Demissão
Amig@s, companheir@s, cineclubistas,
Estou apresentando a minha demissão da Diretoria de Formação do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros.
Quatro ordens de motivos estão envolvidas na minha decisão de formalizar uma situação que, nesta diretoria, é praticamente uma realidade desde o dia seguinte à última reunião do CNC, em Atibaia, em março deste ano.
A primeira razão, e mais geral, é o fato de que hoje discordo da direção que está sendo dada ao movimento por nossa entidade nacional, relegando a organização do público a uma posição secundária e colocando o cineclubismo a reboque de um projeto superficial de criação de platéias para os filmes brasileiros. Subprodutos dessa orientação mais geral, a) desestimula- se e até se sufoca a discussão programática e teórica sobre o cineclubismo e suas possíveis e múltiplas orientações; b) a entidade nacional do movimento transforma-se em gestor auxiliar, quase um despachante do programa Cine+Cultura; c) o debate político substitui-se pela negociação de pequenas vantagens e pelo tráfego de influências voltado para o círculo vicioso de objetivos políticos menores, de prestígio ou, a médio prazo, eleitorais; d) corolário deste último, a direção do CNC se concentra quase exclusivamente num cargo e pessoa, comprometendo a democracia no seu sentido mais amplo e reduzindo a trajetória do movimento às perspectivas estreitas de um poder ilusório – mas suficiente para iludir e satisfazer certas vaidades:
a) A direção nacional do movimento cineclubista brasileiro representa uma ampla coalizão de regiões e orientações quanto à ação cineclubista, formada por ocasião da 27ª Jornada Nacional de Cineclubes, que a elegeu. Tal situação, extremamente positiva, deveria ensejar um aprofundamento do debate democrático, o confronto, na transparência e no respeito, das diversas visões e perspectivas que orientam os cineclubes brasileiros – as diversas esquerdas e as várias expressões do liberalismo, a organização do público ou a formação de platéias, a criação autoral ou coletiva, entre outras...
Sem essa discussão, no entanto, a “aliança” se transforma em mero instrumento de negociação de interesses e oportunidades. No momento em que o movimento conquista espaços institucionais importantíssimos, obtém programas de fomento à exibição - que se afirmam voltados para os setores populares – a análise e a crítica desaparecem e uma retórica uniforme de apoio à orientação de um setor específico do governo e do cinema brasileiro toma o seu lugar. O movimento não debate, sua direção não discute, mas o CNC se posiciona bastante, sempre em apoio aos mesmos segmentos, entidades e políticas, dependente de uma composição indiscutida que privilegia a produção autoral (não coletiva) e compreende o cineclubismo como espaço de realização dessa produção, de formação de platéias para essa produção, e não de organização do público, de expressão comunitária, de transformação social.
Numa ocasião como a atual, em que a legislação referente à cultura e ao audiovisual apresenta várias oportunidades de reforma e democratização, nosso movimento se posiciona meramente a reboque da “classe cinematográfica” - à qual só pertencemos nessa condição de apoiadores -, sob os aplausos da Secretaria do Audiovisual do MINC. A campanha pelos Direitos do Público, um exemplo eloqüente, foi abandonada, e a Carta de Tabor reificada em totem inofensivo, sem expressão política, reduzida a mera contraparte dos chamados direitos autorais;
b) As diferentes possibilidades de organização do público parecem convergir unicamente para o programa Cine+Cultura, da Secretaria do Audiovisual, que distribui recursos bem modestos para a formação de um circuito incipiente de exibição, altamente burocratizado e totalmente atrelado a uma repartição pública institucionalmente extremamente frágil. O CNC abdicou totalmente da orientação – que já havia, entretanto, conquistado - desse projeto, explicitamente orientado meramente para a criação de espaços de exibição e cujo objetivo, nas palavras de seu Coordendor (a propósito das oficinas de formação cineclubista) “não é formar quadros ou cineclubes”, mas criar uma rede de exibição que justifique os diversos programas de fomento a uma produção que não encontra espaço em outros canais de difusão. Dirigentes cineclubistas fornecem a mão de obra qualificada para a formação de exibidores, sob a condução exclusiva, e separada do movimento (em listas próprias e fechadas), do programa governamental. Com poucas exceções, as direções cineclubistas em todo o País estão ocupadas e mal remuneradas nesse projeto, em detrimento de outras iniciativas. Outros programas, outras alternativas, de muito maior importância para a ação comunitária, estão praticamente esquecidos na azáfama de administrar as demandas do Cine+Cultura. A direção desse processo é feita em circuito fechado, sem a participação da grande maioria dos cineclubes, e sua orientação é dada pelo programa, não pelo CNC (e contrariando os objetivos originais e legais do próprio governo);
