Abaixo, parte do relatório apresentado ao Conselho Nacional de Cineclubes e ao Ministério das Relações Exteriores por ocasião do evento Voyages au Brésil, em que tive a honra de representar nosso País e o movimento cineclubista brasileiro.
Viagem à Tunísia
Cineclubismo na Tunísia
No quadro de uma “manifestação” cinematográfica – como gostam de chamar os colegas tunisianos – estive em Tunis entre os dias 18 e 23 de junho. Minha participação foi possível graças ao apoio da Embaixada brasileira naquela cidade e do Ministério das Relações Exteriores. Foi o evento chamado “Voyages au Brésil”, com uma pequena mostra de filmes, debates e oficinas, voltados principalmente para os dirigentes de cineclubes e cineastas do país. Na seqüência, essa “viagem brasileira” irá percorrer, em outubro, cineclubes da Capital e de várias regiões, com um formato mais “leve”, voltado para um público mais amplo e adequado para diferentes segmentos de público: os cineclubes tunisianos mantém atividades especializadas para os públicos adulto e infantil, por exemplo.
Uma característica muito importante do cineclubismo – ou do cinema – na Tunísia, é que os primeiros são bem mais numerosos que os últimos. O país conta com apenas 17 salas de cinema (segundo alguns, são 14), enquanto os cineclubes são algumas dezenas. A escolha do circuito cineclubista para a divulgação do cinema brasileiro, para o estabelecimento de relações culturais no ambiente do audiovisual e mesmo para a promoção do Brasil, num plano mais sério e aprofundado que uma publicidade superficial parece-me, portanto, muito acertada. Consideradas as dimensões modestas de quase todos os indicadores demográficos, em comparação com o Brasil – população pouco superior a 10 milhões e ausência de um verdadeiro mercado cinematográfico – os cineclubes constituem um grande canal de comunicação entre nossos países.
O cineclubismo na Tunísia tem sua origem na “época de ouro” do movimento, no pós-guerra, quando um intenso renascimento cultural deu vida a milhares de cineclubes em todo o mundo – principalmente a partir das influências italiana e francesa – que, por sua vez, estiveram na origem de fenômenos cinematográficos da importância do Neo-Realismo e da Nouvelle Vague.
Na esteira desse processo, a Federação Tunisiana de Cineclubes foi fundada em 1950. Nos anos seguintes à independência, tanto a produção cinematográfica (o primeiro filme tunisiano é de 1966) quanto o movimento cineclubista se consolidam e crescem. Nos anos 70, o movimento cineclubista chega a contar com cerca de 150 entidades no país. O governo seguinte, estabelecido no final dos anos 80, coincide com um retrocesso nas atividades culturais, enfraquecendo bastante os cineclubes. É importante observar que isso se passa também no plano internacional, com a rápida transformação das tecnologias de difusão e exibição audiovisual. Na virada do século, também em coincidência com o que ocorre no mundo todo, o movimento cineclubista se rearticula na Tunísia e vive, hoje, um processo de expansão e consolidação. Ainda
que submetidos a um controle institucional bastante rígido , que limita a manifestação de iniciativas espontâneas – típicas do cineclubismo - já se contam às dezenas os cineclubes, com uma federação nacional bem organizada, que participa ativamente do movimento cineclubista internacional.
Um novo diálogo
De fato, o evento “Voyages au Brésil” constituiu uma primeira experiência de aproximação direta entre o continente africano, ou pelo menos o Norte da África, e a América Latina. De um lado, como representante do Conselho Nacional de Cineclubes brasileiro – que ocupa a vice-presidência da FICC e desenvolve um intenso trabalho no nosso continente - também estava capacitado a estabelecer o contato com o movimento latino-americano. A Federação Tunisiana, por sua parte, também representava de certa maneira os cineclubes da Argélia e do Marrocos, com que mantém contatos assíduos, e nos aproximou mais da própria região subsaariana, por suas relações com o Mali e Burkina Fasso. Através de contatos anteriores e posteriores ao evento de Tunis, asseguramos que esses entendimentos estão prosseguindo: nesta semana, no Marrocos, a secretária da FICC para a América Latina, a argentina Cristina Marquese, participa de outro encontro cineclubista. Também já encaminhamos a participação da Tunísia na II Conferência Mundial de Cineclubismo, a realizar-se na cidade do México em agosto próximo. Serão confirmadas, nos próximos dias e semanas, as gestões para participações, de ambas as partes, em festivais de cinema dos dois países.
