do art. 6º). Pela leitura usual dos proponentes da
Lei e seus aplicadores, os cineclubes tendem a ser apenas aquelas sessões com pouca
estrutura, conforto ou sistematicidade: estão confinados no item III do artigo
em referência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, como os recursos serão
geridos entre os estados e os municípios (50% para cada nível) os cineclubes
podem tentar exercer uma pressão social e política maior nessas instâncias –
sobretudo em seus municípios – e, dessa forma, argumentar que também se
qualificam para os dois itens do art. 6º e para os três subitens referentes a
atividades não audiovisuais...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os demais artigos da Lei Paulo
Gustavo descrevem genericamente seus objetivos, fontes de recursos e outros
temas que não levantam questões mais discutíveis aqui no nosso escopo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>A Política Nacional Aldir Blanc</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Aqui é que está o mais importante</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">. Como o nome já indica, não se trata de uma lei com
duração determinada, emergencial como foi a Lei Aldir Blanc original e é a Lei
Paulo Gustavo. Agora trata-se de uma política de Estado, só que proposta e
deliberada no plano do Congresso, do poder Legislativo, ao contrário das
iniciativas em governos anteriores, em que as propostas vinham do poder
Executivo, no âmbito do antigo ministério da Cultura. A razão dessa mudança é a
inação ou combate mesmo à cultura por parte do desgoverno atual.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essa condição tem um significado e
um resultado muito especiais: como o governo federal é francamente hostil à
cultura, essas últimas leis passaram praticamente toda a administração final dos
recursos para os estados e municípios. No caso da Política Nacional Aldir
Blanc, fez-se isso com um programa que passa a constituir uma política
permanente, gerida sobretudo pelos estados e municípios. Isso é de importância
fundamental, mas trataremos disso um pouco mais adiante. Antes, o que a nova
legislação prevê:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Primeiro, serão 3 bilhões no
primeiro ano, corrigidos pela variação do PIB nos anos posteriores. Segundo,
conforme o art. 5º, esses recursos serão usados para apoiar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">I - fomento,
produção e difusão de obras de caráter artístico e cultural, inclusive a
remuneração de direitos autorais;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">II - realização
de projetos, tais como exposições, festivais, festas populares, feiras e
espetáculos, no País e no exterior, inclusive a cobertura de despesas com
transporte e seguro de objetos de valor cultural;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">III - concessão
de prêmios mediante seleções públicas;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">IV - instalação
e manutenção de cursos para formar, especializar e profissionalizar agentes
culturais públicos e privados;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">V - realização
de levantamentos, de estudos, de pesquisas e de curadorias nas diversas áreas
da cultura;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">VI - realização
de inventários e concessão de incentivos para as manifestações culturais
brasileiras que estejam em risco de extinção;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">VII - concessão
de bolsas de estudo, de pesquisa, de criação, de trabalho e de residência
artística, no País ou no exterior, a artistas, a produtores, a autores, a
gestores culturais, a pesquisadores e a técnicos brasileiros ou estrangeiros
residentes no País ou vinculados à cultura brasileira;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">VIII -
aquisição de bens culturais e obras de arte para distribuição pública e outras
formas de expressão artística e de ingressos para eventos artísticos;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">IX - aquisição,
preservação, organização, digitalização e outras formas de promoção e de
difusão do patrimônio cultural, inclusive acervos, arquivos, coleções e ações
de educação patrimonial;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">X - construção,
formação, organização, manutenção e ampliação de museus, de bibliotecas, de
centros culturais, de cinematecas, de teatros, de territórios arqueológicos e
de paisagens culturais, além de outros equipamentos culturais e obras
artísticas em espaço público;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XI - elaboração
de planos anuais e plurianuais de instituições e grupos culturais, inclusive a
digitalização de acervos, de arquivos e de coleções, bem como a produção de
conteúdos digitais, de jogos eletrônicos e de videoarte, e o fomento à cultura
digital;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XII - aquisição
de imóveis tombados com a estrita finalidade de instalação de equipamentos
culturais de acesso público;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XIII -
manutenção de grupos, de companhias, de orquestras e de corpos artísticos
estáveis, inclusive processos de produção e pesquisa continuada de linguagens
artísticas;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XIV - proteção
e preservação do patrimônio cultural imaterial, inclusive os bens registrados e
salvaguardados e as demais expressões e modos de vida de povos e comunidades
tradicionais;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XV - realização
de intercâmbio cultural, nacional ou internacional;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XVI - ações,
projetos, políticas e programas públicos de cultura previstos nos planos de
cultura dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XVII - serviço
educativo de museus, de centros culturais, de teatros, de cinemas e de
bibliotecas, inclusive formação de público na educação básica;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="color: black; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-CA;">XVIII - apoio a
projetos culturais não previstos nos incisos I a XVII deste <b>caput</b> considerados
relevantes em sua dimensão cultural e com predominante interesse público, conforme
critérios de avaliação estabelecidos pelas autoridades competentes dos Estados,
dos Municípios e do Distrito Federal.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O item XVIII resume bem: ao fim e
ao cabo, tudo que puder ser considerado como cultural e de interesse público
(em outro momento o texto indica que essa avaliação caberá aos estados e
municípios) poderá ser incentivado e receber os recursos previstos anualmente. Os
cineclubes poderão negociar, nos estados e municípios, de forma livre e
criativa (ver na sequência, “Análise da PNAB”) os diferentes tipos de projetos
que poderão apresentar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Aqui já não há a divisão entre o
que é audiovisual ou não. Essa distinção provavelmente se deveu originalmente à
separação de funções entre a Ancine (que gere os recursos para a indústria
audiovisual) e o antigo ministério, hoje reduzido a uma repartição do Turismo,
que deveria tratar do “estritamente cultural” (mas mesmo naquela época, os
cineclubes estavam sob a égide da SAV - Secretaria do Audiovisual -, no
ministério). A Política Nacional Aldir Blanc meio que supõe uma breve superação
do estado anômico de coisas em que estamos. Mas, ainda que seja bastante
provável a recriação do ministério da Cultura em um próximo governo, essa
legislação voltada para estados e municípios deverá ser mantida: é lei.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Política Nacional Aldir Blanc
(que passaremos a abreviar como PNAB) é de uma importância única. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Análise da PNAB</span><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Políticas e cultura<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p><b> </b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Há muitos sentidos possíveis para
a palavra política, tal como para o termo cultura. Num sentido mais restrito,
tanto a PNAB como a legislação que a precedeu (Gustavo e Blanc 1), representam
genericamente uma conquista progressista muito surpreendente diante e dentro do
ambiente conservador e oportunista da maior parte do Congresso, e o pior, do
fascismo instalado nos diversos níveis, até o mais alto, do Executivo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Há algumas hipóteses para que isso
tenha acontecido. Em primeiro lugar, os partidos e seus representantes no
Parlamento pouco ou nada sabem de cultura<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn11" name="_ednref11" style="mso-endnote-id: edn11;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[xi]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> e/ou
têm interesse nela (com exceção de parte do PT e do PCdoB, que têm propostas
concretas para esse campo desde o primeiro governo Lula, e de outros poucos
casos individuais isolados, dispersos em alguns partidos). No caso da Aldir Blanc
1, a maioria dos parlamentares, provavelmente sem ler direito a proposta, viu
no projeto uma medida anódina para eles e simpática aos eleitores; o texto deve
ter passado mais ou menos da mesma forma pelos estafermos do Executivo. Já nas
propostas da Paulo Gustavo e da PNAB houve um trabalho da sua tropa parlamentar
para que o chefe do Executivo vetasse as duas. De volta ao Congresso,
possivelmente pelo mesmo processo anterior, com a presença de vários artistas e
personalidades da indústria do entretenimento trabalhando pela derrubada dos
vetos, eles foram revistos com grande votação (praticamente unânime no Senado e
com forte maioria na Câmara). Cerca de 40 deputados bolsonaristas, no entanto,
votaram pela manutenção dos vetos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Num sentido mais ambicioso, uma
política para a cultura procura entender, integrar e estimular uma cultura
ampla, representativa, diversa. Isto está principalmente contemplado na PNAB,
de efeitos mais duradouros, sobretudo em seu campo social e em seus objetivos:
nos primeiros 5 artigos. Os artigos 6º a 8º definem valores e formas de aplicação;
um destaque importante é que o art. 7º, inciso I, alínea b, e o art. 9º incluem
aluguéis para a manutenção de <i>espaços culturais</i>; o art. 9º indica as
medidas da legitimidade (além da manutenção de atividades regulares) desses <i>espaços</i>:
são as formas públicas de cadastro, da esfera municipal à federal, mas exclui
os cartórios, onde esse “cadastro” teria que ser de uma associação, com ou sem
fins lucrativos. O art. 10º, item XXIV confirma isso, definindo o que é espaço
cultural: basicamente <i>qualquer iniciativa que tenha sido cadastrada</i> nos
termos do artigo. O artigo 10º elenca diversos exemplos, inclusive cineclubes
(item V) do que são <i>espaços, ambientes e iniciativas artístico-culturais</i>,
resumindo, ao final, que tudo que for cadastrado pode ser aceito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Antes disso, porém, art. 10 define
o que sejam esses espaços, ambientes e iniciativas:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(são) <i>aqueles
organizados e mantidos por pessoas, organizações da sociedade civil,
microempresas culturais, organizações culturais comunitárias, cooperativas com
finalidade cultural e instituições culturais sem fins lucrativos que tenham
pelo menos 2 (dois) anos de funcionamento regular comprovado e que se dediquem
a realizar atividades artísticas e culturais...<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A PNAB mantém, assim,
indiscriminadamente, a legitimidade de iniciativas individuais e mesmo
comerciais. Os demais artigos da PNAB (são 17 no total) tratam de aspectos mais
administrativos – fontes e tratamento dos recursos pelos órgãos públicos,
prestação de contas, etc. - da nova política.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A PNAB deve se inserir tanto no
Sistema Nacional quanto no Plano Nacional de Cultura, já que estes são
dispositivos constitucionais para a gestão cultural do País. O atual governo
abandonou esses dispositivos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn12" name="_ednref12" style="mso-endnote-id: edn12;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[xii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>;
mais que isso, sua prática foi de destruição de estruturas e políticas no campo
cultural. Nessa conjuntura, as três leis mencionadas neste texto propuseram
estados e municípios como executores, afastando a atuação das esferas federais,
mortalmente contaminadas. Essa mudança de enfoque, ainda que sobretudo
conjuntural, constitui justamente o aspecto mais importante da PNAB. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esta lei, mais especificamente,
foi proposta por três parlamentares do PCdoB. Sua elaboração e sua base social,
no entanto, está ligada a um movimento mais amplo, que inclui também pessoal
ligado às gestões de Juca Ferreira no ministério da Cultura e a outros grupos
da área cultural, como a organização Fora do Eixo. A experiência pública desse
grupo foi fundamentalmente o programa Cultura Viva (e no campo do cineclubismo,
o Cine Mais Cultura). Sua perspectiva era a do governo central, ancorada no
Sistema Nacional de Cultura - SNC. De fato, ainda que este último definisse as
três esferas como responsáveis pela política nacional de cultura, sua
experiência concreta foi sobretudo baseada na centralidade do governo federal
de então e na força dos partidos políticos e dos grupos já mencionados que o
apoiavam com sua militância nos patamares estaduais e municipais com a
organização das Conferências de Cultura nos três níveis institucionais. Uma
quarta Conferência Nacional (desde 2005 foram três) está prevista para
dezembro, mas agora organizada exclusivamente com essa base, no âmbito do
Congresso, e participação de alguns políticos e organizações de estados e
municípios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">É indiscutível que esse conjunto
de partidos e grupos foi o maior responsável pela proposição das três leis. Mas
é também muito provável que possam reproduzir os vícios presentes na sua
experiência anterior no governo. Para os cineclubes especificamente, como
vimos, isso não foi bom. A força política desse grupo é inegável e, segundo o
raciocínio já exposto, na ausência de outras visões e propostas, poderá possivelmente
ser a base da política cultural de um provável governo Lula de reconstrução do
País. Por outro lado, obrigada pelas circunstâncias a, de fato, passar a gestão
dessa política para as esferas estaduais e municipais, este novo formato provoca
um novo nível de permeabilidade e de inclusão democrática, de capilaridade e de
diversidade, de suscetibilidade às demandas e pressões das comunidades locais.
Nesse sentido, a PNAB reintroduz, sob novas perspectivas, um certo sentido
original do SNC, apontando para o empoderamento – pela responsabilização
política e financeira sobre os recursos – de municípios e estados,
reconstruindo (e ampliando) a pirâmide do Sistema de baixo para cima, e não de
cima para baixo como foi de fato. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Riscos inerentes e oportunidades possíveis<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Os problemas</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Da mesma forma que a capilarização
dos recursos da PNAB concorre para sua maior abertura a demandas das diferentes
comunidades, também a coloca, em boa medida, sob o poder discricionário de
autoridades locais e sujeita, eventualmente, à troca de favores e vantagens. Esse
<i>embate entre comunidade organizada e poder institucional</i> é passível de
ser muito mais equilibrado no plano dos municípios, até mesmo dos maiores, e
das instituições estaduais. Num certo sentido, <i>essa disputa estimula a
sociedade civil a se organizar</i>. Ou, por outro lado, propicia o
favorecimento e corrupção de agentes envolvidos em sua aplicação. Essa espécie
de dilema político será o fator mais decisivo na orientação da aplicação desses
recursos e do seu comprometimento, ou não, com as necessidades e interesses das
comunidades. O grande, o maior risco, então, é a incapacidade da comunidade, do
público do cineclube de se organizar e, corolário disso, não lutar pelos seus
interesses e direitos. Isso já aconteceu quando dos programas Cultura Viva e
Cine Mais Cultura, questão que está diretamente ligada à desorganização do
cineclubismo brasileiro como movimento social e cultural expressivo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Há outros riscos, no entanto, que
vêm já de uma certa tradição de burocratização da cultura que foi
paulatinamente se introduzindo desde a Constituição de 1988. Burocratas, rábulas,
empresários e outros interesses degradaram vários aspectos dos exercícios da
cultura – que são justamente os objetos dessas políticas públicas –
complicando, dificultando e muitas vezes diretamente prejudicando a realização
de suas finalidades. Criou-se uma certa doxa jurídica, um senso comum legal sem
efetiva base ético-jurídica (mas com forte influência ideológica liberal) que
há já algum tempo passou a integrar os textos legais nesse campo. A lei Paulo
Gustavo e a PNAB não constituem exceções. Os cineclubes não são os únicos, mas
têm sido bastante prejudicados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Primeiro risco</span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> - Os cineclubes, em suas origens sociais proletárias
e, institucionalmente, pelas deliberações de suas entidades representativas
nacionais e mundial, definem-se como <i>organizações do público</i>. Isso quer
dizer que são instituições políticas de base comunitária (mesmo que a sua
comunidade não seja territorial, mas de classe, etnia, gênero ou outra). Seu
instrumento de atuação é o audiovisual, mas sua organização é comunitária. Esta
questão não é “teórica”, ou formal, mas fundamental e bem prática. Assim,
quando a lei Paulo Gustavo, por exemplo (há vários outros) enquadra o cineclube
como parte do setor audiovisual e lhe empresta certas atribuições,
intrinsecamente lhe retira outras, excluindo-o de outros benefícios da mesma
lei. No caso, os cineclubes devem dividir recursos relativamente menores (224,7
milhões, item III do art. 6º) com várias atividades de exibição (e a algumas
caberia o mesmo raciocínio), estando, dessa forma, excluídos do valor bem maior
de 1,65 bilhão, que cobre uma infinidade de atividades – muitas das quais
praticadas por cineclubes –, mas que são definidas como não audiovisuais. A
questão, no entanto, pode ser negociada – no sentido estritamente político da
palavra – quando sujeita à, enfim, luta de classes nos planos municipal e
estadual. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como já dissemos, cineclubes não
são entidades cinematográficas ou audiovisuais, mas <i>organizações do público</i>
nesse campo. O contrário é um pouco como dizer que sindicatos são entidades da
indústria ou do comércio, e não dos trabalhadores, ou que os movimentos
camponeses são parte de um grande agronegócio...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Segundo risco </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– Há uma forte contaminação ideológica na compreensão
e no trato com organizações culturais de base comunitária. Dagnino<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn13" name="_ednref13" style="mso-endnote-id: edn13;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[xiii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
já identificava o fenômeno de apropriação e ressignificação de vários conceitos,
sob um prisma liberal, nos governos FHC (seu texto é de 2004), mas isso
continuou sem interrupção, de fato de forma crescente, nos governos seguintes,
espalhando-se por outras esferas. A autora fala de sociedade civil, cidadania,
participação, esvaziados de seu conteúdo democrático e progressista, mas
podíamos lembrar também de <i>empreendedorismo</i>, a ação empresarial
individual, termo que passou a ser empregado como sinônimo geral de <i>iniciativa</i>.
Da mesma forma, empresas (comerciais, privadas, lucrativas) passaram não apenas
a ocupar papéis de iniciativas comunitárias, coletivas, democráticas, sem fins
lucrativos, mas até mesmo a receber exclusividade em alguns desses papéis e
espaços, expulsando a atividade cultural típica. Um exemplo claro são os
programas de estímulo à criação, reforma ou equipamento de espaços de exibição
audiovisual (salas de cinema em sentido amplo), restritos a empreendedores
individuais ou empresas e até mesmo grandes circuitos comercias de exibição, e
vedados a cineclubes. Isso está consignado, em termos gerais, no art.10º da
PNAB.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Terceiro risco </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– No mesmo sentido, criou-se um <i>hábito e um cânone da
gratuidade</i>. Dessa forma, atividades culturais não poderiam gerar recursos
(apesar do paradoxo evidente da ideia de economia criativa, de que já falamos),
mas apenas recebê-los do Estado ou da “iniciativa privada (empreendedorismo?)”,
geralmente através da renúncia fiscal do mesmo Estado. Já falamos muito, em
outros textos, sobre isso: essencialmente, a questão da finalidade lucrativa se
refere não à produção de resultados econômicos, mas à forma de apropriação
destes. Uma empresa comercial (que não deveria receber recursos públicos exceto
em certas situações muito precisas) é aquela em que um indivíduo ou um grupo de
sócios recebem os resultados econômicos e os aplicam a seu exclusivo critério,
inclusive e frequentemente para seu benefício exclusivamente pessoal. Em uma
entidade sem fins lucrativos, os resultados têm que ser aplicados em seus
objetivos, definidos estatutária ou regimentalmente, sem que nenhum associado
possa individualmente dispor ou se beneficiar com eles. Excluir ou dificultar a
possibilidade de que organizações comunitárias possam gerar recursos as
prejudica enormemente, frequentemente as inviabilizando. É o grande paradoxo do
programa Cultura Viva: previa investimentos de três anos, uma massagem indutora
de autonomia, que só poderia resultar em fortalecimento e perenização se as
entidades passassem a produzir a sua independência econômica. Outro exemplo: quando
este autor propôs o texto do que viria a ser a Instrução Normativa 63 da Ancine<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn14" name="_ednref14" style="mso-endnote-id: edn14;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[xiv]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
sobre cineclubes, a redação ficou meses em discussão pelos advogados do
ministério, que queriam que constasse a obrigação de gratuidade das atividades,
ou então que seu valor fosse definido pelo texto legal. No final, redigiram uma
Instrução pífia, optativa (uma determinação legal optativa!). Claro, ela praticamente
nunca foi aplicada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Quarto risco </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– Individualização da atividade cultural. A própria
ditadura militar (a original, não o pastiche de hoje) não havia mexido nas
bases tradicionais que se referiam às atividades culturais de base comunitária
e não comerciais. Tomando os cineclubes, por exemplo. A iniciativa devia ser
coletiva. Um representante, dito “legal”, mas na verdade político, pois devia
ser eleito, levava ao cartório local os estatutos deliberados por uma maioria
qualificada de associados e os registrava. Isso dava existência legal à entidade
e a qualificava para qualquer programa público. Como entidade sem fins
lucrativos, como parece óbvio, o cineclube era imune a qualquer tributo, exceto
os referentes a direitos trabalhistas, caso houvesse. Se uma entidade morresse
sem patrimônio nem dívidas – como aconteceu no final dos anos 60 com o Conselho
Nacional de Cineclubes (CNC) – uma nova assembleia legitimamente organizada e
uma nova direção eleita democraticamente (as atas assinadas eram os votos
auditáveis de então) puderam reorganizar a entidade legalmente, alguns anos
depois (em 1973). Como a constituição dos cineclubes e outras entidades, bem
como a deliberação de seus programas, são atos políticos, apenas alguns poucos
itens eram obrigatórios no registro: endereço, pessoas e/ou entidades
participantes e eleitas, formas de procedimento adotadas internamente, medidas
em caso de extinção e outros poucos detalhes. Em 2004, ao tentar proceder da
mesma forma numa outra situação de reorganização do CNC, após uma assembleia e
eleição legítimas, foi exigido o pagamento de taxas para cada ano em que a
entidade esteve inativa (foram 15 anos) – o que era proibitivo. Impostos sobre
a inatividade, taxas sobre a inexistência! Fora os emolumentos para o registro
propriamente. Também era agora necessário contratar um advogado para apresentar
as atas – que já haviam sido produzidas na assembleia – e prever um contador
para o registro da contabilidade da entidade. A entidade nacional dos
cineclubes brasileiros teve, então, de alterar sua denominação, de larga
tradição histórica, para iludir as tais taxas de 15 anos; as outras exigências
foram resolvidas com a colaboração de amigos. Poucos anos depois, no entanto, o
CNC já não conseguia atender a essa burocracia toda e caiu numa forma de
ilegalidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essas taxas, emolumentos e
impostos, rábulas e guarda-livros tornaram muito difícil o registro e
documentação das organizações comunitárias. Como os governos responderam a
isso? Voltando aos controles sociais tradicionais, existentes, muito mais
simples e baratos? Facilitando de alguma maneira a burocracia? Não, o Estado
passou a <i>legitimar a informalidade</i>, tornando a pessoa física, o
indivíduo, como <i>responsável autodeclarado</i> que representa a comunidade.
Foi um golpe mortal na organização social no plano das comunidades. Todo um
arsenal de medidas e programas de políticas públicas - editais, chamadas
públicas, prêmios, entre outros – passaram a dirigir-se ao, e mesmo a
privilegiar o <i>proponente individual</i>: um especialista (ou seu
contratante) no preenchimento de formulários e organização de orçamentos que, gradual,
mas rapidamente, foi substituindo a iniciativa coletiva, democrática,
participativa, comunitária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Isso está bem
claro nas duas leis de que falamos aqui, onde <i>espaço cultural </i>finalmente
substituiu a ideia de <i>organização</i> do povo, do público, da comunidade. E
uma sucessão de <i>cadastros</i> teve de ser criada – ou virão ainda a ser –
para incluir todos esses casos: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Cadastros
Estaduais de Cultura, Cadastros Municipais de Cultura, Cadastro Distrital de
Cultura, Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de Cultura, Cadastros Estaduais
de Pontos e Pontões de Cultura, Sistema Nacional de Informações e Indicadores
Culturais (Sniic) e Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro
(Sicab)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e outros cadastros referentes a
atividades culturais existentes na unidade da Federação, bem como projetos
culturais apoiados nos termos da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, nos
24 (vinte e quatro) meses imediatamente anteriores à data de publicação desta
Lei</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> (art. 9º da PAB). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A mesma lei já prevê, para facilitar, que “<i>§ 2º:
Serão adotadas as medidas cabíveis, por cada ente federativo, para garantir, <u>preferencialmente
de modo não presencial</u></i>,<i> inclusões e alterações nos cadastros, <u>de
forma auto declaratória</u> e documental</i>,<i> que comprovem funcionamento
regular”. </i>Tudo começou com burocracia, mas resolve-se com uma representação
“preferencialmente não presencial” e “autodeclaratória” do que deveria ser a
comunidade. É um campo aberto, talvez fértil, para a prática da corrupção, em
nível municipal principalmente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Por último, é preciso mencionar o
absurdo que é a cobrança de impostos sobre projetos incentivados com recursos
públicos e onde não existe a figura do lucro. A atividade cultural sem fins
lucrativos sempre foi imune do ponto de vista tributário. O Cineclube Bixiga, o
Oscarito ou o Elétrico Cineclube, por exemplo, entidades sem fins lucrativos
regularmente constituídas (anos 80 e 90), tinham públicos de milhares de
pessoas por mês; esse público pagava uma <i>taxa de manutenção</i> (para
distinguir da entrada ou ingresso comercial) e os cineclubes nunca pagaram
impostos (ou recolheram “direitos autorais” ao ECAD, diga-se de passagem),
exceto os direitos trabalhistas de uma parte de suas equipes que era remunerada.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esses são alguns dos problemas que
ainda estão presentes na legislação e que constituem apenas uma parte das
questões e das reivindicações que as <i>organizações culturais comunitárias</i>
– não abstratos, impessoais <i>espaços culturais</i> – precisarão enfrentar. Mas
as oportunidades que se oferecem com essas novas leis, especialmente com a PAB,
e com a diversificação das iniciativas e diálogos políticos nas esferas
estaduais e municipais são inéditas e promissoras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>As oportunidades<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p><b> </b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Art. 5º da PNAB define o objeto
da nova política em 18 itens. A análise desses itens aponta para a grande
oportunidade de se <i>construir uma ampla sociedade civil de base cultural
comunitária</i>, de forma <i>sistemática e permanente</i>. Vamos elencar as
possibilidades, que são interligadas, cumulativas:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Primeira possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– O fato de ser uma política e não um programa,
estabelece que sua aplicação será anual, de duração indeterminada. Ela indica,
assim, a possibilidade de construção paulatina, crescente, sistemática, e
portanto planejada, de um projeto cultural da comunidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Segunda possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– Os itens X (<i>construção, formação, organização,
manutenção e ampliação de museus, bibliotecas, centros culturais, cinematecas,
teatros, territórios arqueológicos e de paisagem cultural, além de <u>outros
equipamentos culturais</u> e obras artísticas em espaço </i>público) e XII (<i>aquisição
de imóveis tombados com a estrita finalidade de instalação de equipamentos
culturais de acesso público</i>) incluem na legislação um aspecto inédito e
absolutamente necessário, na verdade indispensável para a consolidação de uma
instituição popular e comunitária forte e ativa: a possibilidade de <i>ter uma
sede</i>. Junto com o item XI, ao qual voltaremos, também abre a perspectiva de
<i>planejar e organizar</i></span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">o
alcance e o desenvolvimento das atividades que a entidade deve realizar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No caso dos cineclubes, uma sede
pode envolver algumas salas de tamanho variado para exibição de conteúdos
audiovisuais, mas também espaços para a produção técnica e para a difusão de
conteúdos (para exibição nos locais próprios ou nos espaços virtuais) e para o
arquivamento de materiais que preservem a memória e identidade da comunidade.
Além disso, como todos sabem, há que se prever a existência de um espaço de
consumo e comemoração coletivos, com comidas e bebidas, além de algum espaço
expositivo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Terceira possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– O primeiro item do artigo é evidente: <i>fomento,
produção e difusão de obras de caráter artístico e cultural</i>. De certa
forma, descreve o que hoje se entende, de forma mais ou menos restrita, como
atribuição dos cineclubes, incluindo a produção. Há, contudo, um contrassenso
(um dos vícios a que já nos referimos): o item prevê o pagamento de direitos
autorais, o que não existe quando a atividade não tem fins lucrativos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Quarta possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– O item II, de forma bem abrangente – inclui gastos
com transporte e até seguro (outro item assegura a possibilidade de pagamento
de estadias também) – estimula os cineclubes a praticar uma atividade de certa
forma complementar, mas historicamente ligada às atividades culturais
comunitárias, incluindo os cineclubes: <i>realização de projetos, tais como
exposições, festivais, festas populares, feiras e espetáculos</i>. O item ainda
inclui a realização dessas iniciativas <i>no País e no exterior.</i> Estas
atividades têm um papel fundamental também na identificação do cineclube com
sua comunidade e seu enraizamento nela. Além disso, são igualmente muito úteis
na promoção da sustentabilidade econômica da entidade (seja através de ingressos
ou da renda de comidas e bebidas, entre outras possibilidades)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Quinta possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– O item IX<i> - aquisição, preservação, organização,
digitalização e outras formas de difusão de acervos, arquivos e coleções</i>,
complementado com os itens XI e XIV, fortalecem a perspectiva do trabalho de
arquivo, preservação e disponibilização de materiais que devem integrar um
plano plurianual de organização e manutenção de uma <i>instituição audiovisual
da comunidade</i>, isto é, de um cineclube dos tempos atuais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sexta possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– O item XI, já mencionado, é de extrema importância
no sentido dessa <i>atualização</i> do conceito, do projeto e das propostas de
um cineclube integrado ao nosso tempo – e à comunidade, como à maioria da
população: <i>elaboração de planos anuais e plurianuais de instituições e
grupos culturais, incluindo a digitalização de acervos, arquivos e coleções,
bem como a produção de conteúdos digitais, jogos eletrônicos, vídeo-arte, e o
fomento à cultura digital. </i>Este item reúne e resume três pontos
fundamentais: planificação a médio e longo prazo, conquistada junto às
administrações municipais e/ou estaduais; a organização de arquivos e a
produção e desenvolvimento de conteúdos audiovisuais, dentre os quais os jogos
eletrônicos são muito oportunamente lembrados. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sétima possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– Os itens IV, V, VI, VII e XVII estimulam e criam a
oportunidade de desenvolvimento de um plano mais duradouro e de projetos
diversificados de formação, educação e pesquisa, aspectos que, na perspectiva
de organização de um cineclube com muito fôlego, representatividade e
enraizamento na comunidade, são essenciais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Oitava possibilidade </span></b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">– Outro aspecto inédito desta PNAB está implícito no
item XV -<i> realização de intercâmbio cultural, nacional ou internacional</i>.
Ele abre a possibilidade de realização de encontros diversos, de trabalho, de natureza
educativa ou até política, indispensáveis para a <i>organização de uma efetiva
rede de cineclubes e de entidades representativas nos níveis regional,
estadual, nacional e internacional</i>. Difícil salientar suficientemente a
importância desse item, considerando a realidade de um movimento cineclubista
que não consegue se encontrar, realizar reuniões em qualquer nível, e
sobretudo, em qualquer prazo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn15" name="_ednref15" style="mso-endnote-id: edn15;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[xv]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os outros itens são positivos
também, mas não trazem grandes inovações ou especial interesse para os cineclubes.
O item XVIII, no entanto, que é o último, resume muito bem as possibilidades
abertas pela nova PAB: <i>apoio a projetos culturais não previstos nos incisos
I a XVII e considerados relevantes em sua dimensão cultural e predominante
interesse público, conforme critérios de avaliação estabelecidos pelos estados,
municípios e o Distrito Federal. </i>Em outras palavras: tudo o que for
cultural e importante – definição que será obtida pela negociação com as
autoridades estaduais e municipais – pode ser proposto e realizado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><b>Conclusão</b></span><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Com muitos defeitos (mais
evidentes, mas não exclusivamente, na Lei Paulo Gustavo), sobretudo uma
concepção difusa do papel do Estado como organizador e orientador das
atividades culturais – e não um simples apoiador e impulsionador -, e uma recorrente
presença de elementos do mercado, que privilegiam as empresas, o
empreendedorismo e outros valores ditos neoliberais (isto é, que promovem a
organização capitalista da sociedade), as novas leis do Congresso – <i>especialmente
a PNAB</i> – são muito positivas para a ação cultural no plano comunitário, fundamentalmente
– mas não apenas - por passarem aos estados e municípios as responsabilidades e
iniciativas no diálogo com a população.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Isso pode superar, em boa medida,
uma série de vícios que intervieram nas políticas de democratização da cultura
encetadas principalmente pelos governos do ex-presidente Lula (2002-2010). São
os mesmos problemas que ainda aparecem um tanto mais marginalmente nas
propostas atuais, mas que se tornam possivelmente superáveis quando o diálogo
se transfere para partes mais isonômicas, isto é, onde as iniciativas populares
podem ter mais peso, mais especialmente nos municípios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No Brasil, as organizações e movimentos
populares mais importantes também têm muitos preconceitos de fundo ideológico liberal
ou burguês com relação à cultura, o maior deles sendo a pouca importância
atribuída, em suas práticas e prioridades, a esse importante setor das lutas
sociais, a cultura e, nela, aos cineclubes. A fraqueza das organizações
culturais, e até mesmo sua presença diminuta em praticamente todos os ambientes
populares, decorre em parte dessa negligência das vanguardas organizadas e,
mais que tudo, claro, do poder, assim como do atraso, das classes dominantes
constituídas no privilégio, na exclusão, na violência e no desprezo pela grande
maioria da população. Por tudo isso, o campo cultural popular é, ou se
encontra, em termos de organização – não pela falta de riqueza de seus conteúdos
– bastante enfraquecido. Daí mais uma vez a importância e oportunidade das leis
que “descem” a pirâmide institucional e se aproximam mais das bases onde se
produz a cultura popular, dos trabalhadores, da comunidade: nos municípios – e
nos estados em menor medida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os professores (e as escolas) são
a maior rede de intelectuais – no sentido gramsciano<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_edn16" name="_ednref16" style="mso-endnote-id: edn16;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[xvi]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
– de interessados e capacitados para a formação e emancipação das grandes
maiorias do povo brasileiro. Muitos desses educadores percebem a importância e
a urgência, e procuram organizar iniciativas, em que as tecnologias, linguagens
e mídias audiovisuais sejam transformadas em instrumentos dessa grande tarefa
educativa. E também muitos dentre esses buscam nas práticas cineclubistas as
bases para esse trabalho. A PNAB abre oportunidades para que esse trabalho
supere as propostas de certa forma corporativas de “cineclube na sala de aula”,
apontando para a perspectiva e propiciando a oportunidade de estabelecer
ligações concretas entre as escolas e suas comunidades, de levar o vigor da
juventude à criação de cineclubes comunitários, abertos à participação de todos
– alunos, professores, funcionários, e suas respectivas famílias. Construindo verdadeiras
pontes sociais e culturais entre os dois universos que buscam formas de
diálogo: escola e comunidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os cineclubes, talvez de maneira
ainda mais exemplar que outros setores virtualmente comunitários, têm uma
história recente de fragilidade organizativa e de ausência política organizada
e atuante no plano institucional. Durante os governos mais abertos (de Lula),
os cineclubes não adiantaram realmente propostas, limitando-se a seguir
acriticamente e a deixar-se cooptar de forma muito pacífica pelas iniciativas
federais: os cineclubes e suas entidades representativas nunca questionaram ou
discutiram sequer uma vírgula dos programas de distribuição de kits básicos de
projeção e de DVDs em cuja curadoria não tinham participação. Assim, o risco de
que essa ausência de iniciativa política possa se repetir é uma possibilidade
real. E sem pressão, fruto da organização e de projetos político-culturais das
comunidades, o protagonismo na construção de novas iniciativas culturais não se
dará.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, essa análise mais
pessimista se baseia apenas em fatos que já têm mais de uma década. E a nova
legislação não se dirige às iniciativas daquele tempo. Além de permitir os
passos essenciais para que <i>práticas cineclubistas parciais</i> passem a <i>um
plano superior de</i> <i>organização</i> – particularmente com a constituição
de espaços próprios e do planejamento plurianual construídos sob a forma de
associações democráticas – ela também poderá ser uma fonte de recursos que
auxilie a <i>ampliação e diversificação</i> das atividades dos cineclubes.