c) O CNC deixa-se envolver em acordos decididos entre alguns “protagonistas”, apoiados em “aprovações” forçadas, por decorrência de prazos impossíveis. Além de estabelecer convênios pouco transparentes, que permitem até a indicação pessoal de entidades a serem contempladas (muitas delas já amplamente beneficiadas pelo poder público e completamente fora dos critérios originais do programa) e privilegiam abertamente a produção em detrimento das organizações de caráter comunitário, outras ações com forte base em relações pessoais encontram espaço na atuação da nossa entidade nacional;
d) Protagonista e beneficiária principal desses desvios, a Secretaria do CNC vem concentrando as ações que deveriam ser coletivas na direção, desestimulando e usurpando as funções de outras diretorias (como a de Formação, de Acervo e Difusão, de Comunicação, de Projetos...) , descontinuando iniciativas importantes – e mesmo fundamentais, como a Campanha pelos Direitos do Público - e encaminhando prioritariamente ações que também promovem e beneficiam o titular do cargo, com vistas às próximas eleições cineclubistas e/ou perspectivas de carreira política nas entidades de cinema.
A segunda razão é a impossibilidade de discutir as questões levantadas acima dentro da direção e sem prejuízo para o movimento. Explico-me: em primeiro lugar, fui afastado de fato da possibilidade de interferir na condução das ações de formação ligadas ao programa Cine+Cultura, apesar de ser o diretor dessa área e ter sido indicado, em reunião plenária da direção nacional, como coordenador, da parte do CNC, do projeto. A coordenação do Cine+Cultura pediu secretamente o meu afastamento da coordenação das oficinas do programa. Em reunião plena, a diretoria recusou altaneiramente essa interferência indevida e ilegal. Entretanto, já no dia seguinte fui retirado das listas de discussão de oficineiros e de participantes do projeto, assim como do rol dos oficineiros qualificados a dar oficinas, sem nenhuma manifestação de qualquer diretor do CNC (com exceção do Frank Ferreira que denunciou o fato sem obter resposta desta diretoria). Diversas correspondências entre o Cine+Cultura e a “nova coordenação do CNC”, deixaram isso bem claro nos dias e semanas seguintes. Esse modo de operação, típico do fascismo, de governos autoritários e/ou de gestionários desprovidos de caráter - pois usam seus cargos para benefício próprio, e fazem isso na surdina – se baseia também na cumplicidade ou ingenuidade do colegiado dirigente do cineclubismo brasileiro.
Minha tentativa de reação ao meu isolamento e à reorientação do programa de formação de dirigentes cineclubistas foi imediatamente respondida, por um diretor do CNC, com ataques pessoais e insinuações de caráter moral a que eu não quis responder, pois criaria um ambiente de troca de ofensas e acusações pessoais que só fariam estragar o espaço público do movimento, afastando pessoas e enfraquecendo a direção. Em vez da discussão política, transparente e respeitosa das divergências (essenciais para o avanço democrático do movimento), intrigas e insinuações. Esse tipo de atitude, de procurar destruir o interlocutor ao invés de atacar suas idéias é, como todos sabem, típico do nazi-fascismo. Mesmo depois do meu recuo e silêncio face a essa atitude, na seqüência passei a receber ameaças, algumas abertas e outras em mensagens privadas, de resto exatamente como já havia acontecido em outra ocasião. Quando notei que minha correspondência, tanto como diretor da federação paulista, como pessoal, estava sendo violada – isto é, minhas mensagens privadas, da lista da diretoria paulista e até mesmo da direção do CNC estavam sendo lidas por terceiros – percebi que não estava à altura desse tipo de “debate”, que não participo do mesmo patamar ético. Fora da direção, no entanto, poderei fazer frente a esses métodos em caráter pessoal e privado, sem envolver a entidade nacional dos cineclubes.