Uma característica muito importante do cineclubismo – ou do cinema – na Tunísia, é que os primeiros são bem mais numerosos que os últimos. O país conta com apenas 17 salas de cinema (segundo alguns, são 14), enquanto os cineclubes são algumas dezenas. A escolha do circuito cineclubista para a divulgação do cinema brasileiro, para o estabelecimento de relações culturais no ambiente do audiovisual e mesmo para a promoção do Brasil, num plano mais sério e aprofundado que uma publicidade superficial parece-me, portanto, muito acertada. Consideradas as dimensões modestas de quase todos os indicadores demográficos, em comparação com o Brasil – população pouco superior a 10 milhões e ausência de um verdadeiro mercado cinematográfico – os cineclubes constituem um grande canal de comunicação entre nossos países.
O cineclubismo na Tunísia tem sua origem na “época de ouro” do movimento, no pós-guerra, quando um intenso renascimento cultural deu vida a milhares de cineclubes em todo o mundo – principalmente a partir das influências italiana e francesa – que, por sua vez, estiveram na origem de fenômenos cinematográficos da importância do Neo-Realismo e da Nouvelle Vague.
Na esteira desse processo, a Federação Tunisiana de Cineclubes foi fundada em 1950. Nos anos seguintes à independência, tanto a produção cinematográfica (o primeiro filme tunisiano é de 1966) quanto o movimento cineclubista se consolidam e crescem. Nos anos 70, o movimento cineclubista chega a contar com cerca de 150 entidades no país. O governo seguinte, estabelecido no final dos anos 80, coincide com um retrocesso nas atividades culturais, enfraquecendo bastante os cineclubes. É importante observar que isso se passa também no plano internacional, com a rápida transformação das tecnologias de difusão e exibição audiovisual. Na virada do século, também em coincidência com o que ocorre no mundo todo, o movimento cineclubista se rearticula na Tunísia e vive, hoje, um processo de expansão e consolidação. Ainda
que submetidos a um controle institucional bastante rígido , que limita a manifestação de iniciativas espontâneas – típicas do cineclubismo - já se contam às dezenas os cineclubes, com uma federação nacional bem organizada, que participa ativamente do movimento cineclubista internacional.
Um novo diálogo
De fato, o evento “Voyages au Brésil” constituiu uma primeira experiência de aproximação direta entre o continente africano, ou pelo menos o Norte da África, e a América Latina. De um lado, como representante do Conselho Nacional de Cineclubes brasileiro – que ocupa a vice-presidência da FICC e desenvolve um intenso trabalho no nosso continente - também estava capacitado a estabelecer o contato com o movimento latino-americano. A Federação Tunisiana, por sua parte, também representava de certa maneira os cineclubes da Argélia e do Marrocos, com que mantém contatos assíduos, e nos aproximou mais da própria região subsaariana, por suas relações com o Mali e Burkina Fasso. Através de contatos anteriores e posteriores ao evento de Tunis, asseguramos que esses entendimentos estão prosseguindo: nesta semana, no Marrocos, a secretária da FICC para a América Latina, a argentina Cristina Marquese, participa de outro encontro cineclubista. Também já encaminhamos a participação da Tunísia na II Conferência Mundial de Cineclubismo, a realizar-se na cidade do México em agosto próximo. Serão confirmadas, nos próximos dias e semanas, as gestões para participações, de ambas as partes, em festivais de cinema dos dois países.
Esta viagem à Tunísia, para apresentar uma “viagem ao Brasil”, torna-se, desta maneira, um acontecimento de alcance histórico para o cineclubismo, abrindo uma série de iniciativas que visam consolidar um intercâmbio plural e produtivo entre culturas que antes só se comunicavam, precariamente, através de longas e custosas intermediações e escalas em países do hemisfério Norte. De fato, uma espécie de bordão rítmico e bem humorado marcou nosso encontro: Sud – Sud. Diálogo e conhecimento mútuo já: Sul – Sul!