Esses elementos são essenciais para a integração, a organicidade dos cineclubes
em suas comunidades. Essenciais para que práticas cineclubistas, de certa
forma, evoluam e se tornem efetivamente cineclubes: associações democráticas (<i>clubes</i>)
em que as mídias audiovisuais (<i>cine</i>) são o instrumento principal de
mediação com a comunidade e de preservação e expressão de sua identidade (de
classe, de gênero, de etnia, etc.).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essa responsabilidade – de evoluir
em organização, identificar-se, ser capaz de representar a comunidade – recai
sobre os cineclubes reais existentes hoje e, mais que tudo, sobre as pessoas,
grupos e organizações que, nas diferentes comunidades, percebem a importância
das mídias na evolução do projeto de construção de um poder popular. Novos
grupos, de origens mais diversificadas, podem e devem considerar a hipótese e
possibilidade de criarem cineclubes. Novos cineclubes, de um novo tipo. Mas um
“novo” que incorpora e supera, dialeticamente, a tradição mais que centenária
do cineclubismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Vamos às lutas!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p><div style="mso-element: endnote-list;">
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="edn1" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref1" name="_edn1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[i]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Como a expressão indica,
cultura comunitária é a produzida do plano das comunidades. Estas vão das
comunidades de base territorial, como bairros ou cidades menores, às
constituídas por identidades tradicionais, históricas, culturais, étnicas, de
gênero, de crenças, entre outras. Como a cultura tem origem na relação dos
seres humanos com seu entorno, modificando-o pelo trabalho, a cultura
comunitária é, em grande medida, a base da cultura popular, da cultura da
grande maioria, praticamente o único terreno social em que até mesmo os ditos
excluídos têm seu papel e participação. Embora principalmente as mídias
audiovisuais tenham penetrado bastante nesses ambientes, a cultura popular e
comunitária têm uma larga tradição oral – até mesmo pelo menor acesso aos meios
de produção simbólicos mais complexos e dispendiosos. As mídias audiovisuais,
hoje mais do que nunca antes, permitem a preservação e reprodução mais fieis e
amplas da cultura oral. Esse campo popular também não é, geralmente, incluído
na organização comercial da cultura - exceto por apropriação, que lhe retira
grande parte do sentido e caráter – e, portanto, não se organiza sob formas
produtoras de lucro. Embora seja a base mais rica da cultura, o segmento
comunitário é marginalizado, empobrecido e mesmo combatido.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn2" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref2" name="_edn2" style="mso-endnote-id: edn2;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[ii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Emprego o termo plateia para
designar a audiência de qualquer atividade cultural que não tem papel ativo na
sua recepção; e público como o conjunto dos participantes em eventos culturais
que, ao contrário da primeira, têm protagonismo neles, responsabilidade
consciente sobre eles. Público, na verdade, é o único termo que ressoa de
alguma forma com esse conteúdo de participação e consciência crítica, em oposição
ao sentido ideológico hegemônico; todas as outras expressões indicam uma forma
de recepção acrítica, inerme, sem responsabilidade ou iniciativa: plateia,
audiência, assistência, auditório, espectadores... <o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn3" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref3" name="_edn3" style="mso-endnote-id: edn3;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[iii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Unicórnio é o jargão para
empresas novas que conseguem chegar à marca de 1 bilhão (de dólares, suponho)
captados de investidores privados. Com o sucesso, seu futuro mais provável é
serem adquiridas pelos grandes monopólios planetários de comunicação e
entretenimento.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn4" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref4" name="_edn4" style="mso-endnote-id: edn4;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[iv]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Uma rápida consulta ao <i>Sistema
de Informações e Indicadores Culturais 2009-2020</i> (SIIC) do IBGE, disponível
na internet, mostra que 85% do consumo de bens culturais está nos produtos e
serviços tipicamente industrializados e comerciais (assinaturas de TV e
Internet, 60,8%; despesas com serviços culturais, 11,9% e artigo de residência,
11,3%). Mas isso não quer dizer que os outros 15% sejam menos comerciais: a
qualificação das “empresas” desses setores indica que 14,6% dessas empresas
estão listadas como Patrimônio Natural e Cultural (parques? museus?
Bibliotecas?); Apresentações Artísticas e Celebrações são 8,1% (Shows
Sertanejos? Desfiles de Carnaval? Festas de São João?), e Artes Visuais e
Artesanato, 6,3% - possivelmente o setor mais próximo da produção individual ou
comunitária). Há vários outros indicadores no mesmo sentido no SIIC.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn5" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref5" name="_edn5" style="mso-endnote-id: edn5;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[v]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">O programa Cine Mais Cultura
– título escolhido pela agência de propaganda que atendia ao Ministério – foi
criado bem depois dos Pontos de Cultura, mas bebia na mesma fonte. Ao invés de
pontos, o programa criou <i>cines</i>, nome esdrúxulo que, ao mesmo tempo que
parecia consolidar o programa, também evitava a palavra cineclube. Em 2004,
quando o movimento cineclubista se reorganizou institucionalmente, recriando o
Conselho Nacional de Cineclubes (CNC) e elegendo sua primeira diretoria, o
dirigente do programa Cultura Viva exigiu que a diretoria do CNC acolhesse o
partido político ao qual ele pertencia. A assembleia geral, porém, não aceitou
essa imposição. O Ministério, então, excluiu os cineclubes do Programa Cultura
Viva. O governo federal só voltou a dialogar com o movimento cineclubista – bem
a contragosto – em 2008. Depois de, naquele mesmo ano, tentar criar uma
estrutura paralela ao CNC, chamada de Circuito em Construção, em um verdadeiro
congresso nacional criado e pago pelos dirigentes do incipiente Cine Mais
Cultura, mas que não teve sucesso. O novo programa adaptou, então, propostas do
movimento cineclubista – como a de uma distribuidora de filmes (que virou a
Programadora Brasil) e um programa de equipamento e formação de cineclubes,
também reduzido à distribuição de kits baratos de projeção. O investimento nos <i>cines</i>
era de cerca de 5% do alocado aos Pontos de Cultura mas, mesmo assim, todo
mundo queria (de graça até injeção no olho, como se diz) e outros níveis de
governo, como os estados, passaram a distribuir os kits para prefeitos,
apaniguados e outros. Esse programa teve um efeito desestabilizador tremendo
para os cineclubes, que praticamente deixaram de existir como associações
comunitárias organizadas democraticamente e passaram a ser apenas <i>pontos de
exibição</i> para os filmes produzidos pelos diversos programas do Ministério
de apoio ao curta-metragem.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn6" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref6" name="_edn6" style="mso-endnote-id: edn6;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[vi]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A última assembleia e eleição
legítimas – isto é, de acordo com as normas dos estatutos – do CNC foram feitas
durante a 28ª. Jornada Nacional de Cineclubes, em 2010, na cidade de Moreno,
PE. Algumas outras Jornadas, irregulares, foram realizadas depois disso – em
2013, 2015 e 2019 – sem qualquer critério ou controle de participação e com
números insignificantes de presentes. Nelas foram eleitas diferentes diretorias,
com pouca ou nenhuma atividade. Atualmente – desde 2019 – há um Conselho
Nacional de Cineclubes Brasileiros, eleito irregularmente, como nos outros
casos, mas talvez com uma disposição maior de representar os cineclubes. Não
tem representação ou legitimidade nacionais, sem dúvida, nem apresenta qualquer
realização concreta (exceto um saite na internet, de resto bem informativo), mas
representa ao menos um grupo de iniciativas cineclubistas (não confundir com
cineclubes efetivamente organizados). Como tal, e na ausência de qualquer outra
iniciativa, tem um lugar na trajetória do cineclubismo brasileiro.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn7" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref7" name="_edn7" style="mso-endnote-id: edn7;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[vii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Trato desse tema em meu
artigo <i>As igrejas, as esquerdas e os cineclubes (pertencimento e hegemonia
nas instituições populares do Brasil)</i>, disponível em </span></span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2020/03/as-igrejas-as-esquerdas-e-os-cineclubes.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2020/03/as-igrejas-as-esquerdas-e-os-cineclubes.html</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn8" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref8" name="_edn8" style="mso-endnote-id: edn8;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[viii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
<i>Address of the Central Committee to the Communist League</i>, disponível em <a href="https://www.marxists.org/archive/marx/works/1847/communist-league/1850-ad1.htm">https://www.marxists.org/archive/marx/works/1847/communist-league/1850-ad1.htm</a><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="edn9" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref9" name="_edn9" style="mso-endnote-id: edn9;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[ix]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A íntegra das leis pode ser
encontrada facilmente na internet.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn10" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref10" name="_edn10" style="mso-endnote-id: edn10;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[x]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Nos anos imediatamente
anteriores ao desgoverno atual, os recursos aplicados pelo Estado na produção
de cinema eram de pouco menos de 1 bilhão de reais anuais, numa aproximação
superficial. Assim, esses quase 3 bilhões equivalem mais ou menos, e
coincidentemente, aos recursos perdidos durante a (falta de) gestão atual.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn11" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref11" name="_edn11" style="mso-endnote-id: edn11;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[xi]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Essa questão é mais complexa
do que isso. Apenas recordando: o governo Sarney começou a legislação que o
PSDB completaria: a lei Rouanet, que expressa bem a política de cultura desses
grupos, de privatização ação cultural do Estado. O Governo Dilma Roussef, ainda
que formado com os mesmos partidos das gestões de Lula, foi uma nulidade no
campo cultural. E Collor, Temer e Bolsonaro ilustram, em diferente momentos, um
processo de degradação intelectual e moral baseado na desarticulação de instituições
e programas.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn12" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref12" name="_edn12" style="mso-endnote-id: edn12;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[xii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">O Sistema, entretanto,
continua sendo lei e se aplica, de forma bem mais desarticulada, em variável
medida, nos estados e municípios.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn13" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref13" name="_edn13" style="mso-endnote-id: edn13;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[xiii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">DAGNINO, Evelina. 2004.
“Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando?”, em MATO,
Daniel (coord.), <i>Políticas de ciudadanía y sociedad civil en tiempos de
globalización</i>. Caracas: FACES, Universidad Central de Venezuela, pp.
95-110. Acessível em </span></span><a href="http://biblioteca.clacso.edu.ar/Venezuela/faces-ucv/20120723055520/Dagnino.pdf"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">http://biblioteca.clacso.edu.ar/Venezuela/faces-ucv/20120723055520/Dagnino.pdf</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn14" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref14" name="_edn14" style="mso-endnote-id: edn14;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[xiv]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Acessível em </span></span><a href="https://antigo.ancine.gov.br/pt-br/legislacao/instrucoes-normativas-consolidadas/instru-o-normativa-n-63-de-2-de-outubro-de-2007"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://antigo.ancine.gov.br/pt-br/legislacao/instrucoes-normativas-consolidadas/instru-o-normativa-n-63-de-2-de-outubro-de-2007</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn15" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref15" name="_edn15" style="mso-endnote-id: edn15;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[xv]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Desde o final da primeira
década deste século os cineclubes não conseguem se reunir, com poucas exceções,
em âmbitos local, regional ou nacional. Pretensas “jornadas nacionais de
cineclubes” foram realizadas em 2013, 2015 e 2019, com no máximo três dezenas
de iniciativas presentes (quando o País tem, no mínimo, algumas centenas
delas). Para contornar essa situação, o atual sucedâneo da entidade nacional
dos cineclubes, o CNC, decidiu estabelecer em seus estatutos que as assembleias
(e eleições) da entidade se darão a cada 4 anos!<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn16" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pol%C3%ADtica%20Cultural%202017/Gil,%20Blanc%20e%20Gustavo.docx#_ednref16" name="_edn16" style="mso-endnote-id: edn16;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[xvi]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Para Antonio Gramsci,
intelectual não é a pessoa estudada, culta, mas aquela que tem a <i>função
social</i> de intelectual, de liderança em seu meio. São os professores,
engenheiros, padres, pastores, babalorixás, militantes de diferentes tipos,
cineclubistas e muitos outros, que exercem uma função de informação, orientação,
formação em seus ambientes sociais. Cada classe social tem seus próprios
intelectuais, que ajudam a desenvolver a consciência do papel de cada um na
sociedade, num sentido ou em outro. Os intelectuais das classes populares
lutarão pelos interesses e ajudarão a organizar essa parte da população. Mas
há, igualmente, os intelectuais da burguesia, do agronegócio, etc.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-47138432358332352852022-06-12T13:05:00.006-07:002022-06-12T13:06:45.742-07:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9Pm2xt7-e4CwQaY2wWg2pfC8JzbHjea7l33LV08DExK-4AI2Vvw3gO1Ki1KPh-4l6dsXgj1LWYZtOcLa1T51gPhJCQ-yc_YgbKKftd54ghkVZ6BnkDSeoBVfDegBnkrKtvhCT9eePW0Fa25j9EQ7cqI6dAiRtEf1--wGa8p_Bxh7Qwo_OwaVmCnKg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="344" data-original-width="446" height="309" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9Pm2xt7-e4CwQaY2wWg2pfC8JzbHjea7l33LV08DExK-4AI2Vvw3gO1Ki1KPh-4l6dsXgj1LWYZtOcLa1T51gPhJCQ-yc_YgbKKftd54ghkVZ6BnkDSeoBVfDegBnkrKtvhCT9eePW0Fa25j9EQ7cqI6dAiRtEf1--wGa8p_Bxh7Qwo_OwaVmCnKg=w400-h309" width="400" /></a></div> Sai da frente!<p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-80320304054118479722022-06-12T12:41:00.001-07:002022-06-12T12:41:29.317-07:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Pressupostos indiscutíveis
postos em questão<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Muitos dos textos que temos debatido, particularmente
de autores nacionais, repetem diversos conceitos que, no entanto, nunca são analisados
ou explicados pelos responsáveis, que os tomam aparentemente por evidentes.
Essa “evidência” muitas vezes ultrapassa até mesmo os textos, e o País,
constituindo denotações consolidadas nos nossos tempos e lugares. São sentidos
hegemônicos. Acho que é uma doxa, ainda que frequente no ambiente acadêmico, e
não uma episteme. Considero que vários desses conceitos indiscutidos
constituem, na verdade, formas ideológicas, e mesmo, que sua adoção automática também
indica esse caráter preconceituoso. Em outros casos esse conteúdo não se
expressa em conceitos tidos como irrefutáveis, mas perpassa como um sentido
igualmente inquestionável certas formulações: são bases implícitas,
subjacentes, de argumentações que subentendem seu compartilhamento pelos
leitores. São estruturais, no sentido com que se aplica esse adjetivo ao
racismo que perpassa nossa cultura, por exemplo. De fato, penso que os dois
processos – conceitos e pressupostos - se imbricam, se somam, em diferentes
níveis de sua enunciação ou naturalização. É o que quero discutir neste texto. Os
temas que identifico aqui são, por vezes, muito complexos e amplamente
elaborados em obras de prestígio. Minha intenção é mais modesta: como militante
comprometido com a teoria que norteia minha <i>práxis</i>, quero expor minhas
reflexões e críticas no âmbito dos trabalhos que desenvolvemos no PEC. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Arte - estética <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">O conceito de arte que perpassa praticamente todos os
discursos decorre da valorização de particularidades, que se passou a distinguir
a partir da Renascença e do capitalismo mercantil. Sua sistematização mais
científica – outro conceito fortemente ideologizado – é de Baumgarten, em
meados do século XVII, com sua <i>Estética<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>.
Essa “ciência”, marca daquela transição de paradigmas, veio a calhar: serviu
para explicar (e aí nasceu também a “crítica”) e justificar a atribuição de
valores – estéticos e monetários – às pinturas e esculturas expostas nos
grandes salões da época. A originalidade – de certa forma a aura, conforme
Benjamin<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> - das
obras de arte, foi a primeira base do seu valor nos tempos modernos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Originalidade, claro, quer dizer autoria,
através do estilo, técnicas, etc., que embasam o caráter único daquela
mercadoria. Embora hoje esse valor tenha sido acrescido de outras características,
como a raridade (autor morto vale mais), o lugar no mercado, etc., e o processo
seja escandalosamente evidente, ainda usamos uma outra valorização, mais nobre,
asséptica, muitas vezes transcendente, metafisizada, para tratar com esses
objetos. Seu valor de uso, que é subjetivo, quando transubstanciado pelo
mercado, nos aliena, nos separa do objeto e introduz uma espécie de caráter
sublime, fora da realidade material e tangível, especialmente no discurso que
utilizamos. Sensibilidade como processo imanente da consciência, como expressão
da Ideia e do Espírito. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Antes do capitalismo a arte tinha outro sentido, mais
enraizado no social: reconheciam-se as habilidades, a “arte” de produzir certas
obras, reconhecíveis pelo seu valor de uso. A autoria era um conceito raro e
praticamente inútil – na maioria dos casos ele foi atribuído mais recentemente,
retrospectivamente, dentro dessa mesma lógica de identificação e valoração.
Homero ou Heródoto são construções, aproximações sobre uma larga tradição oral.
Já em outro momento, quem sabe o nome dos arquitetos das grandes catedrais
medievais?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">As artes, as diversas formas de expressão de sentidos,
de linguagens que reconhecemos desde sempre, certamente existem em sua dimensão
própria. Mas, ao invés desse caráter excepcional e individual que assumem em
boa parte do discurso, creio que constituem um dos atributos do <i>ser humano
genérico</i>, como diziam Marx e Engels: são formas de expressão, linguagens
desenvolvidas numa escala muito mais avançada que outros animais (que, no
entanto, manifestam essas capacidades de muitas maneiras<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>). Descrevê-las
como “mais avançadas” talvez seja também uma espécie de abordagem ideológica,
no caso antropomórfica, já que valorada sob essa perspectiva. De qualquer
forma, seu desenvolvimento se deve às formas especificamente humanas, baseadas
no trabalho – na transformação da natureza para sua subsistência – e nas
relações sociais, atributos e determinantes do ser humano genérico. O ser
humano não desenvolveu apenas a fala – de fato, uma mistura de oralidade e
expressão corporal – mas igualmente outras formas de comunicação e expressão,
para compartilhar sentimentos, desejos, fantasias, medos, etc. As religiões
nasceram nesse ambiente, por exemplo, entre outras instituições.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Para não ficar só em Marx, talvez se possa seguir isso
através das ideias de Nelson Goodman<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
que propôs uma <i>teoria dos símbolos</i> para o estudo do que chamamos de
Estética como um conjunto de linguagens. Para Bakhtin, a fala, ou mais
precisamente a enunciação, isto é, o sistema de símbolos orais e gestuais em
sua realidade concreta de comunicação social, constitui a linguagem mais
essencial: todos os outros sistemas de símbolos, como as artes e outros,
operando em níveis diferentes de representação do rea</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">l</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"> –
sensações, intuições, alucinações - são apropriados em última instância,
referidos e dialogados socialmente através da palavra<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Até
mesmo o que ele chama de discurso interior, o inconsciente para Freud. E esses
sentidos, produzidos por todas as linguagens, são produtos do diálogo social, determinados
pelas relações sociais, e estas, pela organização do trabalho nos diferentes
contextos históricos. As incontáveis <i>Estéticas</i> produzidas desde Baungarten
são justamente tratados que buscam entender e explicar as linguagens que
chamamos artes – e eventualmente, em certos casos, buscar uma essência imanente
comum a todas elas, fora do social. A classificação das artes varia também
conforme o contexto histórico: pode incluir ou não a culinária, a costura... O
cinema levou décadas para ser reconhecido institucionalmente, embora o público
o tivesse adotado quase imediatamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essa ideia de arte está presente, sobretudo
subjacente, a uma tradição que afeta, influencia, orienta de muitas maneiras o
cineclubismo, seja nas suas formas mais cinéfilas e elitistas ou mesmo nas
práticas consideradas mais progressistas. Os <i>pares ideológicos</i> que
discuto a seguir apoiam-se, em muitos casos na hoje bastante diversificada práxis
de inspiração cineclubista, nesse alicerce ideológicamente corrompido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Gosto popular como evidência de mediocridade – e seu
corolário, a superioridade do gosto burguês<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Na categoria do ideológico subjacente, impronunciado, estrutural,
está essa concepção da vulgaridade – a palavra já diz tudo: do vulgo – do
popular, das massas, que só existe conceitualmente em relação dialética com seu
oposto: a superioridade do gosto burguês. Porque o gosto, no capitalismo em que
vivemos, é burguês, parte importante da hegemonia da classe dominante. A
prevenção contra o gosto das massas é uma postura de superioridade que implica
numa adesão subliminar à classe dominante, que se reserva outras esferas,
outros gostos, outra “cultura”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. O
cineclubismo da cinefilia foi construído sobre essa premissa. E contamina,
aparentemente de forma imperceptível, os cineclubes e quejandos até hoje. Noel
Burch tem citações do desprezo que Louis Delluc enunciava pelo populacho<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Jesús Marin-Barbero enfatiza essa questão no campo da televisão na América
Latina<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. A
contradição desse preconceito é evidente no caso do cinema, como adiantei no
final do outro “verbete”. Os inventores da cinefilia culta propugnavam por um
cinema que não se reduzisse aos limites estabelecidos pelo comércio: pela
experimentação, pela originalidade, e pela autoria, em oposição ao primado do
interesse financeiro, que supostamente atendia à vulgaridade desse cinema consagrado
pelo gosto popular. Mas não resistiam a Chaplin e outros produtos americanos apreciados
pelas massas, ou aos filmes do expressionismo alemão, gestados na UFA e, também
estes, grandes sucessos. E muito do cinema que rejeitavam foi reconhecido em
outros contextos, como as séries de Feuillade (<i>Fantomas</i>,<i> Judex</i>,<i>
Les Vampires</i>), por exemplo, pelo movimenturrealista.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg3GbF5HFQ8DWyzBFnbyqMdRfvFv3A5a1-dQqQLmBZTF603dtcRqJN5PJVheL7aTxia5MEtZVF2wv0OLZ48js1RPcptPiQusLW_84QWsQJUoqHVl7F__7eh0kaNVnbPOI1aQwuWbKB1AwV4TRloUMJSs9LW5W3NSxmN2Lug6JMPCNsUXOPC_5nrgEZ4" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="" data-original-height="253" data-original-width="143" height="93" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg3GbF5HFQ8DWyzBFnbyqMdRfvFv3A5a1-dQqQLmBZTF603dtcRqJN5PJVheL7aTxia5MEtZVF2wv0OLZ48js1RPcptPiQusLW_84QWsQJUoqHVl7F__7eh0kaNVnbPOI1aQwuWbKB1AwV4TRloUMJSs9LW5W3NSxmN2Lug6JMPCNsUXOPC_5nrgEZ4=w53-h93" width="53" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgkGuFxP6YqV8_CNpqUHL76MqfNEKdlT2yZi3th_cqnUKnrnVZ8H8tbIVJj90QjTwsE_q0ves14mnM8Z8ISz1Fsv8fZSm_J8nfqI4t0Z3Fnw86nKJaYAmKcDk4lO0G0uup49UveKNCjdFSo-Q6WpoMgsja9Yph5ZDZ5wsErdMf0RoUEWhD_TVzeKNm4" style="font-size: 12pt; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="249" data-original-width="331" height="90" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgkGuFxP6YqV8_CNpqUHL76MqfNEKdlT2yZi3th_cqnUKnrnVZ8H8tbIVJj90QjTwsE_q0ves14mnM8Z8ISz1Fsv8fZSm_J8nfqI4t0Z3Fnw86nKJaYAmKcDk4lO0G0uup49UveKNCjdFSo-Q6WpoMgsja9Yph5ZDZ5wsErdMf0RoUEWhD_TVzeKNm4=w118-h90" width="118" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiIc9leGjQmQBU5MTmW7KkWGAPbOKuT2EZmrs8KMNMXupDt5GuPtkB9SxQiztBU-zhbFRbDwQdm4LB12HSgm3MSHjtxA0e5VowPcUdTeqiVRqenLBk7G4-KI0pxJKX35I2D69l3yPUT7WTacet-wR91VnbNeI7d_5BoNI3IneAudkp5TElX5rcwZDFw" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="245" data-original-width="186" height="92" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiIc9leGjQmQBU5MTmW7KkWGAPbOKuT2EZmrs8KMNMXupDt5GuPtkB9SxQiztBU-zhbFRbDwQdm4LB12HSgm3MSHjtxA0e5VowPcUdTeqiVRqenLBk7G4-KI0pxJKX35I2D69l3yPUT7WTacet-wR91VnbNeI7d_5BoNI3IneAudkp5TElX5rcwZDFw=w70-h92" width="70" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj5_Ba2M6Ss7YFB-XR8IdQeDiLIe0XVuTJbFpi2p61x32i_-eJc8jRrkqcDNeqINbg-KrBNTopiI_YumYaTEjoiQSTTsGC_3yEnFfZH7Za530LJM768Nx0zhoqae6ZAyHp3lq2SKgH4bRBPLOoGod-q4opfsIriYhtefc7WHSGdWljrTdzeOwdE569y" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="247" data-original-width="166" height="91" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj5_Ba2M6Ss7YFB-XR8IdQeDiLIe0XVuTJbFpi2p61x32i_-eJc8jRrkqcDNeqINbg-KrBNTopiI_YumYaTEjoiQSTTsGC_3yEnFfZH7Za530LJM768Nx0zhoqae6ZAyHp3lq2SKgH4bRBPLOoGod-q4opfsIriYhtefc7WHSGdWljrTdzeOwdE569y=w61-h91" width="61" /></a></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 9.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Musidora, como
Irma Vep em <i>Les vampires</i>; como Diana Monti, em <i>Judex</i>; René
Navarre e o cartaz de <i>Fantomas</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cinema brasileiro, aliás, viveu essa condição de “exílio
estético” a vida toda. Paulo Emílio, que também foi preconceituoso por algum
tempo, criticava o público popular nos anos 50, no Estadão<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>;
mas alguns anos depois, na <i>Trajetória no Subdesenvolvimento<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[11]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>,
mostrava que só superando sua postura colonizada e discriminatória poderiam as
classes médias superar seu próprio atraso. Ele também já dizia, em suas
primeiras andanças pelo cinema brasileiro, no tempo das primeiras
Retrospectivas da Cinemateca, que não conseguia encontrar qualidades nos filmes
de então, mas que as via em profusão nas fitas mais antigas, vistas com “outros
olhos”. Nós também, hoje gostamos das Chanchadas, de Oscarito e Grande Otelo
(às vezes até sem ter visto os filmes), do Mazzaropi, dos Trapalhões. Talvez a
Xuxa seja um pouco mais difícil...</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> ]<img alt="" data-original-height="344" data-original-width="446" height="124" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEikgpbT6PD8jgsxCbAVbFMenWDQpRlEWkw2vhOg_m6On7r4-oSd_B5gKIW4ymF-Di4O3ciUjRnH1lp3Kv-AlczRBpOvStdOCFyToQVFD7INQ6K1kk5ZKcYnjFYlFywJsepJW4woOiSp-4tsUBNn1-xdesCkNDMbFv3682FRMgN3RHj8bDySuwi2BOrJ=w161-h124" style="text-align: center;" width="161" /> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEglzlvxKcZcyZFpJmAyGEXc21i2moJ4viT7iI8VEToE-mnY_amusR5S8bXl3ZDeY2utO7Q7WPYNWQTdTm0pzE0ckQ89XfVUTRV8zFi6iKC07HBZTR9CslqskyiSYv-wkTAr1zCLFizP7IsJa_hTOhzEqa_ziuHe1Usc-HF7C_rn1io9eMWWVQEtAMto" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="" data-original-height="353" data-original-width="223" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEglzlvxKcZcyZFpJmAyGEXc21i2moJ4viT7iI8VEToE-mnY_amusR5S8bXl3ZDeY2utO7Q7WPYNWQTdTm0pzE0ckQ89XfVUTRV8zFi6iKC07HBZTR9CslqskyiSYv-wkTAr1zCLFizP7IsJa_hTOhzEqa_ziuHe1Usc-HF7C_rn1io9eMWWVQEtAMto=w82-h130" width="82" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh3rQuRpdt3bBnI2cVWkVLCr7sC041hY8E0HldRQBxh8MYA0-YHMvDoAcISaH3NaS_NxMGDpbqTLa-riTNE3ktqbUgAAXm3I6sePBkg5_eT0xAIaPW2yU44pXxbIdhAxeX7VSg-_MiuGOC8M_iVgpXfIkJB6sLi740A3p622cP4XcyLq4uPNtovGmuN" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="351" data-original-width="246" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh3rQuRpdt3bBnI2cVWkVLCr7sC041hY8E0HldRQBxh8MYA0-YHMvDoAcISaH3NaS_NxMGDpbqTLa-riTNE3ktqbUgAAXm3I6sePBkg5_eT0xAIaPW2yU44pXxbIdhAxeX7VSg-_MiuGOC8M_iVgpXfIkJB6sLi740A3p622cP4XcyLq4uPNtovGmuN=w90-h128" width="90" /></a></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 8.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-no-proof: yes;">Mazzaroppi em <i>Sai da Frente</i>,
1952; cartaz <i>de Amor, estranho amor</i>, com Xuxa, 1982, e cartaz de <i>Os
Saltimbancos Trapalhões</i>, 1981</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 8.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Tive a oportunidade de fazer o curso de Cinema Brasileiro
com o Paulo Emílio, na primeira metade dos anos 70. Ele tinha uma didática
muito especial. Para começar, dizia que “pretender ensinar alguma coisa era
bobagem”. Seu curso consistia em vermos “tudo o que estava passando”, isto é,
todos os filmes brasileiros que estavam em exibição nos cinemas comerciais.
Isso queria dizer, basicamente, as pornochanchadas, as únicas produções nacionais
que tinham interesse para os exibidores<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
As aulas eram dedicadas a discutir os filmes vistos. Eventualmente, dessa
discussão extrapolávamos para outras questões do cinema brasileiro. Mas o mais
importante é que a base dessa pedagogia era a compreensão de que a
“mediocridade” que identificávamos naqueles filmes era a mediocridade do Brasil,
nossa e do nosso tempo. Não era uma realidade separada da mediocridade do
discurso empolado e de difícil compreensão do Pasolini de <i>Pocilga</i>, por
exemplo, que o Paulo Emílio tratou de “miasma intelectual” no Estadão, e por
causa disso perdeu o emprego. Mojica, o Zé do Caixão, é cinema de arte?