A terceira razão aponta para uma perspectiva mais otimista. Acredito que dei uma contribuição para o movimento, em diversos momentos. Contudo, face à expansão dos cineclubes, à emergência de novas experiências e o florescimento de novos talentos, não vejo a necessidade de ocupar um ou mais cargos de direção deste movimento. Ao contrário, creio que posso ser mais útil – porque nunca deixarei de ser cineclubista e de participar criticamente do movimento – em outras trincheiras, sem a veleidade do “poder” que nunca encarei como prêmio ou vantagem, mas como dever – e frequentemente sacrifício, na verdade. Os chamados dinossauros cineclubistas se preocupam em como passar o bastão, com o momento certo de largar cargos. Creio que não há uma solução para essa preocupação, um momento adequado e preciso para essa transição. Acho que a oportunidade aparece assim mesmo, como crise, como conflito – pior seria se fosse apenas pela decadência e esquecimento. Melhor pegar logo esse bonde, deixando não apenas qualquer veleidade de poder, mas sobretudo as responsabilidades que tanto nos pesaram, para aqueles que, justa ou injustamente, as querem disputar e por elas responderão junto ao movimento e ao restante do publico brasileiro.
A quarta razão é que deixo o País. Vou desenvolver um projeto de pesquisa sobre cineclubismo e organização do público para o qual não consegui apoio por aqui. Pretendo que seja uma oportunidade para outro nível de atuação no movimento cineclubista brasileiro e mundial.
Como o cineclubismo em mim é doença crônica e incurável, não me demito da condição de cineclubista. Pelo contrário. Dedicando-me aos estudos da organização do público, do cineclubismo e da história dessa relação, espero continuar contribuindo para uma compreensão mais profunda da nossa ação, do nosso movimento. Em uma nova trincheira, nos blogues e na internet, tentarei sistematizar uma crítica construtiva e consistente, que prometo será intensa, com relação aos desvios que creio observar em nosso movimento e em seu comando. Afastado da direção, poderei até “bater boca” em caráter pessoal, discutir ética e comportamento, se preciso for, sem desgastar meu querido CNC.
Continuo, como sempre, solidário e comprometido com os movimentos cineclubista e de organização do público, de aprofundamento da democracia brasileira e de transformação de uma realidade de opressão de classe, pela construção de um socialismo criativo e humano, em que não haja mais distinção entre proprietários e despossuídos, entre protagonistas e espectadores, entre artistas e platéias.
Saudações cineclubistas,
Felipe Macedo
Estou apresentando a minha demissão da Diretoria de Formação do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros.
Quatro ordens de motivos estão envolvidas na minha decisão de formalizar uma situação que, nesta diretoria, é praticamente uma realidade desde o dia seguinte à última reunião do CNC, em Atibaia, em março deste ano.
A primeira razão, e mais geral, é o fato de que hoje discordo da direção que está sendo dada ao movimento por nossa entidade nacional, relegando a organização do público a uma posição secundária e colocando o cineclubismo a reboque de um projeto superficial de criação de platéias para os filmes brasileiros. Subprodutos dessa orientação mais geral, a) desestimula- se e até se sufoca a discussão programática e teórica sobre o cineclubismo e suas possíveis e múltiplas orientações; b) a entidade nacional do movimento transforma-se em gestor auxiliar, quase um despachante do programa Cine+Cultura; c) o debate político substitui-se pela negociação de pequenas vantagens e pelo tráfego de influências voltado para o círculo vicioso de objetivos políticos menores, de prestígio ou, a médio prazo, eleitorais; d) corolário deste último, a direção do CNC se concentra quase exclusivamente num cargo e pessoa, comprometendo a democracia no seu sentido mais amplo e reduzindo a trajetória do movimento às perspectivas estreitas de um poder ilusório – mas suficiente para iludir e satisfazer certas vaidades:
a) A direção nacional do movimento cineclubista brasileiro representa uma ampla coalizão de regiões e orientações quanto à ação cineclubista, formada por ocasião da 27ª Jornada Nacional de Cineclubes, que a elegeu. Tal situação, extremamente positiva, deveria ensejar um aprofundamento do debate democrático, o confronto, na transparência e no respeito, das diversas visões e perspectivas que orientam os cineclubes brasileiros – as diversas esquerdas e as várias expressões do liberalismo, a organização do público ou a formação de platéias, a criação autoral ou coletiva, entre outras...