Mas foi especificamente para o cineclubismo, o cinema e a cultura do Brasil que o evento foi mais proveitoso, claro. Ele abriu, de imediato, a perspectiva de troca de filmes, com direitos regularizados, entre os dois países. Até agora, a Embaixada do Brasil em Tunis promoveu o cinema e a cultura brasileira naquele país, mas essa ação apenas promovia um lado da equação. Passamos a uma nova fase, de efetivo intercâmbio, sem dúvida por causa de uma concepção democrática e generosa, por parte do nosso corpo diplomático, do papel de divulgar o Brasil: promover nossa cultura entendido como processo de integração, sem imposição – uma originalidade em relação a outras orientações empregadas na divulgação da cultura e dos bens culturais de muitos países...
Além de aproximar os cineclubes, estabelecer uma base inicial para um intercâmbio mais profícuo, também foram lançadas bases para uma aproximação entre os realizadores, especialmente no campo do curta-metragem e do documentário. Em todas as atividades promovidas durante a “Voyage au Brésil”, estiveram presentes representantes da Associação de Cineastas Amadores da Tunísia, que tem seu mais próximo equivalente na Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas - ABD. Através do Conselho Nacional de Cineclubes, vamos repassar contatos e agilizar as oportunidades de encontro entre cineastas dos dois países – e regiões – especialmente por ocasião de festivais ligados às entidades citadas, de cineclubes e de cineastas.
Perspectivas de colaboração entre o CNC e o Itamaraty
A ação da embaixada brasileira em Tunis constituiu-se num verdadeiro precedente objetivo para um interesse e uma demanda, talvez reprimida, de ambos os lados. De uma parte, em que pese minha informação limitada, parece-me que a utilização do “pacote” (na falta de expressão melhor) de filmes disponibilizado pelo Itamaraty nestas “Voyages au Brésil”, através da colaboração com o movimento de cineclubes local, mostrou de forma inaugural a possibilidade de promoção de um diálogo e intercâmbio equitável, abrindo canais diretos entre setores muito dinâmicos – jovens, socialmente muito distribuídos, etc – das respectivas sociedades. Para o movimento cineclubista brasileiro representou um apoio muito importante, material e institucional, para o estabelecimento do que chamamos mais acima de uma concreta relação Sul – Sul.
Das reuniões realizadas ao longo do evento, a que se deve acrescer a consulta feita à direção do CNC e à FICC, após o meu retorno, surgem diversas possibilidades que gostaríamos de apresentar à apreciação da Embaixada e, através dela, ao Ministério das Relações Exteriores:
• Institucionalização dessas “Voyages ao Brésil”, transformando-as em evento anual, com a apresentação de projeto – pelo CNC e FTCC - para incentivo de lei federal de fomento (Rouanet ou outra). O evento seria constituído, basicamente, de uma mostra de filmes de longa e curta metragem, realização de palestras, debates e oficinas, com a presença de cineclubistas e cineastas brasileiros;
• Extensão do mesmo conceito a outras embaixadas e países, com federações nacionais de cineclubes nacionais e agregando a participação da Federação Internacional de Cineclubes, bem como outros apoios oficiais e privados;
• Utilização, numa perspectiva mais objetiva e imediata, do “pacote” de filmes de divulgação distribuído pelo MRE às suas representações, através da promoção de eventos de naturezas diversas, em conjunto com as federações nacionais de cineclubes, sob coordenação da FICC, através do CNC;
• Possibilidade de convênio entre o Itamaraty e CineSud – distribuidora mundial de filmes para cineclubes e cinemas sem fins lucrativos – e Filmoteca Carlos Vieira (equivalente e extensão brasileira desse mecanismo de difusão) para a promoção de mostras e circuitos de filmes brasileiros em todo o mundo;
• Apoio à criação de cineclubes junto às comunidades brasileiras em países estrangeiros.
Neste ensejo, gostaria de agradecer, em meu nome pessoal, do Conselho Nacional de Cineclubes e do movimento cineclubista brasileiro e internacional, não apenas pelo apoio – cujo significado acredito ter avaliado nas linhas anteriores – mas muito especialmente pela gentileza e atenção, somadas ao profissionalismo, com que fui assistido durante toda a minha estadia em Tunis.
Meu reconhecimento especial ao perfeito acompanhamento do evento através da sra. Alice Bornhofen, à participação do ministro David Silveira da Mota Neto e todo o apoio recebido sob a esclarecida condução do embaixador Elim Dutra.
Atenciosamente,
Felipe Macedo
Diretor de Formação
Assessor de Relações Internacionais
Assessor de Relações Internacionais
Conselho Nacional de Cineclubes
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