Candeias? Dias Gomes? Bom, este último inspirou uma Palma de Ouro. Filmes
premiados em Cannes são de bom gosto, quase certamente, mas isso já não é tão
certo para todos que recebem um Oscar (o Kikito do cinema americano).</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg6YQYNGrsUFWOLkvVgjzQCWf3ROIsPzZ7ztk0uEbO2YlxcOUgs8Q2uVn54RGAGcPftu-uVB26S5sfRV_HE-KWJhHjsvmGNOUkPEzD6Yfo_dbM0A-GHRaC7-XfFtq84JDJ1zd6KZsuIhyiMFg5Tq29aeHMHUPuZsQsvR98E_DKyOPMBzT7jKngixuOn" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="" data-original-height="313" data-original-width="184" height="98" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg6YQYNGrsUFWOLkvVgjzQCWf3ROIsPzZ7ztk0uEbO2YlxcOUgs8Q2uVn54RGAGcPftu-uVB26S5sfRV_HE-KWJhHjsvmGNOUkPEzD6Yfo_dbM0A-GHRaC7-XfFtq84JDJ1zd6KZsuIhyiMFg5Tq29aeHMHUPuZsQsvR98E_DKyOPMBzT7jKngixuOn=w58-h98" width="58" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgzIG-lChtJG3tRKZVDsmy02iYK860yDprJB2e0YpR8IqLVNdfWojAzKyzCPI7qbG-kWL9703iM7HjbK-Mp5CLBl4LEdZUzDHRR-M4gxEIkAeolPXoW1hzhlOl-ghTf28iVWBXaJFIW_k3PkDSgNX4qNQ6wTZsvDz_ewpdtBPaF3WLlNOztrou7nc3F" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="306" data-original-width="187" height="93" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgzIG-lChtJG3tRKZVDsmy02iYK860yDprJB2e0YpR8IqLVNdfWojAzKyzCPI7qbG-kWL9703iM7HjbK-Mp5CLBl4LEdZUzDHRR-M4gxEIkAeolPXoW1hzhlOl-ghTf28iVWBXaJFIW_k3PkDSgNX4qNQ6wTZsvDz_ewpdtBPaF3WLlNOztrou7nc3F=w57-h93" width="57" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjd_SmyPLDTpqSaZMyfblnC2vDnM4CQXiZwE8Z0pkxMWcWtXZ5LeEtb_9VBFgVXy9gs0DEqbSwJx9ECKy9WMlYLv4bnnPKZtZb3b2J_3ALMvffp9lF7K8N7UaIZPr1BJ_z5KJ0XxXtPAsBkacYBDOXp3vPHWuzUk-YtxYgauJmKWXKK9C-jRG6dIf1j" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="306" data-original-width="190" height="91" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjd_SmyPLDTpqSaZMyfblnC2vDnM4CQXiZwE8Z0pkxMWcWtXZ5LeEtb_9VBFgVXy9gs0DEqbSwJx9ECKy9WMlYLv4bnnPKZtZb3b2J_3ALMvffp9lF7K8N7UaIZPr1BJ_z5KJ0XxXtPAsBkacYBDOXp3vPHWuzUk-YtxYgauJmKWXKK9C-jRG6dIf1j=w57-h91" width="57" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhXOkaRoi58ARof5UIBBoy2FEL_cXovZgCf9ATSBrx_BzUDdGgtIIlGuhaLEC3wPI4BQvnvtFw-O7wvpbYY8cVcsH-9oHPWJ52Sk08mzsRUig0dl4fmVkWB6deTo1X0i-urdNcaXIUKYj0LXzHkck76oZsG_KXSQpNfqAJTgh8gyKvnfs52TnqM3qYK" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="305" data-original-width="181" height="100" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhXOkaRoi58ARof5UIBBoy2FEL_cXovZgCf9ATSBrx_BzUDdGgtIIlGuhaLEC3wPI4BQvnvtFw-O7wvpbYY8cVcsH-9oHPWJ52Sk08mzsRUig0dl4fmVkWB6deTo1X0i-urdNcaXIUKYj0LXzHkck76oZsG_KXSQpNfqAJTgh8gyKvnfs52TnqM3qYK=w59-h100" width="59" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgKM4B_gD27Xmm5AuXrbjuKHQte6GJluayhFWoQhKutKGyJZ0Okc3w7fDRUrNTj76JJGgY3hWmZlVNC0oWdZ1O07hDJYz3GMTKFgW-AQg3lcNvqaGP-SLl764yt5IDuzxKpW4QBFOj85Hz_KQDHM7KkMfrWKqyusZdn57_2URAifn1kkm6nfK6eZkwG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="306" data-original-width="185" height="98" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgKM4B_gD27Xmm5AuXrbjuKHQte6GJluayhFWoQhKutKGyJZ0Okc3w7fDRUrNTj76JJGgY3hWmZlVNC0oWdZ1O07hDJYz3GMTKFgW-AQg3lcNvqaGP-SLl764yt5IDuzxKpW4QBFOj85Hz_KQDHM7KkMfrWKqyusZdn57_2URAifn1kkm6nfK6eZkwG=w59-h98" width="59" /></a> <v:shape alt="Zézero (1974) directed by Ozualdo Ribeiro Candeias • Reviews, film + cast • Letterboxd" id="Picture_x0020_23" o:spid="_x0000_i1035" style="height: 146.4pt; visibility: visible; width: 87pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="Zézero (1974) directed by Ozualdo Ribeiro Candeias • Reviews, film + cast • Letterboxd" src="file:///C:/Users/maced/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image011.jpg">
</v:imagedata></v:shape> </p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 8.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A <i>Super Fêmea</i>, 1973; <i>Esta noite encarnarei
no teu cadáver</i>, 1967; <i>Pocilga</i>, 1969; <i>Zézero</i>, 1974; <i>O
Pagador de Promessas</i>, 1962.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Penso que esses exemplos demonstram que não há, na
realidade concreta, dois ou mais níveis, ou fronteiras claras que separem como gostos,
valores estéticos distintos, o que é visto num determinado contexto histórico –
além das limitações econômicas, claro. Como, aliás, também mostra Antoine de
Baecque: entre as diversas igrejinhas da cinefilia parisiense estavam os <i>pepluns</i>,
com Maciste<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
e outros heróis de um certo cinema italiano. Não se trata de negar a existência
da mediocridade ou de outras pulsões, mas compreender que elas fazem parte de
uma <i>totalidade</i> que não pode ser separada conceitualmente numa hierarquia
de pretensas qualidades construídas e divididas artificialmente.]</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><img alt="" data-original-height="385" data-original-width="203" height="125" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEizdQoX8MhuwdlVNgS9jgZ6q8d7wjBMDpFvxlBhUVIDaKbaEYMM5Lym-DaeVqBxRxWEM-cTr0vhD54HRbmzvvVIQfEUHqKjYzljQNh6xBxnityG1PDbgzDod2VhfT-suyBDd5Q5qLeYYHThElsWmTQSCqUB7MP-LZKX0pdq6DfOjFUmXe7ysTokKR3X=w66-h125" width="66" /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEizdQoX8MhuwdlVNgS9jgZ6q8d7wjBMDpFvxlBhUVIDaKbaEYMM5Lym-DaeVqBxRxWEM-cTr0vhD54HRbmzvvVIQfEUHqKjYzljQNh6xBxnityG1PDbgzDod2VhfT-suyBDd5Q5qLeYYHThElsWmTQSCqUB7MP-LZKX0pdq6DfOjFUmXe7ysTokKR3X" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgHpZUo6nc247CrEwSMWkvmO-ejNTGK2sEh5WAYoMKzOrNxI31qsD2AkUFEjGwNnayB4ieqeQieMC3n3XEJx0OLDlHMDkl9oaNBj42-BiPf40rtQ4SX0smtHGQtBKqBxYy758BGo7LGLng0_NB1db8thDp1v0WJQNb3arVolU4JcpeLwQMGL8Y-dC6b" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="379" data-original-width="237" height="124" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgHpZUo6nc247CrEwSMWkvmO-ejNTGK2sEh5WAYoMKzOrNxI31qsD2AkUFEjGwNnayB4ieqeQieMC3n3XEJx0OLDlHMDkl9oaNBj42-BiPf40rtQ4SX0smtHGQtBKqBxYy758BGo7LGLng0_NB1db8thDp1v0WJQNb3arVolU4JcpeLwQMGL8Y-dC6b=w77-h124" width="77" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjSeCVPpM_g_5aGr1vYiIK2kU6KB1ZPNW9gmJFM_as0OVM73tUjfqR9R7A6z2LRKGAVQEZt_FEntqOUoe41BHrsFR5hZ_311hZRXkK8A43eheVvGhby3yMRBb_p_B3NNvPAvNQindMBerN8pn30ndvGgDiJR1_kswacMREEKT5VuUUWxKjUXSX60BK6" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="371" data-original-width="521" height="112" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjSeCVPpM_g_5aGr1vYiIK2kU6KB1ZPNW9gmJFM_as0OVM73tUjfqR9R7A6z2LRKGAVQEZt_FEntqOUoe41BHrsFR5hZ_311hZRXkK8A43eheVvGhby3yMRBb_p_B3NNvPAvNQindMBerN8pn30ndvGgDiJR1_kswacMREEKT5VuUUWxKjUXSX60BK6=w158-h112" width="158" /></a></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Maciste
contra Hércules</span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">; <i>Maciste
contra o Fantasma</i>; <i>Maciste contra o Ciclope</i>, todos de 1961</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A ideia predominante, de resto internacionalmente, de
promover um cinema diferenciado, “melhor” que um outro (talvez se pudesse
abordar esse fenômeno a partir do conceito de alteridade) e de “ensiná-lo” a um
público menos preparado, continua sendo essencialmente a base das práticas
cineclubistas, ainda que muitas vezes sem uma clara consciência disso,
disfarçado, atenuado em discursos “progressistas”. Numa expressão que não é
minha: a ideologia enxarca nossos valores, sobretudo os das classes médias<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn14" name="_ftnref14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esse preconceito classista é o indicador mais
essencial, e também o mais profundo, tanto na análise mais acadêmica do cinema
e das outras mídias como na avaliação das práticas cineclubistas. No caso
brasileiro, essa prevenção solerte - porque ninguém admite, nem mesmo em seu
íntimo, e, de fato, provavelmente nem se dê conta - é vizinha do preconceito
racial, já que, no caso brasileiro, socialmente não é possível separar a cor da
pele da ideia de povo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Entretenimento e lazer <i>versus</i> conteúdos
profundos e engajamento social<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Este item é praticamente uma extensão do anterior. O
gosto popular, além da mediocridade, nessa perspectiva se confunde, se mescla
com a alienação, identificando no cinema apenas uma “função de distração”.
Kracauer, em <i>O Culto da Distração<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[15]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>,
escrito em 1926, já demonstrava a contradição da <i>distração</i> oferecida nos
palácios de cinema de Berlim; resumindo: a fuga que pretendiam oferecer ao
público, às massas de trabalhadores, apenas evidenciava o caos em que viviam: “(as
massas)<i> ...apenas permitiam tão facilmente serem induzidas à estupidez
porque estavam muito próximas da verdade</i>”. Hoje diríamos que os
super-heróis propiciam uma sublimação da condição de vulnerabilidade material e
moral do espectador. Independentemente da eventual identificação, projeção,
transferência da potência desses seres imaginários, será que eles não produzem
também, como aponta Kracauer, a sensação oposta, de fraqueza e insignificância,
a saída do cinema como o revertério de uma droga? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No outro lado, e notem que estamos sempre
tratando de <i>pares</i> de sentido, ainda é o pensador alemão que faz
referência a práticas de uma cultura pretensamente mais elevada “<i>que na
verdade apenas exercitam formas anacrônicas que fogem às necessidades urgentes
do nosso tempo</i>”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn16" name="_ftnref16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><i>.</i>
Pelo menos nos países periféricos, onde a maioria sequer tem acesso ao cinema,
e isso há quase duas gerações, os cineclubistas ainda falam do cinema sob sua
forma mais anacrônica<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn17" name="_ftnref17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
e através dele, da “alfabetização do olhar”<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn18" name="_ftnref18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> e
da politização das consciências – o que a vem a ser mais ou menos a mesma
coisa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como se a frequência geralmente eventual de uma
cerimônia precária – como são, em sua maioria, as práticas cineclubistas em
nosso meio – pudesse criar uma consciência qualquer. Nem mesmo a distração que
revela o caos, o conforto do xópim e das “áreas de alimentação”, essas sim
impactantes em sua irrealidade diante da condição da maioria dos brasileiros...
Ademais, se 10% vão ocasionalmente ao cinema (79% deles estudantes
universitários das classes médias e alta<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn19" name="_ftnref19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>)
no Brasil, e 1% da população vê filmes brasileiros nas salas comerciais, que
índice poderíamos atribuir aos cineclubes? Mas isso não se aplica nesses
termos, claro. Mais correto seria nos perguntarmos quanto da comunidade em que
o cineclube atua o está frequentando? E, afinal, medir a frequência de salas
escuras já tem, hoje em dia, muito de uma “forma anacrônica” de tratar da
comunicação audiovisual em país periférico. Gramsci usava a expressão
“superioridade intelectual e moral” para descrever a condição necessária para a
hegemonia cultural dos trabalhadores. Ele certamente não estava falando de um
estilo mais apurado, mas da necessidade de que as formas de produção, circulação
e recepção de <i>sentidos</i> criadas pelo povo fossem melhores, mais ricas e verdadeiras
ao representarem o real, e eticamente válidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cinema comercial <i>versus</i> cinema de autor<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ainda mais ou menos no mesmo registro, o par dialético
cinema comercial – cinema de autor é uma construção posterior à sua origem
inicial: a cinefilia. Certamente a ideia de cinema de autor, isto é, a primeira
concepção de que a medida de valor estético do filme era a originalidade, a
sensibilidade única, do diretor, surge com o primeiro período da cinefilia, ao
longo dos anos 20. Se Delluc não inventou a palavra cineclube, criou o termo
cineasta<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn20" name="_ftnref20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Mas aqueles editores de revistas, críticos e cineastas não se opunham ao cinema
comercial: reivindicavam uma abertura para as novidades, para a experimentação,
para as liberdades de estilo e linguagem – ao mesmo tempo em que defendiam a
indústria do cinema francês, na qual queriam ter seu espaço. A expressão cinema
de autor se institucionaliza mesmo no segundo grande período da cinefilia, ao
final da 2ª. Guerra Mundial e com o famoso texto de Truffaut, de 1954, nos <i>Cahiers
du cinéma</i>. É provável que a universalização do conceito de cinema de autor,
processo também propiciado pelo então grande número de cineclubes em todo o
mundo – a verdadeira <i>vague </i>daquela época – e pelo seu caráter mais
contestador, tenha naturalizado, de certa forma, essa oposição. Falsa oposição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, como é evidente, o cinema de autor é um
cinema de ascendência pequeno-burguesa – e nessa medida se opõe <i>parcialmente</i>
ao cinema comercial, que representa o capital, a classe dominante. Os autores
em questão, em sua maioria (no caso parisiense Godard seria a grande exceção),
fazem um cinema sem engajamento social – e não estamos falando de cinema
militante – muitas vezes de invenção no plano da linguagem, outras vezes apenas
inócuo. Esse autor, como sua fração de classe, vive numa corda bamba, oscilando
ideologicamente entre os polos sociais mais relevantes. O que chamamos de
cinema de autor refere-se quase sempre a um cinema mais complexo e rico do que
a produção mais padronizada do cinema comercial. Também se confunde, por
extensão, com o cinema produzido fora da indústria, nos países que têm alguma –
como é o caso do Brasil. Nesses, a maior parte da produção – em títulos – é o
que chamam de independente (termo também bastante discutível). Esses autores,
assim como os de todos os outros países em que não há quase produção, até pela
situação periférica que ocupam, produzem um cinema muitas vezes mais instigante
em termos sociais e políticos. Mas raramente com ligações orgânicas com o povo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn21" name="_ftnref21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
que, ademais, tem menos acesso ao cinema e, particularmente, a esses filmes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em resumo, os autores, historicamente e, mesmo hoje,
em sua maioria, não se opõem ao cinema comercial, ao qual gostariam de ter acesso.
De fato, nos países mais avançados essa dicotomia já foi resolvida: os capitais
da grande indústria se associam aos chamados <i>indies</i>, independentes: lá o
cinema de autor aninha-se no cinema comercial<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn22" name="_ftnref22" style="mso-footnote-id: ftn22;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A superação do cinema comercial, então, não passa por
essa falsa oposição, mas dependerá de um cinema ainda por ser construído – mesmo
que haja muitas experiências nesse sentido um pouco por toda parte e ao longo da
história do cinema. Penso que esse cinema se chamaria, provavelmente, de cinema
do povo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cinema amador e cinema profissional <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Neste par ideológico, cinema profissional é mais
simples de definir: é o cinema feito por quem sabe, tem formação, atende à
demanda e às exigências do mercado, é produzido com intenção de fazer dinheiro:
sob a forma de salário para os “profissionais”, e de lucro, para os donos dos
meios de produção. A polissemia de cinema amador, contudo, é impressionante. A
expressão nasceu com a criação do mercado caseiro de cinema, com o lançamento
dos pequenos formatos, bem no início dos anos 20. Era um cinema para - na falta
de uma expressão melhor, mais antiga, como a dos <i>cinéfilos</i> – os que
também <i>amavam</i> <i>o cinema</i>, mas que, ao mesmo tempo, tinham que ter
sua distância do mercado, isto é, do público, assegurada. Cinema amador, então,
era o que hoje chamamos de filme de família ou doméstico. Como doméstico era o
espaço a que ele devia se limitar. O investimento publicitário, na época, para
consolidar essa esfera privada, foi impressionante. Mas alguns desses “amadores
de cinema”, resolveram expressar-se através das novas tecnologias: o 16mm e o
9,5mm. Aí, cinema amador tinha que ser visto como algo incompleto, ou mal
realizado – em contraposição ao profissional – e sobretudo diletante, sem
expressão de valor, sem lugar no mercado. Até hoje essa é a maior barreira, a
grande contradição, entre essa produção de certa forma livre e o mercado, onde
os produtos encontram sua razão de ser: a condição de mercadoria. E, claro, o
público, que consolida essa relação. Não apenas nas formas mais tradicionais de
cinema essa condição persiste: mesmo nos espaços virtuais de comunicação,
apenas uma minoria mais identificada com os valores do mercado alcança alguma
audiência.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiSKFzkFYc7P3lMIigTZwRqpVfGP0d-6BQQ6yKyP23R8u5_2APZuF_ZXhjDLCfV3fs3wM6mEKECFGHK00GeWDRbOqmwF0adV7Vfuich8QEVMDxhzKb95WWrr7Pgagj2GC47sVZrwsx7vqYuGXQ4GDOzPVTSblqwJLEMNHi6vMTERgREFqQPgU485DSn" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="" data-original-height="364" data-original-width="233" height="101" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiSKFzkFYc7P3lMIigTZwRqpVfGP0d-6BQQ6yKyP23R8u5_2APZuF_ZXhjDLCfV3fs3wM6mEKECFGHK00GeWDRbOqmwF0adV7Vfuich8QEVMDxhzKb95WWrr7Pgagj2GC47sVZrwsx7vqYuGXQ4GDOzPVTSblqwJLEMNHi6vMTERgREFqQPgU485DSn=w65-h101" width="65" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhHpi0t7vx2gqdeSzsgQIl-EDBsGTN2TsbE-4qcBiOmAyEGnLmir-8c3epwYiizPmL9TujYv5rA1qmy0u1sw_CIQTl3odagtS51kyltf49--2hU6xhSRoqYzl56kHo8hWCZnpMyDR3-wc8L80P65b8-IGI-E0NULoEkivzzxJqeXi30RDBnWV_LEvlW" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="359" data-original-width="214" height="99" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhHpi0t7vx2gqdeSzsgQIl-EDBsGTN2TsbE-4qcBiOmAyEGnLmir-8c3epwYiizPmL9TujYv5rA1qmy0u1sw_CIQTl3odagtS51kyltf49--2hU6xhSRoqYzl56kHo8hWCZnpMyDR3-wc8L80P65b8-IGI-E0NULoEkivzzxJqeXi30RDBnWV_LEvlW=w59-h99" width="59" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg5yz-JXVywhoNTRasACnkbYev7neRFfRpjN85uYAPoU_db1N9OA-ReZh203O8co80QPmNICKoxMa3nBvry7dwAHHxVFKUpDlBfZP3fBNDFXoKJr-RKo7dPcsKsdqdDvKrCqP2iU8iXz9A62wUeJg5ZAmPegHSmgsNVeV-z0D-CIwsu7lRNeysV3nLE" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="359" data-original-width="215" height="101" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg5yz-JXVywhoNTRasACnkbYev7neRFfRpjN85uYAPoU_db1N9OA-ReZh203O8co80QPmNICKoxMa3nBvry7dwAHHxVFKUpDlBfZP3fBNDFXoKJr-RKo7dPcsKsdqdDvKrCqP2iU8iXz9A62wUeJg5ZAmPegHSmgsNVeV-z0D-CIwsu7lRNeysV3nLE=w60-h101" width="60" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjnq-aV4ziVM3yS8TQd4tSByqOp1MU3Pu2pmncpaHxHUkkBPAqYD1nkfPVrZcYUOhgrV9Wp_w8M6ET233pHOe9hWe8umegWGdMmek2i669wkHtrufli41Bvmu997Ug8pp2YWEQgT53AUSa63lMWX3Q2mz7geDix-M1nNIOaeeyxOc9gLLEN_m-RoTa1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="358" data-original-width="227" height="106" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjnq-aV4ziVM3yS8TQd4tSByqOp1MU3Pu2pmncpaHxHUkkBPAqYD1nkfPVrZcYUOhgrV9Wp_w8M6ET233pHOe9hWe8umegWGdMmek2i669wkHtrufli41Bvmu997Ug8pp2YWEQgT53AUSa63lMWX3Q2mz7geDix-M1nNIOaeeyxOc9gLLEN_m-RoTa1=w67-h106" width="67" /></a></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiSKFzkFYc7P3lMIigTZwRqpVfGP0d-6BQQ6yKyP23R8u5_2APZuF_ZXhjDLCfV3fs3wM6mEKECFGHK00GeWDRbOqmwF0adV7Vfuich8QEVMDxhzKb95WWrr7Pgagj2GC47sVZrwsx7vqYuGXQ4GDOzPVTSblqwJLEMNHi6vMTERgREFqQPgU485DSn" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhHpi0t7vx2gqdeSzsgQIl-EDBsGTN2TsbE-4qcBiOmAyEGnLmir-8c3epwYiizPmL9TujYv5rA1qmy0u1sw_CIQTl3odagtS51kyltf49--2hU6xhSRoqYzl56kHo8hWCZnpMyDR3-wc8L80P65b8-IGI-E0NULoEkivzzxJqeXi30RDBnWV_LEvlW" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg5yz-JXVywhoNTRasACnkbYev7neRFfRpjN85uYAPoU_db1N9OA-ReZh203O8co80QPmNICKoxMa3nBvry7dwAHHxVFKUpDlBfZP3fBNDFXoKJr-RKo7dPcsKsdqdDvKrCqP2iU8iXz9A62wUeJg5ZAmPegHSmgsNVeV-z0D-CIwsu7lRNeysV3nLE" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">Publici</a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg5yz-JXVywhoNTRasACnkbYev7neRFfRpjN85uYAPoU_db1N9OA-ReZh203O8co80QPmNICKoxMa3nBvry7dwAHHxVFKUpDlBfZP3fBNDFXoKJr-RKo7dPcsKsdqdDvKrCqP2iU8iXz9A62wUeJg5ZAmPegHSmgsNVeV-z0D-CIwsu7lRNeysV3nLE" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span lang="PT-BR" style="font-family: Tahoma, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 10pt;">dades Pathé
Baby e Kodak 16mm, para a família</span></span></a></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Apareceram os “clubes de cinema”, que se distinguiam
dos cineclubes de cinéfilos: reuniam amadores de cinema. Porém, logo certas
empresas começaram a usar os pequenos formatos: houve uma onda de salas
comerciais de cinema em 16 mm, e mais tarde as televisões passaram a usar a
bitola para diversas finalidades. Surgiu um mercado para filmes em 16mm,
principalmente. E o cinema amador passou a se chocar diretamente com o campo
profissional. Pior que isso, os formatos associados ao cinema amador também
serviram a um <i>cinema militante</i>, com vocação para se estabelecer nos
meios populares e não nos mercados. Outros segmentos também já faziam parte
desse cinema: o filme experimental, o filme científico, entre outros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cinema amador é, portanto, um rótulo e uma construção
sócio-política e ideológica, que identifica (mal) um grande campo do cinema que
não se realiza, não se identifica com o mercado, mas com o público, seja na
esfera mais privada, nos usos não ou pouco monetizados – como educação, ciência
ou experimentação – ou no âmbito mais direto da disputa social e política. Curioso
que o cinema de autor nunca se confunda com cinema amador (exceto, talvez, nas
fantasias dos realizadores amadores, isto é, os que não chegam ao mercado). Se
é verdade que há um <i>cinema do público</i> a construir, uma nova organização
da comunicação através das mídias audiovisuais a organizar, e sua base social e
material deve ser popular, então o que chamamos de cinema amador é um dos seus
elementos fundadores. Outro, no plano da organização, é (ou pode ser) o
cineclube. Ambos nasceram juntos, nos cinemas proletários do começo do século
passado<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn23" name="_ftnref23" style="mso-footnote-id: ftn23;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[23]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
e voltaram a se encontrar, de forma mais definitiva, com a introdução da
tecnologia digital e o estabelecimento da rede mundial de computadores e outros
equipamentos. Depois de um longo desvio pela cinefilia, a produção voltou a
fazer parte das práticas cineclubistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cineclube como metonímia na educação (e alhures)<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como têm revelado os trabalhos<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn24" name="_ftnref24" style="mso-footnote-id: ftn24;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[24]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
de levantamento e identificação de textos universitários sobre o cineclubismo,
a maior parte dessa produção diz respeito ao “cineclube na escola” ou na
educação. No entanto, dos muitos que tive oportunidade de ler, nenhum explica,
mostra ou propõe de alguma maneira as <i>formas de organização concreta</i>
desses “cineclubes”. Na verdade, o uso desse termo é uma metonímia: o exercício
de exibição e discussão de um filme no lugar de uma forma mais permanente de
organização do público – ou de um determinado público: geralmente o da sala de
aula. Nos meus tempos de “ensino primário” até se passavam filmes, geralmente
na biblioteca<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn25" name="_ftnref25" style="mso-footnote-id: ftn25;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[25]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>:
eram filmes educativos, do tipo que ilustrava como evitar doenças, e
eventualmente atividades de lazer. Em sala de aula, usavam-se gravuras coloridas,
penduradas na frente da lousa, com as quais deveríamos exercitar descrição,
narração e outras formas de discurso escrito. Um exercício muito produtivo.
Creio que o “debate” de um filme sob a direção de um professor é um exercício
do mesmo tipo, e certamente válido. Mas tem pouco a ver com a estrutura – e o
termo é bem útil e esclarecedor aqui – que constitui, de fato, um cineclube.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Exercitar os alunos na produção de filmetes (o termo
não é pejorativo), introduzindo-os a alguns recursos básicos de linguagem,
constitui um avanço muito significativo em relação à minha escolaridade de 60
anos (!) atrás. E já não era sem tempo. Mas é também mais um recurso didático,
não um cineclube. De fato, se trocarmos a palavra cineclube, em qualquer desses
casos, por cinema, acho que estaríamos ganhando no sentido. Cinema na escola;
cinema como linguagem e como dispositivo cultural, cinema como paradigma da
comunicação audiovisual. Não se faz um sindicato em sala de aula, ou uma
cooperativa, a não ser, talvez, como metáfora. No meu primeiro ano fizemos um
simulacro da eleição para governador de 1958, com alunos representando os
candidatos (Adhemar de Barros, Carvalho Pinto e Auro de Moura Andrade), emulando
os debates entre eles, com nossos títulos de eleitor, mesas eleitorais e
cabines de votação. Não tenho realmente a menor ideia de como ganhei, na
ocasião. fama de “comunista” entre os coleguinhas: aos sete anos de idade
(incompletos) nem eu nem eles sabíamos o que era isso. Afinal, eu “fui” o
Adhemar de Barros na brincadeira pedagógica. Mas a eleição se deu lá fora (e o
Adhemar não tinha nada de comunista).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Seria possível radicalizar esse raciocínio, e
reconhecer o uso de cineclube como metonímia em várias atividades dispersas
que, em muitos casos, contribuem ideologicamente para a descaracterização da
tradição de organização do público para apropriar-se do cinema (ou em sua
versão contemporânea, das mídias audiovisuais). Isso se dá com a redução
metonímica do cineclube ao ato ou exercício de projetar um filme e debatê-lo:
“vamos fazer um cineclube às 18hs”, “toda primeira quarta-feira de cada mês tem
cineclube” ...</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi5b4xNYNsQeSPKkZMfrc9V6cFGf-ratp37PA0fLZWVhC7qfPtpVxLfONCQ7ChnSD8gKnxvlYkGVPTh8CsZ_xZSBpwSiJlaN3EVlnWeBDk3vQa-M2oV-WkE_5uRYjIA6tVdXkXgvlYBT-ziztYPIEyO7zh9N1NpFr0xTTxQ7_svnHiYspj2mffZXEUp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="" data-original-height="207" data-original-width="332" height="73" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi5b4xNYNsQeSPKkZMfrc9V6cFGf-ratp37PA0fLZWVhC7qfPtpVxLfONCQ7ChnSD8gKnxvlYkGVPTh8CsZ_xZSBpwSiJlaN3EVlnWeBDk3vQa-M2oV-WkE_5uRYjIA6tVdXkXgvlYBT-ziztYPIEyO7zh9N1NpFr0xTTxQ7_svnHiYspj2mffZXEUp=w118-h73" width="118" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhjy9HeSdO-xG0_z34q7k2FEkHUbrGC8mp_i_Di2kldj2mhvTDe01MfYI71r065B0xEXoPCw-RzZd5emHtfWLLNMWvdYT927-M_8CHRspF1T2w_C_cyHM3sFjmv-Kb3FXdtQ0_Xhc2VHDQfknwVj-KdNRasN2KCfnxu6agT_tTy5W1gJbRmVI8J3no3" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="213" data-original-width="538" height="72" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhjy9HeSdO-xG0_z34q7k2FEkHUbrGC8mp_i_Di2kldj2mhvTDe01MfYI71r065B0xEXoPCw-RzZd5emHtfWLLNMWvdYT927-M_8CHRspF1T2w_C_cyHM3sFjmv-Kb3FXdtQ0_Xhc2VHDQfknwVj-KdNRasN2KCfnxu6agT_tTy5W1gJbRmVI8J3no3=w182-h72" width="182" /></a></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR; mso-no-proof: yes;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A superação dos modelos de escola e de cineclube</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Eis aí outro vasto tema que apenas pode ser indicado
neste texto. No mesmo artigo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn26" name="_ftnref26" style="mso-footnote-id: ftn26;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[26]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
que citamos em nota um pouco atrás, depois de várias considerações sobre os
usos possíveis de literacia e termos conexos, Mônica Fantin propõe:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">“Ao abrir suas portas para outras direções além da
socialização de conhecimentos, a escola permitiria a entrada das mais variadas
culturas: a das mídias, a das ruas, a clássica, a moderna, a contemporânea em
suas mais diversas manifestações, e isso pode fazer a diferença. Atuando em
parceria com organizações culturais, associação de pais, professores e
moradores, cinematecas, universidades, as mídias poderiam aí ser usadas para
ampliar a expressão das vozes da triangulação estudantes-escola-família. Como
espaço para produção de rádios e jornais comunitários, vídeos e outros
materiais, as salas informatizadas da... </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">(escola)<i> ...também seriam espaço de cultura
"real e virtual, a que a comunidade tivesse acesso.” <o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 28.55pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esta citação serve para resumir a
ideia, de resto exposta de modo bem não muito preciso. Mas conciso como cabe
aqui. Essa “escola”, então, estaria (estará?) na direção de superar a fronteira
– conceitual e política - com um Estado radicalmente democrático, que também percorreria
a trajetória da sua extinção. Voltando a Gramsci, a concepção do <i>Estado
ampliado</i>, e a construção do Estado socialista que prepara um futuro em que
ele mesmo deve se dissolver, vai nessa direção de juntar diversas práticas e
instituições sob a direção de formas coletivas de gestão. Marx e Engels já
chamavam os clubes de trabalhadores de <i>formas do estado proletário</i>,<i> </i>na
metade do século 19<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftn27" name="_ftnref27" style="mso-footnote-id: ftn27;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[27]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. O
grande problema da citação acima é propor uma transformação, que deve ser
radical, usando como exemplos e conservando as instituições como são
atualmente. Elas também se transformarão, necessariamente. Penso que o
cineclube – aliás sequer mencionado (em seu lugar estão as cinematecas), o que
mostra um pouco sua falta de prestígio e sua desimportância social relativa –
está vocacionado para reunir numa nova instituição, a <i>instituição
audiovisual da comunidade</i>, os elementos constitutivos do dispositivo social
de comunicação audiovisual. Ou seja: produção, circulação, recepção e
conservação. A escola deverá ir na mesma direção, integrando-se, com outras
práticas, na e sob a direção da comunidade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 36.0pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Tahoma",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Comentários no contexto dos
textos discutidos no grupo de estudos sobre cineclubismo PEC-Ponto de Encontro
Cineclubista.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">1750. Baumgarten, Alexander
Gottlieb. <o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Benjamin, Walter. 1936. <i>A
Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica</i><o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Muitos pássaros decoram seus
ninhos, os exemplos de danças de acasalamento existem em várias espécies.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <i>Languages
of art – an approach to a theory of symbols</i>. <span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">1968. Indianapolis: Bobbs-Merryl Company<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <i><span lang="PT-BR">Marxismo e Filosofia da Linguagem.
</span></i><span lang="PT-BR">2014, (Volochínov) São Paulo: Hucitec<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Produto ideológico do século
19 com raízes da pseudociência da frenologia: cultura da testa larga, curta e
média (<i>Highbrow, lowbrow, middlebrow</i>).<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: FR-CA;"> <span lang="FR-CA">Burch, Noel. 2007.<i>De la
beauté des latrines – pour réhabiliter le sens au cinéma et ailleurs</i>. </span></span><span lang="es-419" style="mso-ansi-language: #580A;">Paris : L’Harmattan<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: #580A;"> <span lang="es-419">Martín-Barbero, Jesús e Rey,
Germán. 1999. <i>Los ejercícios del ver – Hegemonía audiovisual y ficción
televisiva</i>. Barcelona: Gedisa Editorial<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="es-419" style="mso-ansi-language: #580A;"> Sales Gomes, Paulo Emílio. 2016. </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“Perplexidades brasileiras”, em <i>Uma
Situação Colonial?</i> São Paulo: Cia; das Letras.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> _____________________ . 2001. <i>Cinema:
Trajetória no Subdesenvolvimento</i>. São Paulo: Paz & Terra.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Aqui há mais que simples
gosto popular: os exibidores pagavam os filmes, geralmente produzidos na Boca
do Lixo, a preço fixo. Por isso, além da frequência que alcançavam, sua parte
nas receitas não crescia proporcionalmente ao seu eventual sucesso, como era o
caso dos filmes estrangeiros, pagos com uma porcentagem sobre a renda.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <i><span lang="PT-BR">Maciste contra Hércules</span></i><span lang="PT-BR">, por exemplo: </span></span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=X1mqQRG3a5o&t=19s"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.youtube.com/watch?v=X1mqQRG3a5o&t=19s</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">. Mas houve realmente uma onda de
filmes do tipo.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Trabalhei no departamento de
marketing da Rede Globo nos anos 80. As “análises” lá produzidas partiam do
axioma de que o gosto da classe A era idêntico ao das classes D e E (segundo
classificação da ABDV, Associação Brasileira de Dirigentes de Vendas). Os
setores médios é que são mais “sofisticados”.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Kracauer. Siegfried. </span></span>1926.