Sem essa discussão, no entanto, a “aliança” se transforma em mero instrumento de negociação de interesses e oportunidades. No momento em que o movimento conquista espaços institucionais importantíssimos, obtém programas de fomento à exibição - que se afirmam voltados para os setores populares – a análise e a crítica desaparecem e uma retórica uniforme de apoio à orientação de um setor específico do governo e do cinema brasileiro toma o seu lugar. O movimento não debate, sua direção não discute, mas o CNC se posiciona bastante, sempre em apoio aos mesmos segmentos, entidades e políticas, dependente de uma composição indiscutida que privilegia a produção autoral (não coletiva) e compreende o cineclubismo como espaço de realização dessa produção, de formação de platéias para essa produção, e não de organização do público, de expressão comunitária, de transformação social.
Numa ocasião como a atual, em que a legislação referente à cultura e ao audiovisual apresenta várias oportunidades de reforma e democratização, nosso movimento se posiciona meramente a reboque da “classe cinematográfica” - à qual só pertencemos nessa condição de apoiadores -, sob os aplausos da Secretaria do Audiovisual do MINC. A campanha pelos Direitos do Público, um exemplo eloqüente, foi abandonada, e a Carta de Tabor reificada em totem inofensivo, sem expressão política, reduzida a mera contraparte dos chamados direitos autorais;
b) As diferentes possibilidades de organização do público parecem convergir unicamente para o programa Cine+Cultura, da Secretaria do Audiovisual, que distribui recursos bem modestos para a formação de um circuito incipiente de exibição, altamente burocratizado e totalmente atrelado a uma repartição pública institucionalmente extremamente frágil. O CNC abdicou totalmente da orientação – que já havia, entretanto, conquistado - desse projeto, explicitamente orientado meramente para a criação de espaços de exibição e cujo objetivo, nas palavras de seu Coordendor (a propósito das oficinas de formação cineclubista) “não é formar quadros ou cineclubes”, mas criar uma rede de exibição que justifique os diversos programas de fomento a uma produção que não encontra espaço em outros canais de difusão. Dirigentes cineclubistas fornecem a mão de obra qualificada para a formação de exibidores, sob a condução exclusiva, e separada do movimento (em listas próprias e fechadas), do programa governamental. Com poucas exceções, as direções cineclubistas em todo o País estão ocupadas e mal remuneradas nesse projeto, em detrimento de outras iniciativas. Outros programas, outras alternativas, de muito maior importância para a ação comunitária, estão praticamente esquecidos na azáfama de administrar as demandas do Cine+Cultura. A direção desse processo é feita em circuito fechado, sem a participação da grande maioria dos cineclubes, e sua orientação é dada pelo programa, não pelo CNC (e contrariando os objetivos originais e legais do próprio governo);
c) O CNC deixa-se envolver em acordos decididos entre alguns “protagonistas”, apoiados em “aprovações” forçadas, por decorrência de prazos impossíveis. Além de estabelecer convênios pouco transparentes, que permitem até a indicação pessoal de entidades a serem contempladas (muitas delas já amplamente beneficiadas pelo poder público e completamente fora dos critérios originais do programa) e privilegiam abertamente a produção em detrimento das organizações de caráter comunitário, outras ações com forte base em relações pessoais encontram espaço na atuação da nossa entidade nacional;
d) Protagonista e beneficiária principal desses desvios, a Secretaria do CNC vem concentrando as ações que deveriam ser coletivas na direção, desestimulando e usurpando as funções de outras diretorias (como a de Formação, de Acervo e Difusão, de Comunicação, de Projetos...) , descontinuando iniciativas importantes – e mesmo fundamentais, como a Campanha pelos Direitos do Público - e encaminhando prioritariamente ações que também promovem e beneficiam o titular do cargo, com vistas às próximas eleições cineclubistas e/ou perspectivas de carreira política nas entidades de cinema.
A segunda razão é a impossibilidade de discutir as questões levantadas acima dentro da direção e sem prejuízo para o movimento. Explico-me: em primeiro lugar, fui afastado de fato da possibilidade de interferir na condução das ações de formação ligadas ao programa Cine+Cultura, apesar de ser o diretor dessa área e ter sido indicado, em reunião plenária da direção nacional, como coordenador, da parte do CNC, do projeto. A coordenação do Cine+Cultura pediu secretamente o meu afastamento da coordenação das oficinas do programa. Em reunião plena, a diretoria recusou altaneiramente essa interferência indevida e ilegal. Entretanto, já no dia seguinte fui retirado das listas de discussão de oficineiros e de participantes do projeto, assim como do rol dos oficineiros qualificados a dar oficinas, sem nenhuma manifestação de qualquer diretor do CNC (com exceção do Frank Ferreira que denunciou o fato sem obter resposta desta diretoria). Diversas correspondências entre o Cine+Cultura e a “nova coordenação do CNC”, deixaram isso bem claro nos dias e semanas seguintes. Esse modo de operação, típico do fascismo, de governos autoritários e/ou de gestionários desprovidos de caráter - pois usam seus cargos para benefício próprio, e fazem isso na surdina – se baseia também na cumplicidade ou ingenuidade do colegiado dirigente do cineclubismo brasileiro.