“Cult of Distraction: On Berlin’s Picture Palaces”, em <i>Frankfurt Zeitung</i>,
março, 4. <span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Publicado também em <i>The
Mass Ornament</i>, 1988. Cambridge: Harvard University Press. Há edição
brasileira.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">As traduções da versão em
inglês são minhas.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref17" name="_ftn17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">No limite, há mesmo vários
casos de atividades de caráter cineclubista em 16mm ou em Super 8 mm.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn18" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref18" name="_ftn18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Recentemente vimos aqui no
grupo o texto de Mônica Fantin - em que ela faz uma e verdadeira exegese dessa
expressão, dissolvendo e relativizando seu sentido mais corrente que é o de
transmissão de códigos de leitura do texto fílmico para quem não os conhece.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn19" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref19" name="_ftn19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Duarte, Rosália. 2002. <i>Cinema
& Educação</i>. Belo Horizonte: Autêntica Editora, p. 14.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn20" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref20" name="_ftn20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Aristarco, Guido. 1961. <i>História
das Teorias do Cinema</i>. Lisboa: Ed. Arcádia, p. 113.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn21" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref21" name="_ftn21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Muitos cineastas e coletivos
de produção – que, entretanto, no mais das vezes não abandonam a superestimação
do autor – existiram e ainda existem, procurando estabelecer vínculos reais com
ambientes populares, sobretudo nos países periféricos e colonizados ou em
situações de forte mobilização social, como em 1968 na França e outros países,
ou tempos de ditaduras, essa paisagem tão latino-americana. No entanto, esses
exemplos são numericamente pouco relevantes dentro do amplo universo do cinema
de autor, são como exceções que confirmam a regra, e o caráter oscilante de sua
fração de classe.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn22" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref22" name="_ftn22" style="mso-footnote-id: ftn22;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Poderíamos, ainda, debater
sobre quem é, efetivamente, o autor. Aqui estamos questionando a figura do
diretor, com quem geralmente se identifica esse personagem. No entanto, esses
diretores foram, originalmente, mais que isso: verdadeiros empreendedores, que buscavam
e reuniam as condições financeiras e técnicas para efetivar um projeto que eles
lideravam. Em diferentes contextos, compõem em variadas medidas com o sistema
de produção predominante em seus respectivos países. Até, como indiquei, quando
esse sistema prevalece. Mas esse já era o caso quando os <i>Cahiers de cinéma</i>
descobriram autores em plena Hollywood.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn23" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref23" name="_ftn23" style="mso-footnote-id: ftn23;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[23]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Várias histórias do cinema
documentário estabelecem como marco inicial a produção do Cinema do Povo,
também considerado o primeiro cineclube por muitos.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn24" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref24" name="_ftn24" style="mso-footnote-id: ftn24;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[24]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Sobretudo a pesquisa nos
arquivos acadêmicos oficiais, feitos por Alex Santos, e as que se estendem
mais, até a internet, como o trabalho de Gizely Cesconetto, ambos membros do
PEC.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn25" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref25" name="_ftn25" style="mso-footnote-id: ftn25;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[25]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Fiz meu curso primário –
equivalente ao <i>ensino fundamental 1</i>, hoje em dia – no Instituto de
Educação Caetano de Campos, uma escola com muita estrutura, e um corpo docente
bastante capacitado, no tempo em que certas escolas públicas eram melhores que
todas as instituições privadas e a gente saia alfabetizado, no sentido
tradicional do termo, ao fim do primeiro ano.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn26" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref26" name="_ftn26" style="mso-footnote-id: ftn26;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[26]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">“Os cenários culturais e as <i>multiliteracies</i>
na escola”, em<i> Comunicação e Sociedade</i>, vol. 13, 2008, pp. 69-85<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn27" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Pressupostos%20indiscut%C3%ADveis%20postos%20em%20quest%C3%A3o.docx#_ftnref27" name="_ftn27" style="mso-footnote-id: ftn27;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[27]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <i><span lang="PT-BR">Comunicado do Comitê
Central à Liga Comunista</span></i><span lang="PT-BR">, 1850.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-8933088902913909832022-05-15T10:16:00.003-07:002022-05-15T10:16:54.112-07:00<p> </p><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqW2f3E72El7YeI_HIgiR8iLs8OswvsfIZSN2YcPTOI7T6zWThv9Hiw2i_-huYIqHdtrjJXNiuk4sC7f3B4m-9yRLxXBr4wqmqRHR7k6pnMg-Q1Cdc8Q1Sx26f0mMWIYjt6UMzEKq5Rw0qLb5C3WtjLQzwgSowYhaka6-68ELBn0gdoX_dW4AoKra_/s5344/IMG_20220515_130951483_HDR.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="5344" data-original-width="3006" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqW2f3E72El7YeI_HIgiR8iLs8OswvsfIZSN2YcPTOI7T6zWThv9Hiw2i_-huYIqHdtrjJXNiuk4sC7f3B4m-9yRLxXBr4wqmqRHR7k6pnMg-Q1Cdc8Q1Sx26f0mMWIYjt6UMzEKq5Rw0qLb5C3WtjLQzwgSowYhaka6-68ELBn0gdoX_dW4AoKra_/w360-h640/IMG_20220515_130951483_HDR.jpg" width="360" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p></blockquote><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><b> Cine Clube de São Paulo</b> (1925) foto da revista <b>Cinearte</b></span></div><br /><p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-70298052686020824232022-05-15T09:56:00.004-07:002022-05-16T08:34:40.600-07:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><b>Arqueologia cineclubista: o Paredão, o Cinema Club e
outras pistas na busca pelos ossos dos primeiros cineclubes brasileiros.</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">Mais ou menos recentemente publiquei no meu blogue um
artigo escrito há um ano debatendo as origens do termo cineclube e o
reconhecimento ou a adoção de um “primeiro cineclube” por diferentes
organizações cineclubistas</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[1]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">
internacionais. Neste texto pretendo examinar mais de perto os estudos
existentes sobre os primórdios da palavra e das práticas cineclubistas no
Brasil.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Reproduzindo – a meu ver, de forma colonizada e
acrítica<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> – as
referências predominantes na literatura internacional sobre essa questão, no
Brasil a maioria dos textos adota como nosso primeiro cineclube o Chaplin Club,
que funcionou na capital federal, Rio de Janeiro, de 1928 a 1930. O Chaplin
Club teve indiscutivelmente uma enorme importância na trajetória do
cineclubismo, e do cinema, em nossas terras. Trouxe para o País as grandes
discussões de cinema que se davam na Europa, assim como uma variada filmografia,
desconhecida por aqui até então. O clube lançou a revista <i>O Fã</i>, com nove
números – digitalizados e disponíveis na internet -, que terá sido uma primeira
publicação mais teórica sobre cinema no Brasil<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os artigos e autores mais conhecidos nos meios
cineclubistas, e mesmo além destes, mencionam também o grupo do Paredão –
alguns até chamam de Cineclube Paredão – que teria existido na mesma cidade do
Rio de Janeiro em 1917. Menos comuns ou conhecidas são as referências ao
cineclube de Jayme Redondo, em São Paulo, em 1925. E para por aí, até o Clube
de Cinema de São Paulo, de 1940.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Minhas pesquisas, mesmo sendo bastante incompletas
quanto ao caso brasileiro<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>, e
minha convicção de que o cineclubismo é contemporâneo do cinema e se constitui
institucionalmente ao final da primeira década do século 20, me levaram a
várias informações que discutirei aqui. Vou tomar o caso do Paredão como ponto
de partida, não porque ache que tenha alguma precedência na história do
cineclubismo, mas sim por ter feito ou revisto algumas pesquisas, recentemente,
sobre o caso. Ele servirá de mote para discutirmos um pouco a epistemologia da
história do cineclubismo brasileiro.<b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O <i>causo</i> do Paredão<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Pode-se reconhecer uma certa linearidade nas
referências ao grupo do Paredão nos textos que falam, em maior ou menor grau,
da história do cineclubismo. A menção mais antiga que encontrei é a de Carlos
Vieira<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>, no
número 13 da revista portuguesa <i>Celulóide</i>, de 1959<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“Os autores que
se voltam para o passado cinematográfico brasileiro descobrem, no ano de 1917,
no Rio de Janeiro, o primeiro grupo de aficionados realizando exibições com
projetor movido a mão e discutindo os filmes apresentados nos cinemas da
cidade. Era o ‘Nacional Infante Filme’, fundado pelos jovens cinemaníacos Pedro
Lima, Paulo Vanderley, Adhemar Gonzaga e Álvaro Rocha, que não só faziam
sessões com pedaços de fitas conseguidos nas distribuidoras, como tentavam a
filmagem de cenas breves em que todos intervinham como atores.”<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em que pese a importância de Carlos Vieira na
trajetória do cineclubismo brasileiro, falta um pouco de rigor e sobram
afirmações desprovidas de base, provavelmente transmitidas várias décadas
depois por um dos membros do grupo que viria a constituir a maior parte da
redação da revista <i>Cinearte</i> <a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Pouco tempo depois do artigo de Vieira foi a vez de
Rudá Andrade escrever, na <i>Cronologia da Cultura Cinematográfica no Brasil <a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[8]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>,
publicada em 1962:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 56.9pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 56.9pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“<i>Adhemar Gonzaga, Alvaro Rocha,
Paulo Wanderley, Luís Aranha, Hercolino Cascardo e Pedro Lima, do Colégio Pio-americano,
formam um grupo de interessados em cinema, frequentando os cinemas Íris e
Pátria e discutindo sobre os filmes. Conforme Pery Ribas, reúnem-se na casa de
Álvaro</i></span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Rocha,
que</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> <i>colecionava
filmes, e lá assistiam sessões como um pequeno clube de cinema.</i>” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Rudá já coloca claramente sua fonte, embora hoje pouca
gente saiba quem foi Pery Ribas, o que o autor também não explica. Ribas foi ator
e produtor, participando de <i>Homens do Sul</i>, realizado em Pelotas em 1927,
e também um dos redatores principais de <i>Cinearte.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Creio que as duas referências, e as respectivas
publicações, foram pouco conhecidas no Brasil e/ou rapidamente esquecidas.
Assim, tendo trabalhado alguns anos na Cinemateca e convivido um pouco com o
Rudá, assim como partilhei alguns anos de cineclubismo com Carlos Vieira, talvez
tenha sido eu o próximo nessa linhagem a publicar, em um livrinho ainda mais
desconhecido (MACEDO, 1982), uma citação praticamente literal desse último
texto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Seguindo essa trajetória, André Gatti (2000),
importante cineclubista e professor de cinema que conhecia tanto meu texto
quanto o do Rudá, assinou o verbete <i>Cineclube</i>, da <i>Enciclopédia do
Cinema Brasileiro</i>. Publicação academicamente “legítima”, mais recente e que
obteve algum sucesso editorial, é sobre o texto do André, provavelmente, que se
baseou a grande maioria das citações posteriores do Paredão. Gatti também é o
primeiro a chamar o grupo de Cineclube Paredão, mesmo alertando para o fato de
que ele jamais se constituiu formalmente e mesmo que não há evidência
conclusiva da sua existência. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Estas notas não têm a pretensão de esgotar o assunto,
mas como estou pesquisando constantemente, creio que é possível afirmar que a
maioria dos textos que mencionam o grupo do Paredão repetem as informações do
verbete de Gatti. Taís Campelo Lucas, no entanto, em sua dissertação de 2005, <i>Cinearte:
o cinema brasileiro em revista (1926-1942)</i>, traz outras informações
importantes, baseadas em depoimentos de Adhemar Gonzaga ao Museu da Imagem e do
Som do Rio (1974), e de Pedro Lima</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">a <a name="_Hlk103431905">Vera Brandão de Oliveira: “Uma odisseia no tempo: Pedro
Lima em <i>flashback</i>”, na revista <i>Filme Cultura</i>, nº 26, de setembro
de 1974</a><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Lucas cita os cinco integrantes principais do Clube do Paredão: Adhemar
Gonzaga, Pedro Lima, Paulo Wanderley, Álvaro Rocha e Carlos Leal; só este
último deixaria o campo do cinema, fazendo carreira como dentista. Esses seriam
os <i>Big Five</i>, como os denomina Pedro Lima; mas também participavam dos
encontros Luís Aranha, Hercolino Cascardo, Gilberto Souto e L. S. Marinho. Desses
todos, Paulo Wanderley, Álvaro Rocha, Gilberto Souto e L.S. Marinho, além de
Pedro Lima e Adhemar Gonzaga, foram redatores de <i>Cinearte</i> – e vale
lembrar Pery Ribas, citado por Rudá, mas que não era do colégio do grupo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“A rotina do
grupo, que não chegou a se organizar legalmente, consistia em encontrar-se
todos os sábados no Cine Íris, ir ao Café Rio Branco e continuar as discussões
dos filmes que assistiam junto ao paredão de pedra que separava a Baía de
Guanabara da avenida Beira-Mar, segundo Gonzaga, ‘para não tomar balde d’água
na cabeça’” </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(Gonzaga, citado por LUCAS, <i>op. cit</i>.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cesar Augusto de Carvalho, em um capítulo intitulado <a name="_Hlk103432173">“Constelações cinematográficas: cineclube, cultura
brasileira e cinema nos anos 50</a>” (2008) retoma o tema do Paredão e comenta
um aspecto importante:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“... uma
experiência cineclubista que não chegou a ser institucionalizada, mas foi
bastante interessante. Talvez este fato incomode um ou outro historiador
acostumado a considerar a História apenas quando existem registros documentais.
Todavia, hoje, a moderna historiografia não deixa de reconhecer que os
depoimentos orais são, também, registros. Este é o caso do Cineclube do
Paredão”<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Carvalho, em grande parte, cita Lucas, mas acrescenta
outro ponto importante (sem usar a palavra): a cinefilia precoce dos membros do
Clube do Paredão. Ele calcula uma “<i>idade média de 18 anos”</i>. Um pouco
mais exatamente: Adhemar Gonzaga nasceu em 1901; Pedro Lima é de 1902; Paulo
Wanderley, de 1903. Os outros colegas de colégio certamente estariam na mesma
faixa etária: entre 14 e 17 anos. Em seus depoimentos – tomados 55 anos depois
-, tanto Gonzaga quanto Pedro Lima ressaltam essa precocidade: Gonzaga conta
que escrevia sobre cinema, em um jornal manuscrito e ilustrado por ele mesmo,
desde os 11 anos de idade; Pedro Lima, também começou mais ou menos com a mesma
idade, e na época do Paredão já fazia bicos como figurante em alguns filmes, “para
aprender sobre cinema”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Retomando as considerações de Carvalho, eu diria que a
historiografia oral tem fraquezas evidentes, sobretudo a falta de isenção dos
depoentes e falhas ou falsas memórias, eventualmente juntas. Mas tem também a
riqueza inigualável de quem viveu os processos em questão. Completada por uma
pesquisa em outras fontes possíveis, localizando o contexto que envolveu os
depoentes, a oralidade constitui uma fonte importante. Da mesma forma, as
fontes primárias tradicionais são eivadas de erros, contaminadas pelos
redatores – pessoas ou instituições. Também são fontes importantes, mas com
limites, que pedem uma pesquisa histórica em outros sentidos. Finalmente, nesta
breve abordagem epistemológica, “fazer história”, no sentido de interpretar os
dados adquiridos, é uma visão contemporânea sobre o observado. A reconstituição
da história é sempre uma interpretação dos tempos correntes sobre o que, com
essa perspectiva, logramos ver no passado, sejam quais forem as fontes. A
história é uma produção ou representação do presente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Assim, minha interpretação é que o Paredão é uma
lembrança forte de seus principais mentores, muito provavelmente ampliada em
sua importância nos depoimentos tomados várias décadas depois. Tem muito de
verdade: seus membros provavelmente tinham uma forte atração pelo cinema, que era
um entretenimento preferido entre os jovens e crianças, uma invenção
extraordinária que provocava surpresas e emoções. Provavelmente essa cinefilia
juvenil não era a mesma que os mesmos personagens teriam apenas alguns anos
depois, como críticos, cineastas e técnicos. Na minha geração, nos anos 60, por
exemplo, existiam muitos grupos de adolescentes que iam juntos – eram da mesma “turma”
– ao cinema e depois iam conversar sobre o filme em um barzinho ou em um outro
local habitual qualquer. Associar isso a uma ou mais biografias e, por isso,
chamar essa prática, um tanto singela, de cineclube, constitui um certo exagero
e um deslize teleológico. O empréstimo de categorias posteriores a situações do
passado é um dos equívocos mais frequentes em diversas reconstituições
históricas, e particularmente no cinema. Desde o século 19 a palavra clube era
frequente na linguagem corrente, e aplicada em vários contextos; já cineclube
provavelmente não fazia parte do léxico carioca daquela época: só teria se
vulgarizado, de certa forma, na segunda metade da década seguinte, justamente por
influência da cinefilia parisiense.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em resumo, o Paredão merece a citação como
curiosidade, não como fato na história do cineclubismo. Reduzir a história do
cineclubismo a esse caso, pulando em seguida para o Chaplin Club (1928) e
depois, num salto ainda mais longo, para o Clube de Cinema de São Paulo (1940),
me parece evidentemente uma história mal contada. A falta de uma conceituação
mais clara do próprio conceito de cineclube permite produzir essas
“aproximações” meio voluntariosas. Acho mesmo que neste momento mesmo estamos
produzindo equívocos da mesma natureza aos borbotões, quando chamamos de
cineclube iniciativas pessoais, eventuais e até empresariais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Cinema Club de Sobral - 1912<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Biblioteca Nacional tem em seus arquivos um
jornalzinho, em grande parte ilegível, chamado <a name="_Hlk103432790"><i>Cinema
Club – Órgão do Cinema do Club dos Democratas</i></a>. Do que pude ler na
reprodução disponível no saite da Biblioteca, o Club dos Democratas seria uma associação
de caráter “social”, que promovia festas, bailes, concursos com as jovens da
sociedade, e exibição de filmes. O jornal fala de algumas programações de
filmes, assim como dos concursos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Foi em dois artigos e na dissertação de mestrado de Edilberto
Florêncio dos Santos (SANTOS, 2018) que encontrei mais e melhores informações a
respeito da “entidade mãe” – o Club dos Democratas – e sobre o contexto social
e cultural de Sobral à época. Através desses trabalhos se compreende que Sobral
passava por um processo de modernização e civilização: depois do domínio dos
grandes proprietários rurais, uma nova geração de comerciantes e profissionais
liberais – originários daqueles mesmos meios sociais – procurava valorizar a
cidade e a vida urbana. Através dos negócios, claro, mas também da cultura. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">“</span></i><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">As elites sobralenses do início do
século XX pretendiam-se civilizadas. [...] Daí a presença do teatro, do
gabinete de leitura e, sobretudo das festas, onde o refinamento era
indispensável. Nesse contexto, as regras de civilidade constituíam o coroamento
do projeto das elites, visando a aprendizagem de modos sofisticados observados
nas altas esferas das sociedades europeias.”</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> (DA COSTA,
2011, <i>apud </i>SANTOS,<a name="_Hlk103165577"><i>Todos ao Theatro”: Vida
Teatral e Sociabilidade em Sobral-CE (1867-1927</i>)<o:p></o:p></a></span></p>
<span style="mso-bookmark: _Hlk103165577;"></span>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os trabalhos de Florêncio dos Santos se baseiam em
três teatros – São João, Apollo e o dos Democratas - que encarnam exemplarmente
esse processo. E localizam, na mesma época, a importância e o uso do cinema
nesses lugares. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Destas transformações
os espaços teatrais foram partícipes, desempenhando papel de relevância nas
novas formas de viver a cidade e seus espaços constitutivos. Abertos,
permanentemente, às trocas e manifestações da coletividade, ao lazer (e aqui
incluo o lazer instrutivo), à criação e difusão artístico-cultural, à
representação social, à informação e formação... eles adquiriram grande
importância nas dimensões da vida social e cultural da cidade, constituindo-se
em sinônimos de urbanidade e modernidade. Ícones dos prazeres de uma cidade.</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">
(BITTENCOURT, 1999, <i>apud </i>SANTOS, ibidem)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Santos proporciona uma visão bem mais próxima dessas
práticas culturais, altamente segmentadas. Isso nos dá uma imagem viva do
público, ou dos públicos segregados que compunham uma parte significativa da
sociedade sobralense:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“Nos theatros
dos centros adeantados, a platéa é destinada a gemma d’ouro da sociedade, é
mesmo o local mais caro do theatro; mas o que queres? Cada terra com o seu uso,
aqui quando se vê uma pessoa na platéa, começa-se a por em duvida a sua
situação social e financeira; o chick e a moda é alli na segunda galeria, onde
uns varõezinhos de emburana, atravessados de dois em dois metros, tomam o
pomposo titulo de camarotes. [...]Olha alli a primeira galeria, o único local
onde há assentos, pois bem aquelle que nos grandes theatros está classificado
em segundo lugar, aqui figura o “paraizo” e é destinado ao Zé povinho.</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> (<i>A
Lucta</i> de 21 de julho de 1915, ibidem)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 28.55pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">E ainda:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Na divulgação
de “programa” organizado pelo Club dos Democratas em sua sede, em comemoração à
eleição de Justiniano de Serpa a presidência do Ceará no ano de 1920, o jornal
admoesta os leitores: “seguir-se-a no theatro um grande baile, no qual poderão
tomar parte todas as pessoas decentemente trajadas, servindo as divisões do
theatro para separar a devida distância das classes sociaes”</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> (<i>A
Lucta</i>, 26 de junho de 1920, ibidem).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“... as
anunciações encontradas na imprensa, das áreas de ingresso mais barato nas
casas de espetáculos como “poleiro” e “galinheiro”, de onde comumente se
atribui os maus comportamento e desvios das normas. </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(ibidem)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A arquitetura dos teatros reflete a evolução da
composição e da <i>situação</i> – no sentido de situar as pessoas no espaço da
casa de espetáculos – dos públicos, iniciada com o teatro elizabetano:
progressão cada vez mais definida da separação por classes sociais e do
isolamento entre elas<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Processo que se repetirá, de maneira própria, com os cinemas. Em outras
palavras, o Club dos Democratas – também um partido político, segundo Santos –
representa um segmento da classe dominante local que empreende essa campanha
civilizatória que, evidentemente, corresponde a seus interesses e preconceitos.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sua relação com o cinema apresenta particularidades em
relação às outras salas de espetáculos da cidade. É a menor delas e, ao
contrário dos outros dois teatros do estudo, começou com cinema mesmo. Dos três
teatros, o do Club dos Democratas foi o menor e, relativamente, o menos
importante, ou menos lembrado, como também aponta Santos. Não fosse ele, seria
muito mais difícil decifrar o documento encontrado<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
na Biblioteca Nacional:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“Em Sobral, o
cinema cedo se torna uma coqueluche entre as famílias abastadas, e logo começa
a ganhar espaços na cidade e competir com as atividades cênicas, ligadas a
música, a dança e ao teatro. Esse fenômeno amplamente ocorrido em todo o Brasil
ainda no fim do século XIX, também atinge o Theatro São João, que após receber
a visita de diversos cinematógrafos em suas dependências, abriga a primeira
projeção realizada na cidade no ano de 1908 com o ‘cinematográfo Pathé Frères’.
O Club dos Democratas buscando atender a esse uso misto faz exatamente o
caminho contrário, adaptando seu espaço de projeção para atender também aos
usos de uma pequena casa de espetáculos ou ‘theatrinho’, termo usual à época.
Deste feito, na edição do dia 15 de junho do ano de 1913 o periódico O Nortista
em nota intitulada ‘Club dos Democratas’ indicava os preparativos para a
construção de um palco a ser ‘erigido no salão de projeções do cinema’”. </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(Teatro,
Sociabilidades e Costumes: Palco e Plateia das Casas de Espetáculos de
Sobral-CE (1867-1927)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 28.55pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em seu outro trabalho, Santos traz mais considerações
importantes:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">“</span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">A
adaptação das casas de espetáculos para a realização de exibições de filmes por
meio do cinematógrafo e a vulgarização do acesso a este tipo de divertimento
através da diminuição do custo dos ingressos, terminam por exacerbar as brechas
e resistência ao discurso civilizador, mostrando os conflitos de classe dentro
do espaço físico dos Cines-theatro, evidenciada pela separação do público
dentro do recinto, chegando muitas vezes a confrontos físicos.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Nos jornais do
início do XX é convencional encontrar crônicas reclamando as transgressões ‘às
leis da boa civilização’ e alertando a necessidade de extinção de ‘hábitos
poucos recomendáveis numa cidade civilizada’, como os de cuspir no chão, fumar
durante as sessões de cinema ou apresentações de teatro, e jogar pontas de
cigarros sobre os outros níveis de assentos. Estes conflitos são
característicos de tal maneira que um articulista do jornal Correio da Semana
chega a sugerir a restrição de acesso ao Cine-theatro por parte da ‘caboclada
maltrapilha, suja, que passa todo o tempo fumando e cuspindo, transgredindo as
leis de boa civilização’. (Correio da<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Semana, 11 de outubro de 1918)</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">” </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(“Todos ao Theatro”: Vida Teatral e Sociabilidade em
Sobral-CE (1867-1927)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ainda outra informação importante, esta recolhida da
sua dissertação, é que o Teatro dos Democratas também teve um grupo amador de
teatro, formado pelos “jovens democratas”. É mais um indício do funcionamento
de uma atividade associativa produtiva dentro das iniciativas do Club, que
mantinha também uma biblioteca. Não é possível saber, até aqui, se o Cinema
Club era uma atividade mais coletiva, mas há a informação do envolvimento de
associados, inclusive eleitos, em atividades do Club dos Democratas. Parece
certo que o Cinema Club era parte de uma associação, que provavelmente não
distribuía seus resultados financeiros aos sócios e propiciava acesso ao
cinema, provavelmente dentro dos limites ideológicos do seu tempo e,
principalmente, da sua classe social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">É curioso que esse cineclube, ou Cinema Club, bem
burguês – ao modo brasileiro, ligado às oligarquias rurais (os Democratas são
sucessores dos Liberais, como informa também a dissertação de Santos) - seja
contemporâneo dos primeiros cineclubes operários surgidos na Europa e Estados
Unidos (Cinema dos Trabalhadores, 1911, Los Angeles, ou o Cinema do Povo,
Paris, 1913, entre outros).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“O Club dos
Democratas tem sua sede inaugurada no dia 16 de junho de 1910, tendo seus
quadros formados por famílias ligadas ao antigo Partido Liberal que tinha à
frente desde o Império a linhagem do Senador Paula Pessoa. Assim, a sede do
Club se instala na antiga Rua da Vitória, em imóvel pertencente à família do
“senador dos bois”, como era conhecido o patriarca da família. Segundo Da Costa,
assim como no Grêmio Recreativo, os Democratas realizavam um baile mensalmente,
tendo à sua frente <u>uma comissão organizadora composta por membros da
associação eleitos especialmente para este fim</u>. </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(o
grifo é meu)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Ainda segundo
Da Costa, entre os anos de 1912 e 1913 o Club dos Democratas cria em suas
dependências um cinema, o primeiro da cidade, uma biblioteca e um pequeno
jornal o “Cinema Club”, hoje inacessível, que inicialmente deveria divulgar a
programação dos filmes projetados pela associação, mas termina se voltando aos
relatos da “vida mundana das elites sobralenses”. </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(Entre
Melodramas e Comédias Ligeiras: Vida Teatral, Sociabilidade e Costumes em
Sobral-CE (1867-1927)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sem conhecermos outras informações sobre o Cinema
Club, parece certo, no entanto, que ele não teria sobrevivido à entidade mãe,
ou mesmo à existência do local das exibições. É Santos, ainda, quem nos relata
uma parte fundamental do final desta história:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">O “Theatro dos
Democratas” parece ter existido até 1915, ano em que o prédio que sediava o
Club foi comprado pela Diocese de Sobral para abrigar o Palácio Episcopal,
ocupado pelo primeiro bispo da cidade, D. José Tupinambá da Frota. No ano de
1918 ocorre a construção de uma nova sede, na qual já não se encontram
referências a existência de palco ou tablado destinado às atividades teatrais.
Por fim, os registros dão conta de que, em 1926 o Club Democratas é extinto
definitivamente.</span></i><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">No estágio atual de nossos conhecimentos sobre o
cineclubismo, há fortes indícios de que este Cinema Club, de exatos 110 anos
atrás, possa ser considerado o primeiro cineclube brasileiro. Esse “cinema”
certamente não era comercial, nem era de uma empresa particular. Não é possível
comprovar totalmente seu caráter coletivo, mas a iniciativa está imersa numa
instituição associativa que costumava organizar comissões eleitas de associados
para cuidar de suas diversas atividades. Os dados não são completos, mas
certamente são bem mais consistentes que tudo que tem sido estudado até hoje. E
mais, o Cinema Club é mais uma evidência de que a ideia da invenção do termo
cineclube só iria ocorrer na década seguinte é, de fato, uma grande falácia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Florêncio dos Santos mirou no teatro, mas acertou no
cineclube. Na verdade, pesquisar, interpretar, reconstituir a história do
cineclubismo consiste exatamente em “ler” a história do cinema como fenômenos e
processos sociais, encontrando o nexo entre os públicos e os contextos. A
literatura e os autores que pesquisam o cinema, mesmo sob seus aspectos
sociais, praticamente nunca tratam nem se interessam diretamente pelos
cineclubes; há que “deduzi-los”. A argumentação e a bibliografia deste texto
exemplificam bem isso, creio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Escavando
as origens: o público, as organizações de trabalhadores<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">e da
Igreja Católica<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">Em 2016 saiu no Quebec um livro em grande parte
baseado num “atelier” internacional sobre as relações entre oralidade e cinema</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn12" name="_ftnref12" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[12]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">. A
questão da oralidade é fundamental para a pesquisa da história do cineclubismo.
As manifestações dos mais diversos públicos, desde o teatro grego da
Antiguidade, passando pelo teatro elizabetano e pelas ruidosas salas dos </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">nickelodeons
</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">e outros espaços dos primeiros tempos do cinema, sempre marcaram formas de
participação civil e política. O debate, que se confunde ou que identifica, em
boa medida, a atividade cineclubista, é um descendente direto dessas
manifestações. Meu trabalho naquele encontro - e o capítulo do livro – foi </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">Nascimento
dos cineclubes no Brasil: o papel da oralidade no desenvolvimento das formas de
organização do público </i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">(MACEDO, 2016)</span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;">.</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> Na sequência, apelo bastante àquele
meu texto</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn13" name="_ftnref13" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[13]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">
para indicar pistas para uma Arqueologia do Cineclubismo no Brasil, baseada na
concepção de que essas entidades constituem iniciativas - que eventualmente se
transformam em organizações - com origem nos públicos em que se desenvolvem.
Outro elemento fundamental que se deve levar em consideração é que as primeiras
iniciativas, como manifestações do público, assim como as primeiras formas de
organização – que em outros textos chamei de</span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;"> protocineclubes</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> – e até
mesmo um ou os primeiros cineclubes que se possa eventualmente encontrar, não
devem ser examinados sob uma lente de cinefilia, um fenômeno francês e que só
surge nos anos 20. De fato, como veremos mais adiante, essa ótica exclui, e
excluiu concretamente, alguns cineclubes da nossa “história”</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn14" name="_ftnref14" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[14]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Existem inúmeros trabalhos, muitos livros, sobre a
classe operária brasileira na virada e início do século 20. Também existe um
bom número de pesquisas publicadas sobre o início do cinema no Brasil. O que é
muito raro é a junção desses dois elementos. Mais ainda, até onde conheço, não
há um estudo abrangente sobre o(s) público(s) dos primeiros anos do cinema.
Embora o fenômeno cinematográfico, como muitos autores já destacaram, tenha uma
origem mais ou menos dispersa e concomitante em vários países, e o Brasil, isto
é, a capital do País e alguns centros principais, tenha conhecido muito cedo a
nova invenção, não há muita informação sobre a constituição de seus primeiros
públicos. Teria havido aqui o mesmo fenômeno de massas, o público de migrantes,
imigrantes e trabalhadores que marcou a segunda década da “invenção” nos países
centrais<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>?
O cinema começou a chegar no Brasil<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn16" name="_ftnref16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> -
pensando em sua exibição para um público, a primeira manifestação do fenômeno
em nossa terra - poucos meses depois da famosa sessão do Grand Café de Paris. Isso
também foi uns poucos anos depois da lei que “abolia” a escravidão. Quem era,
então, o público brasileiro de cinema? Mesmo depois que a eletrificação das
grandes cidades, a partir de 1907, permitiu a ampliação do número de salas, que
também coincide mais ou menos com o estabelecimento dos primeiros cinemas em
outros centros, que classes sociais tinham acesso e realmente frequentavam esses
cinemas?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Brasil não é um país central. A divisão de classes e
seus papéis históricos são bastante diferentes. Isso deve ser levado em conta
ao buscarmos compreender a formação do(s) público(s) em nosso País. E a
apropriação que as classes sociais foram capazes de realizar, ou de propor, em
relação ao cinema. Penso que os setores mais afluentes da sociedade compuseram
a maior parte do público nesse período. Identificavam-se, sem maiores
contradições, com os propósitos de “entretenimento” e alienação da própria
indústria do cinema. Mesmo a classe operária era uma espécie de elite comparada
com outros segmentos populares, majoritários e em piores condições sociais
(FERNANDES, 1975a e 1975b). Também era, em sua maior parte, estrangeira: italiana,
espanhola, portuguesa e japonesa, principalmente. Ao mesmo tempo, também me
parece que era esse segmento o mais avançado da grande massa popular, e o único
que tinha condições de reconhecer e se contrapor àquele tipo de cinema que
estava se consolidando. Essa parte do povo era realmente cosmopolita e
reproduzia bastante as condições da classe trabalhadora – no entanto muito
maior e mais expressiva – dos países mais “adiantados”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O caso do Cinema Club de Sobral que já vimos, mostra a
ligação daquele cineclube (categoria sujeita a debate) com o processo econômico
e social de afirmação de uma classe social de expressão mais ou menos local –
esse processo de urbanização e modernização dos donos de terras. Creio que o
próprio cinema, como fenômeno e símbolo dessa modernidade constituirá indício
para a pesquisa de possíveis cineclubes nas capitais e cidades maiores de
estados mais afastados dos centros econômicos do Rio de Janeiro e São Paulo,
principalmente. De fato, a classe operária também se concentrava bastante
nesses centros – e na cidade de Santos (SP), por condições especiais. Creio que
esse impulso civilizatório tenderia a se esgotar à medida que se impunha a
modernidade mais concreta da produção capitalista dependente. Em outras
palavras, tal como os teatros e eventualmente cinemas de ciclos econômicos
regionais tenderam a desaparecer, ou a perder seu papel inovador, os segmentos
sociais hegemônicos localmente que lhes deram origem foram absorvidos no grande
acordo de classes agrário-industrial – como sempre sem mudanças fundamentais – que
se torna dominante a partir dos anos 30. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A única classe que, mesmo quase sempre derrotada até
agora, não perde nunca seu potencial papel histórico de superar o sistema, é a
classe trabalhadora, cuja vanguarda, o segmento mais organizado e com maior
consciência de seu lugar na sociedade e na história era, naqueles primeiros
anos do cinema, a classe operária, o trabalhador fabril. Nesse ambiente
surgiram – nos países centrais - os primeiros cineclubes: salas de
trabalhadores, do povo, das mulheres, buscando seu protagonismo histórico na
sua própria organização, educação e na proposição de um novo cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Minhas pesquisas sobre cineclubes operários no início
do século 20 no Brasil são raquíticas. Quando quis me ocupar disso já não
conseguia condições financeiras para retornar e fazer pesquisas. Outras
dificuldades estão referidas na nota 4 deste artigo. Mas mesmo os poucos elementos
que levantei dão muitas pistas para outras investigações. Nos últimos anos,
cresceu muito o número de trabalhos acadêmicos sobre o cineclubismo, mas eles
se concentram mais nas questões do uso do cinema no ensino, no relato e
avaliação de casos e, quanto à história, cuidam mais de tempos recentes, que
raramente recuam além das 3 últimas décadas do século passado. Por isso, acho e
espero que estas pistas possam sugerir e motivar outras pesquisas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Se a vanguarda dos setores populares brasileiros era a
classe operária, suas grandes lideranças, nos primeiros anos do cinema, eram
majoritariamente anarquistas. Para estes, trabalhadores e trabalhadoras deviam
formar-se como parte de uma outra sociedade, sem exploração. Essa formação,
essencialmente política, não se separava, não diferia, antes era concomitante,
à formação moral e cultural. Os anarquistas brasileiros se notabilizaram pelo
grande número de jornais militantes que criaram, mas também por várias formas
de organização educativa e cultural – muitas vezes ligadas a esses jornais –
como círculos de leitura, centros de estudos, ateneus e mesmo escolas. Também
há várias referências a grupos e a apresentações de teatro, mas são em menor
número – embora existam – as que identificam o uso de filmes ou qualquer forma
de organização mais sistemática com eles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Penso que isso é devido ao fato já apontado de que
raramente os estudos sobre os anarquistas se encontram com as pesquisas do
início do cinema. Cristina Figueira (2003) talvez seja a primeira a fazer
claramente essa aproximação. Como Florêncio Santos, ela não está pensando em
cineclube exatamente, mas valoriza as práticas educativas e políticas com
cinema e, em sua pesquisa, revelou a grande ressonância que teve o Cinema do
Povo francês por aqui.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O movimento anarquista, através de seus jornais e de
uma ampla rede de colaboradores em muitos países, sempre esteve bem informado e
crítico com relação ao cinema. Dava uma importância central à formação dos
anarquistas, conceito que compreendia uma educação transformadora e moderna,
com o uso de várias práticas e linguagens. O nível de organização das
iniciativas educativas e culturais anarquistas era bastante sofisticado: foi
nesse ambiente que surgiram os primeiros cineclubes (nos EUA e na Europa, junto
com socialistas, feministas e outros movimentos). No Brasil teria sido
diferente?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">“</span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">As
‘Escolas Modernas’, criadas a partir dos princípios de Francisco Ferrer Guardia
(educador anarquista fuzilado em 1909, sobre o qual o cineclube Cinema do Povo
teria também produzido um filme) existiram um pouco por toda parte no Brasil:
Escola Eliseu Reclus, em Porto Alegre (1906), Escola Germinal, em Fortaleza, CE
(1906), Escola da União Operária de Franca, SP (1906), Escola da Liga Operária
de Sorocaba, SP (1906), Escola Livre da União Operária de Campinas, SP (1908),
Escola Operária 1º. de Maio, Rio de Janeiro (1912), Escola Moderna de
Petrópolis, RJ (1913) e as Escolas Modernas no. 1 e 2, em São Paulo (1912).
Além disso, os grupos anarquistas se organizavam em clubes, ligas, ateneus,
centros de estudos, geralmente ligados a jornais, onde a cultura, incluindo o
cinema, eram assuntos frequentes. Há estudos preliminares sobre o uso do cinema
nessas práticas políticas e educativas a partir dos jornais proletários e anarq</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">uistas” </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(MACEDO, 2016<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn17" name="_ftnref17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Francisco Food Hardman, em seu hoje clássico <i>Nem
Pátria nem Patrão</i>, traz indicações de atividades com cinema nos meios
anarquistas (1984). Ele também menciona o uso do cinema nos preparativos da
grande greve de 1917. Hardman mostra, contudo, que há muito mais dados sobre
atividades teatrais, consideradas de grande importância na formação anarquista
(p. 89). Minhas próprias pesquisas também deixam entrever essa relativa
“desimportância” do cinema. Só pesquisas mais sistemáticas podem resolver essa
questão. Zélia Gattai (1998), num registro bem mais informal, tem um capítulo
muito agradável sobre o “Cinema Mudo”, em que conta um pouco as experiências
com cinema numa família de anarquistas na segunda década do século 20.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas foi Cristina Figueira quem primeiro encontrou
diversas referências ao Cinema do Povo francês em publicações anarquistas
brasileiras. A mais importante, como pista especificamente cineclubista, é a
nota publicada na edição de 8 de maio de 1914, no jornal <i>A Lanterna</i>:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“<i>Para tentar fundar uma
sociedade cujo objetivo será a propaganda social por intermédio do cinema,
realizar-se-á uma reunião na próxima segunda-feira, dia 11 do corrente mês, às
11hs, no salão da Lega della Democrazia, Rua Bonifácio 39, 12º. andar.
Agradecemos a presença de todos os interessados</i>.” (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Lanterna</i>, n. 242, 8 de maio, 1914, p. 3). <i>Infelizmente não
conseguimos encontrar confirmação da realização dessa reunião nem da fundação
de um Cinema do Povo brasileiro.</i> (MACEDO, op. cit.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">E por que falo em Cinema do Povo brasileiro? É que
este chamado para a criação de uma “sociedade de cinema” seguia e era
provavelmente consequência de vários textos de Neno Vasco<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn18" name="_ftnref18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
publicados n’<i>A Lanterna</i> e outras publicações operárias no mesmo ano. Na
época exilado em Lisboa, Vasco mandava regularmente contribuições para jornais
anarquistas, inclusive com reflexões sobre a importância do cinema. Desde a
fundação do Cinema do Povo de Paris, também transmitiu algumas notícias sobre a
iniciativa. Figueira reproduz uma matéria publicada um mês depois desse
chamamento que vale reproduzir, sobretudo porque mostra a importância que os
jornais (Figueira diz que a nota saiu em outros periódicos) anarquistas deram
ao assunto:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 28.55pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“Uma empresa que urge apoiar: o Cinema do Povo<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Da Comissão
administrativa do "Cinema du Peuple", de Paris recebemos a seguinte
comunicação, que com prazer publicamos: Há alguns meses, quando o "Cinema
do Povo" anunciou seu nascimento ao público, foi um só clamor: "mais
uma iniciativa que nasce morta"! Os militantes estão, com efeito, fartos
de ver dessas tentativas que abortam lamentavelmente. Para que a verdade
secundar uma tentativa que sabemos votada ao malogro? Aqui está, porém um
esforço que parece desmentir os prognósticos dos maus agoireiros. O "Cinema
do Povo", fundado há uns oito meses, ainda vive! Melhor: pretende
desenvolver-se!...Dado á luz a 28 de outubro de 1913, com um capital de 1.000
francos, acaba a assembléia geral de 17 de maio pp.de elevar o capital social a
30.000 francos, emitindo 600 acções de 50 francos cada uma. Sabeis o que fez o
"Cinema do Povo" com esse início modesto e insignificantes recursos?
Fez o seguinte: Primeiro, as </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Misérias das agulhas<i>, comovente
drama em que há uma mulher em luta com as dificuldades da vida e que só se
salva graças a acção solidária dos trabalhadores. - Depois, </i>A Comuna, de 18
a 28 de março de 1871,<i> fita exibida com exito que se sabe no Palacio das
Festas, em fins de março último. Por fim, o </i>Velho trabalhador das docas<i>
e </i>Vitima das exploradas (sic)<i> dois dramas pungentíssimos em que se vê
desfilar no pano uma página dolorosa da vida dos dois trabalhadores. O
"Cinema do Povo" cinematografou os funerais de Pressensé. Nenhum só
cinematografo burguez mandou um operador reproduzir o enterro dum grande
socialista e homem de bem. Desde a sua fundação, editou o "Cinema do
Povo" 4.895 metros de positivas. Tem correspondentes na Belgica, na
Holanda, no Luxemburgo, na Itália, na América do Norte e em Havana. É uma obra
que tende a tornar-se internacional. Temos scenários prontos para serem
cinematografados. - </i>Francisco Ferrer!<i>...Este titulo fará reviver a bela
vida de Ferrer e a sombria tragedia de Montjuich. O fundador da Escola Moderna
de Barcelona será glorificado pela tela cinematografica, para que as gerações
se lembrem do fuzilado pela intolerância religiosa. - </i>Biribi<i> - é o caso
Aernoult-Rousset, reconstituido. Um drama comovente e verídico, projectado no
écran; um drama ante o qual vibrará o povo do trabalho á vista das torturas
infligidas a um homem da sua classe. </i>A Comuna. - de 28 de março á semana
sangrenta<i> será o terceiro film que o "Cinema do Povo" tensiona
editar no decorrer deste verão. Isso não se faz sem dinheiro. A assembléia
geral, em sua reunião de 17 de maio, resolveu lançar "Bilhetes de
empréstimos"de 5 francos, reembolsáveis por meio de sorteio a partir de
julho de 1915. O Conselho administrativo, que recebeu o mandato de continuar a
editar daquelas fitas, para dar ao publico no começo do outono, crê que será
ouvido o seu apêlo. Os bilhetes de empréstimo vão ser bravamente expedidos aos
grupos de vanguarda e a algumas personalidades que simpatizam com a obra
educativa do "Cinema do Povo". O Conselho roga ás organizações e aos
cidadão que façam todo o possível para adquirir a sua propria conta ou por
conta de pessoas das suas relações esses bilhetes de emprestimo. E fazer boa
propaganda e contribuir para que um cinematografo popular prosiga na sua obra
salutar. Ajude-se o "Cinema do Povo" a ser o contraveneno dos
cinematografos indecentes, que realizam por toda a parte, tanto nas cidade como
nas vilas e aldeias, por meio de fitas amiude malsãs, uma propaganda de
embrutecimento da classe operária e camponesa.”</i> (<i>A Lanterna</i>, n.248,
p.1, 20 de julho 1914 – <i>apud </i>FIGUEIRA, 2003)<i>.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Infelizmente, nessa data o Cinema
do Povo já havia acabado, vítima das hostilidades da Primeira Guerra Mundial.
Talvez seja igualmente necessário esclarecer que o cineclube francês era
organizado sob a forma de cooperativa, mas seus estatutos só permitiam o voto
por associado, não importando o número de ações eventualmente subscritas por
cada um (MUNDIM, 2016).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Igreja<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Do outro lado dessas iniciativas anarquistas, no
Brasil, estavam as da Igreja Católica. Essa briga vem de longe, desde a
Revolução Francesa, que acabou com o monopólio da Igreja sobre a educação.
Desde então ela continua com suas atividades, e disputando esse espaço, nos
anos em que o cinema surgia, com os trabalhadores organizados, principalmente
com os anarquistas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 28.55pt 8pt 1cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">“Um outro ambiente onde havia essas práticas foi o das
atividades empreendidas pela Igreja, na mesma lógica, mas com uma finalidade
inversa: um dos traços mais constantes das práticas anarquistas é o
anticlericalismo, enquanto que o anarquismo, sob todas as suas formas, é
vivamente combatido pela igreja católica. De fato, a Igreja no Brasil muito
cedo se interessou pelo cinema, compreendido como um campo importante que os
católicos deviam esforçar-se por moralizar, em particular contra os ateus, os
socialistas, os anarquistas e todos que os ajudavam. Como disse Pedro Sinzig,
franciscano do Centro da Boa Imprensa (êmulo do Centre de la Bonne Presse
fancês), que publica, desde 1907, a revista Vozes de Petrópolis:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 2.0cm; margin-right: 56.9pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 56.9pt 8pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -1cm;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>‘Imaginem que, em tempo de greve, um
cinema frequentado pelo mundo operário, apresente cenas de greve, de </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">sabotage<i>,
de provocações, de excessos... ou que, quando tensas as relações de dois
estados se mostrem filmes que deverão provocar manifestações políticas.’ (O
César Moderno, Vozes de Petrópolis, julho a dezembro de 1911) </i>(MACEDO, op.
cit. apud ALMEIDA, 2011)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Além das
ações para promover e aplicar uma censura inspirada pelos princípios cristãos,
o esforço de moralização supunha um envolvimento com as práticas
cinematográficas, sobretudo a recepção – e interpretação – das obras. Em 1912,
esse mesmo padre franciscano, sob o pseudônimo de Francisco de Lins, apresentou
aos leitores um <i>Guia para Cinemas</i>, com 72 títulos “dignos de
recomendação”, para ajudar na seleção de filmes para as salas de cinema,
escolas e outras instituições religiosas. Pode-se concluir, portanto, que o uso
do cinema nos espaços controlados pela Igreja já era uma realidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Vozes de Petrópolis</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> menciona, naquele mesmo ano, a existência de várias
salas de cinema ligadas à Igreja: Centro Popular Católico (Petrópolis), Cinema
Modelo (Belo Horizonte), Cinema Católico (Recife)<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn19" name="_ftnref19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Na metade do ano de 1918, é anunciado o início da Censura Prévia pelo Centro da
Boa Imprensa<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn20" name="_ftnref20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Cineclube de São Paulo - os clubes de cinema<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Na historiografia do cinema – e do cineclubismo em
escala ainda maior – existem hiatos, esquecimentos: figuras e elementos da
história que desaparecem, ficam esquecidos às vezes por anos. Por exemplo, o <i>bonimenteur</i>
em francês, <i>lecturer </i>em inglês, <i>benshi</i> no Japão, que sequer tem
uma palavra bem estabelecida em português – explicador? – para definir a
figura. Aquela pessoa – ou pessoas – que explicava, comentava, interpretava,
traduzia os filmes silenciosos. Elas existiram, contudo, em praticamente todo o
mundo, às vezes de formas bem particulares a um país ou cultura, outras vezes bem
importante, central mesmo no período do cinema silencioso. No entanto, foram
como que esquecidos praticamente até a publicação do livro de Lacasse (2000).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Na história do cineclubismo – e mais uma vez eu acho
que isso se deve, ao menos em grande parte, à invenção da cinefilia culta e ao
efeito ideológico do cineclube de tipo cinéfilo – diversas formas autônomas de
organização do público para a apropriação do cinema se destacaram da trajetória
percebida do cineclubismo, formando uma espécie de outra linhagem, ou foram mesmo
esquecidas. Prevalece um tipo de senso comum simplificador: cineclube é o que
tem esse nome. Às vezes nem esses são admitidos no clube da cinefilia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O filme 35 mm usado para as projeções no início do
século passado era de nitrato de celulose, altamente inflamável, o que obrigava
ao trato do cinema por pessoas treinadas. Para que ele pudesse ter um uso mais
seguro, o que permitiria seu uso numa escala muito maior, a doméstica, era
preciso que o filme mudasse de suporte. Em 1922, a Pathé, grande empresa
francesa, lançou um filme dito <i>safety</i>, de acetato ao invés de nitrato,
um novo formato de película, e os correspondentes aparelhos de filmagem e
projeção: o Pathé Baby, com 9,5 mm. No ano seguinte, a Kodak passou a
comercializar o 16 mm, voltado para o mesmo mercado. Uma imensa campanha de
publicidade, em todo o mundo, acompanhou esses lançamentos, procurando
estabelecer seus limites dentro da esfera familiar, como analisa muito bem
Wasson (2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto, como é óbvio, os novos formatos, mais
práticos, seguros e baratos, logo foram adotados por várias organizações. Como
todos sabem, o 16 mm foi por muitos anos a bitola principal dos cineclubes. Mas
foi mais que isso, já que facilitava também a realização. Volto a lembrar que a
entronização do cineclube cinéfilo levou a uma suposta especialização dos
cineclubes exclusivamente na recepção dos filmes. Mas, assim como as
propagandas da Pathé e da Kodak não funcionaram tão bem, e aliás no mesmo
sentido, clubes começaram a se organizar com os pequenos formatos não apenas
para ver filmes, mas também para os realizar. Nos EUA isso foi um fenômeno
importantíssimo, com organizações representativas, festivais, publicações. Em
alguns outros países também tiveram sua importância. No Brasil, pelo que
sabemos, esses cineclubes – que muitos queriam chamar de <i>clubes de cinema</i>,
um sinônimo, para distinguir dos “verdadeiros” cineclubes – também existiram.
Na Itália aconteceu um fenômeno semelhante, só que lá <i>cineclubes</i> eram os
que produziam, e <i>círculos de cinema</i> os que apenas assistiam. A revista <i>Cinearte</i>
manteve uma seção dedicada ao cinema amador, tratado mais como um espaço de
aprendizado técnico, mas com eventuais referências a associações ou clubes que
também se dedicavam ao cinema amador. Há bons trabalhos a respeito, como os de
FOSTER (2013, 2015).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como já disse, penso que para procurar, interpretar e
reconstituir a história do cineclubismo é preciso trabalhar com um conceito
definido de cineclube. Para mim, isso se explicita como <i>organização
associativa do público, sem fins lucrativos, visando a</i> <i>apropriação do
cinema</i> (ou, hoje, das mídias audiovisuais). Já escrevei bastante sobre essa
definição, o que não caberia neste artigo (MACEDO, 2021).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Rudá de Andrade, na já citada <i>Cronologia da Cultura
Cinematográfica</i>, é bem conciso ao tratar do Cineclube de São Paulo, de 1925
– e um tanto opinioso: “<i>1925 – O nome ‘Cine Club’ é utilizado por Jayme
Redondo. Trata-se de um clube de jogo, com exibições cinematográficas para
atrair jogadores. O resultado é a produção de dois filmes: Passei minha vida num
sonho e Fogo de Palha</i>.” (op. cit., p. 6). O mesmo ponto de vista, isto é,
de que não se tratava de um cineclube por estar em ou fazer parte de um clube
de jogos, é exposto de forma bem mais extensa por César Augusto de Carvalho,
que também já citamos. Ele traz um resumo (p. 94-96) bastante completo e
interessante da biografia de Jayme Redondo, com citações da revista <i>Cinearte</i>
e outras fontes. O verbete do André Gatti também, na mesma linha, faz apenas uma
breve menção ao caso. Jurandyr Noronha, no entanto, descreve o Cineclube de São
Paulo como “<i>um agrupamento de cinéfilos encabeçado por Jayme Redondo, os
quais, com a fundação do Cineclube de São Paulo, pretendiam chegar à prática, o
que efetivamente aconteceu com a realização de dois longas-metragens..</i>.”
(NORONHA, 2008, p. 141-142). Vale, ainda, lembrar que o número 24 de <i>Cinearte</i>
traz uma série de fotos da sede ocupada pelo Cine Clube de São Paulo: sala de
administração, sala de leitura, duas fotos da sala de projeção e até uma do
salão de chá. Depois que os cineclubes incorporaram barzinhos, ou passaram a
atuar em barzinhos privados, entre outras atividades, ninguém mais se ofende
com essa amálgama cultural. Nos anos de ouro da cinefilia, entretanto, quando
Rudá deu o mote, cineclube tinha que ser mais puro. Na maior parte dos
trabalhos que mencionam a trajetória histórica do cineclubismo, então, o Cine
Clube<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn21" name="_ftnref21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
de São Paulo despareceu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas uma sumária busca revela outros esquecimentos
situados no grande hiato entre as icônicas datas de 1928 (Chaplin Club) e 1940/1946
(Clube de Cinema de São Paulo). A primeira delas é uma breve nota, em 1933: “<i>Acaba
de ser fundado no Rio o ‘Cine Club do Brasil’, uma nova associação que se
dispõe a cumprir um lindo programa tendo como finalidade o prestígio do Cinema
e como lema o estímulo e o incentivo pelo Cinema Brasileiro.</i>” Rudá, ainda
que sem indicar suas fontes, revela (1962, p. 8) que ficou claro que “<i>a
intenção do interessado inicial (?) era vender uma chácara para sede social que
devia ser excelente e com piscina</i>”. Estranha informação... De qualquer
forma, parece que a coisa realmente não prosperou. Por outro lado, a referência
também indica que a ideia de cineclube esteve sempre presente, assim como o
termo cineclube e suas variações. Em 1939, mais uma vez em <i>Cinearte</i>,
aparece uma matéria bem mais circunstanciada - com foto da equipe, nomes de
vários associados e endereço (Rua São Francisco da Califórnia, no. 47) a
contatar - do Cine-Fan Club de Porto Alegre. Além de já ter produzido um “filme
amador”, o Cine-Fan pretendia desenvolver o movimento associativo de cinema
amador no Brasil, “<i>pois os clubes de amadores de cinema, nos Estados Unidos,
contam-se às dezenas</i>”. Ainda em 1939, foi fundado o Foto Clube Bandeirante<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn22" name="_ftnref22" style="mso-footnote-id: ftn22;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
em São Paulo, que se distinguia pelo interesse pela fotografia, claro, mas era
presidido pelo também cineasta Benedito Junqueira Duarte. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O trabalho do Rudá é uma referência inicial, mas
indispensável, para a pesquisa sobre o cineclubismo. Não se pode ignorar que
ele reconhece e promove o papel do cineclubismo na cultura cinematográfica
brasileira, o que não é muito comum. O opúsculo, com apenas 25 páginas de texto
(fora índices), cobrindo o período 1910 – 1959, cita cerca de 100 cineclubes e
entidades cineclubistas, a maioria criada entre 1946 e o fim do período. Ele
indica a fundação do Clube de Cinema de São Paulo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn23" name="_ftnref23" style="mso-footnote-id: ftn23;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[23]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>em
agosto de 1940, terminando essa primeira fase no ano seguinte, perseguido pela
polícia política. O Clube de Cinema voltaria à ativa em 1946. Mais uma vez
estabelece-se o hiato: nada teria acontecido nesses 5 anos. No entanto, a
revista <i>Scena Muda</i> traz a notícia da criação do Club de Fans Cinematográficos,
no Rio de Janeiro, na Avenida Rio Branco 181, 4º. Andar, sala 404, voltada para
“<i>o desenvolvimento cultural e artístico nos sectores do Cinema, do Rádio e
do Theatro</i>”. Esse cineclube tem uma extensa folha corrida. E vale lembrar
que, ainda em 1945, o Foto Clube mudou os estatutos e passou a chamar-se Foto
Cine Clube Bandeirante, iniciando atividades importantes nesse novo campo, com
o nome que mantém até hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">À guisa de conclusão<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A finalidade deste artigo é menos a de contestar qualquer
trabalho que aborde a história do cineclubismo brasileiro – contribuições que
valorizo muito – mas, principalmente, de sugerir que as totalidades construídas
até hoje, mais por omissões, vácuos e descuidos, não correspondem à realidade
histórica. Para mim parece bem evidente que não são possíveis os hiatos entre o
surgimento do cinema e seus públicos e um primeiro cineclube apenas em 1928;
deste acontecimento até 1940, e que só depois de 1945 começaram a realmente
proliferar cineclubes no Brasil. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outra evidência, penso, é que essa hipotética linha do
tempo do cineclubismo esteja eivada de subjetivismos, de opiniões, de ideologia
enfim. Assim se fabricou um Cineclube do Paredão; ao mesmo tempo, refugou-se
tudo aquilo que não chamava cineclube (pelo menos até a contra-evidência do
Clube de Cinema de São Paulo, em 1941), de cuja existência há mais que pistas,
há fontes - até na imprensa mais conhecida pela historiografia brasileira do
cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Minha convicção é de que o cineclubismo é um conjunto
de práticas criadas pelo público junto, concomitantemente, com o início do
cinema. Como o cinema, essas práticas se desenvolveram e, na virada para a
segunda década do século 20, começaram a encontrar formas estruturadas,
permanentes, <i>institucionalizadas</i>. Ou seja, os cineclubes. E ainda que
pesem nossas particularidades culturais, nosso subdesenvolvimento estrutural, é
mais do que provável que as experiências, principalmente dos trabalhadores, dos
países centrais, puderam encontrar similitudes também em nosso meio. Tudo
aponta para a necessidade de pesquisas nesse campo e nesse período.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Somente ao redigir este artigo organizei melhor minha
reflexão sobre os dados que reuni, não há muito, sobre o Cinema Club de Sobral.
À medida que fui desenvolvendo a argumentação foi me parecendo que tinha diante
de mim realmente um cineclube. Um cineclube ligado ao ambiente burguês da
cidade cearense, mas que, um pouco como os cineclubes dos anos 50 – e nisso
estou pensando na categoria de culturas emergentes de Raymond Williams (2005,
p. 56-59) – se estabeleceu numa onda de modernização conservadora produzida
pela afirmação da hegemonia daquele segmento das classes dominantes. Além da
primazia, entre as organizações de existência comprovada<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftn24" name="_ftnref24" style="mso-footnote-id: ftn24;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[24]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
no uso do nome – ou a variação: cineclube/clube de cinema – esse cineclube
seria até mesmo anterior ao Cinema do Povo, que já foi adotado pela FICC como o
simbólico “primeiro cineclube”. É verdade que este último tem uma documentação
completa, enquanto que não sabemos realmente em que medida o cinema sobralense
tinha uma organização associativa. Também é verdade que ele seria, no mínimo,
uma espécie de departamento, de setor de uma associação claramente constituída.
Quando propus o Cinema do Povo como “o primeiro cineclube” (MACEDO, 2010) já
estava bem consciente de que a efeméride seria um sinal de afirmação política e
de identidade do cineclubismo – marcando seu centenário – mas que, como
cineclubes do mesmo tipo surgiam um pouco por todo lado (ROSS, 1998), à época,
sempre pensei que alguém poderia encontrar algo bem documentado e, talvez, um
pouco anterior. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas meu objetivo maior com este texto é provocar a
curiosidade e o interesse de cineclubistas e pesquisadores, e estimular a
pesquisa sobre o cineclubismo e sua história, nas suas primeiras origens – que
podem ir até o uso de lanternas mágicas nas primeiras organizações de
trabalhadores, ainda no século 19 – e nesses grandes hiatos que poucos chegam a
questionar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Montreal, maio de 2022, ano III da Pandemia.</span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Referências:<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Arquivos<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Arquivo
Edgard Leuenroth<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Biblioteca
Nacional<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Biblioteca
Municipal de São Paulo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Domitor
- Associação Internacional de Pesquisa sobre o Cinema dos Primeiros Tempos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Boletins, revistas e jornais <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><a name="_Hlk103430207"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Cahiers des cine-clubs<o:p></o:p></span></i></a></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk103430207;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Celulóide – Revista Portuguesa de Cinema<o:p></o:p></span></i></span></p>
<span style="mso-bookmark: _Hlk103430207;"></span>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Cinearte<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Cinema
Club – Órgão do Cinema do Club dos Democratas<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Correio
da Semana<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">O
Fan – Órgão Oficial do Chaplin Club</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Filme
Cultura<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
Lanterna<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
Lucta<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
Plebe<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Revista
do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
Scena Muda </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">(depois, <i>A Cena Muda</i>)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
Tela<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">A
União<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.2pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Vozes
de Petrópolis<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><b><span face=""Arial Rounded MT Bold",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Trabalhos citados:<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify; text-indent: -0.55pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">ALMEIDA, Cláudio Aguiar. 2011. “A
Igreja Católica e o Cinema: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vozes de
Petrópolis</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Tela </i>e o jornal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A União</i> entre 107 e 1921”, em CAPELATO,
Maria Helena, MORETTIN, Eduardo, NAPOLITANO, Marcos e SALIBA, Elias Thomé. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">História e Cinema</i>. São Paulo : Alameda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">ANDRADE, Rudá. 1962. <i>Cronologia da Cultura
Cinematográfica no Brasil (Cadernos da Cinemateca no. 1)</i>. São Paulo:
Fundação Cinemateca Brasileira. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">BITTENCOURT, Ezio. 1999. <i><span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Da rua ao teatro, os prazeres de uma cidade: sociabilidades & cultura
no Brasil Meridional</span></i>. Rio Grande: Ed. Furg.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">BUTSCH,
Richard. 2000.<i>The Making of American Audiences – From Stage to Television,
1750-1990</i>. </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cambridge
University Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">CARVALHO, César Augusto. 2008. “Constelações
cinematográficas: cineclube, cultura brasileira e cinema nos anos 50”, em GUIRADO,
Maria Cecília. 2008. <i>Processos midiáticos em construção: Brasil 200 anos</i>,
São Paulo: Ed. Arte e Ciência e Marília: Ed. UNIMAR.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">DA COSTA, Elza Marinho Lustosa. 2011. <i>Sociabilidade
e cultura das elites Sobralenses: 1880-1930</i>. Fortaleza: SECULT/CE.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">FERNANDES, Florestan. 1975a. Comunidade e Sociedade no
Brasil – Leituras básicas de introdução ao estudo macrossociológico do Brasil.
São Paulo: Editora Nacional.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">___________________ 1975b. Sociedade de Classes e
Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">FIGUEIRA, Cristina Aparecida Reis. 2003. <i>O cinema
do povo: um projeto da educação anarquista-1901-1921</i>. Dissertação de
Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">____________________________ 2006. 2006. “<i>O Jornal,
o cinema, o teatro e a música como dispositivos da propaganda social
anarquista: um estudo sobre as colunas ‘Espetáculos’ e ‘Palcos, telas e arenas’
nos jornais A Lanterna e A Plebe (1901 a 1921)</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">FOSTER, Lia. 2013. “O cinema amador em Cinearte”, em <i>Anais
de Textos Completos do XVII Encontro Socine.</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">___________ 2015. “A presença da Pathé-Baby no Rio de
Janeiro e a coleção Paschoal Nardone no acervo do AGCR”, em <a name="_Hlk103441025"><i>Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro</i></a>,
no. 9<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">GATTAI, Zélia. 1998. <i>Anarquistas, graças a Deus.</i>
Rio de Janeiro: Record.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">GATTI, André. 2000. “Cineclube<a name="_Hlk103435480">”</a>,
em RAMOS, Fernão e MIRANDA, Luiz Felipe (orgs.). 2000 (1997). Enciclopedia do
Cinema Brasileiro.São Paulo: Editora Senac.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">HARDMAN, Francisco Foot. 1984. <i>Nem Pátria nem
Patrão</i>. São Paulo. Brasiliense.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">LACASSE, Germain. </span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="FR-CA" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">2000. <i>Le Bonimenteur de vues animées – Le cinéma
« muet » entre tradition et modernité. </i>Québec : Nota Bene e
Paris : Méridiens Klincksieck<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="FR-CA" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">LUCAS, Taís Campelo. 2005. </span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cinearte: o cinema brasileiro em revista (1926-1942). </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Dissertação de Mestrado. Niterói – UFF;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">MACEDO, Felipe. 1982. <i>Movimento Cineclubista
Brasileiro</i>. São Paulo: Cineclube da FATEC.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="FR-CA" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">______________ 2010. “Cinéma du Peuple, le premier
cinéclub”, em <i>Cahiers des ciné-clubs</i>. Bauru : Praxis<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="FR-CA" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">______________ 2016. “Naissance des cinéclubs au
Brésil : l<a name="_Toc274238338">e rôle de l'oralité dans le
développement des formes d'organisation du public</a><a name="_Hlk103442930">”</a>,
em LACASSE, Germain, BOILLAT, Alain, BOUCHARD, Vincent e SCHEPPLER, Gwenn
(dir.).<i> </i></span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Dialogues avec le
cinéma.</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Montréal: Nota Bene.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">______________
2021. <i>O conceito de cineclube</i>, em </span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2021/10/oconceito-de-cineclube-este-artigo-foi.html"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2021/10/oconceito-de-cineclube-este-artigo-foi.html</span></a><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">MORAES, José Damiro. s/d. <i>A educação libertária no
Brasil: uma trajetória.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">MUNDIM,
Luís Felipe. </span><i><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">2016.
<i>O Público Organizado para a Luta - O Cinema do Povo na França e a
resistência do movimento operário ao cinema comercial (1895-1914</i>). Tese
doutoral: UFRGS e Universidade de Paris 1-Panthéon Sorbonne.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">NORONHA, Jurandyr. 2008. <i>Dicionário de Cinema
Brasileiro – De 1896 a 1936, do Nascimento ao Sonoro. </i>Rio de Janeiro: EMC
Edições.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">OLIVEIRA, Vera Brandão. 1974. “Uma odisseia no tempo:
Pedro Lima em <i>flashback</i>”, em <i>Filme Cultura</i>, nº 26, setembro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">ROSS,
Steven J. 1998. <i>Working Class Hollywood – Silent Film and the Shaping of
Class in America. </i></span><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Princeton
University Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">SANTOS, Edilberto Florêncio dos. 2018. <i>Entre
Melodramas e Comédias Ligeiras: Vida Teatral, Sociabilidade e Costumes em Sobral-CE
(1867-1927). </i>Dissertação de Mestrado. Fortaleza: UECE.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">___________________________ </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">s/d.<i>Teatro, Sociabilidades e Costumes: Palco e
Plateia das Casas de Espetáculos de Sobral-CE (1867-1927)</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">___________________________s/d. <a name="_Hlk103434794"><i>“Todos
ao Theatro”: Vida Teatral e Sociabilidade em Sobral-CE (1867-1927)</i></a><i>. <o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">TOLEDO, Edilene Teresinha. 1998. “Em torno do jornal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Amigo do Povo</i>: os grupos de afinidade
e propaganda anarquista em São Paulo nos primeiros anos deste século”, em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cadernos AEL</i> (<a name="_Hlk103438543">Arquivo
Edgard Leuenroth </a>– Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP),
nos. 8 et 9, p. 89-113<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">VIEIRA, Carlos. 1959. “Panorama Histórico dos
Cine-Clubes no Brasil”, em <i>Celulóide – Revista Portuguesa de Cinema</i>, no.
13, março de 1959.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">XAVIER, Ismail. 1978. <i>Sétima Arte: um Culto Moderno</i>.