Minha tentativa de reação ao meu isolamento e à reorientação do programa de formação de dirigentes cineclubistas foi imediatamente respondida, por um diretor do CNC, com ataques pessoais e insinuações de caráter moral a que eu não quis responder, pois criaria um ambiente de troca de ofensas e acusações pessoais que só fariam estragar o espaço público do movimento, afastando pessoas e enfraquecendo a direção. Em vez da discussão política, transparente e respeitosa das divergências (essenciais para o avanço democrático do movimento), intrigas e insinuações. Esse tipo de atitude, de procurar destruir o interlocutor ao invés de atacar suas idéias é, como todos sabem, típico do nazi-fascismo. Mesmo depois do meu recuo e silêncio face a essa atitude, na seqüência passei a receber ameaças, algumas abertas e outras em mensagens privadas, de resto exatamente como já havia acontecido em outra ocasião. Quando notei que minha correspondência, tanto como diretor da federação paulista, como pessoal, estava sendo violada – isto é, minhas mensagens privadas, da lista da diretoria paulista e até mesmo da direção do CNC estavam sendo lidas por terceiros – percebi que não estava à altura desse tipo de “debate”, que não participo do mesmo patamar ético. Fora da direção, no entanto, poderei fazer frente a esses métodos em caráter pessoal e privado, sem envolver a entidade nacional dos cineclubes.
A terceira razão aponta para uma perspectiva mais otimista. Acredito que dei uma contribuição para o movimento, em diversos momentos. Contudo, face à expansão dos cineclubes, à emergência de novas experiências e o florescimento de novos talentos, não vejo a necessidade de ocupar um ou mais cargos de direção deste movimento. Ao contrário, creio que posso ser mais útil – porque nunca deixarei de ser cineclubista e de participar criticamente do movimento – em outras trincheiras, sem a veleidade do “poder” que nunca encarei como prêmio ou vantagem, mas como dever – e frequentemente sacrifício, na verdade. Os chamados dinossauros cineclubistas se preocupam em como passar o bastão, com o momento certo de largar cargos. Creio que não há uma solução para essa preocupação, um momento adequado e preciso para essa transição. Acho que a oportunidade aparece assim mesmo, como crise, como conflito – pior seria se fosse apenas pela decadência e esquecimento. Melhor pegar logo esse bonde, deixando não apenas qualquer veleidade de poder, mas sobretudo as responsabilidades que tanto nos pesaram, para aqueles que, justa ou injustamente, as querem disputar e por elas responderão junto ao movimento e ao restante do publico brasileiro.
A quarta razão é que deixo o País. Vou desenvolver um projeto de pesquisa sobre cineclubismo e organização do público para o qual não consegui apoio por aqui. Pretendo que seja uma oportunidade para outro nível de atuação no movimento cineclubista brasileiro e mundial.
Como o cineclubismo em mim é doença crônica e incurável, não me demito da condição de cineclubista. Pelo contrário. Dedicando-me aos estudos da organização do público, do cineclubismo e da história dessa relação, espero continuar contribuindo para uma compreensão mais profunda da nossa ação, do nosso movimento. Em uma nova trincheira, nos blogues e na internet, tentarei sistematizar uma crítica construtiva e consistente, que prometo será intensa, com relação aos desvios que creio observar em nosso movimento e em seu comando. Afastado da direção, poderei até “bater boca” em caráter pessoal, discutir ética e comportamento, se preciso for, sem desgastar meu querido CNC.
Continuo, como sempre, solidário e comprometido com os movimentos cineclubista e de organização do público, de aprofundamento da democracia brasileira e de transformação de uma realidade de opressão de classe, pela construção de um socialismo criativo e humano, em que não haja mais distinção entre proprietários e despossuídos, entre protagonistas e espectadores, entre artistas e platéias.
Saudações cineclubistas,
Felipe Macedo