São Paulo: Ed. Perspectiva.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">WASSON, Haidee. 2009. “Electric Homes! </span><span face=""Tahoma",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Automatic
Movies! Efficient Entertainment!: 16 mm and Cinema’s Domestication in the
1920s”, em <i>Cinema Journal</i> no. 4, verão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">WILLIAMS,
Raymond. 2011. </span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cultura e
Materialismo</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">. São Paulo:
Editora UNESP.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.2pt; text-align: justify;"><br /></p><div style="mso-element: footnote-list;">
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A Federação Internacional de
Cineclubes (FICC) adotou, em 2013, em assembleia bastante concorrida realizada
em Túnis, o Cinema do Povo (Paris, 1913) como o primeiro cineclube bem
documentado de nossa história. Mais recentemente, a Federação Portuguesa de
Cineclubes preferiu reconhecer Edmond Benoit-Levy, de 1907, como criador da
primeira entidade cineclubista. Essa última interpretação também é adotada no
verbete cineclube da Wikipedia em sua versão em francês (Na enciclopédia <i>online</i>,
praticamente cada idioma apresenta uma compreensão diferente de cineclube). Meu
texto discute as bases factuais, históricas e as posturas políticas que
representam tais decisões: <i>O primeiro cineclube? Periodização do
cineclubismo</i>, em <a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/05/o-primeirocineclube-periodizacao.html">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2022/05/o-primeirocineclube-periodizacao.html</a>
.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Vale dizer que me reconheço
em parte nessa crítica. Até 2008, antes de me dedicar a uma pesquisa mais séria
sobre a história do cineclubismo, eu mesmo reproduzia esse discurso. Naquele
ano escrevi, a pedido do programa Cine Mais Cultura do governo federal, um
“manual” bastante extenso sobre cineclubismo, que continha uma história do
nosso movimento e que incidia nesse equívoco de periodização. O livro foi
censurado pelos dirigentes do programa e circulou apenas em poucas cópias
distribuídas nas primeiras oficinas de formação, que também coordenei, junto
com o saudoso Frank Ferreira. Mesmo assim, ainda é citado aqui e ali por gente
que pesquisa o assunto. <i>Mea culpa</i>.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Além do importante livro de <a name="_Hlk103428521">Ismail Xavier, <i>Sétima Arte: um Culto Moderno</i> –
1978, Ed. Perspectiva</a>, há outros artigos sobre o Chaplin Club acessíveis
pela internet.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Pesquisar sobre cineclubismo
no Brasil é especialmente difícil. Em primeiro lugar, o tema é relativamente
pouco estudado, com poucas pesquisas históricas. Nos últimos anos aumentou
muito o número de textos, sobretudo acadêmicos, sobre cineclubes e
cineclubismo, mas a grande maioria é sobre educação formal com cinema ou
estudos de casos de cineclubes mais ou menos recentes ou que ainda existem. O
fato de ser contaminado ideologicamente pela adoção do modelo cinéfilo, isto é,
que só reconhece os cineclubes que emulam as práticas cinéfilas dos cineclubes
franceses dos anos 20 do século passado, também faz que poucos pesquisadores ou
historiadores procurem informações antes daquele período. Finalmente, as fontes
são de difícil acesso, pois o tema não era objeto de publicações “importantes”,
como os principais jornais comerciais, e são pouco digitalizadas. Além do
próprio movimento cineclubista – e outros movimentos sociais onde se instalaram
cineclubes – ter sido muito omisso em preservar seus documentos, são poucas as
instituições que o fazem ou têm os meios adequados para fazê-lo. No meu caso
pessoal, o fato de não residir no Brasil dificulta ainda mais o acesso a todas
as fontes.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Carlos Vieira foi um dos mais
importantes cineclubistas brasileiros, fundador da primeira entidade
representativa de cineclubes, o Centro dos Cineclubes de São Paulo (1956), que
dirigiu até 1975, quando ajudou a fundar e foi igualmente o primeiro presidente
da Federação Paulista de Cineclubes. Ajudou a organizar, e também presidiu a
Primeira Jornada de Cineclubes Brasileiros, e várias subsequentes. Pode-se
citar ainda que foi um dos organizadores do importantíssimo Curso de Formação
de Dirigentes Cineclubistas, em 1958, e, em 1974, o primeiro presidente do
reorganizado Conselho Nacional de Cineclubes.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Agradeço ao
pesquisador Pedro Plaza Pinto pelo acesso à revista <i>Celulóide.</i><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> Todos os números – de 1926 a 1942 - dessa importante
publicação estão digitalizados e disponíveis na internet.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> <span lang="PT-BR">Número 1 dos <i>Cadernos da Cinemateca</i>. Rudá foi
um dos, senão o principal interlocutor da Cinemateca Brasileira com o movimento
cineclubista. Foi secretário na mesa da 1ª. Jornada Nacional de Cineclubes,
presidida por Vieira, em 1959. <o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Consta que as duas fontes –
depoimentos no MIS/RJ e revista <i>Filme Cultura</i> - estão disponíveis na
internet, mas não consegui acessá-las em 10/5/2022.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Existem vários trabalhos
sobre isso, mas a introdução de <a name="_Hlk103433895"><i>The Making of
American Audiences – From Stage to Television, 1750-1990</i> (BUTSCH, Richard,
2000. Cambridge University Press) </a>me parece um resumo ao mesmo tempo breve
e suficientemente completo.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A referência, de fato, é da
pesquisadora Danielle Crepaldi Carvalho, nos arquivos do Domitor (<a name="_Hlk103434114">Associação Internacional de Pesquisa sobre o Cinema dos
Primeiros Tempos</a>).<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: FR-CA;"> <i><span lang="FR-CA">Dialogues avec le cinéma</span></i><span lang="FR-CA">, organizado por <a name="_Hlk103434845">Germain Lacasse, Alain
Boillat, Vincent Bouchard e Gwenn Scheppler</a>. </span></span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">O termo <i>atelier</i> indica que
foi um seminário fechado, entre os que apresentaram trabalhos, vindos de vários
países, mas sem público. O livro adotou o mesmo nome do encontro.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Peço desculpas por uma
situação inusitada: algumas fontes da internet que cito, que pesquisei há
vários anos, não me foram acessíveis agora. Assim, estou retraduzindo para o
português alguns textos que havia traduzido para o francês, para usar naquele
texto. Não creio que isso leve a nenhum erro exatamente, mas essa operação toda
pode fazer que os textos em português aqui reproduzidos não correspondam
exatamente aos originais.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Como este texto exemplifica
bem, não há uma história, digamos, mais consensual do cineclubismo brasileiro.
E isso não é ruim, pois começa a haver um debate, um questionamento das poucas
referências estabelecidas, uma <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>busca pelo conhecimento e compreensão da
trajetória histórica e da participação social, cultural e política do
cineclubismo na sociedade brasileira.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Chamo de países centrais os
grandes centros econômicos, políticos e militares que nos últimos dois séculos,
mais ou menos, controlam a evolução dos meios de produção, inclusive culturais,
e concentram a riqueza do planeta, bem como a força militar. São o que chamam
de “comunidade internacional”, o Conselho de Segurança da ONU (sem a China) e o
Grupo dos Sete. Os Estados Unidos, Canadá, a União Europeia e o Japão. A OTAN.
Em relação a esse centro, o Brasil faz parte dos países periféricos, “em vias
de desenvolvimento”, chamados por alguns, ainda, de subdesenvolvidos ou
coloniais.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Aqui também há um curioso
fenômeno ideológico: se o surgimento do cinema sempre foi identificado com a
sua primeira projeção (independentemente da acuidade da informação), como é o
caso da sessão de 28 de dezembro de 1895 realizada pelos irmãos Lumière, no
Brasil adota-se a data da suposta primeira filmagem, que vem depois, e que transita
do protagonismo do público no reconhecimento do cinema para a primazia do
cinegrafista, eventualmente identificado com os futuros realizadores, “autores”
do cinema.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref17" name="_ftn17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Com informações de </span></span><span lang="PT-BR" style="font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR;">MORAES,<a name="_Hlk103438049"> </a></span><span style="mso-bookmark: _Hlk103438049;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">1998, TOLEDO, 1998 e FIGUEIRA, 2006.
</span></span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn18" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref18" name="_ftn18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Neno Vasco era um trabalhador
e intelectual anarquista português - Gregório Nazianzeno Moreira de Queiroz
Vasconcelos – que chegou ao Brasil em 1901 e, como vários militantes, foi
algumas vezes expulso do Brasil através da famosa lei Adolfo Gordo. Mas sempre
voltava. <o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn19" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref19" name="_ftn19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Vozes
de Petrópolis, julho e dezembro, 1912, p. 1259-1261, <i>apud</i> Almeida (2011,
p. 319).</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn20" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref20" name="_ftn20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Com </span></span><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">informações</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> de <a name="_Hlk103439222">ALMEIDA, 2011. <o:p></o:p></a></span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><span style="mso-bookmark: _Hlk103439222;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn21" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref21" name="_ftn21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A grafia <i>cineclube</i>, a
rigor, só surgiu por volta dos anos 70. A diferenciação entre <i>cine clube</i>
e <i>clube de cinema</i>, que se explica no texto, desapareceu com o tempo, mais
ou menos nos anos 50.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn22" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref22" name="_ftn22" style="mso-footnote-id: ftn22;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">O associativismo em torno da
fotografia tem uma história própria, muitas vezes paralela à dos cineclubes,
mas que não é objeto aqui.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn23" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref23" name="_ftn23" style="mso-footnote-id: ftn23;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[23]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Com vários trabalhos a
respeito, também não é o objeto deste texto.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn24" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Arqueologia%20do%20Cineclubismo%20Brasileiro.docx#_ftnref24" name="_ftn24" style="mso-footnote-id: ftn24;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[24]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">O hoje bastante mencionado,
mas menos conhecido, Ciné-club de Édmond Benoît-Lévy, teria sido criado em
1907, mas nunca saiu do papel (GAUTHIER, 1999).<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-8285590492045562342022-05-15T08:19:00.003-07:002022-05-15T08:22:32.607-07:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxAC1IGQ0fnwkDG0ujw4E-JzF7YwmsFTEH_kOKKBn3IhEg5qJNgvEajv3TUbztSULC7OTPFZyXid0P2uoCh1zQXoQLNJH5lMVvn8fdZFy0CvIucOk-UZCCWRzsiUApVW0Y79HRb-dGS3GUV14ZbAe87W365L1spz4r74fxk1Qffuub5Q5zLfLTTrwC/s597/Edmond%20B-L%C3%A9vy.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="597" data-original-width="390" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxAC1IGQ0fnwkDG0ujw4E-JzF7YwmsFTEH_kOKKBn3IhEg5qJNgvEajv3TUbztSULC7OTPFZyXid0P2uoCh1zQXoQLNJH5lMVvn8fdZFy0CvIucOk-UZCCWRzsiUApVW0Y79HRb-dGS3GUV14ZbAe87W365L1spz4r74fxk1Qffuub5Q5zLfLTTrwC/w418-h640/Edmond%20B-L%C3%A9vy.jpg" width="418" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div> <span style="font-size: large;">Caricatura por Émile Cohl</span><p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-28176849879603171642022-05-15T08:16:00.000-07:002022-05-15T08:16:01.277-07:00<p> </p><p class="MsoTitleCxSpFirst"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;"><b>O primeiro
cineclube?<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoTitleCxSpLast"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;"><b>Periodização do
cineclubismo – epistemologia e ideologia<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p><b> </b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Federação Internacional de Cineclubes (FICC)
divulgou recentemente em seu blogue<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> a proposta da Federação
Portuguesa de Cineclubes (FPCC) de adoção de um Dia do Cineclubismo, baseado na
criação do “primeiro cineclube”, de Edmond Benoit-Lévy, em 1907. Em 2013,
contudo, na Assembleia de Túnis, a FICC havia comemorado o centenário do cineclubismo,
considerando o Cinéma du Peuple, de 1913, como marco inicial da nossa
atividade. A referência mais antiga, salvo engano, deve-se à proposta de Paulo
Cunha, pesquisador do cinema e do cineclubismo português, divulgada no número
46 da revista <i>Cinema</i>, da federação de Portugal. A ideia do Cinema do
Povo francês como primeiro cineclube decorre de um texto meu, publicado no
único número da revista <i>Cahiers des Cinéclubs</i>, de 2010.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esta possível polêmica me parece muito bem-vinda. Ela
sinaliza para a discussão da validade epistemológica das pesquisas sobre o
cineclubismo, e isso é sinal de uma crescente importância do tema. O que pode
até constituir um prenúncio de uma disciplina: os <i>estudos cineclubistas</i>
ou de cineclubismo. Meio que à guisa de parênteses, lembro que uma série de
novos campos de estudo, antes desconsiderados, passaram a ser <i>legitimados</i>
por volta do centenário do cinema: exibição, distribuição, o próprio
documentário e até a cinefilia, que passou perto do nosso tema. Mas os
cineclubes, sempre presentes nas notas de pé de página de diferentes trabalhos,
não estavam ainda entre aqueles assuntos. No entanto, uma espécie de onda de
artigos, dissertações e mesmo teses vem acontecendo nos últimos anos. É
positivo que esses textos eventualmente se questionem entre si. E assim voltamos
à nossa polêmica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">É praticamente certo que a primeira referência pública
ao termo cineclube se deva realmente ao empresário Edmond Benoit-Lévy, em sua
revista <i>Phono-ciné-gazette</i>, lançada inicialmente em 1905 e publicada até
1909 – e que foi a mais importante publicação corporativa desse período inicial
do cinema na França. Essa já é uma constatação muito importante, pois cancela o
equívoco que atribuía a Louis Delluc e seu <i>Journal du Ciné-club</i> não
apenas a “invenção” da palavra como a própria criação do primeiro cineclube, em
1920. Um aspecto muito positivo desta discussão de agora é que ela indica a
superação definitiva daquela desinformação “fundadora” sobre o cineclubismo. Em
boa hora!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O pesquisador cineclubista mexicano, Gabriel Rodríguez
Álvarez, atual secretário-geral da FICC, também já demonstrara a existência de
um <i>Cinematógrafo Cineclub</i>, em 1909, na capital do seu país. Ele, contudo,
indicou que se tratava apenas de uma marca, um chamariz para a atividade
comercial de um exibidor de tipo mais tradicional, não de um verdadeiro
cineclube. De fato, nós brasileiros também podemos entrar nessa disputa: houve
um Clube de Cinema em Sobral, no Ceará, em 1912. Fragmentos de um jornalzinho
do tal Clube estão na Biblioteca Nacional. Neste caso, sem muita informação
adicional, o que pudemos inferir é que se tratou de uma das muitas atividades
oferecidas por uma agremiação da oligarquia local, que promovia bailes,
concursos da mais bela jovem sobralense e fazia projeções também, entre outras
atrações. Mas era um clube...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">É muito importante na pesquisa histórica situar o
contexto. Quando digo que é provável que o termo cineclube tenha surgido na
revista de Benoit-Lévy, estou considerando que <i>clubes</i> designavam formas
de organização e de entretenimento desde pelo menos a Revolução Francesa, na
tradição latina, e os clubes de cavalheiros, assim como os clubes de
trabalhadores, no universo anglófono. Parte importante da cultura da época, era
relativamente comum atribuir esse nome a diferentes formas de associação. Por
outro lado, o papel de paladino do cinema de Benoit-Lévy, papel que situaremos
melhor adiante, permite pensar que ele fosse o criador da junção dos dois
termos, clube e cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O que, então, legitima epistemologicamente uma dessas
alternativas de periodização do cineclubismo citadas acima? 1907, 1909, 1912 ou
1913? Creio que precisamos, antes de mais nada, identificar o que seja
cineclube. E, se concordarmos com uma definição, temos que ver se ela
corresponde ao fato histórico. Em seu saite, a FPCC explica:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 35.45pt; margin-right: 35.65pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">“A FPCC escolheu
o dia de 14 de abril com base em factos históricos, nomeadamente quando em
1907, Edmond-Benoit-Lévy, director da revista Photo-Ciné-Gazette anuncia a
fundação do primeiro “ciné-club”, instalado no boulevard Montmartre, 5, em
Paris. Este primeiro “ciné-club” situava-se nas instalações do cinema Pathé
Omnia, um dos primeiros cinemas de Paris, inaugurado no ano anterior. Este
“ciné-club” propunha à sua comunidade um local de reunião, uma sala de projecção,
uma biblioteca e um “boletim oficial do ciné-club”. Em suma </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">a <b><i>comunhão
da comunidade com a cultura</i></b><i> e assim “trabalhar para o
desenvolvimento e progresso do cinematógrafo sob todos os pontos de vista''. </i>(o
destaque é meu. O texto pode ser acessado em </span><a href="https://www.fpcc.pt/?page=noticias_ver&id=34"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.fpcc.pt/?page=noticias_ver&id=34</span></a><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">) <i><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Estou disposto a concordar com a ideia ampla de que o
cineclube deva ser um espaço de “comunhão da comunidade com a cultura”. Não é
uma definição muito trabalhada, mas nos basta aqui, no âmbito restrito desta
discussão. Essa definição e a questão da primazia da expressão cineclube, no
entanto, esgotam nossas afinidades. Explico:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Edmond Benoit-Lévy (1858-1929), advogado de formação,
foi o que hoje chamaríamos de um grande empreendedor do cinema, batalhando pela
afirmação do novo meio de expressão desde seus inícios. Nos primeiros anos do
século 20, Benoit-Lévy virou exibidor, associando-se à Pathé Filmes – a maior
empresa mundial de cinema até o final da primeira década – em inúmeras
atividades<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Além da revista já
citada, em 1906 ele dirige o Omnia Pathé, onde lança o tal “cineclube”, que
teria, além da sala do cinema, um lugar para reuniões, uma biblioteca e um
boletim oficial do cineclube, cujo objetivo é “<i>trabalhar pelo
desenvolvimento e progresso do cinematógrafo sob todos os pontos de vista</i>”
(Mannoni, p. 170). Acontece que “<i>nem o boletim, nem as reuniões, nem a
biblioteca se tornaram realidade. Por outro lado, a finalidade corporativa
dessa associação não dá lugar a nenhuma dúvida.</i>” (Gauthier, p. 25). Eu
acrescentaria que faltou também uma denominação mais completa do que
simplesmente “cineclube”. Em 1908, Benoit-Lévy está envolvido em produções e,
em 1911 cria uma “Associação Francesa do Cinematógrafo”. Tal como o
“cineclube”, seu objetivo é “<i>reunir os profissionais para além de seus
interesses setoriais para a promoção do cinema francês</i>” (idem). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Em resumo: o tal cineclube nunca existiu de fato, não
passou de uma floreada intenção publicada na revista: não me parece pertinente
estabelecer a data de sua “fundação” como o Dia do Cineclube. Pesquisa tem
dessas coisas: eu mesmo, e outros cineclubistas, “criamos” um Festival do Novo
Cinema, nos anos 80, que nunca foi mais que um projeto, mas que tinha estatutos
e regulamento; algum pesquisador pode encontrar uma referência a isso e, sem
outras comprovações, tomá-lo como real. Conheço, de fato, diversos outros casos
desse tipo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Mas tem outra coisa, esse projeto do Benoit-Lévy não
tinha nada a ver com “comunhão da comunidade com o cinema”. Foi uma tentativa
de reunir empresários e outros profissionais – particularmente atores - para a
valorização do seu negócio. Muito justo, lá com eles, mas não se trata,
evidentemente, nem de cineclubismo nem do tipo de comunidade que costumamos
associar à ideia de cineclube. O próprio texto do blogue da FICC que citamos
inicialmente destaca: “</span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Os Cineclubes são colectivos populares, próximos do
público, envolvidos com o público.</i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">”</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O texto da FPCC prossegue, indo diretamente de 1907
para 1920: “<i>Este movimento colectivo </i>(? – minha interrogação) <i>cessou
ao fim de pouco tempo, mas é retomado em 1920 pelo realizador Louis Delluc e
alguns amigos, que fundam no início do ano o Ciné-club de France”. </i>Ou seja,
os companheiros d’além-mar também não reconhecem a existência de cineclubes no
período entre estes que citam. Ora, a adoção do Cinema do Povo como “primeiro
cineclube” pela FICC, em reunião plenária com cerca de 40 países na assembleia
realizada na Tunísia, baseia-se na <i>Carta de Tabor dos Direitos do Público</i>
– igualmente adotada em grande assembleia-geral, mas em 1987 – que reconhece o
cineclube como uma <i>organização do público. </i>Identificando o cineclube com
seu público, a indicação do Cinema do Povo baseia-se nas formas progressivas de
organização das comunidades populares que acompanham o próprio desenvolvimento
do cinema e vão se estruturar como associações sem fins lucrativos – clubes,
cooperativas e outras - dedicadas ao conhecimento e expressão através do cinema
por volta dos anos 10 do século passado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Também seguindo esse raciocínio, é bem difícil
estabelecer uma data única e precisa para o surgimento, de certa forma o
amadurecimento, de um cineclube – que não dependeu de um empresário, inventor
ou artista, mas germinava simultaneamente em vários países, junto a diversos públicos
de cinema. Assim como estabelecer que o cinema “nasceu” com a primeira exibição
dos irmãos Lumière – o que é, a rigor, incorreto – também adotar uma data
comemorativa do cineclubismo envolve uma tomada de posição de caráter, afinal,
político. Ainda que deva ser epistemologicamente sustentável.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">É possível, e até provável, que o Cinema do Povo não
tenha sido “o primeiro cineclube”; inúmeras organizações surgiram naquele
período<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>, como por exemplo o Cinema
dos Trabalhadores, de Los Angeles, em 1911. Mas é nessa época que os cineclubes
estavam se consolidando, se institucionalizando (como já vimos, o nome não tem
uma relação direta com a forma de organização que define o cineclube). E o
Cinema do Povo é o (primeiro) mais completamente documentado, com estatutos,
exibições, debates e produções bastante estudados<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> e mesmo preservados. É um
detalhe menor, mas certamente não é desprezível a “coincidência” da data de
fundação do Cinema do Povo e seu aniversário de 100 anos por ocasião da reunião
de Túnis. A proposta da Federação Portuguesa também encontrou uma certa
coincidência com o fato do Cineclube do Porto, o mais antigo do país, ter sido
fundado quase no mesmo dia do mês que o cineclube do Omnia Pathé (no dia
seguinte, destaca a revista), algumas décadas depois.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">É essencial que os fundamentos epistemológicos para a
datação ou periodização histórica sejam precisos, consubstanciados e contextualizados.
Mas a adoção dessas datas como efemérides identitárias, políticas, depende
igualmente de posicionamentos de caráter ideológico. Podemos, eventualmente,
“esticar” esta discussão </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">ad nauseam</i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">, mas a questão permanece: que tipo
de cineclube queremos reconhecer e comemorar? O comercial (1907 ou 1909), o
recreativo (1912), ou o popular (e político - 1913)?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Espero que os companheiros portugueses não interpretem
mal minha discordância. Ela é baseada no reconhecimento do trabalho de
investigação realizado, assim como da iniciativa de estabelecer uma data
identitária que aproxime os cineclubes de todo o mundo. Creio que essa ideia é
rica em potencialidades e que devíamos realmente procurar essa efeméride – mas
estribada em outra ocasião e argumentos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Felipe
Macedo<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Montreal
– abril, 2021<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Obras citadas (além das que constam nas notas):<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="FR-CA" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">MANNONI, Laurent. 1994. « Cinéclubs et clubs »
em <i>Dictionnaire du cinéma mondial. Mouvements, écoles, tendances, courants,
genres.</i> VIRMAUX, A. e O. Paris, p. 170-175.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="FR-CA" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">GAUTHIER, Christophe. 1999. <i>La Passion du cinéma.
Cinéphiles, ciné-clubs et salles spécialisées à Paris de 1920 à 1929. </i></span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Paris :
AFRHC, p. 25.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">ROSS,
Steven J. 1998. <i>Working Class Hollywood – Silent Film and the Shaping of
Class in America</i>. Princeton: Princeton University Press, p. 103-105<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">_____________.
2002. <i>Movies and American Society</i>. Oxford: Blackwell Publishing, p. 61.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span><a href="https://infoficc.wordpress.com/2021/04/10/14-de-abril-de-2021-dia-nacional-do-cineclube/"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://infoficc.wordpress.com/2021/04/10/14-de-abril-de-2021-dia-nacional-do-cineclube/</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> divulgado em abril de 2021.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Benoit-Lévy tem uma
expressiva carreira no campo da projeção de imagens, tendo participado da
famosa Liga do Ensino, instituição educativa laica centenária, e que existe até
hoje, e depois, da Sociedade Nacional de Conferências Populares, muitas vezes
ilustradas com “projeções luminosas”, isto é, de lanternas mágicas. Também
trabalhou com Michel Coissac em atividades semelhantes, mas ligadas à Boa
Imprensa, organização da Igreja católica. Isso tudo ainda no século 19. Em
1898, contudo, Benoit-Lévy abandona a advocacia e logo passa a ocupar diversas
posições na nascente indústria do cinema. Exibidor, dirige o Omnia Pathé, em
associação com a empresa homônima. Está ligado, de uma maneira ou de outra, a
inúmeras iniciativas de organização de empresários e profissionais do cinema,
com diversas denominações, desde o “cineclube” de que tratamos aqui, até a
importante produtora SCAGL (Sociedade Cinematográfica dos Autores e Gente das
Letras), também ligada à Pathé. Em 1907, Benoit-Lévy produziu o <i>Enfant
Prodigue </i>(este com a Gaumont)<i>, </i>um longa-metragem, coisa
absolutamente incomum para o período, que não teve sucesso. </span></span><span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;">(de textos de Jean-Jacques Meusy -
« Qui était Edmond Benoit-Lévy ? », in <i>Les vingt premières années
du cinéma français, actes du colloque de la Sorbonne nouvelle</i>, 4-6 novembre
1993, Paris, Association française de recherche sur l'histoire du cinéma,
Presses de la Sorbonne nouvelle, 1995, p. 115-143, e « Aux origines de la
Société cinématographique des auteurs et gens de lettres (S.C.A.G.L. ) : le
bluff de Pierre Decourcelle et Eugène Gugenheim », in: <i>1895, revue
d'histoire du cinéma</i>, n°19, 1995. pp. 6-17, além da bibliografia citada ao
final.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span lang="FR-CA" style="mso-ansi-language: FR-CA;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Hoje já existem diversos
autores trabalhando com cineclubes do início da segunda década do século
passado. Lembro aqui o importante trabalho de Steven Ross, <a name="_Hlk69912148"><i>Working Class Hollywood – Silent Film and the Shaping of
Class in America</i></a>, que cita inúmeros exemplos, desde um cinema de
Chicago organizado por militantes “para difundir propaganda socialista... para
os milhares de pessoas que frequentam as salas de 5 e 10 centavos”, já em 1909
(p. 105). Em 1913, “socialistas e sindicalistas em Leeds, Inglaterra, abriram
seu próprio cinema para divulgar ‘princípios de solidariedade entre as massas’,
exibindo apenas filmes favoráveis aos trabalhadores”. “No final de 1914,
sindicalistas e radicais na Inglaterra, Holanda, França, Alemanha e Bélgica
haviam organizado cooperativas que produziam, distribuíam e exibiam filmes e
noticiários dentro e entre diferentes nações.” (p. 103). Em outro trabalho,<i>
Movies and American Society</i>, Ross fala mais em profundidade do Socialist
Movie Theatre (Cinema Socialista) de Los Angeles, de 1911 (p. 61). John Green, Bert
Hogenkamp, Judith Tissen, Miriam Hansen, Janet Staiger e a brasileira Edilene
Teresinha Toledo, só para citar alguns de memória, também mencionam e estudam <i>grupos
populares organizados</i> de trabalho com cinema nessa época.<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Meu/Nascimento%20dos%20cc%20no%20Brasil/Periodiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20cineclubismo.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">A tese de Luiz Felipe Mundim
é, a meu ver, o trabalho mais completo a respeito: <i>O Público Organizado para
a Luta. O Cinema do Povo na França e a resistência do movimento operário ao
cinema comercial (1895-1914)</i>, disponível em </span></span><a href="https://lume.ufrgs.br/handle/10183/158300"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://lume.ufrgs.br/handle/10183/158300</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> . Há diversos outros trabalhos a
respeito, inclusive meu <i>Cinema do Povo, o primeiro cineclube,</i> disponível
em </span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2010/03/cinema-do-povo-o-primeiro-cineclube.html"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2010/03/cinema-do-povo-o-primeiro-cineclube.html</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-75994822837740826482021-10-28T12:42:00.005-07:002021-10-28T12:44:22.805-07:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyMECni_DkL345DtqnDHier034jpa1zQIz_sDxqs0q4PoyHwR-SLz_epmfDTFKlLKDhpeWV8iijv3dIdurmGhh5OJJq9JfdBLPQKzF8h7Cf-lDCBYNtwZ2E2e0vOYAvIVwMMxADlrAGiw/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="710" data-original-width="564" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyMECni_DkL345DtqnDHier034jpa1zQIz_sDxqs0q4PoyHwR-SLz_epmfDTFKlLKDhpeWV8iijv3dIdurmGhh5OJJq9JfdBLPQKzF8h7Cf-lDCBYNtwZ2E2e0vOYAvIVwMMxADlrAGiw/w254-h320/91cb0fe401a7edf8d46be6b6c91049c6.jpg" width="254" /></a></div><br /><p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-65750282493559473842021-10-28T12:38:00.000-07:002021-10-28T12:38:33.255-07:00<p> </p><p class="MsoTitle"><a name="_Hlk85454643"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;"><b>O
conceito de cineclube</b><o:p></o:p></span></a></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Este artigo foi preparado para
discussão dentro do grupo de estudos </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Ponto de Encontro Cineclubista</i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">, que
reúne cineclubistas e pesquisadores de cinema voltados para o tema. O próprio
título do texto foi dado pela reunião que me atribuiu a tarefa. Está pensado
para o contexto do grupo. Assim, é um tanto provocativo, pensando nas questões
que penso poder suscitar, apesar da relativa brevidade do texto, um debate
interessante entre os membros do grupo; também traz várias indicações
bibliográficas, mas menos no sentido de justificar as afirmações feitas – como
soem ser as referências mais acadêmicas – e sim para fornecer informação para
outras pesquisas que tenham a ver com os trabalhos dos companheiros.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: justify; text-indent: 36pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;"><b>Heteroglossia</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Falar sobre <i>conceito</i> de
cineclube remete à necessidade de esclarecer, inicialmente, o próprio termo.
Palavras, como indicou Bakhtin, são os signos principais da comunicação humana,
no sentido de que, não sendo os únicos, são os mais gerais e ubíquos: retornamos
sempre às palavras para tratar, mesmo na reflexão subjetiva, de toda a
realidade, inclusive dos outros signos e sistemas de signos que utilizamos.
Mais que isso, o pensador russo mostrou que os signos, ligados à transformação
da realidade – o trabalho – e produzidos socialmente, isto é, no terreno da
interação social, da intersubjetividade, são sempre, por definição,
ideológicos. Cada palavra – ou melhor, <i>ato de palavra</i> – tem um sentido
exclusivo a cada <i>enunciação</i>. E a este corresponde outro sentido
específico, dado por cada ouvinte. Bakhtin chama esse sentido particular de<i>
tema</i> do enunciado, e de <i>significação</i> o sentido que adquire uma maior
permanência, adotado num conjunto social mais amplo: de grupos, comunidades,
até classes sociais e, eventualmente, numa posição hegemônica mais ou menos
estável na própria sociedade. Os dicionários, de fato, organizam a variação, a
polissemia da maioria de seus verbetes, segundo uma ordem derivada do uso, ou
seja, segundo o uso, a estabilidade dos sentidos das palavras. Para Bakhtin
essa polissemia, no limite presente em cada enunciação particular, constitui
uma <i>heteroglossia</i>: uma circulação permanente de sentidos diferentes, <i>vozes</i>
diversas que interagem dialeticamente no campo social. O enunciado, veículo
ideológico de interação social, é sempre parte de um diálogo, dialético. Assim,
é também um espaço de luta de classes.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Palavras como cinema, filme ou cineclube revestem-se
de diferentes sentidos e de conteúdos ideológicos muitas vezes contraditórios.
Cinema, por exemplo, vai da mais óbvia identificação com a sala mesma, e/ou com
a atividade de lazer <i>ir ao cinema</i>, até a indicação de diferentes
dispositivos: a indústria do cinema, o campo cultural do cinema, a arte do
cinema. E mesmo a linguagem do cinema. E, como na fala (ou qualquer outra
linguagem adotada pela sociedade humana), os sentidos dos enunciados da
linguagem cinematográfica são igualmente estabelecidos – adotados socialmente
com maior ou menor estabilidade – pelos diferentes níveis do tecido social e,
no limite, pela compreensão individual subjetiva de cada espectador. Que é, por
sua vez, determinada pela sua inserção na intersubjetividade social. Um dos
elementos da variação de sentidos da palavra cinema é a sua repercussão em
diferentes contextos idiomáticos. Em francês – e português –, cinema está mais
associado à primazia dos Lumière e de seu <i>aparato</i>, o cinematógrafo; em
inglês prevalece Edison e seu <i>produto</i>, as imagens em movimento (<i>moving
pictures</i>, depois simplesmente <i>movies</i>). Daí podemos passar para a
palavra <i>filme</i>, também sinônimo de cinema para os anglófonos, que se
consolidou mais como o produto mesmo, a película que era sua base, e depois
assumiu o sentido de <i>produto artístico</i>, veículo da linguagem cinema e,
portanto, para a maioria, consolidado o dispositivo social do cinema, como <i>narrativa</i>.
Mas o filme/película não é necessariamente narrativo – nem nasceu assim, mas
como “simples” ou mecânica reprodução da realidade. Como a grande maioria dos
estudiosos do cinema admitem, a narratividade só se consolidou como sentido
hegemônico no período chamado de <i>institucionalização</i> do cinema, pelo
menos mais de uma década depois das experiências de Émile Reynaud, de Edison, dos
irmãos </span><a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Max_Skladanowsky"><span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; text-decoration-line: none;">Skladanowsky</span></a><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> ou
Lumière. A concepção de filme como narração é claramente ideológica, e vai mais
além: consolida o modelo comercial de entretenimento, baseado na transposição
de códigos literários consagrados. Hoje, parte dos cultores cinéfilos da aura
do cinema gosta de louvar as “transgressões” ou invenções que fogem aos dogmas
narrativos, esquecendo que a narrativa linear é ela mesma uma imposição do
sistema industrial de produção do cinema.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"><b>Cineclube</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O mesmo se dá com o termo cineclube, evidentemente. O
conceito de cineclube tem, antes que tudo, um emprego que Gramsci situaria no
plano do <i>senso comum</i>, isto é, da repetição automática e acrítica de uma
ideia mais ou menos vaga, e que não se aplica <i>concretamente</i> aos fenômenos
reais. Em outras palavras, até mesmo os dicionários reproduzem uma mera
descrição empírica e superficial de cineclube: uma reunião de aficionados pelo
cinema. Mesmo essa ideia vaga, no entanto, tem uma origem histórica e
ideológica muito clara: os anos 20 do século passado – cerca de 30 anos depois
do surgimento do cinema – quando as elites intelectuais se apropriaram de
experiências populares contemporâneas do próprio cinema, tornando-as mais
palatáveis ao dispositivo socioeconômico dominante. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Já escrevi, inclusive, sobre as vicissitudes
etimológicas e históricas do termo cineclube, mais recentemente em dois
artigos: <i>O primeiro cineclube? Periodização do cineclubismo – epistemologia
e ideologia </i>e <i>Ainda a epistemologia do cineclubismo</i>, que estão
disponíveis em meu blogue:</span><span lang="PT-BR"> </span><a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/</span></a><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">. Esses textos discorrem mais amplamente sobre a
origem do vocábulo cineclube e podem ser de interesse para complementar os
argumentos que uso aqui.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas descrever empiricamente o objeto: “cineclube é uma
reunião de gente que se interessa pelo cinema”, elude a compreensão do processo
que resulta na significação do fenômeno. Num cineclube as pessoas se reúnem em
torno de um filme, sem dúvida. Mas como? Para quê? Que tipo de pessoas? Em que
contextos? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As pessoas, em geral, gostam de cinema (ou de seus
muitos “derivados”, em múltiplos suportes ou mídias). Existe uma cinefilia
geral, ou <i>comum</i>, ao lado daquele sentido tão claramente ideológico que
identifica o <i>gosto pelo cinema</i> como apanágio de especialistas, de <i>conhecedores</i>.
Mas as pessoas também gostam de leitura, de pintura, de fotografia, de
histórias em quadrinhos e muitas outras formas de expressão, outras linguagens.
Não é só o cinema que tem seus devotos e suas instituições, no nosso caso os
cineclubes. No final do século 18, principalmente, com um aumento importante na
alfabetização, na urbanização e na expansão do proletariado, houve uma “febre
de leitura” que atingiu alguns setores dessa nova classe social. E eles se
organizaram, em <i>clubes de leitura</i> e <i>bibliotecas populares</i>
(Cavallo e Chartier, 1997), por exemplo. Mas, ainda que hoje existam alguns
clubes desse tipo, certamente estão em estado avançado de extinção – em boa
parte por causa de uma mídia que, um século depois, superou em grande parte o
que e como os livros podiam oferecer: o cinema. Bem antes, as artes visuais
tiveram suas próprias organizações, os salões, depois galerias de arte, que
existem até hoje, mas sempre foram e são instituições de e para privilegiados.
Outros salões – os que Habermas (2014) estudou como esferas públicas – também
cultivavam a leitura, talvez mais a imprensa, e o debate, e foram muito
importantes para a formação de uma opinião pública burguesa indispensável ao
ascenso da nova classe dominante. E assim por diante: diferentes públicos, eu
diria, dão origem a diferentes formas de organização – e, mais ou menos
paralelamente, iniciativas particulares dão origem a empreendimentos de tipo capitalistas,
ou se apropriam de outras, transformadas em iniciativas comerciais. São
reflexos não simétricos, na superestrutura, das mudanças nas relações de
produção.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O que esse parágrafo procura mostrar é que elas –
organizações e instituições – vivem ciclos históricos precisos, mais ou menos
extensos (como até os modos de produção, pelo menos nesta pré-história em que
vivemos), determinados, sem mecanicismos (Williams, 2011, p. 56-58: “culturas
residuais e emergentes”) pela sua adequação ao processo produtivo e às relações
sociais. Praticamente todas elas, neste momento, ou foram totalmente integradas
ao mercado capitalista – como se dá com as instituições de artes visuais – ou,
sem conseguir ligar-se organicamente à outra classe fundamental, tornaram-se
praticamente irrelevantes social e culturalmente, vegetando sem muita
perspectiva em ambientes pequeno-burgueses. Esse é também o caso dos
cineclubes, mas ainda é cedo para entramos nesse tema específico.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"><b>O público</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Antes de propor uma definição mais abrangente para
cineclube é necessário examinar o conceito de público. Esquenazi (2006), em seu
repertório de estudos do público, encontra uma proposição básica comum: público
é sempre, e se define por ser,<i> público de alguma coisa</i>. Ele vê quase sempre
esse público como uma <i>sociação</i>, termo empregado por Pierre Sorlin (1992,
p. 86-102), emprestado originalmente de George Simmel para descrever uma
reunião mais ou menos efêmera em torno de um evento comum. Alguns autores, que
reconhecem maior protagonismo dessas audiências, compreendem que seus vínculos
possam ser mais extensos do que a ocasião que os reuniu, o público
constituindo-se como algum tipo de <i>comunidade</i>. Mas não conheço nenhum
que trabalhe com o conceito de público como uma categoria social mais
abrangente – à exceção talvez de Kracauer (2009, e Hansen 2004), que fala do <i>público
cosmopolita </i>do cinema, justamente após a institucionalização deste último. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A meu ver, podemos trabalhar epistemologicamente com o
público em três instâncias: o <i>público imediato</i>, audiência e sujeito de
um evento; o <i>público comunitário</i>, compreendido no âmbito de uma
comunidade, como o de uma biblioteca ou mesmo, de forma mais ampla, o público
leitor, o público feminino, o público brasileiro, etc. e, finalmente, o <i>público
moderno</i>, fundado pelas particularidades inéditas do cinema no contexto do
que chamam de segunda revolução industrial ou simplesmente de modernidade (Singer,
2001, Staiger 2005, Albera, 2012), determinando, paradigmaticamente, a
disposição do público das chamadas indústrias culturais. E que, enquanto
categoria, abrange a quase totalidade da população. Corolário deste último,
devemos pensar também em um <i>público contemporâneo</i>, conceito que assinala
a passagem para a mídias audiovisuais. Definem-se os públicos por sua relação
com alguma forma ou meio de comunicação, do evento particular até praticamente
o conjunto da população nos dias de hoje. Com o cinema, o público atingiu
proporções inéditas, tornando-se categoria central no processo de transformação
social. Com a ampliação ainda maior atingida com a televisão e, atualmente, também
com as novas mídias audiovisuais e o mercado audiovisual planetário, o público
praticamente se confunde com o totalidade da população, com o conjunto de
segmentos que constituem um <i>proletariado contemporâneo</i>, constituído pelas classes que não têm acesso
aos meios de sua própria produção simbólica que, hoje, incluem e se confundem
com os meios de comunicação audiovisuais. Marx (2010) já indicava a tendência
de aglutinação da sociedade em duas classes fundamentais e antagônicas. Esse
conceito de público, em minha perspectiva, vai ao encontro de outras
formulações, especialmente as dos cineclubistas italianos Fabio Masala (1986) e
Filippo de Sanctis (1970), autores originais da <i>Carta de Tabor dos Direitos
do Público</i>, da ideia de <i>oprimidos</i> para Paulo Freire (2013), de <i>povo</i>
para Martín-Barbero (2013) ou mesmo da <i>cidadania</i> segundo Canclini (2007).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">É o público, em todas essas três instâncias, que dá
sentido ao cinema: enquanto linguagem e, ao mesmo tempo, como mercadoria, ao
reproduzir, no papel de consumidor, as condições da sua produção. O cinema só
existe por causa da existência do público, e este, reversamente, se constitui
como público do cinema. Consequentemente, o mesmo se aplica ao conjunto das
mídias que constituem o dispositivo audiovisual contemporâneo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Tal como na relação homóloga capital-trabalho operando
dentro do sistema capitalista, o público, a grande maioria da população que não
tem acesso aos meios de produção também de seu universo simbólico, constitui o
polo oposto ao do “cinema” no sentido de capital do cinema, indústria do
cinema, cinema comercial (que existe em função do lucro). Os dois polos opostos
geram instituições que disputam a hegemonia social nesse plano. Toda a
organização do sistema produtivo do cinema, sua divisão em aparatos de
produção, distribuição e exibição, assim como os formatos da linguagem
(narrativa linear, literária) e do produto (duração dos programas,
longa-metragem, ficção, documentário, etc.) e gêneros, entre outras, são
instituições geradas pelo capital. Outras instituições, como os cineclubes, as
cinematecas, o uso do cinema na educação, a experimentação, o cinema amador e
até mesmo, no limite, os cinemas nacionais lá onde não existe uma indústria do
cinema, têm sua origem no público. Estas dependem, em boa medida, de sua
tolerância pelo capital; aquelas, igualmente, mantêm-se apenas na medida em que
o público as reproduz. Ou seja, todas essas instituições estão em conflito
permanente e oscilam ou se modificam conforme a maior ou menor influência
específica de cada polo. Qualquer discurso ou narrativa cinematográfica é, como
qualquer conjunto de enunciados, um espaço de heteroglossia e luta de classes,
segundo o contexto social, momento histórico, etc. O mesmo acontece com as
outras instituições do cinema.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cineclube pode ser visto, numa perspectiva mais
limitada, como a do modelo elitista, como um espaço opositor ao cinema. Mas essa
é apenas a perspectiva redutora, pequeno-burguesa, de grande parte da
intelectualidade: como na suposta oposição cinema de autor/cinema comercial, ou
da defesa da diversidade geográfica, étnica ou de gênero como opositora à
produção hegemônica. A oposição é, na verdade, mais ampla que essas, mais profunda,
estrutural: o cineclube é um <i>paradigma opositor</i> ao cinema capitalista, é
o <i>embrião</i>, a base da superação dessa forma de dispositivo cultural,
justamente por se constituir como <i>organização do público</i>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"><b>O paradigma do cineclube como organização do
público</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cinema, enquanto dispositivo social, econômico,
cultural, ideológico se constitui no processo de desenvolvimento da reprodução
das imagens em movimento e sua adequação ao sistema das mercadorias. Em outras
palavras, desde a luta pela supremacia de um processo – o cinematógrafo –, até
a consolidação do cinema como mercadoria, seu processo de produção, circulação,
consumo, que envolve a linguagem e outros aspectos. Desde a mítica exibição de
28 de dezembro de 1895 até os nickelodeons; destes até <i>Intolerância</i>, passando
pelo processo de <i>transição</i> ou de <i>institucionalização</i>, que culmina
com a consolidação de todas as mais importantes instituições do cinema. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Homologamente, o público que se espantava com a
novidade das imagens em movimento, em seguida se divertia com a <i>cinematografia
de atrações</i> de feiras e mafuás, depois vaudevilles, teatros de revista e
outros, também encontra uma forma mais sólida a partir dos <i>nickelodeons</i>
e sua audiência mais ampla: a do proletariado, que também estava ainda em fase
final de formação. Mas é apenas no final daquele período, atingindo o que
Kracauer chamou de <i>público cosmopolita </i>(weltstadt publikum), constituído
por um leque social ainda mais amplo, que o cinema constitui, assimila e
domestica seu público. Esse é, então, o <i>público moderno</i>. Cinema e
público se formaram como opostos dialéticos do mesmo processo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Evidentemente, esse percurso, dos primeiros
kinetoscópios e cinematógrafos até a projeção de longas-metragens nos palácios
de cinema, com a audiência enquadrada por lanterninhas, não foi linear, sem
muitos conflitos. Já falei bastante sobre isso, em artigos esparsos
(disponíveis em meu blogue) ou em conversas virtuais, como as da série <i>Passado
e Futuro do Cineclubismo</i>, no canal YouTube do Cineclube Ó Lhó Lhó. O
cineclube, como outras instituições importantes do par conceitual
cinema-público, se forma desde o início desse processo – e, de fato, suas
origens o precedem, tal como esse processo também não surge do nada em 1895.
Práticas educativas, de proselitismo político ou religioso começaram a empregar
cinematógrafos desde a sua aparição. Logo tornaram-se atividades mais
frequentes, muitas itinerantes, em campanhas contra o alcoolismo, por exemplo,
ou para divulgação dos sindicatos. Nos <i>nickelodeons</i> – e outras salas
populares – a manifestação de formas de descontentamento do público era bastante
comum, levando progressivamente à organização de sessões independentes, em
organizações populares, e em salas mais estruturadas – além da produção de
filmes e noticiários – resultando em novas formas de organização desses
públicos. É, então, em torno dos anos 10 do século passado, entre 1908 e 1913 que
surge uma <i>forma institucional definida</i>: o que hoje chamamos de
cineclube. O Cinema do Povo<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20conceito%20de%20cineclube.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> é o exemplo mais acabado
dessa nova forma de organização.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O cineclube não era uma “reunião de amantes do
cinema”, mas claramente uma forma de organização independente (em oposição às
salas comerciais), anticapitalista, que, na tradição da classe trabalhadora
(Williams, Thompson), se constituía de forma coletiva e democrática para ter
acesso, e mesmo criar, um cinema “que mostrasse a vida real dos trabalhadores”
– como disse um dos organizadores do Cinema dos Trabalhadores (Workmen’s Film
Theatre, 1911, Los Angeles) a jornais da época (Ross, 1999). Daí a minha
formulação das três características essenciais que definem a instituição
cineclube: o caráter associativo e democrático; a ausência de finalidade
lucrativa e o objetivo de se apropriar do cinema – no limite, de criar um <i>novo
cinema</i>, objetivo ligado intrinsecamente ao estabelecimento de uma <i>nova
sociedade</i>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Essas
três características não se aplicam apenas aos cineclubes que surgiram no final
da primeira década do século passado. Elas são paradigmáticas para todas as
formas de cineclube subsequentes, até os dias de hoje. E mais, elas não apenas definem
cineclube, mas constituem o paradigma que se aplica ou pelo menos influencia
decisivamente, todas as formas de organização do público no campo do cinema e,
ainda, das mídias audiovisuais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> O
processo de apropriação e descaracterização das instituições do público, que
prossegue sempre, atuou fortemente sobre o paradigma criado no início do
século. De uma proposta de subversão radical e totalizante do cinema comercial,
as práticas se dividiram, se desorganizaram em alguma medida, atenuaram seus
objetivos. A criação, identificada com a produção/realização, foi afastada da
organização da recepção, e individualizada na figura do autor/realizador. A
ficção tornou-se o elemento preponderante; corolário disso, a documentação da
vida – da identidade e memória do público – e sua preservação, também se tornaram,
nos anos seguintes, função especializada, isto é, as cinematecas. O aspecto
pedagógico e político da formação do público também foi afastado,
especializado, criando outra linhagem, a do cinema educativo, reduzido inicialmente
ao chamado filme “científico”, e nunca “legitimado” pelo cineclubismo
hegemônico (nos anos 50, dos cerca de 10.000 cineclubes existentes na França,
8.000 eram de uma federação de “cinemas educativos”, a UFOLEIS - União Francesa
das Obras Laicas pela Imagem e Som, fundada em 1933).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Todas as práticas e organizações ligadas a essas
“ramificações” da organização paradigmática do público apresentam, no entanto,
em algum grau, os elementos de associativismo, ausência de finalidade lucrativa
e objetivo de apropriação do cinema. O mesmo já se observa, também, em muitas
das novas práticas de comunicação que chamo de audiovisuais: as rádios e tevês
comunitárias ou piratas, e blogues, vlogues e outros canais de comunicação pela
internet, em que pese o incentivo geral às iniciativas de caráter pessoal
(característica da classe dominante), o controle da chamada propriedade
intelectual e a forma de assalariamento modificada (em contraposição ao
financiamento coletivo) que busca ou efetivamente controla grande parte das
iniciativas de maior repercussão – além dos mecanismos de policiamento de
conteúdo exercidos pelas grandes corporações que controlam esses espaços e por
diferentes agências policiais governamentais<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"><b>Falência do modelo<o:p></o:p></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Os anos
20 e parte dos 30 estão marcados por esse processo de apropriação,
descaracterização e enfraquecimento das organizações do público –
dialeticamente articulado com a sua difusão internacional. O modelo de certa
forma “atenuado” do cineclubismo transformador, revolucionário, que o
antecedeu, tornou-se dominante e, aceito institucionalmente – com muitas
querelas com a censura – e, mais ou menos tolerado pelo comércio do cinema,
espalhou-se pelo mundo inteiro. Esta última observação deve, no entanto, ser um
pouco relativizada: a região que mais estimulou organizações do público
trabalhador, a União Soviética, foi ostracizada, ignorada em todos os aspectos
pela cultura dita ocidental. A tal ponto que pouco se conhece dos clubes
operários de cinema que, no entanto, formaram a base inicial de todo o cinema
dos países da URSS. Nos Estados Unidos, a outra potência cinematográfica que justamente
se consolida definitivamente (até agora) nessa época, a presença acachapante da
indústria hollywoodiana também obscurece o papel dos cineclubes mais ou menos efêmeros
(com notáveis exceções), também presentes sobretudo nos ambientes proletários e
universitários. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> A nova
Guerra Mundial também teve um papel nesse processo de expansão, mas
praticamente interrompendo-o; ele foi, contudo, retomado de forma quase explosiva
logo após o encerramento do conflito. No final dos anos 40 e início dos 50 o
número de cineclubes aumenta exponencialmente na Europa, principalmente, e
também tem um notável crescimento em toda a América Latina. É a “idade do ouro”
dos cineclubes, a retomada criativa da cinefilia elitista, que vai alimentar
uma geração de “novos cinemas” em todo o mundo – inclusive o Cinema Novo
brasileiro. Essa movimentação cultural é também muito influenciada pelas novas
tecnologias de portabilidade e de reprodução do som – num paralelo, talvez, com
o papel que tiveram os “pequenos formatos” de captação e exibição de imagens
nos anos 20.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> O ápice
desse processo é interrompido com a disseminação da televisão. Sua difusão muda
bastante o cenário do cinema comercial, induzindo uma reorganização geral –
isto é, a partir do centro que monopoliza o cinema mundial. Com exceção dos
países centrais – Europa e América do Norte anglófona – o cinema se torna um
produto de consumo limitado às regiões e camadas sociais mais ricas. Com outras
formas de consumo audiovisual, que não param de surgir, o processo de
individualização do acesso se acentua, o que ajuda a abalar ainda mais as
práticas cineclubistas elitistas. É o próprio modelo de “adaptação crítica” ao
cinema comercial, de cinefilia de autor, que torna esses cineclubes mais
vulneráveis à expansão econômica e tecnológica do capitalismo. A cinefilia vai
para o terreno do consumo privado. O cineclubismo sofre um impacto importante,
diminuindo muito em número nos países centrais (anos 70) e quase desaparecendo
nos países de médio e baixo desenvolvimento econômico e social. O fato de
muitos países da África e do Sudeste da Ásia alcançarem a independência mais ou
menos na mesma época – nos anos 60 -, de maneira pouco organizada, não apenas
dificultou ou mesmo impediu a consolidação de um movimento cineclubista
próprio, mas na verdade praticamente incapacitou esses países a desenvolverem
um cinema nacional. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nos países centrais, hegemônicos, o cineclubismo
mantém as mesmas características de sua idade do ouro, mas sem o mesmo impacto
social ou cultural. Tornou-se parte do grande cenário do cinema comercial, uma
forma de <i>cultura residual</i> perfeitamente integrada: fornece um pouco da
diversidade que o cinema comercial não oferece, sem realmente contestá-lo, isto
é, concorrer, de qualquer maneira que seja, com ele. Sob formatos inspirados
nesse modelo, a maioria dos cineclubes de países mais ou menos periféricos
mimetizam esse processo. Mas sem as mesmas estruturas sociais, oferecem uma
espécie de pastiche do cineclube de país desenvolvido: o <i>cinema de autor</i>
praticamente se confunde com o <i>cinema nacional</i> (conceito também
indiscutido) – que não existe como indústria cultural – e a busca pela
originalidade, diversidade e afirmação contracultural se encontra nas produções
amadoras, frequentemente produzidas pelos próprios mentores desses cineclubes,
eles mesmos buscando alguma identificação com a figura mítica do autor.
Aproveitando e adaptando um pouco minha exposição dentro do 1º. Seminário de
Cineclubismos Latino-americanos, de julho deste ano: <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 7.1pt; margin-right: 14.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.9pt;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">“No
Brasil, especialmente, já não se encontram praticamente cineclubes organizados
como associações. Disso decorre um virtual rompimento da ligação com as
comunidades em que atuam, pois elas não estão representadas, para além do
desejo ideal dos animadores dessas atividades, nos ditos cineclubes. Afirmar
que não têm fins lucrativos também perdeu parte do sentido, já que a maioria
depende da sustentação do Estado – paradoxalmente muito pouco presente – ou de
algumas poucas instituições de ensino que, por sua vez, frequentemente
determinam uma parte do seu trabalho, retirando-lhes parte da autonomia. Os
cineclubes mantêm a diretriz de passar filmes relevantes, é verdade, e de
realizar debates, geralmente centralizados numa figura de autoridade: alguém da
produção do filme exibido ou um especialista acadêmico. A relevância do que é
exibido é determinada pelo gosto institucional dessa classe média: o tal do
cinema de autor e um compromisso com o cinema nacional.” <o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-right: 28.55pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"><b>Perspectivas</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-right: 28.55pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Aproveitando, ainda, a mesma apresentação:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 14.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 21.8pt;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">“Não
é mais possível usar a palavra cineclube com um significado unívoco: seu
sentido se diluiu, perdeu aquela precisão paradigmática – que apenas ronda,
como um fantasma residual, as diferentes práticas que encontramos. <o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 14.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 21.8pt;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">E não
existe ainda uma concepção unitária de como organizar o público, as comunidades
em que vive, para um mundo em que as mídias – que quase por definição, hoje,
são audiovisuais – estão omnipresentes e constituem o principal elemento e
ambiente de mediação das relações sociais no plano simbólico. <o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 14.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 21.8pt;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;">Os
cineclubes, e o público, têm diante de si o desafio de se apropriar das mídias
que hoje ocupam o papel que o cinema teve no século passado.”<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 14.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 21.8pt;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A falência do modelo cinéfilo e elitista não
significa, em absoluto, o fracasso da instituição cineclube, mas apenas a crise
da concepção pequeno-burguesa e, num certo sentido, “reformista” de cineclube.
Os cineclubes não surgiram, e não se confundem, com lugares de culto à aura
(Benjamin, 1935) cinematográfica e de educação bancária (Freire, 2013) “do
olhar”. Com o dispositivo do cinema como referência, essas primeiras
organizações do público tinham como objetivo propiciar sua expressão através da
então relativamente nova mídia, apropriando-se dela em todos os aspectos:
produção, circulação, recepção, assim como sua aplicação como elemento de
preservação da memória, de promoção da identidade e da autoconsciência
histórica (educação) das classes dominadas sob o jugo capitalista. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: .2pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-right: .2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas o cinema, na
verdade, constituiu apenas o processo inicial do estabelecimento de um
dispositivo mais amplo, das mídias audiovisuais (Elsaesser, 2018); o <i>cineclube
contemporâneo</i> tem, portanto, como objetivo, a organização do público para
que este se aproprie do dispositivo midiático. Diante da crise generalizada: do
modelo elitista, da fragmentação e dispersão de outras iniciativas do público,
da falta de compreensão e direção unitárias diante da situação, além das crises
complementares que afetam outras formas de organização popular, em outros
campos – sindical, partidário, etc. –, o grande desafio do cineclubismo é
encontrar as formas de superação dialética da situação presente. Sob pena de
permanecer numa condição de irrelevância política, social, cultural e de adiar,
de forma importante, a construção de uma sociedade justa, igualitária e livre:
objetivo do qual se origina e que constitui sua maior finalidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-right: .2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Procurando resumir
o que na verdade é matéria para muita discussão, o cineclube contemporâneo deve
construir a adequação de sua tradição popular, do paradigma cineclubista, aos
meios de comunicação da atualidade, às mídias audiovisuais. E essa não é uma
questão técnica, mas uma tarefa política que envolve a rearticulação do próprio
cineclube, da sua organização, e de suas formas de integração e
representatividade em relação às comunidades em que se instituiu – além, é
claro, do domínio das técnicas e da capacidade de criar novas formas de
expressão e de comunicação através delas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-right: .2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Atualizar – no
sentido mais profundo, fazer essa adequação histórica – o cineclube implica na
ressignificação das suas características “tradicionais”. Assim, o caráter
associativo e democrático precisa ser retomado com seriedade, através de formas
de participação e integração permanentes e abertas, e de práticas inclusivas,
que permitam a sistemática incorporação de um público ativo, consciente e
participante. A questão da finalidade não lucrativa deve ser melhor
compreendida, e superado o “gratuitismo” que contamina os cineclubes,
mantendo-os em situação de dependência externa à comunidade, sem condições de
sustentabilidade real e sem os vínculos que deve estabelecer com seu público. Incontáveis
novas formas de sustentação e crescimento podem ser descobertas e desenvolvidas
com os novos meios – além daquelas tradicionais. E a apropriação, claro, deve
incluir a teledifusão, os novos formatos (aplicativos, <i>videogames</i>,
canais <i>web</i>, blogues, vlogues, <i>lives</i>, etc.) e “suportes”
propiciados pela rede internacional de dispositivos cibernéticos (televisores,
computadores, celulares, etc.). A noção ideológica de filme, que comentei mais
atrás, também deve ser superada: a reprodutibilidade técnica e simbólica da
realidade através dos meios audiovisuais inclui, para além do filme de ficção
ou documentário, a reportagem, a entrevista, a captação e difusão de todos os
eventos e espetáculos esportivos e culturais (apresentações musicais, de dança,
bailes, feiras e outras manifestações) da comunidade e de interesse do público
do cineclube. A experiência presencial é
intrínseca e indispensável ao cineclube. Mas, além das exibições retangulares
em salas especiais às escuras, a acessibilidade quase universal aos conteúdos
(sem as limitações da aceitação e reprodução do controle da propriedade
intelectual) permite a organização de outras “salas” e públicos, em outras
disposições, quantidades, sistematicidades e finalidades. Em minha exposição na
série <i>Passado e Futuro do Cineclubismo</i>, no terceiro encontro, justamente,
<i>O Futuro do Cineclube<a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20conceito%20de%20cineclube.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[2]</span></b></span><!--[endif]--></span></a></i>,
apresento logo no início uma brincadeira com a história do Cineclube Revolição,
que busca exemplificar mais concretamente como se podem dar essas mudanças e
ressignificações.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Montreal, outubro de 2021, ano II
da Pandemia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-right: .2pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Felipe Macedo<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial Rounded MT Bold",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;">Bibliografia citada<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">ALBERA, François. 2012.<i> Modernidade e Vanguarda do
Cinema</i>. Rio de Janeiro: Azougue Editorial.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). 2014. <i>Marxismo e
Filosofia da Linguagem</i>. São Paulo: Hucitec Editora.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">BENJAMIN, Walter. 1935. <i>A obra de arte na era da
sua reprodutibilidade técnica</i>. </span><a href="http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_babel/textos/benjamin-obra-de-arte-1.pdf"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_babel/textos/benjamin-obra-de-arte-1.pdf</span></a><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">CANCLINI, Nestor García. 2007. <i>Lectores,
espectadores e internautas</i>. Barcelona: Gedisa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">CAVALLO, Guglielmo e CHARTIER, Roger. 1997. <i>História
da Leitura no Mundo Ocidental</i>. São Paulo: Editora Ática.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">DE SANCTIS, Filippo. 1970. <i>Il pubblico come autore:
L'analisi del film nelle discussioni di gruppo</i>. La Nuova Italia Editrice.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">ELSAESSER, Thomas. 2018. <i>Cinema como arqueologia
das mídias. </i>São Paulo : Edições SESC.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">ESQUENAZI, Jean Pierre. 2006. <i>Sociologia dos
Públicos</i>. Porto : Porto Editora<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">FREIRE, Paulo. 2013. <i>Pedagogia do Oprimido. </i>Rio
de Janeiro: Paz & Terra. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">GRAMSCI, Antonio. 1999.<i> Cadernos do Cárcere. </i><a name="_Hlk86072100">Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.</a><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">________________ 1982. <i>Os intelectuais e a
organização da cultura. </i></span><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Picture_x0020_1" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 22.8pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 468pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:/Users/maced/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image001.emz">
</v:imagedata></v:shape><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">HABERMAS, Jurgen. 2014. <i>Mudança estrutural da
esfera pública: Investigações sobre uma categoria da sociedade burguesa.</i>
Editora UNESP.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">HALL,</span><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Stuart. 1997. “A
centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo”. <i>Educação
& Realidade</i>, 22(2), 15-46.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">HANSEN, Miriam Bratu. 2004. “Estados Unidos, Paris,
Alpes: Kracauer (e Benjamin) sobre o cinema e a modernidade”, em CHARNEY, Leo e
SCHWARTZ, Vanessa R. <i>O cinema e a Invenção da vida moderna</i>, p. 405-450.
São Paulo: Cosac & Naify. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">KRACAUER, Siegfried. 2009. <i>O Ornamento da Massa. </i>São
Paulo: Cosac & Naify.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">MACEDO, Felipe e ALVES, Giovanni (orgs.). 2010; <i>Cineclube,
cinema & escola</i>. Bauru: Editora Praxis.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">MARTÍN-BARBERO, Jesús. 2013, <i>Dos meios às mediações
– Comunicação, cultura e hegemonia. </i>Rio de Janeiro: Editora UFRJ<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">MARX, Karl. 2010. <i>Manuscritos económico-filosóficos</i>,
p.79. São Paulo: Boitempo Editorial<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">MASALA, Fabio. 1986. <i>Pubblico e Comunicazione
Audiovosiva. </i>Roma: Bulzoni Editore.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">ROSS, Steven. 1998. <i>Working
Class Hollywood – Silent Film and the Shaping of Class in America</i>.
Princeton: Princeton University Press.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">SINGER, Ben. 2001. “Meanings
of Modernity”, capítulo 1 de<i> Melodrama and Modenity:</i></span> <i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Early
Sensational Cinema and Its Contexts</span></i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">. </span><span lang="FR-CA" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">Nova York: Columbia University Press.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR-CA" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">SORLIN, Pierre. 1992. « Le mirage du
public », em </span><a href="https://www.persee.fr/collection/rhmc"><i><span lang="FR-CA" style="color: windowtext; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; text-decoration-line: none;"><br />
Revue d’Histoire Moderne & Contemporaine</span></i></a><span lang="FR-CA" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">, número </span><a href="https://www.persee.fr/issue/rhmc_0048-8003_1992_num_39_1?sectionId=rhmc_0048-8003_1992_num_39_1_1622"><span lang="FR-CA" style="color: windowtext; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; text-decoration-line: none;">39-1</span></a><span lang="FR-CA" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR-CA;">, p. 86-102.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">STAIGER, Janet. 2005. <i>Media
Reception Studies</i>. Nova York: New York University Press.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">THOMPSON, E.P. 2012. <i>A formação da classe operária
inglesa</i>. Rio de Janeiro: Paz & Terra.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">WILLIAMS, Raymond. 2011. <i>Cultura e Materialismo</i>.
São Paulo: Editora UNESP<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoTitle">
</p><div><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20conceito%20de%20cineclube.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Ver <a href="https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2010/03/cinema-do-povo-o-primeiro-cineclube.html"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">https://felipemacedocineclubes.blogspot.com/2010/03/cinema-do-povo-o-primeiro-cineclube.html</span></a><span lang="PT-BR" style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/O%20conceito%20de%20cineclube.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a> <a href="https://www.youtube.com/watch?v=OLkfgKEojSM&t=2381s"><span lang="PT-BR">https://www.youtube.com/watch?v=OLkfgKEojSM&t=2381s</span></a><span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"> </span></p>
</div>
</div><div style="mso-element: footnote-list;"><div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-39713497763334869442021-07-30T11:55:00.002-07:002021-07-30T11:55:59.856-07:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRXkOYXRdaqTNyqcxuZvvzI3d1vM9YdsAecAiFfFjIoCai-5p6uqPEMzKrymVRt5n1FIUM1g0IJSo28ypKElM19_k0Cho6UbbjhvuNoXiXgsVvRGoDl6XsVk3jR63mGiw805CjyU1UohE/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="502" data-original-width="564" height="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRXkOYXRdaqTNyqcxuZvvzI3d1vM9YdsAecAiFfFjIoCai-5p6uqPEMzKrymVRt5n1FIUM1g0IJSo28ypKElM19_k0Cho6UbbjhvuNoXiXgsVvRGoDl6XsVk3jR63mGiw805CjyU1UohE/w400-h356/3d35d0e71b559695f7d32c981c2d6558.jpg" width="400" /></a></div><br /><p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-91476285967329076012021-07-30T11:51:00.003-07:002021-07-30T11:57:44.966-07:00<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Um guia bem pessoal do 1º. Seminário de Cineclubismos
Latino-americanos<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sendo um dos seus organizadores, assisti ao vivo a todas
as intervenções feitas no Seminário. Foram 33 exposições, em 10 mesas, de
manhã, à tarde e à noite nos três primeiros dias e uma só no domingo, dia do
encerramento. Pouca gente fez isso, o que é natural. O resultado maior do
Seminário foi o de criar um amplo painel de abordagens diversas sobre o
cineclubismo que é, também, permanente, e ficará sempre disponível para
consultas, para retornos às questões, eventuais anotações. É um arquivo
audiovisual do cineclubismo, uma novidade importante, e um marco na própria
história do movimento de cineclubes. Esse arquivo só tende a - e de fato
estimula - o crescimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O próprio tema do cineclubismo é bastante
especializado, e o pequeno interesse que desperta - não especialmente no
Seminário, mas em todas as muitas conversas virtuais e debates sobre o assunto que
proliferaram neste tempo pandêmico – mostram não apenas a especificidade do objeto,
mas uma certa indiferença dos próprios cineclubes, que me parece corolário dos
problemas que enfrentam nos dias que correm e aos quais voltarei mais adiante neste
artigo. Embora o Seminário tivesse um escopo continental, atingindo
potencialmente mais de duas dezenas de países – e certamente muitas centenas de
práticas cineclubistas ou que se aparentam, isto é, atividades audiovisuais em
ambientes comunitários, escolares e outros – e ainda que tenha sido bastante
divulgado nas chamadas redes sociais de vários países (mais de 100 mil pessoas
receberam a programação, e foram confirmadas cerca de 8 mil “reações” de algum
tipo nessas plataformas) e difundido simultaneamente pelo Facebook e YouTube, a
presença do público interessado, a cada mesa apresentada, esteve sempre em
torno de 30 pessoas. O fato da FICC (Federação Internacional de Cineclubes) ter
resolvido, literalmente em cima da hora, fazer um Encontro Ibero-americano,
também virtual, apenas alguns dias antes (apesar das datas do Seminário serem
conhecidas desde meados de 2020) também não ajudou. Uma pena. Claro, a
possibilidade de aceder ao evento e às mesas de debates quando a pessoa quiser
e durante o tempo que interessar, podendo <i>zapear</i> por esse espaço, fará
que esses números aumentem consideravelmente nos próximos dias e meses. Esse patrimônio
de informações, reflexões, é o grande ganho do que foi apenas uma primeira
iniciativa do tipo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Por outro lado, o número de trabalhos propostos e
finalmente apresentados foi surpreendentemente grande. Como já havíamos
estabelecido, com um ano de antecedência, que o Seminário teria 4 dias,
pensávamos inicialmente que faríamos 4 mesas, uma por dia, possivelmente com 3
exposições cada uma. No final tivemos que acomodar os trabalhos em 10 mesas, 3
por dia, e várias delas com 4 apresentações. Ou seja, se o interesse dos
cineclubes pela reflexão sobre a sua própria prática não parece consolidado,
paradoxalmente, na intersecção entre a militância e a vida acadêmica o tema do
cineclubismo parece despertar muita curiosidade e resulta numa produção ampla e
consistente sobre o assunto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As exposições, claro, foram desiguais – avaliação de
resto sempre subjetiva. Como acabamos de dizer, o interesse pelos temas e
abordagens que integram o “objeto” cineclube é, também, bem diversificada. A
avaliação do Seminário tende a ser, portanto, um reflexo dos interesses e da(s)
experiência(s) do espectador cineclubista. Meu caso, claro, não é exceção. E é
assumindo minhas preferências, ou melhor meus interesses e minhas decepções, que
compartilho esta “leitura” do Seminário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Raymond Williams e o cineclubismo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Claro que valorizo minha própria intervenção – senão
não a teria feito. E ela me conduz a um dos aspectos que julguei mais
interessantes no Seminário: as aplicações das categorias de <i>cultura residual
</i>e <i>cultura emergente</i>, de Raymond Williams, ao cineclubismo. Usei
esses conceitos para localizar a persistência da influência do modelo de
cineclube elitista dos anos 50 em tantas práticas cineclubistas dos dias
atuais, um efeito cultural residual de contextos históricos superados, que
também poderíamos chamar de <i>ideia fora do lugar</i> aproximando a questão da
conhecida proposição de Roberto Schwarz. Também mencionei que as diferentes
práticas inovadoras no campo do audiovisual comunitário – na verdade hoje mais desenvolvidas
por outras formas de organização dos públicos, não pelos cineclubes – não têm
tido uma repercussão mais significativa na transformação das relações sociais
no plano da cultura, cabendo, assim, em alguns processos que Williams
identifica com cultura emergente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas eu estava pensando muito numa <i>extensão
semântica</i> mais ampla de cultura, isto é, na transformação de tendência
gerais e paradigmas históricos de uma certa amplitude. O que não está errado,
acho eu, mas o trabalho apresentado por Marilin Perez, na mesa 5: <i>Inicios y
Auge de Cine Club Santa Fe: El entramado económico, socio-político y cultural
entre los años 1953-1966</i> me fez ver com muito mais acuidade a extensão
dialética das categorias de Williams. Perez, ao invés de tratar os
acontecimentos que cercam o surgimento do cineclube de Santa Fé e da cinefilia nos
anos 50 como manifestações de formas culturais estanques, fora de lugar, propõe
e demonstra, justamente, que elas constituíram, naquele contexto, formas
emergentes de cultura, correspondendo às transformações sociais daquele
momento. Tanto que, além de motivarem e mobilizarem centenas e até milhares de
associados do Cineclube, tiveram papel central no surgimento da conhecida
Escola de Cinema daquela cidade, liderada por Fernando Birri, que tanta influência
teria, por sua vez, no desenvolvimento dos novos cinemas latino-americanos, com
destaque para o brasileiro – aqui já são comentários meus. Suas colocações
também enriquecem muito a compreensão que podemos desenvolver sobre todo o
fenômeno da onda de cineclubismo e cinefilia que se espalhou simultaneamente na
América Latina e, de fato, em boa parte do mundo naquele período.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O trabalho de Perez tem uma relação direta com o que
Rielle Navitski apresentou na mesa 1: <i>Programación, públicos y clase social
en los cineclubes latinoamericanos de la posguerra: Una mirada comparativa</i>.
Resumindo bastante, Navistski, tratando do mesmo período, mas com sólida pesquisa
em cineclubes de diferentes países, destaca o caráter contraditório desse
movimento emergente, que era concomitantemente democratizante e paternalista,
mostrando seu inequívoco caráter de classe – da pequena-burguesia
intelectualizada dessa época. É interessante que também a fala de Eliana López,
na mesa 4 - <i>La muerte de la cinefilia y la vida del Cine Club Universitario</i>,
em suas conclusões, também mostre esse paradoxo entre vanguarda e comunidade no
Equador, uma década depois.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ainda nesse registro, Mariana Amieva e Ana Broitman<a name="_Hlk78296149">, na mesa 8, apresentaram o trabalho sobre <i>Redes
cineclubistas en el Rio de la Plata en las décadas de 1940 y 1950</i>, que
mostra outras relações, como a penetração de uma crítica de corte cineclubista
na grande imprensa e suas interfaces com o surgimento das cinematecas da
Argentina, do Uruguai e mesmo do Brasil.<o:p></o:p></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk78296149;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Rafael Zanatto, na mesa 10, fecha, de certa forma,
essa trajetória, trazendo essa problemática – cujo caráter latino-americano o
Seminário ajuda a demonstrar – para o Brasil com sua intervenção sobre <i>Paulo
Emílio e o Cineclubismo no Brasil (1958-61): Formação, difusão e pesquisa
histórica.</i> Entre muitas outras observações importantes, ele recuperou a
crítica que Paulo Emílio Salles Gomes, em meio ao próprio fenômeno, fazia dos
exageros artificiais e alienados de uma certa cinefilia de distinção social,
que também é observada (mas agora feita com distanciamento histórico) na
crítica presente nos outros trabalhos aqui citados. A ligação que Zanatto faz
entre o trabalho de Paulo Emílio e o cineclubismo, e como o situa no contexto
histórico e cultural do período estudado labora no mesmo sentido das outras
intervenções citadas e provoca muitas outras reflexões sobre o papel dos
cineclubes na sociedade naquele momento. Por exemplo, aponta as relações
causais entre o cineclubismo e o surgimento do estudo de cinema nas
universidades. Além, claro, das origens (tardias) das cinematecas
latino-americanas também a partir de cineclubes.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk78296149;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Haveria muito mais a dizer dessas intervenções, que
estão entre as mais importantes do Seminário, mas meu objetivo aqui é mais
resenhar um pouco, propor ligações entre as abordagens e, sobretudo, motivar os
leitores deste texto a aproveitarem diretamente essa discussão, disponível no
canal YouTube do certame.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk78296149;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outros temas<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk78296149;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Diferentemente de outras <i>lives</i> que têm
discutido o cineclubismo nas redes “sociais” do senhor Zuckerberg (Facebook) ou
da companhia Alphabet (YouTube), o Seminário não selecionou alguns
especialistas para discutir um determinado tema, mas fez uma chamada aberta de
trabalhos – durante cerca de um ano – para discutir amplamente o cineclubismo
na América Latina, com abordagens diversificadas. Isso não retira o mérito de
outros debates, mas tem alguns que lhe são próprios, até aqui exclusivos: o
Seminário aproximou experiências de dez países do subcontinente, que propuseram
seus próprios interesses. Isso revela muita coisa sobre o cineclubismo, tanto
pelos assuntos abordados como pela ausência de outros. Também tem a qualidade
de descobrir, de certa forma, experiências, tratamentos e mesmo talentos que
não faziam parte de nenhuma rede ou grupo já conhecido. O Seminário, sobretudo,
aproximou a produção acadêmica do ambiente cineclubista, o que pode beneficiar
a ambos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk78296149;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Algumas intervenções feitas nesse encontro são de
fundamental interesse e importância. Eu resenhei algumas, que me atraíram
particularmente, pelas questões abordadas e pela qualidade das pesquisas e
apresentações. Mas diversos outros temas também me interessaram e agradaram e,
certamente, serão mais ou menos atraentes para outras pessoas, com interesses
diferenciados. Tentarei indicar e resumir alguns outros temas que julgo
relevantes.<o:p></o:p></span></span></p>
<span style="mso-bookmark: _Hlk78296149;"></span>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mulheres e cineclubismo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Apenas dois trabalhos que abordam essa questão foram
enviados para o Seminário. Ambos são pesquisas mais ou menos em andamento, já
que cineclube é um tema muito recentemente <i>legitimado</i> pelos estudos
acadêmicos e a questão de gênero, tal como na teoria feminista, como recorte do
cineclubismo, está ainda mais em sua fase inicial. Os trabalhos foram
apresentados na mesa 3.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ainamar Rodagut estuda o papel de três mulheres no que
se conhece melhor como início do cineclubismo na Argentina e no México: <i>Mujeres
iberoamericanas mediadoras y sus redes en los cineclubes de finales de los años
20 y 30: Lola Álvarez Bravo, Victoria Ocampo y María Luz Morales. </i>Sua
pesquisa visa propor a ideia de redes de relacionamento como base para uma
abordagem metodológica e categorial do papel das mulheres no cineclubismo, em
qualquer escala. Tal como se poderia aplicar aos cineclubes anarquistas ou
católicos, por exemplo. Uma pesquisa de muita qualidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Já Priscila Sales apresentou o delineamento inicial de
sua pesquisa doutoral sob o título de <i>Mulheres no cineclubismo brasileiro
(1970 e 1980)</i>. A abordagem de Sales revela a importância da Dinafilme –
distribuidora de filmes orgânica do movimento cineclubista – no estabelecimento
de interfaces entre cineclubes feministas, filmes cujo tema principal era a
mulher e até as poucas diretoras de filmes dessas duas décadas. Um trabalho
pioneiro e indispensável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">As duas intervenções, cada uma à sua maneira, são
muito interessantes e suas apresentações foram bem instigantes. Ainda que
também mostrem um estágio inicial do tratamento de uma questão tão fundamental,
elas têm indiscutivelmente o mérito de despertar curiosidade e disposição para
ampliar e aprofundar esse tipo de trabalho. E mostram que isso já começou e que
vai bem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Hiperconexão e pedagogia cineclubista<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outro tema que julgo primordial é o que chamo de
pedagogia cineclubista. Não se trata de ensino de cinema ou com cinema, mas do
estudo do papel particular, próprio e exclusivo que penso caber aos cineclubes
na formação do público e, muito especialmente, da infância. A questão não é a
formação com cinema, nem mesmo com as mídias que o substituíram e superaram
como mediação social, mas da formação das pessoas, indivíduos e comunidades,
para sua participação consciente na sociedade, o que não pode prescindir do
domínio da capacidade de se instruir, se comunicar e se exprimir através das
mídias. Foi na mesa 9 que se fizeram as principais exposições sobre o tema da
educação em suas relações com o cineclubismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Apenas o trabalho de Altayra Rojas - <i>Lenguaje
cinematográfico e hiperconexión, una experiencia desde la educación y la niñez </i>–
foi direto a esse ponto. E o fez de forma muito pedagógica, digamos assim, já
que nos ofereceu uma excelente introdução ao assunto, e um comentário sobre os
principais teóricos da atualidade nesse campo: Henry Jenkins, Pierre Levy e
Alberto Scolari - sem esquecer seus antecessores, em muitos sentidos: Lev
Vigotsky, Jean Piaget e Paulo Freire. Como moderador da mesa, sugeri a ela que
lembrasse também o papel essencial de Mikhail Bakhtin na explicação do processo
social de formação dos sentidos (dos signos), que tem muito a ver com os três
últimos autores citados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Milene Figueiredo apresentou seu projeto de tese - <i>Histórias
sobre crianças e cineclubismo: a ressignificação do cineclubismo escolar</i> -
que, para mim, apresentou, ou propôs, outra perspectiva fundamental: o ensino
fora da escola, ou o estudo das interfaces entre escola e comunidade. A meu
ver, é preciso ressignificar tanto a escola quanto o cineclube. O trabalho de
Figueiredo aponta substancialmente nessa direção. Em outra mesa, a 10, <a name="_Hlk78294303">Paula Cherep y Santiago Santillán mostraram, em <i>Resistir,
mostrar, reflexionar. El ciclo de Cine y Filosofía como experiencia de
extensión cultural</i> um aspecto da mesma reflexão, agora aplicado no ensino
superior, no que chamam de <i>extensão cultural</i></a>, conceito que tem um
significado diferente do mais usual nos meios universitários no Brasil. Sidimar
Brandolt completou a mesa com </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cineclube: um novo olhar, para um novo pensar sobre o
uso do cinema em sala de aula no IFFAR (Instituto Federal Farroupilha), campus
de São Vicente do Sul</span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"> (RS).<u><o:p></o:p></u></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Práticas transformadoras e presença da Venezuela<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Gizely Cesconetto também apresentou, na mesa 5, um
delineamento do seu projeto de tese, no campo da Geografia cultural. O objeto é
seu próprio cineclube e o recenseamento dos cineclubes brasileiros que estão
realizando. Acompanho esse trabalho bem de perto e creio que ele se apresenta
como uma ferramenta indispensável de reconhecimento da <i>situação concreta</i>
dos cineclubes brasileiros no momento presente. Cesconetto explica que essa
pesquisa se dá em dois níveis: o do mapeamento objetivo e o do
auto-reconhecimento subjetivo dos cineclubes. Para mim isso é fundamental para
o debate não apenas das práticas desses cineclubes, mas também para a
identificação de suas necessidades e interesses comuns, num momento de
desorganização do movimento cineclubista e mesmo da sociedade civil, numa
conjuntura de reação e atraso político e social do País. Esse trabalho é ou representa
simultaneamente uma tese, um cineclube, uma prática específica e uma ação
política.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Juan Manuel Hernandez, por sua vez, na mesa 8,
apresentou uma visão do cineclubismo bem ampla, geográfica e historicamente: <i>Reconociendo
nuestra mirada al cineclubismo. </i>Uma reflexão teórica que deita raízes numa
longa experiência prática pessoal do venezuelano Hernandez, participante e
criador – desde o século passado – de um <i>cinemóvil</i>, um tipo muito
especial de cineclube itinerante, que invade e ocupa temporariamente ruas e
outros espaços de comunidades, trazendo ações que envolvem outras mídias e
mesmo outras formas de expressão: do teatro até um aparelho que Hernandez criou
que permite “entrar” nos televisores das comunidades “invadidas”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Venezuela constitui uma questão em separado. O
processo político radicalizado e polarizado determina claros posicionamentos
dos cineclubes daquele país. Nancy de Miranda, na mesa 2, apresentou um quadro
bastante completo da evolução das atividades comunitárias com cinema - <i>Venezuela:
Apreciación y Realización Audiovisual Comunitaria 2007- 2019 – </i>sob a
direção da Cinemateca Nacional, isto é, do Estado venezuelano. Embora muito
diferente da nossa experiência, na análise desse trabalho pode-se encontrar
muitos traços comuns com o que vivemos no Brasil, de forma bem incipiente, com
o programa Cine Mais Cultura. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A presença da Venezuela, em contraste com muitas
experiências e discursos mais conservadores que o Seminário também mostrou,
trouxe obrigatoriamente a reflexão da atividade cineclubista para o campo
social e político. <b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outros temas<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Como já disse, a avaliação dos trabalhos que faço é
bastante determinada pelos meus interesses pessoais de pesquisa e do processo
subjetivo que me leva a extrapolações talvez nem sempre pertinentes, mas que
para mim são inspiradoras, me estimulam e levam a novas conjecturas e
reflexões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Nesse sentido, é preciso citar o trabalho de Julio
Lamaña, apresentado na mesa 1: <i>Protohistoria de los públicos. </i></span><i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="es-419" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: #580A;">Asonadas, disturbios y otras manifestaciones del
público de cine en Colombia. </span></i><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Lamaña
faz uma espécie de recenseamento de vários autores que tratam dos primeiros
tempos do cinema na Colômbia, abordando também as manifestações dos públicos
nas primeiras décadas dessa história. Além do anedotário muito interessante dos
distúrbios provocados pelos públicos insatisfeitos, Lamaña indica a relação de
inadequação latente entre os possíveis interesses do público e os da indústria,
mais particularmente dos exibidores. Esse trabalho, a meu ver, demonstra ou
pelo menos indica, que “há vida” nos públicos antes dos anos 20 (casos da
Argentina, Brasil e México) ou a partir dos anos 50 nos demais países. Ao
contrário de uma historiografia ideológica que só consegue reconhecer o
cineclubismo, isto é, o público organizado, nessas datas completamente
dissociadas das experiências de outros países. Países esses que, aliás, só
recentemente começam a entender isso, como na recente proposta da Federação
Portuguesa de Cineclubes, que sugere o surgimento do cineclubismo em 1907 – mas
isso já é outra discussão. Os estudos que informaram essa apresentação mostram
que não há desculpa: existem fontes a serem pesquisadas na busca das primeiras origens
do cineclubismo nos países latino-americanos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Outro trabalho muito interessante foi apresentado por
Gabriel Álvarez, na mesa 10: <i>Carlos Monsiváis y la cinefilia universitária</i>.
Trata-se do que eu chamaria de uma crônica investigativa: uma apresentação
breve – como o Seminário obrigava – do papel de Carlos Monsivais na formação de
uma cultura cinematográfica (que Álvarez identifica como cinefilia) no meio
universitário mexicano. Monsivais é um nome e uma obra que precisam ser melhor
conhecidos. Muitos o associam aos chamados Estudos Culturais Latino-americanos,
junto com Jesús Martín-Barbero, Nestor Canclini e alguns outros. Mas Monsivais
tem uma trajetória diferente, principalmente como jornalista e crítico em
diferentes mídias: foi uma figura nacional no México. Lembro de João do Rio, um
contexto completamente diferente, quando penso em Monsivais. Mas é verdade que
ele tem um papel muito importante na valorização da cultura popular e na tomada
de muitas posições em situações políticas que viveu e enfrentou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A última exposição foi a de um cineclubista de gênero.
No sentido cinematográfico do termo. Um fã de filmes fantásticos, de heróis e
monstros, como Christian Aguirre chamou sua intervenção:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i>De dibujos, monstruos y héroes: El Cine
Club Nocturna</i>. De certa forma foi um fecho de ouro para o Seminário, porque
o que ele nos apresentou foi uma série de imagens evocativas desses temas, dos
filmes de ficção, de terror, de animação. Pessoalmente, acho que essa prática
de <i>fandom</i>, como muitos a chamam, tão típica de nossa tradição
cineclubista e do culto cinéfilo, são totalmente válidas, mas atendem sempre a <i>um
aspecto</i> da ação cineclubista. Hoje, com as tecnologias digitais que tanto
facilitaram a obtenção e exibição de materiais específicos, isso pode ser
oferecido como <i>uma entre outras</i> atividades do cineclube. Como um grupo
de estudos, que nesse caso pode ser bem agradável e divertido. Como foi essa
apresentação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cultura residual<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essa identificação das persistências do modelo
“tradicional” ou hegemônico do cineclubismo dos anos 50 na atualidade é uma
visão minha. Não foi dita ou assumida por ninguém mais durante o Seminário e
não deve ser inferida dos comentários que faço neste artigo. De fato, creio que
o Seminário revelou, para além das preleções aqui lembradas, uma grande – senão
prevalente – presença de uma concepção cinéfila de cineclubismo, ligada à
“educação do olhar”, uma atitude tutorial diante da formação do público, e de
culto diante do cinema. Como já destaquei, poucas intervenções falaram de
outras mídias – aqui me lembro apenas de Altaira Rojas e Juan Manuel Hernandez
(mas, é claro, o tema não cabia mesmo em muitos dos trabalhos apresentados). E,
de forma surpreendente, creio que nenhuma falou de produção, de realização de
filmes ou outros materiais audiovisuais por cineclubes. Isso também é muito
revelador, e se inscreve entre as várias reflexões que o Seminário pode sugerir.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Para mim, esses traços que mencionei constituem uma
cultura residual, ou seja, formas superadas pela realidade, pelo
desenvolvimento das relações sociais, que não correspondem mais ao contexto
atual. Mas que sobrevivem, pela força excepcional (quer dizer de exceção) de
algumas instituições ou, o que é mais comum, de forma precária, sem qualquer
impacto social ou cultural.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O fato de representar esse tipo de sobrevivência
excepcional não retira a importância de algumas experiências que construíram,
ao longo de décadas, uma tal inserção na comunidade, que continuam a ser muito relevantes.
É o caso mais que importante do Cineclube de Santa Fé – e, por consequência, do
Cineclube de Reconquista – que continua sendo uma referência na cultura da cidade
e da região. Tanto que foi objeto de três trabalhos (mesas 5, 6 e 10 – além da
mesa 7, com o Cineclube Reconquista) apresentados no Seminário, todos muito
interessantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Seminário, enfim, mostra que a proposição de um
debate amplo e democrático, organizado com o rigor que essas duas
características – alcance e democracia - exigem, é capaz de revelar
descobertas, aprofundar conhecimentos e propiciar novas reflexões não apenas
com as posturas com que nos identificamos, mas, com a mesma intensidade, com aquilo
que achamos equivocado, e que nos leva a imaginar outras análises, soluções.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Iguais oportunidades de participação e liberdade de
debate são indispensáveis para que a organização da sociedade avance. Um
cineclube também se baseia nesses princípios, não?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">julho de 2021, ano II da Pandemia<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></b></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-8719338865389566852021-06-22T09:57:00.007-07:002021-06-22T13:58:23.419-07:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoTitle" style="line-height: 115%;"><b><span lang="PT-BR" style="font-size: 18pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Cineclubes? Presentes!</span></b><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="mso-no-proof: yes;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Picture_x0020_1" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 284.4pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 505.8pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:/Users/maced/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image001.jpg">
</v:imagedata></v:shape></span><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYb7I6kUpdyw5pfCw54ATvP9mwfuU3DROAGsqbRuhXS7PblqNLuQGRMy0yIuQaWk3YdVNr5uPTsshPyg9PeAI0rkZXl_7vSqom72VDYU0JY9vYeOtCcNEF-A4LWJP-tD_lofSnlbwsDes/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="379" data-original-width="675" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYb7I6kUpdyw5pfCw54ATvP9mwfuU3DROAGsqbRuhXS7PblqNLuQGRMy0yIuQaWk3YdVNr5uPTsshPyg9PeAI0rkZXl_7vSqom72VDYU0JY9vYeOtCcNEF-A4LWJP-tD_lofSnlbwsDes/w400-h225/image.png" width="400" /></a></div><br /><span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">500.000 mortos, e provavelmente
mais uns 30% não comunicados devidamente. O que é “30%”? São outros 150.000.
Mortos. Certamente vamos ultrapassar os Estados Unidos em mais um ou dois meses:
seremos campeões! Pátria amada, Brasil!</span><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Foram cerca de
18.000.000 de contaminados – também subestimados. Os especialistas avaliam que
cerca de 15% destes – quase 3.000.000 - estão sequelados, em diversos níveis de
gravidade, e levarão meses para se recuperar. Isto é, os que se recuperarem,
pois alguns – uma minoria, ora, desses 3.000.000 - terão problemas permanentes.
Haveria que se contar igualmente os que sofrem de outras doenças ou precisam de
intervenções ou tratamentos hospitalares e que morrem por falta de atendimento,
de vagas em UTIs e de outros procedimentos clínicos. Aí também morreram
centenas de milhares. Quantas pessoas são atingidas afetivamente, moralmente,
financeiramente por esses “números”? Quantas famílias perderam sua principal
fonte de sustento? Quantas crianças ficaram órfãs? Milhões...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">No entanto, fora
desses “poucos” milhões atingidos diretamente – no total “apenas” uns 10 ou 15%
da população brasileira – estamos tratando essa questão como estatística mesmo,
como números abstratos, como um tsunami que acontece na China, um terremoto na
Indonésia, países onde as vidas valem pouco no</span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;"> ranking</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;"> do capitalismo
global, no mundo controlado, explorado e desprezado pelas classes dominantes
dos países </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">euronorteamericanos </i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">brancos, cristãos</span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">. </i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Como nós, que
estamos adormecidos, insensibilizados, ou de tal forma explorados que
praticamente não podemos oferecer resistência. O mesmo acontece com o outro
genocídio, esse permanente, secular, de negros, de pobres, de miseráveis, da
população LGBTQIA+, das mulheres... Os vulneráveis como se gosta de dizer, os
dispensáveis, os invisíveis, que são, no nosso País, mais de 70% da população.
Os jornais dão como notícia quase corriqueira que, neste último ano e meio, 52%
da população brasileira tiveram, pelo menos, “alguma dificuldade” para se
alimentar! 10% passam fome mesmo!</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> <span> </span></o:p></span><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Mas não. Não é
uma questão de insensibilidade nem de alienação. Nossa situação é especialmente
difícil: nossa história de escravidão e exclusão; de domínio ideológico de
religiões autoritárias – católica, evangélica -, vendendo uma salvação ao
alcance de quem se submeta sem questionar; de fragilidade das classes sociais,
com uma burguesia oportunista, subserviente e, sobretudo, sempre cruel, e com
os setores populares superexplorados, desprotegidos juridicamente, perseguidos
por uma polícia ineficiente, corrupta e assassina. Desorganizados. E além disso
ainda temos um boçal na presidência, cercado de fascistas, civis e militares. Não
é pouca desgraça.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Eu sabia, ao
começar a escrever este texto que, além da emoção por tantas mortes evitáveis,
estaria também preso a uma certa obviedade, uma repetição de comentários sobre
o que todo mundo que poderá ler isto já conhece, já sente. Mas que talvez não
esteja conseguindo transformar em ação real, política, na direção absolutamente
indispensável de derrubar esse aprendiz de ditador e levá-lo, junto com seus
asseclas, à justiça e à prisão.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Muita gente
resiste, é claro. Segundo matéria da Folha de São Paulo, a segunda manifestação
contra Bolsonaro, pela vacinação e auxílio emergencial de 600 reais, teve o
dobro de participantes em relação à primeira. Foram, segundo o jornal, 750.000
em todo o Brasil – acho que foi mais, mas como saber realmente? O mesmo jornal publicou
outros números – e as fotos da ocasião, principalmente o discurso de Bolsonaro
no Ibirapuera, mostram bem -, desta vez com uma fonte bem séria: o pedágio por
que todos os </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">bolsomotociclistas</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;"> passaram. Os brucutus (uma ofensa ao
personagem dos quadrinhos do meu tempo) nunca foram mais de 6.000 (do outro
lado, na Avenida Paulista foram pelo menos 100.000).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><v:shape id="Picture_x0020_3" o:spid="_x0000_s1026" style="height: 143.5pt; left: 0px; margin-left: 0px; margin-top: -0.15pt; mso-height-percent: 0; mso-height-relative: page; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-width-percent: 0; mso-width-relative: page; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 85.45pt; z-index: 251658240;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:/Users/maced/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image002.jpg">
<w:wrap type="through">
</w:wrap></v:imagedata></v:shape><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">A resistência existe, cresce, se
expande, marcando um avanço importante na consciência popular. Mas esse avanço
ainda é insuficiente – e a cada dia morrem mais de 2.000 pessoas. É preciso
dobrar os números de novo, e redobrar, decuplicar. Só o povo derruba esse
troço!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Às vezes o óbvio
se esconde em plena vista. Vivemos numa pandemia. Vivemos no país do Bolsonaro.
Muita gente se indaga se haverá um golpe. Ora, que ele, o Bozo, pensa
o tempo todo em articular um golpe é evidente. A sua capacidade de fazer isso
pode ser debatida, mas a intenção é indiscutível: e é certo que haverá
violência – com sua provável derrota nas urnas, mas possivelmente até mesmo em
caso de vitória (argh!). Seus seguidores: o movimento fascista; os PMs
ressentidos e seus primos, os milicianos; setores das forças armadas (cuja
extensão ignoramos); os facínoras armados com mais de 1.000.000 de fuzis,
pistolas e revólveres postos em circulação por este governo, vão sair por aí
atirando. Em pessoas. Matando, como fazem em seu cotidiano de policiais
sanguinários e/ou em seus sonhos ressentidos de machos inseguros. Não estamos
em </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">um normal</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;"> da pandemia ou da pós-pandemia; é uma emergência, é preciso
agir! Agora!</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> <span> </span></o:p></span><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Uma vez,
conversando com o cineasta chileno Miguel Littín, conhecido por seus filmes
sobre a ditadura em seu país, ele comentou como uma espécie de piada: “Naquele
tempo a gente passava quase qualquer filme e debatia... Pinochet.” Fazíamos o
mesmo nos anos 70 e 80, contra a nossa própria ditadura. A situação atual é
muito parecida, mas ainda mais mortal, mesmo se comparada à ditadura chilena
que, nesse quesito, nos ganhou de longe naquela época (se é que é possível
comparar). Por isso falo dos cineclubes. Há uma certa mobilização cineclubista
no ar, não apenas nas sessões e debates virtuais, mas também em encontros,
oficinas, debates organizativos que se tornaram muito mais fáceis com os
recursos midiáticos de hoje. E qual é o papel social prioritário dos
cineclubes?</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b style="text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b style="text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Não
há tempo a perder: tempo é morte no Brasil</span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b style="text-indent: 36pt;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Então lanço um
apelo: não é hora de “alfabetizar o olhar”, de discutir linguagem</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Onde%20est%C3%A3o%20os%20cineclubes.docx#_edn1" name="_ednref1" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[i]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">. É
urgente mobilizar consciências! Nós, cineclubes, temos que engrossar esse
movimento de avanço da consciência democrática e transformadora. </span>Não há tempo a perder: tempo é morte no Brasil<span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">. O papel
dos cineclubes, nesta hora, é muito importante. Não é por isso que fazemos
cineclubismo, ainda que de formas e com concepções diferentes? Pela vida.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Os debates, as </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">lives</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">
precisam mobilizar as mais amplas parcelas do público! Não é hora de debater Bergman,
mas sim de desnudar o nosso aspirante (por enquanto) a Pinochet. A linguagem
cinematográfica, importante sem dúvida, fica para depois da tragédia, na
reconstrução. Oficinas de formação, ou para participar de editais, devem ser
articuladas com a organização e mobilização da resistência: não é uma coisa
técnica.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">É hora de fazer
uma programação política, combativa, comprometida com a causa da defesa da
democracia e da vida. Bem sei que não é o filme que resolve isso, é o
debate. Mas desconfio que essa linha de trabalho, neste momento, com filmes que
remetam à discussão do que todos estamos vivendo, provavelmente reunirá mais
público, aproximará muito o cineclube e a comunidade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Creio ainda que
esses debates, com o público ou entre cineclubes e redes, devem ser realmente
interativos, deixar fluir livremente as opiniões e as emoções (porque o Brasil
nos emociona): essas </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">lives </i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">com um grupinho de convidados que fala, em
que os participantes – o público – só pode escrever comentários no </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">chat</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">,
deveriam ser </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">realmente </i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">interativas. Todos devem poder falar, mesmo sob o
que alguns veem como risco de perder um pouco o controle, a ordem. Afinal, que
ordem se está querendo preservar?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Os cineclubes,
que hoje incorporaram a capacidade de produzir, precisam documentar nossa
tragédia em sua própria comunidade. Encontrar suas manifestações locais,
documentá-las, divulgar, denunciar, discutir com suas comunidades. Para além
das construções mais elaboradas dos documentários, os </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">noticiários</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;"> e </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">cinejornais</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">
são uma tradição dos cineclubes operários dos anos 20 e 30 (as Ligas de Cinema
dos Trabalhadores, que existiram em todo o mundo, por exemplo), que se estende
pelos grupos militantes latino-americanos, do Cine de Base argentino até o Grupo Ukamau, da Bolívia, ou o Chaski, do Peru, hoje em dia. Como foram
atingidas as famílias locais, que ações de solidariedade material e proteção
sanitária foram criadas pela comunidade? O público gosta de se ver na tela,
como todos sabem; a questão real é que o público deve ocupar as telas! Deve ser
o sujeito das suas narrativas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Uma outra
tradição cineclubista e proletária, que vem até de antes, do século 19, é a dos
Tribunais. Hoje a gente descreveria esses tribunais como performances,
teatralizações de temas: problemas, ou indivíduos e organizações que os
provocam, que afetam as comunidades. Monta-se um tribunal, com juiz(es),
advogado(s) de acusação e de defesa, e testemunhas. Provas são apresentadas e
discutidas; os jurados são o público</span><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Onde%20est%C3%A3o%20os%20cineclubes.docx#_edn2" name="_ednref2" style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[ii]</span></span></span></a><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">. A
questão em julgamento pode ser o Bolsonaro ou outro político, o combate à
pandemia, um caso de racismo, um abuso... O que, enfim, o cineclube decidir que
é relevante, oportuno. Uma variante de tribunal pode ser a organização de uma CPI
– uma Comissão </span><i style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Popular</i><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;"> de Inquérito – com atores (pessoas da comunidade
ou mesmo profissionais) representando diferentes figuras: o Pazuello, a Capitã
Cloroquina, o Renan Calheiros, os senadores bolsonaristas e por aí afora. Além
disso poder ser realizado virtualmente, como na CPI do Senado (e em muitos
tribunais de verdade), filmes e matérias jornalísticas podem intercalar as
intervenções, constituir provas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-indent: 36pt;">Bom, essas são
apenas algumas sugestões, contribuições se ajudarem de alguma forma: a
imaginação dos organizadores e a participação do público é que determinam o
acerto e o sucesso de todas essas iniciativas que, de certa forma, ousei
propor. Peço desculpas pelo texto longo, mas talvez muito incompleto; é em boa
parte um desabafo diante dessa indescritível tragédia em que se transformou
nosso País.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face="Tahoma, sans-serif" style="font-size: 12pt;">Abaixo Bolsonaro!</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Vacinação para todos!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Auxílio emergencial digno até que
todos estejam vacinados!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Tahoma",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">junho de 2021, Ano
II da Pandemia</span><span face=""Calibri Light",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Calibri Light",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Calibri Light",sans-serif" lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<div style="mso-element: endnote-list;"><!--[if !supportEndnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="edn1" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Onde%20est%C3%A3o%20os%20cineclubes.docx#_ednref1" name="_edn1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[i]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Todas essas expressões:
“alfabetizar o olhar”, discutir linguagem ou “programar Bergman” são
simplificações que não devem ser entendidas literalmente, mas como uma
provocação e uma incitação a uma prática mais politizada, também no sentido
mais amplo – e, ao mesmo tempo urgente - deste termo. Trata-se de articular os
recursos e os saberes dos cineclubes, como estes puderem organizá-los, para
ajudar a promover uma mobilização social suficiente para deter este presidente
genocida e combater a pandemia. Só o povo organizado...<o:p></o:p></span></span></p>
</div>
<div id="edn2" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/maced/Desktop/Onde%20est%C3%A3o%20os%20cineclubes.docx#_ednref2" name="_edn2" style="mso-endnote-id: edn2;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-CA; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[ii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"> <span lang="PT-BR">Há uma cópia ruinzinha, mas que
vale muito a pena ver, do filme <i>Tribunal Berta Lutz</i>, do João Batista de
Andrade, cobrindo o tribunal organizado por feministas e pelo Cineclube Nós
Mulheres, em 1982: </span></span><a href="https://www.youtube.com/results?search_query=tribunal+berta+lutz"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">https://www.youtube.com/results?search_query=tribunal+berta+lutz</span></a><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
</div>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8232016126630713325.post-64442242296832582202021-05-07T13:22:00.003-07:002021-05-07T13:22:46.222-07:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ0xbDVaFSGnzLRKVVKD3oYYWvyZtf_gyTmZHQ7yhUxoQMNs8sVEwBmLnhi_nU0GVNr67NsrA4ft1PezlYC22mbrSt8fMbEJyMflTyVRTaqa5qqcqp5Z_Gp88S-7KTyzUE5cb1jjrVMiU/s488/624d04e31c7809e55cd9e880dffc2aca.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="488" data-original-width="366" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ0xbDVaFSGnzLRKVVKD3oYYWvyZtf_gyTmZHQ7yhUxoQMNs8sVEwBmLnhi_nU0GVNr67NsrA4ft1PezlYC22mbrSt8fMbEJyMflTyVRTaqa5qqcqp5Z_Gp88S-7KTyzUE5cb1jjrVMiU/w300-h400/624d04e31c7809e55cd9e880dffc2aca.jpg" width="300" /></a></div><br /> <p></p>Felipe Macedohttp://www.blogger.com/profile/10638971576343610759noreply@blogger.com